Necessidade de arte e cultura

Publicado em História de Brasília

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Ilustração: Atlas linguístico do Brasil

         Com a quarentena, imposta pela pandemia, aquela parcela da sociedade que ficou confinada em seus lares, inclusive aqueles que encontraram amparo econômico por meio do trabalho em casa, tiveram, em algum momento, que buscar refúgio e paz de espírito na cultura.

         Ao contrário do que muita gente acredita, a cultura, incluindo aí tudo o que diz respeito ao universo das artes, não é mero passatempo reservado ao entretenimento e ao lazer. Nem tampouco atividade para o desfrute de uma classe de pessoas privilegiadas. É muito mais do que podemos mensurar. Um povo desprovido de produção cultural, se é que existiu algum na história da humanidade, sobrevive alheio ao mundo em redor. Pois a cultura é a própria tradução e representação do mundo em que estamos imersos. Mesmo aquelas civilizações que devotavam todo o seu tempo e o melhor de sua gente às atividades de guerrear e submeter outros povos, como parece ser o caso dos espartanos, na Grécia clássica. Mesmo esses povos baseavam sua cultura na educação e no treinamento militar rigorosos e obrigatórios para todos os cidadãos, num regime conhecido por “agoge”.

         Eles, que amavam as armas e a guerra, também cultivavam a leitura, a música, a escrita e a dança. Assim, agiam também as mais diversas sociedades humanas ao longo da história. Todos, em menor ou maior grau, produziram cultura, até como uma herança social, capaz de agir como elemento aglutinador de identificação entre os indivíduos de uma sociedade, falando de seu passado e acenando para o futuro.

         Para a antropologia, a cultura é o elemento que, por excelência, diferencia o homem racional de outros animais. O ser humano é, por conseguinte, um animal produtor de cultura. Aliás, a maioria dos povos que, ao longo de milênios, cresceram, desenvolveram-se sobre o planeta, ou mesmo foram extintos, só puderam ser conhecidos como tal, graças à produção de cultura que organizaram em seu tempo de existência.

         Ainda dentro das ciências que exploram a existência humana no mundo, a cultura é vista como elemento indutor da própria evolução humana, contribuindo para o aprimoramento de técnicas diversas que tornavam a vida mais proveitosa e por consequência, mais longeva. Também graças à propagação das atividades e do fazer cultural é que foi possível abrir caminhos para o combate aos problemas socioeconômicos, melhorando a autoestima dos povos, atraindo novos valores, conferindo identidade, autodisciplina e outros valores morais e éticos que foram sendo aperfeiçoados ao longo da jornada humana. Mesmo aspectos outros, como o sentimento de pertencimento a um determinado lugar, a um determinado povo, foi dado através do trabalho e do desenvolvimento da cultura. Há ainda, entre as mil facetas proporcionadas pela cultura, a abertura de oportunidades para a realização individual e coletiva das pessoas, aspecto fundamental e agregador de toda e qualquer sociedade, seja ela do passado ou do presente.

         Não seria exagerado supor então que por meio da produção cultural, é possível afirmar que a perpetuação de uma civilização está diretamente ligada à sua capacidade de gerar cultura e, portanto, conhecimento. Não é por outra razão que muitos estudiosos apontam a cultura como sendo a própria alma de um povo, capaz de dar impulso e ânimo.

         Tão importante ainda como a identidade dada pela cultura a um povo, comumente chamada de identidade cultural, é o fato de que é, através dos mecanismos propiciados pela cultura, que surgem as possibilidades e os meios para o desenvolvimento das artes, em todas as suas vertentes. E é aí que voltamos ao início do texto no que concerne à importância que a cultura exerce em momentos especiais, sobretudo numa época em que tangidos pelo medo da doença e da morte, os indivíduos buscam, na cultura e sobretudo no seu mais importante produto: as artes, a possibilidade de sentir-se em iguais, desfrutando do mesmo destino, seja em tempos de paz ou de guerra. O teatro, a música, o cinema, a poesia, as artes plásticas e uma infinidade de outras realizações do gênio humano, tornam a jornada humana sobre o planeta uma experiência que vale ser vivida, não importando o que se passa lá fora.

         Nesse aspecto não importa se a cultura é erudita ou popular. O efeito terapêutico sobre as diferentes pessoas é o que importa. E como importa. Dentro desse contexto é crucial reforçar a contribuição dada pelas mídias sociais na divulgação dos mais variados temas artísticos e culturais. Ouve-se de pagode à música erudita, num toque de dedos.

         Bibliotecas de todo o mundo estão ao alcance de todos nas redes. Do ponto de vista cultural, as mídias sociais possibilitam desde visitas virtuais a museus e outros sítios de interesse histórico, como leva o internauta a dar um giro pelo mundo, sem sair do lugar.

         Para muitos, é nas ruas ou na sala de visita comum e coletiva, que podemos desfrutar a vida com todo o seu potencial, ao vivo e a cores. Há as cidades mais providas de equipamentos de cultura, como teatro, galerias, museus e outros centros culturais, e outros lugares áridos de cultura, sem espaços adequados para o exercício da cidadania e das artes. Que nossos governantes tenham sensibilidade para perceber os esforços dos verdadeiros trabalhadores das artes.

 

A frase que não foi pronunciada:

“A arte não é um espelho que representa a realidade, mas um martelo para moldá-la.”

Bertold Brecht

Bertolt Brecht, c. 1948–55. Arquivos Federais Alemães (Bundesarchiv), Bild 183-W0409-300; fotografia, Kolbe Creative Commons Atribuição ShareAlike 3.0 (genérico)

 

História de Brasília

A situação do IAPC em Brasília é dramática, pelo abandono votado ao Distrito Federal pelo presidente do Conselho Administrativo. E justamente por causa do sr. Pery Rodrigues, os funcionários não terão apartamentos novos. (Publicada em 07.04.1962)

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