Inferno na terra

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Print de trecho da transmissão ao Vivo durante a Quaresma

 

Não é de hoje que as relações entre política e religião andam de mãos dadas, para o contentamento de uns e contrariedade de muitos.  Em todo o tempo e lugar sempre houve uma certa confluência entre o pensamento religioso e as ideologias políticas de plantão. Mesmo no campo da práxis, existem aqueles que chegam a apontar a religião como um braço de certos credos políticos. No entanto, essa questão passa a ganhar um ponto final quando se estabelece que para a religião importa a fé e o mundo do espírito. Na política a fé se transforma em fanatismo do tipo puramente materialista e utilitarista.

Há aqueles que acreditam que a prática da boa política, isto é, a política que se interessa pelo bem comum e que tem o próximo e suas necessidades como meta, é também uma forma humanizada de religião. Para os puristas, a religião é a política de Deus, ou seja, aquela expressada em seus ensinamentos. O que é de Cézar, é de Cézar. O que é de Deus é de Deus. Jesus, quando num ato de firmeza, expulsou os vendilhões do Templo, de uma certa forma teria expulsado também, todos que ali estavam movidos por outros propósitos.

De uma forma geral não se pode negar certas e enganosas semelhanças entre a pregação política e a pregação religiosa. Sobretudo quando candidatos a cargos eletivos se colocam como merecedores dessa posição por vontade divina. Mesmo antes do aparecimento da Teologia da Libertação, na década de 1960, já havia em outras épocas, aproximações entre o mundo secular e o mundo espiritual e eclesiástico. Houve tempo em que a religião forçou a práxis política a seguir os dogmas religiosos. Ainda hoje é assim nas chamada teocracias, como é o caso do Irã, da Arábia e outros países do Oriente. Houve e ainda existe pelo mundo, religiões que são submetidas obrigatoriamente aos dogmas políticos, ou simplesmente banidas para longe, como é o caso da Nicarágua e outros países.

Pode-se também jogar um balde de água fria sobre todo esse tema, dizendo que tanto a política como as religiões são criações humanas e, portanto, exprimem desejos humanos. Há também aqueles que confundem e enxergam semelhanças entre santos e mártires com líderes políticos. Para os socialistas, Marx seria uma espécie de santo. Da mesma forma há os que vêm em líderes como Padre Cícero ou Antônio Conselheiro, mistos entre santos e políticos.

Nos países da América Latina, o advento da Teologia da Libertação foi capaz de balançar os pilares da Igreja Católica, pois, ao pregar a combinação entre fé cristã e luta pela justiça social e libertação dos oprimidos, forçaria, de certa maneira, a Igreja de Roma a rever seus caminhos, orientando sua pregação para a realidade vivida pelos povos, sobretudo os mais pobres.

Na realidade, não há como dissociar completamente a prática política dos ensinamentos do cristianismo, pois a melhora nos Índices de Desenvolvimento Humano é também uma missão que segue o que aconselham os evangelhos. Não se pode negar também que, em países comandados com mãos de ferro, os religiosos formam o primeiro grupo a ser perseguido. Estudiosos da história das religiões são unânimes na crença de que, mesmo num futuro distante, religião e política ainda encontrarão pontos de convergência, pois o dia em que uma desaparecer do horizonte humano, a outra seguirá o mesmo destino. Mas o fato que chama a atenção nesse momento para o embate entre religião e política, mostrando que ambas ainda permanecem no mesmo ringue de disputas, vem agora do interior de São Paulo por ocasião da live da Quaresma em preparação para a Páscoa, comandada pelo Frei Gilson e que tem reunido, nas madrugadas, mais de 1 milhão de fiéis por todo o país (isso, considerando apenas os números da transmissão pelo seu canal Frei Gilson/Som do Monte, no Youtube; o rosário da madruga também é transmitido pelos seus canais oficiais no Instagram e na rede X, e pela TV Canção Nova, lembrando ainda que, facilmente, mais de uma pessoa pode estar usando o mesmo aparelho, se formos pensar nas orações em família).

Surgida durante a pandemia essas transmissões ao vivo, têm provocado acaloradas discussões tanto no mundo cristão como o mundo político. Para os ateus, trata-se um sacerdote anticomunista, pois prega, “contra tudo aquilo que historicamente os comunistas sempre lutaram”. Em tempos de incertezas, como agora, a defesa da família, das tradições, da religião, da vida e da propriedade ganharam uma espécie de maldição na boca dessa gente. O Frei ao afirmar em uma das suas pregações que os erros da Rússia não venham se repetir em nosso país, conquistou nas redes sociais um séquito de seguidores e de detratores. A coisa toda ganhou uma dimensão que nem mesmo o Frei e seus opositores esperavam. Pudera, nas redes sociais os números são contados aos milhões. Frases como : “livra-nos Deus do flagelo do comunismo”, acendem o rastilho de pólvora. Obviamente não para aqueles que experimentaram na pele o tal flagelo e suas consequências.

Os embates entre esquerda e direita ganharam um novo combustível. Em outras afirmações do tipo: “Para curar a solidão do homem, Deus fez a mulher”, despertou também a ira de um outro puxadinho da esquerda, representado pelas feministas e grupos homoafetivos. Não tardou para que as esquerdas o vinculassem ao grupo bolsonarista. Nada mais falso. Nas redes sociais os xingamentos só são ofuscados pelos dizeres de apoio. O fato é que a cada ataque, mais e mais aumentam os seguidores de Frei Gilson. Não é apenas um milagre, mas a certeza de que muitos vivos sabem que um outro nome para o inferno na terra é comunismo.

 

A frase que foi pronunciada: 

“O problema com o comunismo é que um dia o dinheiro dos outros acaba.”

Margaret Thatcher

Margaret Thatcher. Foto: britannica.com

 

História de Brasília

O empreiteiro que está plantando grama na 105 está sendo sabotado. Agora, recebeu ordens para parar o serviço por falta de irrigação. Isto representará um prejuízo, porque haverá dispensa de pessoal, e, depois, um novo fichamento irá provocar mais demora. (Publicada em 27.04.1962)

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