Vivendo no mundo virtual

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: jundiai.sp.gov

 

         Livros e teses abordam que o uso prevalente de um computador ou tablet, tanto em sala de aula quanto em casa, podem prejudicar muito mais do que ajudar no desempenho dos alunos. Principalmente quando o computador é o centro da atenção, e não o estudante. Experiências pontuais mostram que alunos que foram obrigados a deixar o computador de lado em suas tarefas diárias apresentaram notas 18% superiores em comparação com aqueles que usaram sistematicamente os meios digitais em suas atividades escolares.

         O renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu uma pesquisa intensa por dois anos, logo que os computadores começaram a ser introduzidos nas escolas norte-americanas. Foram três grupos divididos de quase oitocentos alunos matriculados do ensino médio. Para um país como os Estados Unidos, onde a porcentagem no uso de computadores no ensino saltou de 3%, em 1994, para 94% em 2005, a relevância desse estudo mostra que essa nova ferramenta, a despeito de suas possibilidades quase infinitas, não corresponde, necessariamente, para melhorar o complexo processo didático do ensino-aprendizagem.

          Pode parecer até uma contradição ter que reconhecer que, em pleno século XXI, a mais festejada tecnologia de nosso tempo, apresente fatores negativos, capazes até de retardar o pleno desenvolvimento das características cognitivas dos alunos. Nesse caso específico trata-se do desenvolvimento natural da mente, ao entrar em contato com fatos relativos ao conhecimento, da percepção da realidade, ao discernimento entre o certo e o errado, enfim ao juízo de valores, sua hierarquia, submetendo todos esses elementos ao escrutínio do raciocínio.

          Quando as respostas aparecem, como mágica, na tela, todo esse importante processo e esforço cognitivo, vai ficando como que atrofiado ou malformado. Acreditar que o mundo está ao alcance de um click no botão do computador nem sempre é verdade. Para a Educação e processo de ensino, há a possibilidade de mau uso dessa ferramenta tecnológica nas escolas, sobretudo quando não se conhecem seus efeitos a longo prazo numa população ainda em formação, e, portanto, aberta a tudo.

         Aprender a estruturar o conhecimento exige ferramentas próprias e naturais ao ser humano, desenvolvidas ao longo de milênios e que foram capazes de conduzir o cérebro para a elaboração do raciocínio abstrato, da criatividade e tantos outros atributos que fizeram da humanidade o que ela é hoje. Ciente desses riscos, alguns países do primeiro mundo e que foram pioneiros na introdução da informática nas escolas, como é o caso da Suécia, que desde 1990 implantou o modelo onde 100% do ensino era digital, parecem ter acordado para os problemas trazidos pela moderna opção.

         Os resultados de colocarem as escolas e os alunos vagando no mundo virtual, tiveram um alto preço cobrado agora, na forma de uma acentuada queda no desempenho das crianças em leitura e interpretação de textos; num declínio visível das estratégias relativas à criatividade. Tudo isso somado às críticas severas de especialistas em saúde, que perceberam os malefícios da exposição prolongada dos alunos na frente de computadores no que se refere à visão, postura e habilidade da escrita, além de ansiedade, depressão, vício e problemas de comportamento.

         O que as autoridades daquele país tiveram que reconhecer, depois de investidos milhões de euros na implantação de escolas digitais, foi que métodos simples, como a volta de livros físicos poderia trazer benefícios aos alunos que nenhuma tela de computador poderia substituir. A constatação geral, depois de quase duas décadas utilizando ostensivamente computadores em sala de aula, foi que os jovens submetidos a essas “inovações” passaram a saber menos, a raciocinar com mais dificuldade, perdendo o poder de concentração.

          A ortografia, ferramenta essencial que estabelece conexão direta com o cérebro, também foi nitidamente prejudicada. As estratégias pedagógicas agora, depois de experiências como essa, devem ser outras. Mesmo a neurociência, envolvida nesse problema, apoia o retorno do ensino físico. Outras áreas do saber como a psicologia também reforçam a necessidade de se repensar o ensino digital. A sensação dos envolvidos nessa questão é um paradoxo. Nunca, diante de uma massa colossal de informação instantânea, posta hoje à disposição de todos, os jovens, curiosamente, parecem demostrar um baixíssimo nível de conhecimento e compreensão do mundo atual.

         Exercícios simples como redigir textos manualmente foi, dentre os muitos prejuízos, o que mais chamou a atenção de todos. Além disso, foram verificados prejuízos na comunicação e interação entre os jovens, dificuldade de dialogar e discutir problemas, tudo ocasionado pelo retardamento no desenvolvimento cognitivo.

         Trata-se de uma situação real, cuja experiência pode servir muito bem para escolas brasileiras, sobretudo para o ensino público, em que os computadores podem, ao mesmo tempo, minorar a má formação dos professores, o pouco interesse das autoridades na melhoria do ensino, e a conhecida malevolência presente em muitos de nossos alunos. De certo, os problemas do ensino em nosso país jamais serão resolvidos, mesmo em parte, empurrando os alunos para o mundo virtual onde tudo pode acontecer, inclusive nada.

A frase que foi pronunciada:

“A arte de pensar está se perdendo porque as pessoas podem digitar uma palavra e encontrar um resultado e pensam que isso é a resposta para tudo”.

Tom McCarthy

Tom McCarthy. Foto: goldenglobes.com

 

História de Brasília

Coisa fora do plano de Brasília: a TV Alvorada está no setor residencial, a Rádio Educadora do Ministério da Educação está no setor das grandes áreas(escolar) e a oficina da Disbrave está no Setor Comercial Residencial (Publicada em 01.04.1962)

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