valdir_eixo Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Valdir Oliveira aposta no otimismo e na empatia para vencer a crise

Publicado em Entrevistas

À queima roupa// Valdir Oliveira, superintendente do Sebrae-DF

Por Carlos Alexandre de Souza

Torcedor aguerrido do Fortaleza Esporte Clube e otimista por natureza, Valdir Oliveira já tem a tática definida para o país mudar o jogo em 2022. A virada consiste em dar mais importância a altruístas do que a heróis. É preciso ter mais empatia e buscar soluções para quem está sofrendo os impactos da pandemia, seja na saúde, seja na economia.

Você é fã de cinema, música e de futebol. Que metáfora define bem a retomada da economia brasileira nesse momento?
A economia sempre se ajusta à vida e à política. Se estamos em turbulência nesses campos, a economia ficará no módulo espera ou sobrevivência até que voltemos às condições de estabilidade. A junção da “esperança no amanhã”, como cantou Gonzaguinha, e ouvir quem pode nos ensinar, como o filme A última lição, além de “foco na gestão”, como fez a diretoria do meu time, o Fortaleza Esporte Clube, pode ser o caminho do resgate econômico brasileiro. Essa é a junção que pode colocar o Brasil no rumo da reconstrução tão desejada por todos os brasileiros.

O risco é grande de continuarmos nesse movimento de concentração de renda?
Essa pandemia empobreceu os mais pobres e enriqueceu os mais ricos. Desde o início da pandemia, os mais pobres fecharam seus pequenos negócios ou perderam seus empregos e os mais ricos concentraram consumo e renda, aumentando seus patrimônios. Sem uma intervenção do Estado, aumentaremos esse fosso que separa as classes sociais. O desespero dos excluídos pode nos levar a uma crise social sem precedente e até a uma ruptura que não virá dos quartéis, mas daqueles que podem recorrer à violência na busca pela própria sobrevivência e de sua família. Sem uma imediata distribuição de renda, teremos um colapso. E não adianta subir os muros das casas ou se proteger com armas, a reação à necessidade da sobrevivência enfrentará qualquer barreira para buscar o alimento e a esperança que falta aos brasileiros excluídos.

O que os empresários podem esperar do segundo Natal na pandemia?
O Natal é o melhor momento da nossa economia. A indústria e o comércio têm seu ápice de oportunidades nessa época do ano. Além da mensagem de esperança embutida no Natal, a expectativa de recursos extras circulando nas mãos dos consumidores reacende a expectativa do faturamento. Esse Natal tende a ser mais positivo, porque a crise sanitária está dando sinais de maior controle e as atividades estão voltando a uma nova normalidade.

As lideranças empresariais passaram na prova de fogo da crise sanitária?
Não é fácil a missão de defender aqueles que precisam sustentar as famílias em um momento onde o desespero gerado pelo risco de vida e pela ideologização do debate nos colocou em uma guerra imaginária entre a economia e a vida. A falta de empatia também reflete na incompreensão daqueles que não entendem a dor de quem viu o seu negócio derreter, muitas vezes patrimônios formados ao longo do tempo, na história da família.

Qual foi a consequência desse quadro?
Em momentos como esse, ressaltam-se as divergências. As lideranças empresariais sentiram a dor dos que perderam seus negócios e suas histórias nessa crise. Gritaram junto e buscaram o caminho para construção de soluções para não deixar morrer os empreendedores que sobreviviam à crise. Foram guerreiros nessa luta insana contra a crise sanitária e com seus erros e acertos, nunca abandonaram os que acreditam na geração de emprego e renda. Essa luta não acabou, continua. E eles continuam em suas lutas diárias para manter a economia viva, apesar das adversidades. Nossas lideranças empresariais passaram na prova de fogo da crise sanitária, mas como a crise não acabou, eles continuam na luta para vencer em definitivo essa crise.

Uma pesquisa recente do Sebrae indica que o preço das mercadorias e o aumento da gasolina têm sido os maiores fatores a pressionar os custos dos pequenos negócios. Há solução?
A inflação é o grande mal a ser combatido. Ela atinge os mais pobres de forma cruel, arrancando seu poder de compra, como se roubasse diariamente o oxigênio das pessoas. Os impactos nos insumos trazem esse risco de volta. O aumento da energia e do combustível impacta nas cadeias produtivas que formam nosso mercado e o reforço será naqueles que estão na ponta com os consumidores, principalmente quem atende o público de menor renda. O acréscimo dos custos, devido ao aumento de insumos, nem sempre pode ser repassado para o preço. A solução para a retomada da atividade econômica com distribuição de renda está no combate à inflação e no estímulo aos pequenos negócios, para não provocarmos uma maior concentração de renda. É a política que poderá trazer a solução para a economia.

Aumento de IOF, bandeira vermelha, juros em alta, inflação na casa dos dois dígitos. Como sair dessa tempestade perfeita?
Em primeiríssimo lugar, com a retomada do equilíbrio político do País. Essa tempestade é fruto de um ambiente político hostil. A antecipação de disputas eleitorais mudou a pauta política do Brasil. Só a consciência do povo brasileiro poderá mudar essa trajetória. Precisamos trocar os heróis pelos altruístas, porque não existem soluções milagrosas e, sim, empatia para resolver a dor das vítimas dessa crise, seja sanitária, seja econômica. Está na hora de escolher os altruístas que estejam dispostos a doar suas vidas para o coletivo e não permitir que os oportunistas retirem a vida do coletivo para atender seus próprios interesses.

De que forma políticas públicas podem auxiliar o microempreendedor?
Com intervenções de estímulo ao seu desenvolvimento. Essa crise trouxe a inflação, o desemprego e o desequilíbrio fiscal em grandes proporções. Voltamos ao período anterior ao plano real. Precisamos reorganizar nossas contas públicas e focar no estímulo à distribuição de renda. Os pequenos negócios são o caminho para essa solução. Respondem por 52% dos empregos formais e apenas 27% do PIB. Quanto mais estimularmos os pequenos negócios, mais estimularemos a criação de emprego e distribuição de renda.

Por quê?
Esse estímulo será traduzido em ambiente empreendedor simplificado e ágil e crédito de fomento que alcance, principalmente, os excluídos. Com crédito e simplificação, os pequenos negócios deslancham e retomamos a geração de emprego e renda. Mas o foco precisa ser nos pequenos negócios. Se as soluções permanecerem no campo tradicional, continuaremos ofertando crédito e direcionando oportunidades para os mais ricos, impedindo o ciclo de desenvolvimento necessário para a retomada da economia.

Quais são as potencialidades de Brasília em relação à economia criativa?
Brasília tem tudo a ver com criatividade. A alta escolaridade e renda da nossa população são uma oportunidade para a economia criativa e demonstram a potencialidade desse setor no nosso mercado. Temos abundância no capital intelectual e cultural em Brasília, mas precisamos de estímulos para acelerar esse potencial. Não adianta sermos um berço para o espetáculo, se não temos teatros em condução de grandes produções. No tocante à inovação, o parque Biotic é a grande aposta do desenvolvimento desse ecossistema. Na semana passada o Governo do Distrito Federal lançou o Fundo Imobiliário que impulsionará a construção desse parque tecnológico, atendendo o tripé, empresas, universidades e residências, para dar vida ao parque. A primeira fase de captação será de R$ 1 bilhão. Esse é o direcionamento para a construção da nova matriz de desenvolvimento do Distrito Federal. Temos duas grandes vocações, logística e inovação. Essa é a prova do potencial da economia criativa no mercado de Brasília.

A Feira do Empreendedor está marcada para outubro. Qual a importância dessa iniciativa?
O estímulo ao empreendedorismo por meio da Feira do Empreendedor sempre foi uma marca forte do Sistema Sebrae. Estamos retomando com um novo formato. Uma feira de âmbito nacional e no novo modelo, pelos canais digitais. Através deles, todos podem ter acesso ao conteúdo e a exposição. A escala dessa intervenção é muito maior e as oportunidades ficam mais próximas, porque a distância física passa a não ser uma barreira para o conhecimento e para a troca. É assim que estamos realizando os negócios nesse novo mercado, e o Sistema Sebrae evoluiu em suas soluções para ficar alinhado com o mercado. Essa Feira do Empreendedor será a mostra do novo mercado do pós-pandemia.

Pretende se candidatar em 2022?
Não me parece razoável discutir protagonismo eleitoral nesse momento. Acredito que ajudar com o que podemos seja mais relevante do que disputar espaços político-eleitorais. Já tem muita gente fazendo isso. Considero que o mais importante nesse instante é somar e não dividir. Penso assim.