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Painel de Athos vai a leilão, mas não é arrematado

Publicado em Coluna Capital S/A

O painel de Athos Bulcão retirado da fachada do restaurante Piantella foi a leilão na noite de ontem, mas não foi arrematado por comprador algum.

O conjunto de blocos chegou a ser avaliado em R$ 400 mil. O lance mínimo do pregão era de R$ 250 mil. O blog apurou que havia dois compradores interessados. Mas eles se sentiram desconfortáveis em fazer lances devido à polêmica gerada sobre o caso.

A Fundação Athos Bulcão se manifestou contra a venda das peças como obra do artista por terem sido removidas do local original sem autorização.

“O lote referido no leilão não deve ser vendido como obra do artista. Informamos também que, dada a última intervenção no painel, sem autorização desta Fundação e aval do Iphan, o mesmo foi retirado do Inventário de obras de Athos Bulcão.”

A entidade solicitou que a referência ao nome do artista fosse retirada do lote à venda, assim como a imagem da placa que identifica a obra.

Acervo particular

O painel faz parte de acervo particular. As peças estão sob a posse do ex-proprietário do Piantella, o empresário carioca Omar Peres. Ele é dono de dois tradicionais locais no Rio de Janeiro, o Bar Lagoa e o restaurante Fiorentina, no Leme. Peres comprou o Piantella em 2017. O gestor do negócio foi o irmão Roberto Peres, que mora em Brasília.

O Piantella, na 202 Sul, fechou as portas em março do ano passado por causa da pandemia.

 

Roberto explicou à coluna que deixar a obra no local sem manutenção e passando o ponto adiante poderia causar danos ao painel, já que não encontraram interessados para assumir o espaço com as peças.

Sem interesse

“Entendemos a fundação no sentido de retirar a referência da obra como de Athos para o leilão. Acatamos o pedido. Queremos que o legado fique em Brasília, oferecemos a empresários da cidade, mas não houve interesse. O futuro proprietário poderá remontar o painel em novo lugar e deverá buscar a fundação para tentar certificar lá novamente”, disse Roberto Peres.

Remoção polêmica

A Fundação Athos Bulcão, no entanto, afirmou que a retirada da obra não foi autorizada. “Trata-se, assim, de violação da Lei nº 9.610/98, portanto, de obra descaracterizada de seu projeto original, o que desvincula o artista Athos Bulcão de sua autoria, conforme reza a legislação vigente”, afirma. A notificação é assinada pela secretária executiva da entidade, Valéria Maria Lopes Cabral.

Proteger a memória da cidade

“Temos como missão institucional promover e proteger as obras desse artista, cujos trabalhos são de importância inigualável para a história da capital. Proteger as obras de Athos é proteger a memória e a cultura de Brasília”, ressalta Valéria.

 

Ela esclarece que o legado do artista não é de domínio público, como muitos acham. “Flagramos distorções absurdas da obra dele. Isso é um desrespeito ao conceito original do artista”, ressalta. A fundação tem 260 obras catalogadas.

Loja on-line

A fundação conta com uma loja, onde se vendem obras e objetos devidamente licenciados. É o que sustenta a entidade. Nos meses em que ficou fechada por causa da pandemia, ela foi essencial para arrecadar recursos. Houve uma expansão, e a coleção de objetos com a grife do artista foi para vários locais do Brasil. “Fizemos promoções, como oferecer frete grátis, para impulsionar as vendas”, conta Valéria. A loja física reabriu e voltou, com os devidos cuidados, a atender o público, na 404 Sul.

Homenagem no calendário
Os trabalhadores da área da Saúde foram homenageados no tradicional calendário anual da Fundação Athos Bulcão em 2021. O projeto bateu recorde de doações para a produção.

Nas páginas, obras de Athos que estão expostas em hospitais, como a Lula, no hospital Sarah.

“Superou as nossas expectativas, foi emocionante”, conta Valéria.

O calendário está à venda por R$ 30 na loja.

Museu
Criada há 28 anos, a fundação luta para ter uma sede própria com a inauguração do Museu Athos Bulcão. O projeto é assinado pelo arquiteto João Filgueiras, o Lelé; e o terreno próximo à Funarte já foi destinado na época do governo Arruda. Uma cerimônia chegou a lançar a pedra fundamental, mas o processo não caminhou mais.

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