Condomínio 12% mais caro no Distrito Federal

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O efeito em cadeia do aumento de preços nas taxas de serviço público e nos produtos em geral chegou nos condomínios dos prédios do Distrito Federal. Segundo estimativas do Sindicato dos Condomínios local (Sindicondomínio-DF), a média de incremento nos boletos dos moradores foi de 12,33% em 2015. Somente em setembro, a inflação dos condomínios no DF foi de 1,21%, mais alta que a média nacional (0,45%). Índice puxado principalmente pela conta de energia elétrica e de água. Gastos com os funcionários e vale-transporte também entraram na planilha de custos, assim como a alta da inadimplência, que segundo o Sindicondomínio-DF, está em 30%. Dessa forma, em tempos de inflação alta, especialistas aconselham o condomínio a repensar os gastos e evitar desperdícios.

Para especialistas, a gestão eficiente torna-se mais necessária em tempos de crise. Uma boa administração pode diminuir os custos e corrigir distorções. “Muitos condôminos questionam a diferença de preço de condomínio de prédios com a mesma quantidade de apartamentos e de estrutura parecida. A diferença pode estar na gestão”, defende José Nazareno Farias Martins, diretor de comunicação social do Sindicondomínio-DF. Em algumas quadras do Plano Piloto, a diferença de preço de um edifício para o outro com estrutura similar pode ser de até 200%.

O diretor de relações institucionais do Sindicondomínio-DF, Antônio Carlos Paiva, defende ações pontuais, principalmente em itens que mais oneram os gastos do condomínio, como água, luz e o pagamento de funcionários. No intuito de economizar a fatura de energia elétrica, os síndicos podem substituir as lâmpadas fluorescentes ou incandescentes por modelos de led. Se a água for de uso coletivo, o condomínio pode promover uma ação de conscientização do uso ou então tentar trocar equipamentos com muita vazão de água por tipos mais econômicos. Em relação aos funcionários, a saída pode ser a dispensa, porém, Paiva pondera que, neste caso, pode haver queda na qualidade do serviço. “São atitudes de gestão que permitem minimizar custos”, avalia.

O educador financeiro Álvaro Modernell defende uma mudança na postura dos moradores para manter as contas do condomínio mais equilibradas. “Em tempos em que tudo sobe, como água e luz, é natural que o condomínio também aumente, por isso, a importância de uma postura coletiva”, comenta. “Existe um raciocínio de algumas pessoas que, como o condomínio é coletivo, não adianta economizar porque o outro não vai fazer. Ou então, não tem o cuidado necessário com a área comum. Mas se todos pensarem assim, a conta sempre vai vir mais alta por causa do alto consumo e dos gastos com manutenção”, complementa.

Leonardo Decina, 63 anos, é síndico de um prédio na Asa Sul. O preço do condomínio do prédio que ele administra subiu de R$ 850 para R$ 890 de taxa ordinária. Ele conta que para subir pouco a tarifa teve que otimizar gastos e custos. Uma das alternativas foi contratar uma empresa para elaborar um laudo técnico sobre o que é mais urgente da recuperação de infraestrutura do prédio. Outra medida  foi a suspensão da cobrança do fundo de reserva. “Já tínhamos um bom saldo de R$ 120 mil que, por enquanto, não está sendo usado”, comenta. O uso de placas de energia elétrica que aquecem a água para os chuveiros também ajuda. Assim, embora a conta de energia tenha saltado de R$ 1,8 mil para R$ 3 mil mensais por causa do aumento, a alta foi menor do que em outros edifícios.

   

Ana Cunha, 59 anos, é representante do conselho fiscal do prédio, ela explica que campanhas de conscientização de uso da água também foram importantes. Ela afirma ainda que é feito um controle diário de gasto da água para ver se não tem algum vazamento. “Com essas medidas vamos mantendo o preço, mesmo com os constantes aumentos”. Ana lembra ainda que a inadimplência do prédio é baixa, o que permite maior planejamento.

Taxa extra

    

Um dos itens mais polêmicos entre os moradores é a cobrança da taxa extra. Com a crise, tarifas muito caras ficam mais difíceis de serem quitadas. A consultora e administradora de empresas Fernanda Monturil, 44 anos, reclama do preço da taxa extra instituída no prédio em que ela mora na Asa Sul. Atualmente, o condomínio custa R$ 2 mil, sendo R$ 1 mil só de taxa extra e este valor vem sendo cobrado desde 2010, com o objetivo de reformar a fachada do edifício.

Segundo a administradora, o preço é o mais alto de toda a quadra, cujos valores variam de R$ 850 a R$ 1.150. “São 29 meses de taxa extra, uma obra megalomaníaca. Até ofereci outros orçamentos que não foram aceitos. Nunca o condomínio pesou tanto”, comenta. Por causa do alto valor, Fernanda está inadimplente desde o ano passado. “Recorri a Justiça para ter acesso aos balancetes e à prestação de contas”, afirma.

Representantes do Sindicondomínio-DF explicam que a taxa extra deve ser votada em assembleia e deve ter data de início e fim da cobrança. Para evitar problemas e dor de cabeça, Nazareno recomenda intensa participação dos condôminos na contratação de serviços e aprovação de reformas. Por conta da crise financeira e dos altos preços, Modernell sugere que apenas serviços essenciais sejam realizados. “Via de regra, os gastos devem ser necessários. Os condôminos devem se perguntar: essa obra é realmente necessária? Podemos deixar para depois?”, questiona Modernell.

Inflação do condomínio em setembro (%)

Brasil: 0,45

Brasília (DF) 1,21

Belém (PA) 2,61

Fortaleza (CE) 0,37

Recife (PE) 0,00

Salvador (BA) 0,82

Belo Horizonte (MG) 0,91

Rio de Janeiro (RJ) 0,46

São Paulo (SP) 0,24

Curitiba (PR) 0,29

Porto Alegre (RS) 0,20

Grande Vitória (ES) 0,64

PARA SABER MAIS

Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o condômino inadimplente pode, desde que aprovada sanção em assembleia, ser obrigado a pagar multa em até dez vezes o valor não quitado. O entendimento é da Quarta Turma do STJ de um processo que envolve a construtora do Grupo OK, pertencente ao ex-senado Luiz Estevão. A construtora, segundo consta nos autos, é devedora recorrente e desde o ano de 2002 tem seus pagamentos efetuados mediante apelo na via judicial, com atrasos que chegam a mais de dois anos. O Grupo OK foi condenado a pagar os débitos condominiais acrescidos das penalidades previstas em lei, tais como multa de mora de 2%, além de juros e correções. Deveria incidir ainda penalidade de até 10% sobre o valor da quantia devida, conforme regimento interno do condomínio. A empresa questionava a aplicação de sanções conjuntas, alegando estar sendo penalizada duas vezes pelo mesmo fato, o que por lei seria inviável.

Fotos: Ana Rayssa