VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Segundo estudos, a domesticação de cavalos ocorreu há, aproximadamente, 4.200 anos, na região do Mar Negro, na Rússia. Com isso, dizem os pesquisadores, o curso da história humana foi alterado, o que acelerou os acontecimentos e possibilitou que nossa espécie fosse ainda mais longe em seu desejo de conquistar mais espaços.
Houve então um encurtamento dos espaços, o que trouxe a ocupação e dominação de vastas áreas. Também o transporte de cargas, de modo revolucionário, cresceu favorecendo o deslocamento de grandes grupos, juntamente com seus pertences. Outra área impactada com a domesticação dos cavalos foi a do comércio, já que essa conquista incrementou o transporte de mercadorias a longas distâncias. Há aqui uma nítida fronteira delineada para o progresso humano, observada antes e depois da domesticação dos equinos. Isso mostra que o progresso e a evolução humana dependem, muitas vezes, de certas decisões ousadas.
Mas toda essa inserção dos cavalos dentro das comunidades humanas, capaz de servir-lhes adequadamente, dependeu ainda do aperfeiçoamento de uma série de equipamentos, possibilitando não apenas uma montaria mais segura, mas, sobretudo, a fixação correta dos cavalos em carros de madeira, criando um veículo propício para o transporte de cargas e de pessoas. Além dos arreios, selas, estribos, cabrestos e toda uma parafernália e treinamentos, foi desenvolvida ainda a viseira, que diminui o ângulo de visão do cavalo, forçando-o a direcionar seus olhos sempre para frente.
Obviamente que, muito mais do que esses equipamentos para disciplinar o cavalo, foi necessária ainda a introdução de métodos coercitivos, que puniam o animal sempre que este não obedecia às ordens de seus donos. É nesse ponto que entra a capacidade de dominação humana sobre outras espécies e, sobretudo, sobre seus próprios semelhantes. Desse modo, entrou em cena equipamentos como as esporas e os chicotes.
Surpreendentemente, esses utensílios não eram utilizados por povos primitivos como as tribos indígenas, que praticamente utilizavam os cavalos sem lhes impor sofrimentos maiores. O curioso aqui é notar que nossa espécie, desde sempre, recorreu à utilização de métodos e equipamentos para infligir dor ao próximo, seja ele animal ou ser humano, sempre que deseja a imposição de vontades e caprichos, mesmo os mais cruéis.
Não por outra razão, ao longo dessa parceria forçada entre os cavalos e os seres humanos, muitos animais foram simplesmente mortos, devido ao excesso de trabalho ou aos maus cuidados e maus tratos. Fica claro também que, sob esse ponto de vista, a espécie humana consegue superar sua selvageria em relação aos animais. Talvez seja por isso que a sentença antiga, criada por Plauto (254-184 a.C), em sua obra “Assinaria”, que afirma: “Homo homini lúpus”, ou o homem é o lobo do homem, faz todo o sentido, antes como agora.
Essa simples constatação vem sendo notada, ao longo de toda a história humana, pelos mais célebres filósofos do Ocidente. Thomas Hobbes (1588-1679), autor da obra “O Leviatã”, concordava com essa sentença, pois via que o homem era o único animal sobre a face da Terra, capaz de cometer grandes atrocidades e barbáries contra sua própria espécie e contra os animais.
Para esse pensador, o homem, em seu estado natural, busca uma espécie de individualismo, que o compele a viver em guerra entre si. Com isso, os mais fortes passam a dominar os mais fracos. Hobbes via que o homem é o principal predador do próprio homem, ou seja, um vilão para si próprio. Ainda dentro desse raciocínio, ficava claro que a paz civil e a união social só poderiam ser alcançadas através de uma espécie de contrato social. Esse contrato, nas civilizações contemporâneas é obtido com a formulação de um conjunto de leis, mais comumente conhecido como Constituição.
O business aqui é saber até que ponto esse conjunto de leis é suficiente para garantir a paz no seio social, sem que se recorram às usuais esporas e aos chicotes. Voltando à domesticação dos cavalos, ocorrida a milhares de anos atrás, vemos que uma coisa é você domesticar esse imponente animal, outra, totalmente diferente, é forçar a domesticação do cidadão por meio apenas de punição e repressão, apontando-lhe apenas o caminho do calabouço e do cala boca. Para maior ilustração sobre esse tema, o primeiro caminho é assistir ao filme “Irei como um cavalo louco”, de Fernando Arrabal, de 1973.
A frase que foi pronunciada:
“Por que essa guerra tem que destruir tudo e qualquer coisa que seja boa e bonita?”
― Michael Morpurgo, Cavalo de Guerra
História de Brasília
Mais tarde, no desfile militar, a mesma curiosidade pública sôbre o construtor de Brasília. Não compareceu, entretanto, ao banquete oferecido pelo Prefeito, que contou com apenas um discurso: o do dr. Sette Câmara, que foi um dos discursos mais claros que uma autoridade poderia pronunciar. (Publicada em 24.04.1962)