O peso da utilidade

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Álvaro Laforet

 

Aos justos o que é de justiça. Pelo menos é o que ainda teimam em acreditar aqueles que sempre tiveram a ética como norte. Mas, como os tempos são outros, outros costumes também se estabeleceram, vindos, como uma espécie de invasão bárbara, não se sabem bem de onde. Com essas novas hordas também vieram novos sentidos e interpretações para as leis, transformando-as todas em letras a serviço daqueles que, pelo poder da força e da posição, podem, inclusive, feri-la de morte sem receio algum.
Muitos brasileiros já estão certos de que dobramos o Cabo da Impunidade e da injustiça, donde parece não haver mais regresso. A pandemia deixou patente para todos que, aqueles que mais mereciam ter o amparo do Estado, justamente por estarem nos postos avançados de combate à doença, foram os que menos receberam a ajuda devida. Erram aqueles que creem que a população aceita, conformada, essas distorções que fazem com que as elites do Estado possam, lá na longínqua retaguarda confortável e protegida de seus lares, receber toda a proteção e cobertura médica de ponta.
Não são poucos os que entendem que os reais merecedores de toda a proteção médica por parte do Estado deveriam ser aqueles que sempre arriscam a própria vida para assegurar a segurança de outros. Até por uma questão de reconhecimento e humanidade, os maiores beneficiados por planos de saúde de ponta, custeados pela União, deveriam ser médicos,  paramédicos, enfermeiros, padioleiros, motoristas de ambulâncias e, sobretudo, os servidores do Corpo de Bombeiros, que, durante todo o período da pandemia, cortavam a cidade de um extremo ao outro socorrendo os necessitados, na sua grande maioria, pessoas de baixa renda, que, nas horas de dificuldade, só podem contar com esse apoio.
A esses servidores, que trabalham na beira do abismo, sem proteção e em troca de salários que, todos sabem, irrisórios, deveriam caber proteção e o escudo do Estado, para que, ao menos, sigam vivos e dispostos em suas tarefas de salvar outras vidas.
Infelizmente, não é o que se vê até aqui. Os números ainda são incertos e continuam a aumentar, mas dados coletados, apenas no ano de 2020, dão conta de que quase 6 mil profissionais de saúde morreram, vitimados pela Covid-19, numa média de uma morte a cada 19 horas. Os casos de mortes desses trabalhadores aumentaram 26% em relação a 2019, quando ainda não havia ocorrência dessa virose. Em 2021 não tem sido diferente, e segue em alta.
Se, até o final do ano, continuarmos nesse ritmo, o número de mortos desses servidores deve saltar para quase 8 mil. Isso é o que apontam os números da Arpen-Brasil. As maiores baixas foram registradas em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Dos profissionais de saúde mortos durante a pandemia até aqui, o pessoal de enfermagem ocupa o maior número, com mais de 2 mil mortes.
Mais do que simples estatísticas, dispostas em gráficos matemáticos, a perda desses trabalhadores representa uma brecha enorme, por onde a virose certamente irá penetrar para infectar e matar mais pessoas. Fossem colocados numa balança do tipo “utilidade para vida”, comparados vis a vis com a elite do Estado, digamos, um político ou alto magistrado ou outro da mesma espécie, quem vocês acreditariam que possuiria maior peso nesse quesito? Não precisam responder. Essa é apenas uma questão a explicar porque se deveria dar aos justos o que é de justiça.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A escala da maldade de um homem não deve ser medida inteiramente por suas consequências práticas. Os homens cometem o mal dentro do escopo disponível para eles.”

Theodore Dalrymple, Our Culture, o que resta dela: os mandarins e as massas.

Theodore Dalrymple. Foto: PovertyCure/Reprodução

 

Excelente
Impressionante a eficiência do aplicativo Moovit. Agora, é possível acompanhar os horários dos transportes públicos por todo o DF e região do entorno.

Humor
No Coro Sinfônico da UnB, a regra era a seguinte: faltas justificadas contariam como presença. Até que um espírito de porco deixou um bilhetinho na mesa da Secretaria. “Na semana que vem, estarei com amigdalite.”

Coro sinfônico da UnB. Foto: correiobraziliense.com

 

Cores
Raimundo Neto nos envia uma foto bem candanga com a frase: só em Brasília o verde se encontra com o roxo e o azul. Veja a seguir.

 

Vale ver
Futuros radicais: liberdade para transformar. Como novas tecnologias podem contribuir para democracias mais saudáveis e eficazes? A Escola Nacional de Administração Pública acompanha as novidades no mundo para o uso da tecnologia na comunicação, na integração e na cooperação. O webnário ainda está disponível no Youtube. Muito interessante.

História de Brasília
Os cartórios estavam cobrando 2.500 cruzeiros por serviços em desobediência à Constituição, que está agora respeitada de acordo com a portaria do vice-presidente do Tribunal de Justiça do DF. (Publicado em 04.02.1962)

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