Segundo escalão traz as primeiras rusgas do governo Lula

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Enquanto o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, cumprimentava as pessoas no segundo lugar do Palácio do Planalto, no quarto andar o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reunia com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e com os líderes José Guimarães (PT-CE) e Jaques Wagner (PT-BA). Era a hora de ouvir o partido sobre os cargos de segundo escalão que deseja. Ainda ontem, Padilha teria reunião com o MDB sobre o mesmo tema, uma vez que os postos do Ministério das Cidades, sob o comando do ministro Jader Filho (MDB), são os mais cobiçados, não só pelo PT, como também pelo PSol e integrantes da sociedade civil — como o segmento ligado ao Sindicato dos Urbanitários de São Paulo. Padilha vai ouvir todos os partidos antes de fechar a ocupação de fundações e autarquias.

No MDB, há quem diga que o combinado com Lula foi entregar ao PT a secretaria que cuidará dos bairros e favelas, mas os petistas querem ainda o saneamento e, se possível, a gestão do Minha Casa Minha Vida (MCMV) — programa que, como o leitor da coluna já sabe, tem R$ 10,5 bilhões em caixa para este ano. Não por acaso, Jader Filho saiu de lá direto para cuidar do MCMV. A esperança, agora, é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que soube construir o primeiro escalão, ajeite os desejos de cada um nesta segunda rodada de negociações.

Alexandre, o grande
As nomeações de cargos de segundo e terceiro escalões sairão da Casa Civil para a Secretaria de Relações Institucionais, uma pasta que nos governos Lula 1 e 2 cuidava apenas das emendas parlamentares e de atender políticos irritados com o governo. A gestão desses dois instrumentos faz do ministro Alexandre Padilha o ponto nevrálgico do Planalto que, no governo Bolsonaro, estava na Casa Civil. Padilha ainda vai gerir o Conselhão com representantes dos empresários e da sociedade civil.

Rui, o gestor
Longe das decisões sobre nomeação de cargos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ficará com a articulação dos ministérios, o PAC e a gestão do governo. No quesito cargos, fará apenas a pesquisa sobre a vida pregressa dos indicados. A ministra da Gestão, Ester Dweck, será o grande RH do Executivo.

Lua de mel política

A presença do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e outros expoentes do PT na posse de Renan Filho, no Ministério dos Transportes, e de Jader Filho, no Ministério das Cidades, foi um sinal de que há uma disposição geral de parceria.

A la Eduardo nunca mais

A pacificação entre MDB e PT se dá justamente por aquela parcela de emedebistas que não apostaram no impeachment de Dilma Rousseff. Renan Filho, ao assumir o cargo, foi direto ao agradecer ao senador Jaques Wagner pela construção coletiva que acomodou setores do partido no governo. “Convivência fraterna de onde nunca deveríamos ter saído”, disse. O sentimento de parceria é real, assim como a certeza de que apostar no impeachment foi um erro.

Coquetel pós-sauna/ O ministro Jader Filho tentou reunir amigos e parentes numa sala com o ar condicionado ao lado do ministério para um coquetel. Mas a fila de cumprimentos no auditório, onde o ar não deu conta do recado, impediu que ele participasse. O senador Jader Barbalho (MDB-PA), um dos mais requisitados, nem entrou na sala. Foi para a garagem, onde estava mais fresquinho.

Quem já foi rei…/ O presidente José Sarney, do alto de seus 92 anos, foi às posses. Na “sauna” que se tornou a posse de Jader Filho, foi levado para a salinha tão logo terminou a cerimônia. Ficou por lá uns 15 minutos e, ao sair, não conseguia dar um passo sem ser parado para selfies. Quem quiser que acredite, quando ele diz que “é apenas um integrante do MDB sem influência”.

Enquanto isso, no Planalto…/ Dilma Rousseff, mais uma vez, foi a homenageada do dia nas solenidades palacianas. Na posse do ministro Paulo Pimenta, o coro “Dilma, Dilma” foi um resgate. Ao sair, ela abraçou algumas admiradoras e comentou: “Falei que eu voltava”.

… e na Conab…/ O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, transformou o local de sua posse, o auditório da Conab, na simbologia de que a Companhia Nacional de Abastecimento estará sob o seu guarda-chuva e não dividida com a Agricultura.

Prioridade x poder/ Vejamos os próximos capítulos de um governo que promete cuidar das pessoas — sim, elas existem, como bem discursou o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Sílvio Almeida. O social, aliás, perpassou todos os oito discursos das posses de ontem. Hoje tem mais. A esperança é de que esse objetivo se sobreponha à disputa por espaços de poder. O país e os contribuintes agradecem.

Governo Lula tem pressa de mostrar resultados na economia

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A maratona de transmissões de cargos desses dias não tirou o foco dos ministros. Cientes de que o tempo agora corre contra o novo governo no sentido de mostrar resultados, os titulares da Fazenda, Fernando Haddad, e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, começaram ontem mesmo a cuidar do futuro. Haddad, que, em conversas com aliados não se cansa de repetir que a “confusão é grande”, colocou toda a equipe para trabalhar as pontes com o mercado financeiro. A ordem é buscar uma trégua, depois da queda da Bolsa e alta do dólar no primeiro útil do governo, logo após o discurso de posse do ministro. E assegurar algo melhor como âncora fiscal do que a “estupidez chamada teto de gastos”.

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Quanto a Alexandre Padilha, a prioridade é atender a todos antes da reabertura do Congresso, em fevereiro. Nesses primeiros dias, é preciso dar uma acalmada no União Brasil, que não conseguiu garantir os votos dos quais o governo precisará, e os partidos que ficaram de fora do primeiro escalão.

Um passado para o futuro

O presidente Lula ainda deve demorar um tempo para voltar a despachar no Planalto. Ele deseja ver o gabinete do jeito que era quando deixou a Presidência. Se resolver fazer isso em todo o Palácio, terá que tirar as salas novas, instaladas na ampla e antiga sala de estar do quarto andar, que havia sido concebida no governo Lula.

Uma Conab para três
A divisão do Ministério da Agricultura levou a um acordo de cavalheiros sobre com quem ficará a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E, como a empresa tem interface com Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Indústria e Comércio, as três pastas terão voz na diretoria da Conab.

De Padilha para Padilha
Transferido para a Casa Civil nos tempos do ministro Eliseu Padilha, do governo Michel Temer, o chamado “Conselhão” será reeditado e volta para Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais. Lá, onde funcionava quando foi criado no governo Lula 1. O conselhão reúne, governo, empresários, e líderes da sociedade civil, que analisam políticas públicas e dão sugestões.

Olho neles
Além do núcleo duro do governo, as atenções sobre como será o andar da carruagem da gestão Lula 3, se voltam também ao Itamaraty, onde está de volta a diplomacia presidencial. Aliás, muitos embaixadores brasileiros vieram para a posse a fim de saber o que novo governo lhes reserva. A movimentação será intensa por esses dias no MRE.

Cada um com seu cada qual/ Sem a tradicional transmissão de cargo na maioria das cerimônias de posse, senadores, deputados e até presidentes de partidos, e a ex-presidente Dilma Rousseff fizeram as honras das casas. Na transmissão de cargo de Rui Costa, na Casa Civil, reinaram os baianos. Até o governador Jerônimo Rodrigues discursou.

Enquanto isso, nos Portos…/ Quem fez as “honras da Casa” foi o PSB. Discursaram o senhor Dario Berger, o líder da bancada, deputado Felipe Carreiras, o presidente do partido, Carlos Siqueira. Geraldo Alckmin foi, mas preferiu guardar o discurso para hoje, quando assume o Ministério de Indústria e Comércio.

Com um apelido desses…/ … O nome virou detalhe. Ao discursar na posse de Ester Dweck no Ministério da Gestão a ex-presidente Dilma Rousseff começou a citar as pessoas presentes. Ao perceber a presença do ex-senador Lindbergh Farias, não lembrava o nome dele de jeito nenhum. Porém, emendou com o apelido. “Chamo sempre ele de Lindinho, experiente. Seu primeiro nome é difícil de lembrar”.

Por falar em Dilma…/ Em vários discursos, os ministros que entraram se referiram ao processo de impeachment de 2016, quando Dilma Rousseff foi apeada do poder. O novo chanceler, Mauro Vieira, foi direto, ao citar que retomava o mesmo cargo que deixou em maio daquele ano: “em meio a um doloroso processo de impeachment que fraturou o país e deixou marcas profundas”. Para os petistas e aliados, chegou a hora de reescrever essa página da história. E quem conta a história são os vencedores.

Enquanto isso, na Casa Civil…/ As plaquinhas das salas estão sobre a mesa de entrada da Casa Civil, à espera da distribuição dos espaços palacianos aos novos ministros. Tudo será remodelado.

As contas de Fernando Haddad e Simone Tebet para reconstruir ministérios

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Passado o dia da festa, o momento é de se agarrar ao serviço, e o principal é definir o dinheiro para o mar de prioridades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, têm o desafio de reconstituir o orçamento dos ministérios ainda em janeiro. Até aqui, as pastas do Trabalho, do Esporte e de Minas e Energia, por exemplo, estão com poucos recursos e precisarão de revisão, conforme diagnóstico da equipe de transição já entregue a Haddad.

Os ministérios que não têm do que reclamar são aqueles que concentram as emendas parlamentares. Saúde, Educação, Desenvolvimento Regional, Infraestrutura (dividido em Transportes e Portos) e o de Cidades. Só para o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, há R$ 10,5 bilhões, avisa o relator do orçamento, Marcelo Castro.

O aviso a Bolsonaro

Ao dizer em seu discurso que não adotará uma postura revanchista, mas que cumprirá o “devido processo legal”, o presidente Lula mandou uma mensagem direta a Bolsonaro: qualquer crime que tenha sido cometido no governo anterior será devidamente punido.

A pressão do etanol
A turma do agro presente à festa da posse de Lula chegou disposta a cobrar do governo a revisão da desoneração de impostos de combustíveis fósseis. Os produtores de etanol, que têm sido uma ponte do agro com a nova administração do país, querem que esse assunto seja tratado o mais rápido possível, antes da reforma tributária.

Recado aos sindicalistas
Àqueles que sonharam com a volta dos impostos, o secretário da CUT, Wagner Ribeiro, avisa: “Não tem volta do imposto sindical”, diz ele, que é muito ligado ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e deve ser secretário-executivo.

Prioridade
Na construção que fará do Ministério do Trabalho, Marinho já elencou como prioridade três frentes: requalificação profissional, emprego para a juventude e as novas profissões que surgiram com a tecnologia.

Detalhe importante/ Um grupo de mulheres chegou à festa do Itamaraty comentando que Lula nomeou mais ministras do que Dilma Rousseff, e coisa e tal. A ex-ministra Ideli Salvatti, que estava no grupo na hora fez uma ressalva: elas agora estão fora do núcleo de governo.

Memória/ Houve um tempo em que a reunião de coordenação do Planalto era composta apenas por mulheres. Dilma, Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli (Relações Institucionais) e Helena Chagas (secretaria de Comunicação). Agora, o núcleo de poder será masculino.

Por falar em Ideli… / Perguntada se voltaria para Brasília, ela respondeu assim: “Donde hay gobierno soy lejana”.

A ponte na ONU/ Outra que não quer saber de voltar ao Poder Executivo é a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira. Ela é consultora da ONU e funcionará como um posto avançado do governo para o setor.

E a Janja, hein?/ A primeira-dama passou pela prova da posse. Quem a conhece bem relata que será uma figura de destaque. É inteligente, articulada e… Manda. Manda muito.

Pura emoção/ O ponto alto da posse foi a subida da rampa com os representantes da sociedade brasileira. Se Jair Bolsonaro queria passar a ideia de posse “capenga”, Lula deu a volta por cima.

Montagem das equipes preocupa ministros de Lula

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A maioria dos ministros do governo Lula 3 toma posse hoje preocupada com a estrutura para montar suas equipes. É que o número de cargos disponíveis vem sendo comparado a colocar a população da cidade de São Paulo dentro do Plano Piloto, com acomodações confortáveis. Ou seja, não cabe. São 9.587 cargos comissionados para distribuir nos Ministérios e estruturas vinculadas. A forma de resolver isso, a fim de trazer técnicos gabaritados ainda não foi definida. Por enquanto, dentro do segundo escalão predomina a certeza de que, quem conseguir chefe de gabinete e secretária que se dê por satisfeito. A avaliação de alguns é a de que a promessa de não aumentar o número de cargos não chega a fevereiro.

Em 2010, o Ministério do Planejamento apontou que, entre 2002 e 2009, período do primeiro governo Lula, o gasto com cargos de confiança aumentou 119%. A pressão de muitos agora é para que o presidente repita a dose no governo Lula 3. O petista disse que, no momento, isso está fora de cogitação. O estica-e-puxa em torno desse tema começa amanhã. Hoje, é dia de festa e de pronunciamento presidencial. Os problemas, Lula vai tratar a partir de segunda-feira.

O jogo mudou

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com o ex-ministro da Secretaria de Governo Célio Faria Júnior, dia desses no Planalto. Lá, foi informado que as emendas parlamentares estão a cargo do Congresso e que ele não cuidava delas há tempos.

Fim de festa
As antessalas palacianas, sempre lotadas nos últimos dias do ano, com os parlamentares ávidos por garantir a liberação ou inclusão nos restos a pagar, estavam praticamente vazias na última semana.

Lábia e cargos
Com o Congresso no controle de grande parte das verbas discricionárias do orçamento, resta ao futuro governo formatar a maioria com os cargos. Ou com o convencimento, dentro do mérito dos projetos. Essa é a forma mais republicana e que tende a prevalecer no futuro, talvez distante.

Congresso do futuro
Muitos dizem que a era do “rolo compressor”, ou seja, aprovação na base do toma-lá-dá-cá de cargos e emendas, está nos estertores. Afinal, não vai dar para trocar ministro a cada votação importante. A próxima Legislatura será o ensaio de algo novo na relação entre os Poderes e os partidos.

A vida como ela é/ Petistas passaram os últimos dias reclamando com a indicação de Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) para o ministério do Turismo. Lula, então, foi direto: “Os nossos, nós já temos. Precisamos que ela traga os votos deles”.

Tem que conviver com o coleguinha/ No Rio, Daniela apoiou Claudio Castro (PL) ao governo estadual e não Marcelo Freixo, que assumirá a Embratur. No União, já tem gente se referindo a Freixo como “olheiro”. Na turma mais lulista, porém, o que se comemora é Claudio Castro dizer, em entrevista ao Estadão, que trabalhará junto com Lula.

Que pressa, hein?/ Um carro preto, com o adesivo de pára-brisa para estacionamento na posse e a placa “Veículo Oficial”, transitava a mais de 120km/h no Eixão Sul, ontem, às 11h. Quem deveria dar o exemplo de direção responsável, quase provoca um acidente.

Dia da Paz Mundial/ Espera-se que este 1º de janeiro seja realmente de paz. Quem venceu, que governe para todos. Quem perdeu, que organize uma oposição fiscalizadora. E vamos em frente, porque faltam apenas 51 sábados para o próximo Natal. Feliz 2023!

Prorrogação de isenção de impostos sobre combustíveis é recado: quem manda é o partido

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A decisão de prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis por parte do futuro governo, depois de o ministro da Fazenda se posicionar em sentido inverso, deu um sinal ao mercado de que Fernando Haddad tem o cargo, mas o PT tem a força. Especialmente depois que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse em entrevista à Globo News que o melhor seria prorrogar por um período.

A decisão, porém, vem no sentido de evitar o mau-humor do eleitorado logo na largada do futuro governo. Internamente, prevaleceu o receio de disparada dos índices inflacionários. Agora, caberá à nova gestão, depois da posse, mostrar que Haddad terá, sim, força para comandar a área econômica. Este ano, avisam alguns, ainda não houve esta demonstração.

A legenda que mais preocupa Lula

De todos os partidos que se juntaram na frente ampla encabeçada pelo PT, o União Brasil é considerado o que pode “entregar menos”, uma vez que o futuro ministro da Integração Nacional, Waldez de Góes, está no PDT e já existe um movimento de deputados para tentar barrar seu ingresso na legenda.

Ministro sem bancada
Góes não tem trânsito na bancada da Câmara. Terá que construir essa relação via senador Davi Alcolumbre (União-AP) e o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE). Só tem um probleminha: conforme o leitor habitual da coluna já sabe, Bivar tentou, mas não conseguiu tirar o deputado baiano Elmar Nascimento do cargo de líder na Câmara. Elmar, que integra o grupo dos “sem-ministério” e tem respaldo da bancada, já se proclamou independente.

Foi o único
Lula, que de bobo tem nada, fez uma “nota de rodapé” ao declarar Góes como ministro de seu governo. Foi o único que ele mencionou como alguém que, além da gestão da pasta, terá que cuidar da “articulação com o Congresso” — ou seja, arrumar votos. Aliás, na bolsa de apostas sobre quanto tempo vai durar a equipe que posará para a primeira foto ministerial, amanhã à tarde, no Palácio do Planalto, o ministro da Integração é visto como o primeiro a ser trocado.

Apito de cachorro
A última live de Jair Bolsonaro como presidente da República foi vista por alguns com algum sinal de preocupação. Embora ele tenha dito com todas as letras que condenava os atos terroristas, o fato de mencionar a posse como algo “previsto para 1º de janeiro” deixou uma certa tensão no ar. Alguns aliados dele acham que pode ter sido um “dog whistle politics”, aquele “apito de cachorro político” que só os extremistas escutam.

Nem tanto
Aliados de Bolsonaro têm dito que o objetivo, agora, é buscar reconstruir uma imagem longe dos extremistas que atearam fogo a carros e ameaçaram explodir um caminhão de combustível nas imediações do aeroporto.

Recursos humanos togado/ Integrantes do PL têm se referido ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, como o “RH” do partido. É Moraes quem libera o dinheiro para pagar 13º salário e tudo mais dentro da legenda.

Olho nele/ O aviso de que haverá um pronunciamento do presidente em exercício, Hamilton Mourão, hoje, às 20h, foi enviado às emissoras de tevê assim que Bolsonaro decolou. Senador eleito pelo Rio Grande do Sul, há quem diga que o general da reserva veio para ficar na seara da oposição.

Acalma aí/ Dizem também que Mourão, além de desejar um Feliz Ano Novo a todos os brasileiros, deixará claro que amanhã vai ter posse, no sentido de tentar dissipar a tensão.

Feliz Ano Novo/ Hora da virada no governo, no país, enfim, na vida. A você, leitor, obrigada por mais um ano e que 2023 venha repleto de saúde, paz, prosperidade, democracia, serenidade e boas notícias para todos os brasileiros.

Presidente eleito deixa três pontos para amarrar até fevereiro

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A demora do presidente eleito em montar a equipe do governo Lula 3 deixa pelo menos três pontos pendentes para ajeitar até fevereiro. Primeiro, a amplitude da base e resistências do PT a nomes de alguns partidos. Em segundo, a aposta dos agentes econômicos de que a inflação deve subir por causa da decisão do futuro governo de não prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis. Afinal, na cabeça do povo e do “Seu José da Quitanda”, vale a máxima: quando a gasolina sobe, sobe tudo.

E ainda há um terceiro ponto: a desconfiança mútua entre Lula e o Centro/Centrão. O presidente eleito terá que dissipar a suspeita de que deu um empurrãozinho na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) — de acabar com as emendas de relator, o chamado orçamento secreto. Até aqui, há mais desafios do que motivos para relaxamento no dia da posse. Aliás, relaxar mesmo, só o “Lula Palooza” idealizado por Janja.

MDB apoiará, mas…

A opção de Lula por Renan Filho e Jader Filho para ministros de Lula deixou uma parcela expressiva dos emedebistas se sentindo como o “patinho feio”. Ainda que o Pará tenha eleito nove deputados dos 66 deputados emedebistas, soou com a volta da “velha politica” dos caciques partidários.

…tem problemas
Além das parcelas do próprio MDB, Lula corre o risco de não ter todos os votos, caso aceite o pedido do PT para que não dê porteira fechada aos aliados. A guerra, a partir de agora, será em torno dos cargos nos estados.

Ele tem a força
A resistência do PT em aceitar Elmar Nascimento (BA) como ministro com a grife União Brasil arrisca jogar a maioria dos deputados do partido na oposição. Quem conhece a fundo a agremiação avisa que Luciano Bivar não controla a bancada de
59 deputados.

Na ponta do lápis
Este ano, Luciano Bivar tentou correr uma lista para tirar Elmar da liderança do União Brasil. Não conseguiu sequer 20 assinaturas.

O clima do momento/ Lula chega hoje à situação em que todos os partidos que o apoiaram em outubro se acham “o ponto percentual” que garantiu a vitória no segundo turno. O Solidariedade, de Paulinho da Força, é um deles. Até agora, não tem um ministério.

Virou chacota/ Nos bastidores dos partidos quase aliados, a tal frente ampla que Lula prometeu na campanha vem sendo chamada de “Frente Ampla do PT”, onde todas as tendências foram contempladas.

Esqueceram deles…/ A virada do ano está logo ali e nada ainda de Ministério para o PT de Minas Gerais. Ali, está com jeitão de “santo de casa não faz milagre”.

…e ajudaram os outros/ Até aqui, de políticos raiz no ministério Lula 3, Minas terá o senador Alexandre Silveira, que deve ser confirmado na pasta de Minas e Energia. É o nome defendido por Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado e candidato a mais dois anos no comando da Casa.

Gente para demonstrar força/ Os petistas não vão desistir do show, todo concebido pela futura primeira-dama Janja. A ordem é reunir uma multidão capaz de mostrar que o PT não perdeu apoio nas ruas. Aliás, dado às nuvens escuras no horizonte, o PT vai precisar de apoio popular para ajudar a criar um ambiente menos tenso.

Simone Tebet ganha um farol para ver todo o governo

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Ao fazer as contas, os emedebistas concluíram que Simone Tebet está melhor no Planejamento do que estaria em áreas como Educação ou Desenvolvimento Social. Ali, no coração da organização do que o governo deve priorizar, ela terá uma visão multitemática com acesso a todos os dados das políticas a serem adotadas a partir de janeiro. De quebra, ainda fará o acompanhamento das estatais, função que, até o governo Dilma, estava a cargo da pasta entregue e aceita pela senadora. O PT, que tanto fez para evitar dar visibilidade a Tebet, terminou entregando um farol para que ela visse todo o governo.

IBGE preocupa
A equipe de Simone Tebet está para lá de preocupada com o IBGE. O Instituto ainda não conseguiu terminar o censo, teve sérios problemas de contingenciamento de verbas e, sem informações precisas, nenhum planejamento funciona. Na largada é ali que Simone atuará com mais afinco.

Muita calma nessa hora
A senadora não pretende chegar logo em 2 de janeiro trocando todo mundo. É preciso, primeiramente, saber “quem é quem” e não permitir a descontinuidade no censo.

A disputa por Cidades

Ainda não é hoje que Lula deve tirar foto com os futuros ministros. É que há uma briga interna pelo ministro das Cidades. O PT de Minas, por exemplo, considera que ainda está a ver navios e precisa ser contemplado.

Sai daí rapidinho!
O quase ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado a “mergulhar” nesse período em que Brasília se mostra tensa. Os mais próximos esperam que ele viaje para os Estados Unidos, a fim de não ser acusado de ampliar a tensão até a posse.

Fica por aqui
Muitos daqueles que gostariam de ver Bolsonaro liderando a oposição, entretanto, estão frustrados com essa atitude. Deixar Brasília, para alguns, pode ser até compreensível. Agora, sair do país, soa como medo do futuro.

A conselheira…/ Economista responsável pelo programa de governo de Simone Tebet ao longo da campanha, Elena Landau, cotada para a equipe do Planejamento capitaneada pela senadora, é citada nas conversas internas dos petistas como alguém que não pode integrar o futuro governo.

… falou demais/ Na última sexta-feira, Elena foi direta em seu artigo no Estadão. Escreveu que “Lula tinha uma oportunidade de montar um ministério plural em todos os sentidos e a jogou fora”. Acrescentou ainda que o presidente acertou em recriar o Ministério do Planejamento e “errou” ao criar um “desnecessário” Ministério da Gestão. Concluiu dizendo que o “conjunto da obra mostra uma aposta no que sempre deu errado neste país. 2023 já nasce envelhecido”. Elena é uma das pessoas a quem Tebet mais ouve.

O árbitro/ Lula já avisou que, quando houver divergência na equipe econômica, será ele a decidir. E, pelo visto, terá muito trabalho.

Enquanto isso, na Defesa…/ O futuro ministro, José Múcio Monteiro, esticou até onde conseguiu a saída dos comandantes militares. Esta saída entre o Natal e o Ano Novo não é vista como um problema.

Por falar em problema…/ A tensão em torno da posse que toma conta desses dias não cessará em 2 de janeiro. Pelo menos, é assim que alguns no entorno de Lula pensam. Aliás, vale a pena assistir à entrevista do deputado distrital reeleito Chico Vigilante (PT) ao CB.Poder. Ele considera que o melhor seria não ter show na Esplanada. O momento é de trabalho. Uma festa tão efusiva só se justificaria se o futuro governo fosse uma unanimidade no país.

 

Congresso estuda saídas para manter recursos das emendas de relator

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Deputados discutiram nas últimas horas a perspectiva de incluir na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição um dispositivo que deixe os recursos discricionários — ou seja, que não são vinculados diretamente a determinados setores de deliberação por parte do Congresso. Essa ideia ainda não está fechada, mas os parlamentares já foram todos convocados para sessão presencial para hoje e amanhã, de forma a debater uma saída para manter sob deliberação do Congresso os recursos das emendas de relator derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Até aqui, diante da decisão do ministro Gilmar Mendes, de tirar o Bolsa Família do teto de gastos, uma parcela dos deputados perdeu a pressa em votar a PEC da Transição. A avaliação geral é a de que a tensão dos últimos anos entre os poderes Judiciário e Executivo se desloca, nesta reta final de ano, para um embate entre Legislativo e Judiciário.

À flor da pele
Os deputados diziam ontem, em conversas reservadas, que é chegada a hora de saber se os congressistas querem ser um poder independente ou deixar que o STF decida sobre tudo. Eles querem poder. Mas devem deixar a briga maior para 2023.

O “pretinho básico” está salvo
Parlamentares comparam a decisão de Gilmar Mendes sobre a retirada de recursos do Bolsa Família da PEC a um vestido preto simples a ser usado numa grande festa. O vestido está resolvido, mas é preciso mais. Falta cabelo, maquiagem e tudo mais. A joia da coroa, por exemplo, está na possibilidade de usar recursos do excesso de arrecadação em infraestrutura e contrair empréstimos de organismos internacionais.

Onde mora o perigo

O risco, alertam alguns aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é cristalizar a ideia de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva joga para tirar poder do deputado alagoano. Se isso ficar mais evidente ao longo dos próximos dias, ou nos primeiros acordes do futuro governo, vai dar problema.

Médio prazo incerto
Muitos dizem que Lula pode até resolver agora, no curto prazo, o seu problema para pagar o novo Bolsa Família. Mas vai criar uma briga com Lira de difícil solução na largada do futuro governo.

Veja bem
A turma de Lira diz que Lula parece esquecer que a eleição foi apertada, que o país está dividido e as ruas não são mais território petista. Quem acompanha atentamente os movimentos, e não é do PT e nem do PL do presidente Jair Bolsonaro, avisa que o futuro governo não terá refresco nem lua de mel. Logo, não dá para criar tensão junto ao Congresso.

Atenção Janja/ Em janeiro de 2003, Lula chegou sem caneta para assinar o termo de posse. Na hora, o então presidente do Senado, Ramez Tebet (MDB-MS), pai da senadora Simone Tebet, deu a sua, uma Montblanc, de presente ao presidente. Dessa vez, espera-se que o cerimonial da posse, a cargo da primeira-dama Janja Lula da Silva, não se esqueça do acessório.

Por falar em Simone…/ Os bastidores fervem e há quem diga que ela ainda não está totalmente descartada do Ministério do Desenvolvimento Social — leia-se, gestão do Bolsa Família.

Olheiros virão/ O PT está decidido a não entregar nenhum cargo de porteira fechada aos aliados. Onde houver outro partido, terá alguém que seja petista de carteirinha para ajudar a fiscalizar.

Dias decisivos e tensos/ A convocação dos parlamentares para Brasília, até amanhã, indica que o espírito de Natal não está prevalecendo nas relações políticas. Embora o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do Orçamento, trabalhe com a aprovação da PEC, nada está garantido.

Amigos de Alexandre de Moraes avisam: ele não vai rever ordens

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Alguns bolsonaristas de carteirinha se preparam para negociar uma trégua com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Eles acreditam que, da mesma forma que cabe aos insatisfeitos com o resultado da eleição se dedicarem a organizar a oposição de forma pacífica, o magistrado deveria também promover gestos de pacificação. Nas rodas de conversas de um grupo de aliados do presidente, o argumento é de que o fato de Moraes, em todas as falas, ameaçar prender manifestantes que discordam de suas decisões só acirra os conflitos. Nessa linha, a tensão não se dissipará. Resta saber se o ministro aceitará.

Amigos de Moraes avisam que ele não vai rever ordens, nem deixará de tomar decisões duras diante de atos antidemocráticos. A avaliação no STF é de que, enquanto houver risco à democracia e à integridade das pessoas, como ocorreu nos atos da última segunda-feira, em Brasília, ele continuará com a corda esticada. A contar pelos ânimos desses dois atores — bolsonaristas e Supremo —, os próximos anos serão tensos.

Primeiro, as emendas

Os congressistas se preparam para votar, ainda hoje, um projeto de resolução que tornar mais transparentes as emendas de relator, vulgo orçamento decreto. Assim, espera-se evitar a inconstitucionalidade delas no STF.

Depois, a PEC
O futuro governo pretendia votar a PEC da Transição nesta semana. Não deu. Tem agora até terça-feira, a nova data, para tentar fechar os votos. Por enquanto, não os tem.

O que falta para 2023?
A contar pela conclusão do seminário Desafios 2023 — O Brasil que queremos, o país precisa urgentemente de um projeto de desenvolvimento, sob pena de perder essa janela de oportunidade de investidores ávidos por um lugar seguro para aplicar seus recursos.

E o ministério, hein?
Os focos de disputa mais acirrados hoje são Minas e Energia e Desenvolvimento Social. Assim como a PEC, Lula vai deixar decantar mais um pouco para anunciar a sua decisão.

Férias do barulho/ Com o aviso de férias publicado, hoje, no Diário Oficial da União, o ministro da Economia, Paulo Guedes, na prática, já deixou o cargo. Marcelo Guaranys tomará conta da pasta até a chegada de Fernando Haddad.

Aliás/ Guaranys terá de passar o cargo para, pelo menos, três ministros. Haddad e, ainda, os ministros da Indústria e Comércio, para o qual o cotado é Josué Alencar, e o do Planejamento, ou melhor, ministra. Esther Dwek, ex-secretária de Orçamento do governo Dilma, é a mais forte candidata à função. Ela coordenou o grupo de reconstrução da pasta.

Não me comprometa/ Guedes, dizem aliados de Bolsonaro, quer distância de qualquer ato mais ostensivo de bolsonaristas contra o resultado das urnas.

Gratidão/ Ficam aqui os agradecimentos ao deputado Hildo Rocha (MDB-MA) pela homenagem aos meus 25 anos de Correio Braziliense, em breve pronunciamento no plenário da Câmara.

PT pede a Ibaneis que não volte Anderson Torres à Secretaria de Segurança Pública

Publicado em coluna Brasília-DF

Os petistas pediram ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que não recoloque o atual ministro da Justiça, Anderson Torres, na Secretaria de Segurança Pública do GDF. A solicitação foi feita depois de o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, reclamar, nos bastidores, da inação do ministério diante dos atos terroristas da noite de segunda-feira, no centro de Brasília. Torres estava jantando num restaurante da cidade e lá continuou. Os petistas temem que, num futuro, em caso de problemas, ele não mobilize as forças de segurança do governo local, caso esteja à frente da segurança da capital.

Só tem um probleminha: Ibaneis já sondou Torres para voltar a ocupar o comando da Secretaria de Segurança Pública. Delegado da Polícia Federal, ele disse ao governador que só estaria livre depois de 31 de dezembro, uma vez que estará com o presidente Jair Bolsonaro até o último dia do governo.

Reflexo
O voto de Rosa Weber contra o orçamento secreto vai respingar no futuro governo e ameaça criar mais entraves para a aprovar a PEC da Transição nos moldes do que foi votado no Senado. Há a suspeita entre os aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que houve pressão do futuro governo para acabar com as emendas de relator pouco transparentes.

Lula dobra a aposta
O presidente Lula, porém, segurou o jogo. Ao adiar o anúncio dos ministros para a semana que vem, sinaliza que quer primeiro aprovar a PEC e, depois, divulgar o restante de sua equipe. Significa que quem quiser as delícias de ser governo tem que votar com ele.

O andar da PEC
Até aqui, não há número suficiente para aprovar a PEC da Transição. Embora os líderes do PT digam que está tudo certo, o que se ouve no partido do relator, Elmar Nascimento (União Brasil-BA), é que, antes de votar, Lula terá que conversar com os líderes. É que a quantidade de parlamentares dispostos a mudar o texto é grande, o que torna incerta a conta dos 308 votos necessários para aprovar a proposta de emenda constitucional.

Veja bem
Diante desse freio de Lula, Lira terá que saber jogar. Afinal, com o voto contrário da ministra Rosa Weber ao orçamento secreto, a aposta é de que ficou muito mais difícil para o atual presidente da Câmara garantir a reeleição desde já.

“Ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar”
Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes

O recado da despedida/ A maioria dos senadores que falou logo depois do discurso que marcou o adeus de Simone Tebet (MDB-MS) da Casa fez questão de lembrar a importância da parlamentar para a vitória de Lula. Se o presidente eleito negar o Desenvolvimento Social a ela, e optar por um prêmio de consolação, será considerado um “ingrato”.

Aliás…/ A palavra que Simone mais usou em seu discurso foi “gratidão”. Para bom entendedor, o recado está dado.

Troca justa/ Se o PT não quer Simone no Desenvolvimento Social, terá que ceder Educação. E aí vem nova briga. Meio Ambiente, aliás, já estava reservado para a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP).

Eles têm a força/ O ex-presidente José Sarney foi colocado estrategicamente entre Lula e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin na posse do novo presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas. Sarney é o conselheiro-mor. E Dantas a mais nova estrela de primeira grandeza da constelação do poder político-jurídico do país.