Educação sexual
educação sexual Adolescentes em aula de educação sexual na TailIândia (Foto: AFP)

Educação sexual: pregar a abstinência não é a melhor forma de proteger adolescentes

Publicado em Pesquisas, Sexo e saúde

Qual é a melhor forma de reduzir o número de adolescentes grávidas e de jovens infectados com HIV e outros males? Essa é uma pergunta chave para profissionais que trabalham com educação sexual. Para muitas pessoas, a resposta está em programas que estimulem garotos e garotas a fazer sexo apenas depois do casamento. Os entusiastas dessa estratégia, costumam repetir que “abster-se de atividades sexuais é a única forma de evitar gravidez fora do casamento, doenças sexualmente transmissíveis e outros problemas de saúde relacionados”.

Um grande estudo de revisão sobre o tema, porém, publicado hoje na revista especializada Journal of Adolescent Health, concluiu que investir exclusivamente na mensagem de que os adolescentes devem se manter virgens até se casar é uma estratégia ineficaz, que não adia a iniciação sexual nem reduz comportamentos de risco.

O estudo pode ser acessado de forma gratuita aqui.

Para chegar a essa conclusão, um grupo de 13 pesquisadores analisou quase 100 trabalhos que, nos últimos anos, mediram a eficácia dos diferentes tipos de programa de educação sexual existentes nos Estados Unidos. Em um comunicado emitido pela Universidade de Columbia, em Nova York, um dos autores, John S. Santelli, resume o resultado encontrado: “O grosso da evidência científica mostra que iniciativas desse tipo não ajudam os jovens a fazer sexo mais tarde. Enquanto a abstinência é eficaz na teoria, na prática, tentativas de se abster de atividades sexuais frequentemente falham”, diz.

E por que esses programas falham? Porque ao investir apenas em uma mensagem — “não faça sexo” —, não passam aos jovens informações importantes, como o uso de preservativos e outros métodos contraceptivos, nem abrem espaço para que eles falem sobre seus medos, angústias e dúvidas. Assim, quando esses adolescentes acabam fazendo sexo — e muitos deles fazem —, o fazem de forma menos informada e segura. “Esses programas simplesmente não preparam os jovens para evitar gravidez indesejada ou DSTs”, afima Santelli.

O problema não é a abstinência, mas a falta de educação sexual

A bronca dos pesquisadores não é com a abstinência em si. Já na segunda linha do artigo, eles escrevem que “a abstinência de relações sexuais pode ser uma escolha saudável”. O problema são as iniciativas que, na maior parte das vezes por questões morais, insistem apenas na mensagem de que os jovens devem evitar o sexo. Essa mensagem, dizem os cientistas, não encontra eco em um mundo onde a idade de iniciação sexual é cada vez mais baixa e a de casamento, cada vez maior.

Hoje, nos Estados Unidos, uma mulher faz sexo pela primeira vez, em média, 8,7 anos antes de se casar. Entre os homens, a diferença entre o início da vida sexual e o matrimônio costuma ser de 11,7 anos. Para as mulheres nascidas nos anos 1940, essa diferença era de apenas 1 ano e meio.

Dessa forma, informar é proteger, defendem os autores. Os estudos analisados por eles indicam que programas de educação sexual baseados em informação e diálogo acabam sendo os mais eficazes, não só na proteção contra a gravidez indesejada e doenças, mas também no adiamento da primeira vez.

E a explicação é simples. Ao poder contar com um espaço de diálogo, onde seus medos e dúvidas são ouvidos, os jovens se tornam mais seguros e capazes de tomar decisões sensatas, o que pode incluir adiar a hora de fazer sexo para um momento em que se sinta mais preparado. Em outras palavras, falar sobre sexo não significa fazer mais cedo, pelo contrário. Ou como escrevem os autores: “Jovens precisam de acesso a informações precisas e completas para que possam proteger sua saúde e sua vidas”.