O Tec-Existencialismo e o Labirinto do Minotauro Digital

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem gerada por IA

 

É próprio da modernidade criar novos vocabulários para nomear a novidade e o espanto. Desde o início da Revolução Industrial, cada salto tecnológico obrigou o homem a reinventar as palavras  e, com elas, sua própria percepção de mundo. Agora, com o advento da Inteligência Artificial, não é apenas a linguagem que se transforma: é a própria essência da existência humana que parece passar por uma mutação silenciosa, porém profunda. O termo tec-existencialismo, cunhado pelo futurista Roge Spitz, surge justamente para tentar capturar essa transição, num chamado à reflexão sobre como a tecnologia, especialmente a IA, começa a moldar não apenas o que fazemos, mas o que somos. Spitz alerta que “a tecnologia não é neutra: ela cria realidades e redefine os contornos da existência humana”.

É próprio da modernidade criar novos vocabulários para nomear a novidade e o espanto. Desde o início da Revolução Industrial, cada salto tecnológico obrigou o homem a reinventar as palavras  e, com elas, sua própria percepção de mundo. Agora, com o advento da Inteligência Artificial, não é apenas a linguagem que se transforma: é a própria essência da existência humana que parece passar por uma mutação silenciosa, porém profunda. O termo tec-existencialismo, cunhado pelo futurista Roge Spitz, surge justamente para tentar capturar essa transição, num chamado à reflexão sobre como a tecnologia, especialmente a IA, começa a moldar não apenas o que fazemos, mas o que somos. Spitz alerta que “a tecnologia não é neutra: ela cria realidades e redefine os contornos da existência humana”.

Seu tec-existencialismo nos convida a olhar para a inteligência artificial não como ferramenta, mas como espelho um espelho que reflete e, ao mesmo tempo, distorce a nossa humanidade. Trata-se de um alerta contra a complacência: a de aceitar que as máquinas decidam por nós sob o pretexto da conveniência. É o risco de trocarmos a liberdade pelo conforto de uma mente coletiva programada por algoritmos invisíveis. Vivemos, talvez sem perceber, a entrada em um labirinto de alta tecnologia. Nele, cada passo é guiado por dados, sensores, câmeras e inteligências que aprendem com nossos erros e nossos hábitos.

Como o antigo mito do Minotauro, esse labirinto contemporâneo tem um guardião monstruoso não mais uma criatura mitológica, mas uma rede invisível de códigos, cálculos e logarítmos. Diferente do mito grego, entretanto, não há um fio de Ariadne que nos leve de volta à luz. O filósofo Byung-Chul Han, em Psicopolítica, adverte que “o homem contemporâneo acredita ser livre, mas vive em uma prisão de transparência e desempenho”. Na era digital, a submissão não se dá pela força, mas pela sedução dos sistemas inteligentes. Yuval Noah Harari, em Homo Deus, prevê que “quando os algoritmos nos conhecerem melhor do que nós mesmos, o livre-arbítrio deixará de existir como crença coletiva”. Estamos, portanto, diante de um ponto de inflexão histórico: a tecnologia que criamos começa a nos recriar à sua imagem e semelhança. A política, nesse cenário, parece cada vez mais impotente.

Estados e governos, outrora senhores da ordem social, se veem agora dependentes das máquinas que criaram e dos sistemas que não compreendem plenamente. A burocracia se digitalizou, o controle social se sofisticou e o poder tornou-se algorítmico. Spitz adverte que “quando a inteligência artificial começa a intermediar todas as nossas escolhas, a autonomia se torna uma ilusão polida”. A soberania das nações começa a ceder lugar à soberania das corporações tecnológicas, que operam acima das fronteiras e fora do alcance das leis. No campo religioso, a crise não é menor. Como responder à angústia de uma humanidade que já não crê na transcendência, mas confia cegamente na promessa da imortalidade digital? Quando o homem passa a se ver como um conjunto de dados, e não mais como um ser dotado de alma, o sagrado perde espaço para o simulacro da perfeição artificial.

Igrejas, templos e seitas talvez ainda resistam, mas o culto da era moderna é outro: o culto à máquina, ao cálculo, à eficiência. Surge, então, uma inversão simbólica: o Deus ex machina  expressão que, na tragédia clássica, designava a intervenção divina que resolvia o enredo  agora se transforma na própria máquina que assume o papel de deus, decidindo destinos, emoções e valores. O tec-existencialismo, portanto, é o espelho diante do qual precisamos ter coragem de nos olhar. Ele não propõe apenas uma crítica ao avanço tecnológico, mas uma reflexão sobre a erosão daquilo que nos tornava humanos  a dúvida, o erro, a imperfeição.

Hannah Arendt já advertia que “a perda do pensamento é o prelúdio de toda forma de totalitarismo”, e o totalitarismo digital talvez seja o mais sutil de todos: aquele que domina não pela violência, mas pela conveniência. O risco maior não é que as máquinas dominem o mundo, mas que nos convençam de que já não precisamos de alma para viver nele. Em um futuro não muito distante, talvez despertemos para perceber que o labirinto não tem saída. Que o Minotauro já não está fora de nós, mas dentro, integrado ao nosso modo de pensar, sentir e decidir.

A modernidade, que começou prometendo libertar o homem do trabalho e da ignorância, pode terminar aprisionando-o em um cativeiro de luzes e códigos. E, nesse ponto, nem a política, nem o Estado, nem mesmo as religiões terão a chave para abrir as portas do labirinto. O tec-existencialismo, se levado a sério, é um convite à resistência interior. À redescoberta da consciência humana em meio ao ruído digital. Porque, se há ainda uma chance de salvação, ela não virá das máquinas virá do homem que se atrever a desligá-las por um instante e voltar a escutar o próprio silêncio.

 

A frase que foi pronunciada:

“Para n⁠ão ser substituído por um robô, não seja um robô”.

Martha Gabriel

Martha Gabriel. Foto: online.pucrs.br

 

Rascunho

Entrada e saída do Lago Norte planejadas por quem não conhece o movimento da região. As faixas de pedestre recém-colocadas são prenúncio de muitos acidentes, prejudicando pedestres e motoristas. Sem sinalização prévia suficiente para prevenir os motoristas de uma parada repentina, a iniciativa deve ser revista e colocada em prática com mais técnica e estratégia.

 

História de Brasília

O regime parlamentarista trouxe, também, alteração no sistema escolar. No Colégio D. Bosco, de Brasília, os alunos estão organizados de maneira parlamentarista, e o Primeiro Ano B, já elegeu o seu presidente e o Conselho. (Publicada em 11.05.1962)

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