Visto de cima

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Palácio do Planalto. © José Cruz/Agência Brasil

 

Subir no palanque para fazer discursos políticos para uma campanha eleitoral, um lugar onde cabem todos os tipos de promessas e acenos, é muito diferente do que subir a rampa do Planalto para governar um país complexo como o Brasil. No palanque, o Brasil que se vislumbra é visto do alto da rampa ou do terceiro andar do Palácio do Planalto, o país que se descortina é outro totalmente distante dos palavrórios.

Obviamente, diante da realidade que se apresenta ao eleito, sempre existirão aqueles que preferem tomar atalhos mais fáceis e governar o país por controle remoto, cooptando com benesses todas as forças políticas ao redor, dentro de esquemas do século passado, chamado de presidencialismo de coalizão.

Nesse tipo de modelo de governança, todos lucram, menos a população, que é chamada a pagar a conta desses desacertos escusos e longe da ética pública. Segundo o Portal da Transparência, mantido pela Controladoria Geral da União, até agora, foram 5.657 empenhos. Com R$ 37,50 bilhões empenhados e R$ 23,34 bilhões pagos. Outras vantagens vão embrulhadas em caixas de presente, com a distribuição de cargos no governo, uma boquinha que faz a alegria de parlamentares que não se avexam de trair o eleitor — concorrem a um cargo, ganham votos e licenciam-se para ocupar função no Executivo.

Nesse tipo de jogada, é sabido que nenhum dos lados está correto, sob o ponto de vista da correção e da ética. Não chega a ser surpresa que, diante de um modelo dessa natureza, para cada passo que o país avançava em frente, recuasse dois passos — ou seja, ficamos a patinar, sem ir a lugar algum.

Na vida real, o valor daquilo que é prometido aos eleitores em palanque é sempre 10 vezes mais ou impossível de ser materializado. O dinheiro nunca é suficiente para cobrir as despesas e os gastos que não param de crescer. A percepção da população é de que o próprio governo não sabe o que fazer com os recursos nem quanto gasta, deixando-se guiar não pelos números, mas apoiado no que acredita ser seu infalível instinto político. Mas esse ainda não parece ser nosso maior problema. Arrecada-se muito, o que faz do Brasil um país com as maiores cargas tributárias do planeta. Mas gasta-se muito sem cerimônia, fazendo de nossa máquina pública um enorme sorvedouro de recursos.

O Banco Central apontou que, pela primeira vez na história, a Dívida Bruta do Governo Geral, que abrange as contas do governo federal, INSS e governos estaduais e municipais, atingiu R$ 9 trilhões em outubro de 2024. O número é equivalente a 78,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso equivale a dizer que nem todo o PIB do país seria capaz de honrar essa dívida gigantesca. Mas esse não é nosso maior problema. De fato, quando o governo acena com mais impostos, o que está em pauta não é falta de recursos para tocar o país para frente. Dinheiro existe em abundância. Como existe também em excesso má gestão dos recursos públicos, acompanhada por grande número de casos de corrupção.

É do perverso binômio corrupção e má gestão de recursos que o país padece, e esse é, sim, um dos nossos maiores problemas. Sem um enfrentamento sério desses dois problemas, de nada adianta aumentar os impostos para arrecadar mais. O pior é que não parece haver perspectiva de acabar com esse flagelo. Para a questão dos gastos, tem o remédio que é dar maior eficiência às contas públicas. Para o caso de corrupção, que corre paralelo com a questão dos altos gastos, esse parece ser um problema sistêmico, que só seria resolvido com reformas profundas no Estado. Reformas que os políticos não desejam e que fazem tudo para que não aconteça.

Infelizmente, não existe uma união nacional em torno de propostas desse tipo. Diferentemente dos pássaros, nossas lideranças não têm capacidade de enxergar o país de cima, em sua totalidade. De longe e do alto, o Brasil é um país magnífico. Visto de perto, por meio da visão de nossas elites dirigentes, somos um país promissor apenas para essa elite.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Só países em guerra têm um deficit tão alto como o Brasil”
Luís Stuhlberger

Luis Stuhlberger (Foto: Germano Lüders)

 

Cartas na mesa
Valter Rosa, da assessoria técnica da Secretaria de Comunicação do Senado Federal, tem recebido vários elogios pela idealização do Eleitos, o Jogo da Democracia. Confeccionado na Gráfica do Senado, o jogo pode ser adquirido por qualquer escola pública de ensino médio do país.

Divulgação/Senado Federal

 

História de Brasília
A decisão dos diretores da Novacap prende-se ao fato de a Comissão haver, durante o inquérito, fugido ao seu fim específico, formulando perguntas alheias ao fim para o qual foi criada. (Publicada em 24/4/1962)

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