Autor: Denise Rothenburg
Coluna Brasília-DF
Quem viu a saída de Luiz Henrique Mandetta da sua última reunião com Bolsonaro não se esquece da cena. “Você será responsabilizado pelas consequências, pelas mortes”, disse o ex-ministro. “Eu, não, os governadores é que vão!”, respondeu Bolsonaro, aos gritos. Mandetta não respondeu mais e deixou o presidente falando sozinho.
Casamento arranjado
Quem conhece bem o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, adverte: ele não rasgará a biografia para fazer o que for da vontade presidencial. Fará o que determinar a ciência e o que for possível. A não ser que seja mordido pela mosca da vaidade que, muitas vezes, infesta quem assume um cargo de visibilidade no poder público.
Ao discursar há pouco no Planalto, o presidente, embora medindo as palavras, não escondeu que trocou ministro da Saúde porque queria o fim do isolamento social e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta não atendeu aos seus apelos. Agora, com o novo ministro, o presidente espera que isso seja feito e disse que sua visão era a da economia, a do emprego. “Tinha a visão – e ainda tenho – que devemos abrir o emprego”.
A troca indica que Bolsonaro dobrou a aposta num cenário pós-pandemia, quando a economia falará mais alto. Ele mesmo disse, “é um risco que corro, se agravar vem para o meu colo”. O problema é que o resultado dessa aposta do presidente envolve vidas, pessoas internadas nos hospitais em estado grave, ou em casa, doente, em isolamento. E, para chegar lá com credibilidade e apoio político no pós-pandemia, tem que passar bem por esse corredor polonês, algo que Bolsonaro até momento não conseguiu, dada a queda de popularidade registrada nas pesquisas e os panelaços estridentes em algumas cidades.
Bolsonaro segue fazendo tudo o que a Organização Mundial de Saúde não recomenda: Mantém apertos de mãos, fez inclusive solenidade de posse no Planalto, foi para o meio das pessoas quando da visita ao hospital de campanha, em Águas Lindas. Dentro da área do futuro hospital, usou máscara. Do lado de fora, dispensou o acessório que se torna cada vez mais obrigatório no mundo. (Na França, por exemplo, haverá distribuição de máscara às pessoas para a reabertura gradual do lockdown).
Enquanto o presidente faz o seu discurso, defendendo o retorno ao trabalho, o sistema de saúde de algumas cidades, como Fortaleza e Manaus, já entraram em colapso. Para completar, o novo ministro, Nelson Teich, até aqui se mostrou mais aceito a seguir as recomendações da área medica do que as determinações presidenciais. Chega pressionado pelo presidente e, até aqui, mesmo na lie do presidente ontem, não fugiu à defesa da ciência. É sério e, na própria posse, não demostrou a mesma alegria do presidente Jair Bolsonaro diante de ministros que também não pareciam felizes com a situação. Especialmente, depois do discurso de Mandetta, em que agradeceu o apoio de todos, inclusive dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio, citados nos bastidores da politica como aqueles que também pressionaram pela demissão do ministro. O “dia de alegria”, que Bolsonaro citou no início de seu discurso há pouco, não teve eco. A ordem é esperar, para ver o que virá da nova gestão da saúde.
Impedido de agir como quer pelo STF, Bolsonaro ficará mais à vontade após trocar ministro
Coluna Brasília-DF
Ainda que Jair Bolsonaro tenha trocado o ministro da Saúde, o presidente não conseguirá fazer tudo o que quer em termos de fim do isolamento social ou mesmo uso indiscriminado da hidroxicloroquina. Quanto ao isolamento, o Supremo Tribunal Federal já definiu por unanimidade que governadores e prefeitos têm o direito de determinar o isolamento, se considerarem necessário. Em relação à cloroquina, também não está descartada uma judicialização, conforme bem lembrou o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, na entrevista ao CB.Poder, na semana passada.
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No meio dessa disputa, ainda que não consiga impor sua vontade com a troca, o presidente apostará nas manifestações que seus apoiadores farão nos próximos dias, em prol do retorno ao trabalho. Agora, Bolsonaro se sente mais “solto” para convocar os seus sem se preocupar em levar “bronca” do ministro.
Onde mora o perigo
Bolsonaro vai interferir nas nomeações do segundo escalão do Ministério da Saúde. Já tem muita gente na área técnica com receio de que venham aí mais alguns “bolsonaristas raiz”, sem carta branca para que Nelson Teich monte sua equipe.
Antes da demissão…
O presidente passou os dias em reunião com agentes políticos para tentar reduzir o dano político no Congresso com a decisão tomada, desde domingo, de tirar Luiz Henrique Mandetta do cargo. Ontem, conforme antecipou a coluna, foi a vez do presidente do PSD, Gilberto Kassab.
… preparar o terreno…
As conversas políticas não foram apenas para preparar o terreno, a fim de baixar o tom pela demissão de Mandetta. Pesou também a vontade de arrumar alguma base política para que a vida pós-pandemia não vire um pandemônio.
…e ampliar os 70
O presidente está muito preocupado com o fato de ter obtido apenas 70 votos, no plenário da Câmara, quando da votação do socorro aos estados e municípios, conforme antecipou a coluna, ontem, ao elencar os encontros políticos nos últimos dias. Bolsonaro agora está disposto a tentar ampliar esse número, atacando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). O problema é que, para essa ampliação, conversa justamente com o que os bolsonaristas chamam de “supra-sumo da velha política”.
CURTIDAS
Tira a saúde da sala e põe Maia/ Com a saída de Mandetta do governo, Bolsonaro coloca agora o presidente da Câmara como o alvo preferencial. O presidente não vive sem um confronto direto e acaba de eleger mais um, enquanto o novo ministro Da Saúde, Nelson Teich, fará as mudanças na equipe do Ministério.
Entre Mandetta e Bolsonaro…/ Até aqui, pelas reações dos políticos, a maioria dá sinais de apoio maior ao ex-ministro. O DEM, por exemplo, está cada vez mais distante do presidente.
Ninguém entendeu/ O presidente insistiu tanto no uso da hidroxicloroquina e não bateu bumbo sobre os testes com um novo medicamento, que o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, defendeu e anunciou como algo que tem 94% de chance de dar certo.
E tem mais/ Em entrevista à Rede Vida, na noite de quarta-feira, Pontes citou ainda que o Brasil já desenvolveu tecnologia para testes de detecção do novo coronavírus e está pronto para produção em larga escala.
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele assume com a missão de tenta conciliar a ciência com os desejos presidenciais, de fim do isolamento social. Ao longo dos últimos meses, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta ouvia todo os dias do presidente que era preciso que as pessoas voltassem ao trabalho. Mandetta dizia que queria a mesma coisa, mas, no momento, o distanciamento social era necessário, por causa do risco de colapso do sistema de saúde. Cidades como Fortaleza e Manaus já sofrem com problemas de vagas nos hospitais.
Teich chegou se colocando em “alinhamento total” com o presidente Jair Bolsonaro. Porém, no curto prazo, Teich não tem como fazer o que Bolsonaro deseja, ou seja, acabar com o isolamento social para não prejudicar a economia e, por tabela, evitar que as pessoas morram de fome. O ministro precisará, primeiro, conhecer a pasta e consolidar o processo de transição, algo que deve ocorrer em meio a um cenário de dias difíceis e com o avanço da pandemia no Brasil, onde o isolamento tem sido menor do que o considerado ideal pelas autoridades sanitárias para reduzir a velocidade de contaminação.
Até aqui, tudo o que o novo ministro anunciou em sua primeira fala foi exatamente o que era dito pelo antecessor: tem se ter informações sobre tudo o que está acontecendo, tomar decisões baseadas em dados técnicos, tem que testar as pessoas. Se seguir a ciência e não se render somente ao que deseja Bolsonaro, será mais um com quem o presidente terá problemas ali na frente para se somar àqueles que angaria depois de demitir um ministro que era aprovado por 76% da população.
O discurso do governo para a Saúde será colocar a culpa em Mandetta
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixa o cargo, mas o governo não vai dispensá-lo simplesmente. Está em curso a preparação de uma narrativa para jogar no colo do quase ex-ministro tudo o que der errado daqui para frente. Algo do tipo, Mandetta não planejou, Mandetta gastou, Mandetta subestimou, Mandetta demorou, Mandetta falou e não agiu, e por aí vai.
O quase ex-ministro já percebeu que esse jogo virá. Por isso, nas últimas entrevistas, tem dito que sempre agiu de acordo com a ciência, a saúde e o sistema único que vigora no Brasil. Também ressaltou que sua gestão foi marcada pela transparência, ou seja, não escondeu os números e a situação dos serviços de saúde.
Agora, sob nova direção, restará saber que tipo de autonomia o futuro ministro terá para se pautar pela ciência e não pelos desejos do Planalto e dos apoiadores mais fiéis do presidente da República. Esse será o primeiro teste: Atravessar a pandemia dentro do que requer a ciência, sem esconder dados e sem cair na tentação de ficar apenas reclamando do antecessor __ um médico que adquiriu o respeito e a admiração do corpo técnico do Ministério da Saúde. Portanto, se quiser ganhar a equipe, o novo ministro, seja quem for, terá que se equilibrar entre as determinações técnicas e os desejos palacianos, desprezando a narrativa em gestação nos escaninhos bolsonaristas, de desconstruir totalmente a imagem do quase ex-ministro.
Bolsonaro quer um novo ministro da Saúde que seja médico, cristão e de SP
Coluna Brasília-DF
O presidente quer um novo ministro da Saúde que seja médico, cristão e de São Paulo. O perfil “de São Paulo” tem um objetivo muito claro: fazer um contraponto ao governador João Dória com a defesa do fim do isolamento social pregado no estado que é visto como a locomotiva do Brasil.
O alvo de Bolsonaro
Alguns dos médicos contactados já perceberam essa armadilha e recusaram o convite do presidente. Preferem ficar na frente de batalha, ou seja, nas trincheiras hospitalares.
O xeque de Mandetta
No papel de namoradinho do Brasil, o ministro da Saúde diz que está com o SUS, a saúde e a ciência, e tem o compromisso de transparência de todos os números de casos. Sua fala, avaliam alguns, deixou o presidente com a missão de encontrar alguém que siga por esse mesmo caminho. Caso contrário, o novo ministro chegará sob o signo da desconfiança, o que seria o pior dos mundos.
Onde mora o perigo
É grande a desconfiança de que Bolsonaro determinará a um novo ministro que não divulgue o número de mortos pela Covid-19, e sim pela comorbidade –– ou seja, cardiopatia grave e por aí vai. Seria a inversão dos fatores, algo que a atual equipe da Saúde não faz, porque, nesse caso, a inversão dos fatores altera o produto.
Coluna Brasília-DF
O afastamento do grupo do DEM que, em 2019, defendia um alinhamento automático com o governo Bolsonaro, gerou um movimento de busca a novos amigos por parte do presidente da República. Ele já se reuniu com representantes do MDB, do PP, do PR e, ontem, foi a vez do PSD, de Gilberto Kassab. Esses partidos têm algo em comum: todos ofereceram seus serviços a Lula, em 2005, quando o ex-presidente se viu às voltas com o escândalo do mensalão. Deu no que deu.
A separação entre o DEM e Bolsonaro virá acompanhada de um pedido para que aqueles leais ao governo sigam para o Aliança pelo Brasil, num futuro próximo. Dos três que estão hoje na Esplanada, as apostas indicam que o único a trocar de legenda em prol do presidente será o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. A da Agricultura, Tereza Cristina, dizem os palacianos, deve optar continuar na legenda atual. Luiz Henrique Mandetta está de saída é do governo.
Por falar em hospitais…
A situação do Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, está insustentável. Estudantes de medicina residentes estão atendendo na área de clínica médica sem qualquer supervisão de um profissional contratado. Em alguns andares, os médicos simplesmente sumiram. E detalhe: os estudantes estão preocupados porque não sabem entubar um paciente, se necessário.
Só resta espernear/ Entre os bolsonaristas mais aguerridos, havia quem estivesse disposto a pedir a Bolsonaro que encontrasse um meio de recorrer à decisão do Supremo Tribunal Federal de não permitir que ele interfira no isolamento social determinado por governadores e prefeitos. Como foi por unanimidade, não há saída.
A política é local/ O Senado aprovou por 80 votos a favor e uma ausência o projeto do senador Fernando Collor (Pros-AL), que facilita a doação e combate ao desperdício de alimentos. Apenas um senador não votou: Renan Calheiros (MDB), outro alagoano.
Enquanto isso, na Esplanada…/ Tem aumentado a reclamação de servidores públicos que se sentem pressionados a não fazer quarentena, mesmo quando não se trata de serviços essenciais.
Depois do pedido de demissão do secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, o clima no Ministério da Saúde é de aguardar que o presidente Jair Bolsonaro defina oficialmente a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Foi dentro desse espirito de “vamos aguardar” que o ministro conseguiu convencer o secretário a permanecer no cargo para que todos, se for para sair, saiam juntos.
A avaliação de aliados do presidente é a de que Bolsonaro não deseja a permanência do ministro e trabalha agora no sentido de buscar um substituto que lhe permita manter, dentro do seu governo, o discurso de “cuidar da saúde das pessoas” que, em locais de muita concentração de casos e de mortes por Covid-19, não está casado com as filas do presidente de que e preciso salvar a economia.Até aqui, esse discurso do cuidado da saúde projetou Mandetta da mesma forma que o discurso de reabertura do comércio mantém coesos os mais radicais aliados do presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro quer trocar Mandetta de forma a poder manter sob o seu governo o melhor dos dois discursos. Até aqui, presidente ainda não fechou essa equação.
Dentro da equipe de Mandetta, entretanto, havia desde cedo uma réstia de esperança de que, se o ministro ficasse mais uns dias, poderia inclusive tentar reverter o pedido de demissão de Wanderson, que já aceitou ficar até sexta-feira. E foi o que ocorreu, embora o secretário não se mostrasse muito disposto a permanecer, atendeu o apelo do ministro. Wanderson foi um dos primeiros a alertar o governo sobre o que poderia vir pela frente em elação à pandemia. Dizer a verdade, entretanto, transformou o técnico em alvo. Essa semana foi duramente atacado nas redes bolsonaristas, assim como já vem ocorrendo há dias com o ministro Mandetta.
O jornalista Orlando Brito, um dos fotógrafos mais renomados do país, flagrou essas faixas hoje de manhã em frente ao Congresso. Justamente nesse momento em que o Ministério da Saúde tenta adquirir material hospitalar da China. Parece uma tentativa de sabotagem ao trabalho do ministro Luiz Henrique Mandetta.
Ontem, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, teve um pedido de abertura d inquérito apresentado contra ele por postar imagens ofensivas aos chineses em suas redes sociais. A faixa que traz a foto do líder chin6es Xi Jinping, com a inscrição “fdp” em inglês, não contém assinatura. Bem com a que apresenta o embaixador da China no Brasil, que dispensa qualquer comentário. Desrespeito total e desnecessário nesse momento em que o mundo enfrenta o vírus.
PGR suspeita de irregularidade em auditoria internacional do BNDES
Coluna Brasília-DF
A Procuradoria Geral da República avalia eventual investigação sobre possíveis irregularidades no Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES). O repórter Renato Souza, do Correio Braziliense, apurou que os procuradores têm dúvidas a respeito dos resultados da auditoria internacional que, contratada para avaliar as operações da instituição financeira, não encontrou problemas.
BNDES na mira
O procurador-geral Augusto Aras chegou a se encontrar, no dia 7 deste mês, com o presidente do banco, Gustavo Montezano, e outros representantes da instituição. A PGR informou que a reunião discutiu impactos da epidemia de coronavírus. Mas ações voltadas para identificar ilegalidades estão no radar. Uma das possibilidades é contar com colaboração da Polícia Federal.