Feliz Brasília

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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O Brasiliense. Fotografia: Ivan Mattos (@ivanmattos_)

 

         Como sede do poder, é natural que Brasília tivesse destinada a se tornar o centro de onde emanariam as principais questões da política nacional. No entanto, para uma República que vem aos tropeços, desde sua instalação em 1889, Brasília se tornou, além de centro irradiador dos temas políticos nacionais, foco de apreensão por parte dos brasileiros, devido às seguidas e sérias crises institucionais.

         É preciso mais do que um exercício de abstração para deixar de lado essas crises, que nos acorrentam ao terceiro mundo, para tratar apenas do aniversário de 63 anos dessa que é, definitivamente, capital de todos os brasileiros. Vale relembrar que, entre as justificativas postas, ao final dos anos cinquenta, e que melhor respondiam o motivo oculto para a transferência da capital, do Rio de Janeiro para o longínquo interior do país, estavam justamente essas: afastar da cidade maravilhosa todas as nuvens cinzentas, manter distância da atuação atabalhoada dos políticos brasileiros, seus escândalos e sua pouca atenção com fatos que realmente interessavam a população.

         Havia, mesmo que longe do público, o desejo secreto de banir a classe política para longe. Com isso, sonhavam seus articuladores, a cidade do Rio de Janeiro voltaria a ter sossego e paz, livrando a capital também dos gastos e das exigências absurdas feitas pelos políticos. Não era para ser diferente.

         Naquela ocasião, era comum encontrar um político nas praias e cassinos e não no local de trabalho. Bani-los para bem distante seria uma boa medida. Quem sabe, naquele vazio do Centro-Oeste, nossa classe política passasse a tomar maior consciência da realidade sofrida de nosso país, empenhando-se em trabalhar para um futuro melhor para todos.

         A chiadeira maior contra a transferência vinha justamente por parte daqueles que se viam prejudicados com a mudança. Obviamente que essas razões eram mantidas longe do conhecimento do público e dos eleitores. Felizmente, para os brasileiros que para aqui vieram e se estabeleceram, essas eram questões que não tinham importância alguma para seu cotidiano, já que, lá no Rio de Janeiro como aqui em Brasília, o mundo político estava situado em outro universo, distante dos brasileiros.

         Foi desse modo que Brasília, e com esse desdém recíproco, que a nova capital foi se consolidando como cidade aberta. Havia, como ainda hoje, uma Brasília para os moradores e uma outra cidade paralela que pertence aos políticos que por aqui andam em revoada de terça a quinta-feira.

         Não há uma ligação de irmandade entre esse e aquele mundo. O único traço a unir a nossa classe política e a cidade são os empregos diretos e indiretos que essa atividade gera na nova capital. Portanto, a Brasília que interessa nesses seus 63 anos de vida é aquela ligada aos brasilienses que tomaram a cidade como seu lar.

         Tirando o fato de que o projeto inicial foi seriamente desvirtuado pela ação dos políticos locais, que a lotearam de forma irresponsável, Brasília é hoje, sem nenhuma ressalva, a cidade brasileira com os melhores índices de qualidade de vida. Não é por outra razão que muitos políticos que para aqui vieram exercer seu métier, uma vez longe do poder, passam a fixar residência no Planalto Central.

         A Brasília que nos interessa hoje no seu aniversário é, para muitos, aquela que vimos crescer a cada dia, como nós, como uma irmã. Aquela que assistimos as primeiras árvores e os primeiros gramados serem plantados. Gramados que o Departamento de Parques e Jardins (DPJ) nos impedia de pisar. Um cidade em que tudo era novidade, a começar pelas pessoas que vinham de diferentes lugares e com histórias e sotaques diferentes. A cidade que não possuía mar, mas que era banhada por um céu imenso, aberto e multicolorido. Uma cidade onde tudo era novo, até a maneira de viver. A solidariedade, as amizades, educação pública, tudo de todos. Uma cidade onde o térreo não era de ninguém e de todo mundo ao mesmo tempo. Uma cidade que aprendemos a amar como coisa nossa e que, muito mais do que uma capital, no sentido político, foi a casa que encontramos para nela depositarmos nossas vidas, escrevendo nossas memórias e enterrando nossos candangos e pioneiros queridos, um a um, nesse solo vermelho. Esperamos pacientemente, quem sabe, pelo nosso tempo, sentados sob a sombra de um guapuruvu ou flamboyant, observando o que Brasília fornece de assunto a cada dia, em seu Correio Braziliense. Feliz Brasília, caro leitor!

A frase que foi pronunciada:

“Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra.”

Mensagem deixada na construção da Câmara dos deputados pelo operário José Silva Guerra

Foto: camara.leg

História de Brasília

Quem disse até agora sobre o dr. Jânio, foi o professor Carvalho Pinto: “Está encerrado o assunto renuncia. Vamos trabalhar, porque os problemas são muitos…” (Publicada em 18.03.1962)

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