Autor: Circe Cunha
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Uma cidade é, antes de tudo, um organismo vivo. É gerada a partir de um complexo planejamento tão ou mais sofisticado do que a própria vida orgânica. Uma cidade nasce, cresce, se expande e, não raro, entra em decadência e morre. Dessa forma, pode-se considerar que a construção de uma cidade é processo contínuo e que, praticamente, jamais se completa ou tem ponto final. No caso de cidade ou sítios tombados, essa mecânica segue modelo ou protocolo diferente. A área tombada pela Unesco em Brasília em 1987, abrangendo seu aspecto volumétrico, está restrita ao perímetro urbano do Plano Piloto. O que deveria ser comemorado como motivo de orgulho para toda a população, vem sendo, desde a emancipação política da capital, em 1988, alvo de todo tipo de ataque.
De um lado, a especulação imobiliária, impulsionada pelo inchaço populacional da cidade, levou a pressões variadas — algumas, inclusive, criminosas — para alterar ou simplesmente desprezar o tombamento. Os argumentos para os ataques são, obviamente, falsos. Dizer que o tombamento engessa o crescimento da cidade e impede seu desenvolvimento não passa de retórica de gente que tem no horizonte apenas motivos financeiros próprios.
O pior nesta polêmica toda é que aqueles que deveriam, até por função, proteger e lutar para a preservação do Plano Piloto no Livro do tombo da Unesco, são os primeiros a buscar a desfiguração do projeto original de Lucio Costa. A Câmara Legislativa, por diversas vezes, por incrível que isso possa parecer, tem voltado sua artilharia contra o tombamento da capital.
As razões para este comportamento contraditório, já tratado neste espaço, se resume ao binômio um lote, um voto. De um lado, os corruptos, e, de outro, os corruptores loucos para efetivar o ganho. O verdadeiro festival de puxadinhos e remendos improvisados vão, pouco a pouco, tomando conta da cidade, não respeitando as áreas verdes, o comércio nem mesmo as residências.
Todas essas modificações e improvisos são apoiados e incentivados por nossos representantes. A profusão paulatina de modificações ao projeto de Lucio Costa, em pouco tempo, tornará irreversível a ideia original, contaminando também a permanência da capital como patrimônio cultural da humanidade. Os arremedos de arquitetura vêm acontecendo numa sequência tal que, em poucos anos, Brasília terá o mesmo aspecto desarrumado comum à maioria das cidades brasileiras, onde o desrespeito à arquitetura e ao urbanismo é norma e segue a sanha de políticos de passagem.
A diretora-presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, anuncia que, até julho, amplo levantamento de intervenções irregulares será seguido de campanhas educativas no Plano Piloto. A partir dessa data, o órgão promete remover as construções irregulares que ferem o tombamento. Fechamentos de pilotis, grades e cercas não serão aceitos e eles vão ser devidamente arrancadas, promete o órgão.
A frase que foi pronunciada
“Não poderá prevalecer a paz na Terra enquanto existir o aborto. Porque é uma guerra contra as crianças. Se aceitarmos que uma mãe mate seu filho no próprio ventre, como podemos dizer para outras pessoas que não matem uns aos outros?”
Madre Teresa de Calcutá
Carta do leitor I
É impossível para o bom senso entender a razão da diminuição da velocidade de 80km/h para 60 km/h em pequeno trecho da Avenida das Nações Norte em frente ao Iate Clube. A Avenida das Nações é uma via de velocidade constante onde o motorista crava os 80km/h e consegue fazer seu deslocamento sem problemas.
II
Tecnicamente, nada justifica dois pardais distantes a menos de 300m um do outro nessa localidade. A não ser o furor arrecadatório. O leitor deve ter reparado que me referi a órgão de trânsito. Isso porque não consigo entender que quem multa na L4 deve ser o DNER e, na L2, o Detran. Provavelmente, os diretores e chefes são duplicados nos dois órgãos. Não há bom senso; nem consigo entender por que no eixinho quem multa é o Detran e no Eixão o faturamento é do DER.
III
Nossos governantes e todos os escalões inferiores precisam perceber que a população está com a paciência atingindo o limite quando o assunto trata de má gestão e de desrespeito aos direitos do cidadão contribuinte. É justo pagar multa quando se desvia da legalidade do trânsito. Mas é insuportável para a paciência do contribuinte perceber armadilhas (dois pardais e redução maluca de velocidade) que visam apenas o faturamento dos órgãos.
IV
Sr. governador, perceba o descontentamento do cidadão e exija que os órgãos, para os quais o senhor nomeia os diretores e chefes, respeitem o direito do contribuinte. É difícil pagar enormidades em impostos e multas e trafegar em vias esburacadas, remendadas e cheias de armadilhas inseguras.
História de Brasília
Na hora de defender a pele, de tentar salvar o seu prestígio, o sr. Carlos Lacerda esqueceu todos os seus dotes democráticos. Mandou apreender jornais, arrolhar jornalistas e distribuir, pelo Palácio, notícias tendenciosas e desprovidas de verdade.(Publicado em 2/9/1961)
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Como todo marco histórico ou religioso, a Páscoa tem um significado que oscila entre o mundo dos homens — com data, local e personagens identificáveis — e o mundo celeste, das coisas dos espirituais, do metafísico e ligados à fé.
No mundo judaico, a Páscoa ou passagem relembra a longa fuga dos judeus do cativeiro babilônico, possivelmente no ano de 1447 a.C. e que é descrito no Antigo Testamento (Êxodo). Para os cristãos, a Páscoa simboliza um dos fundamentos de sua fé, que é a ressurreição de Jesus, após ter sido barbaramente torturado e crucificado. Em ambas as tradições, observa-se que o sentido de passagem estabelece também um sentido de superação de um estado para outro patamar. Nas duas tradições, a Páscoa é tomada como uma alegoria que mostra o rito de passagem, como um obstáculo necessário a ser transposto.
Para os judeus, foram necessários 40 anos vagando no deserto, até o momento em que Jeová estabelece com eles aliança que é firmada nas Tábuas da Lei. Na história cristã, a passagem é sinalizada por um obstáculo de 40 dias de jejum (Quaresma), durante o qual Jesus foi submetido a todo tipo de tentação para se entregar ao mundo.
Esses terríveis obstáculos foram superados graças não só ao predomínio da força do espírito sobre a matéria, mas sobretudo pela certeza de que, além daqueles estorvos imediatos, havia Canaã, onde jorrariam leite e mel, ou a vida celeste e eterna.
A maioria das religiões do planeta pregam em comum a valorização do espírito sobre a carne e a renúncia ao materialismo, que é apontada por elas como obstáculo a ser passado para trás. O que a Páscoa relembra, a cada ano, na nossa tradição judaico-cristã, é que devemos ter como incentivo esses exemplos luminosos de superação. Cada um, individualmente, e a sociedade, como um todo, podem e são capazes de transpor os obstáculos imediatos.
A frase que não pronunciada
“Porquanto, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se atormentaram em meio a muitos sofrimentos. Exortações aos homens de Deus.”
1 Timóteo 6:10
Lá fora
A CNN mostrou pessimismo sobre a organização dos Jogos no Rio de Janeiro e pontuou as preocupações dos estrangeiros. Os protestos podem não ter acabado em agosto, mais de 1,5 milhão de casos de zika em 2015, o problema da água contaminada em locais dos Jogos de Verão não foi sanado. Os organizadores esperavam uma venda melhor. Apesar de a presidente ter reunido jornalistas estrangeiros para esclarecimentos sobre a política do Brasil, o material da CNN sugere que analistas acreditam que o impeachment de Rousseff ajudaria a recuperar a confiança dos investidores na economia golpeada do país.
Dono
Quem gravou o presidente Obama dançando tango cortou todas as reproduções da internet. Em vários sites, há um aviso que a reprodução em outros websites foi proibida e remete ao YouTube.
De olho
Como as empresas de agrotóxicos estão um pouco esquecidas em detrimento das construtoras que ganham propina para ínfimas obras de saneamento básico, a ideia é aproveitar a distração popular para apresentar uma proposta em que os agrotóxicos sejam jogados por aviões agrícolas para controle do mosquito da dengue. A ideia é estapafúrdia pela ineficiência do produto nesse combate e pela fórmula cancerígena. Mas injetará uma fortuna para os fabricantes.
Capelinha
Público impressionante no Morro da Capelinha. Mais de 50 mil pessoas participaram da encenação da ressurreição de Cristo. Realmente emocionante.
História de Brasília
Enquanto o país pega fogo com a divergência de opiniões, o responsável pelo estado de coisas singra, placidamente, oceanos coloridos, no luxo de um “Uruguay Star”. Enquanto isto, o povo devota-lhe o esquecimento, que é o maior castigo. (Publicado em 2/9/1961)
Chega a ser espantosa a capacidade que este governo tem em produzir diariamente fatos negativos contra si. A máquina de desastres do Executivo obedece a uma lógica irracional presente desde a posse para o primeiro governo Lula e continua trabalhando a todo o vapor até hoje. Para a imprensa, eleita a inimiga da hora, a fabricação do governo de factoides, como comunicar às embaixadas de que o Brasil sofre um golpe, ajuda a encher as manchetes e os noticiários. Para a população, trata-se de uma calamidade que lança o país, cada vez mais, no gueto do subdesenvolvimento permanente. Basta ver o estrago causado pelo propinoduto.
Desta vez, o tiro no pé, como se ainda existissem pés a serem atingidos, vem do Itamaraty. Não bastassem as seguidas humilhações impostas por este governo à Casa de Ruy Barbosa, transformada em anexo do Partido dos Trabalhadores para assuntos internacionais, a Secretaria de Relações Exteriores do ministério (Sere), por meio do ministro Milton Rondó Filho, antigo assessor do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e ardente militante petista, resolveu enviar às embaixadas brasileiras no exterior uma mensagem em que alerta para o risco de um golpe político no Brasil.
Na mensagem lunática, o ministro pediu que cada posto designasse um diplomata para dialogar com organizações da sociedade civil local, esclarecendo o que vem ocorrendo por aqui e pedindo adesão. “Nós”, diz a mensagem, “os movimentos sindicais, sociais e populares do Brasil, componentes do Grupo Facilitador do Foro de Participação Cidadã da Unasul e do Mercosul denunciamos o processo reacionário que está em curso em nosso país contra o Estado Democrático de Direito. Não ao Golpe. Nossa luta continua. Abong — Organização em Defesa dos Direitos e Bens Comuns.”
Para quem entende dos meandros do Itamaraty, principalmente sob este governo, não tem dúvidas de que o ministro Rondó agiu por determinação e cobertura superior, dado a gravidade do conteúdo desse documento. Enquanto não se esclarecem, devidamente, esses fatos, ficam aqui mais uma prova, entre muitas, do engajamento político-partidário dessa outrora importante instituição e uma evidência a mais de sua decadência e perda de credibilidade perante o mundo.
A frase que não foi pronunciada
“Há uma hermenêutica entre nós.”
Diálogo entre o subconsciente dos juízes Moro e Zavascki
Ruído
Enquanto a presidente Dilma dá entrevista para repórteres estrangeiros, o jornal britânico escreve: “Mesmo que essa não tenha sido a intenção da presidente, esse seria o efeito. Esse foi o momento em que a presidente escolheu os interesses de sua tribo política em vez da lei. Por isso, ela se tornou inapta a continuar sendo presidente”.
Revista Fortune
A única coisa que o juiz Sérgio Moro tem em comum com o PT é o número 13. Ele ficou em 13º lugar como um dos homens mais influentes do mundo. A ação anticorrupção foi a razão dessa projeção.
Trombone
Lentes voltadas para Mônica Moura. Com livre acesso aos palácios do Planalto e da Alvorada, a responsável pelas finanças do marido sabe muito.
Antagonista
Adilson Dallari, em setembro de 2015, explicou na casa de Hélio Bicudo como o governo do PT viola a Constituição ao defender, por exemplo, o sigilo sobre os empréstimos do BNDES. Disse ele: “Quem contrata com o poder público está abrindo mão do sigilo, porque o princípio constitucional é o da publicidade. Não se pode admitir negócio público sigiloso”.
Incrível
Quem disse que criança gosta de nhe-nhe-nhém? Emmanuel Emiliano Fortes de Andrade vibrou com o troca-troca de livros na Banca da Conceição. O pai lê para ele, em média, meia hora por dia em voz alta. Curiosidade: Emmanuel tem 4 meses de idade.
História de Brasília
Há, na Câmara, um homem que já se torna impertinente pelo seu trabalho incansável. Está à beira da estafa, pelo esforço desenvolvido, mas é para o povo, para o eleitor comum, o homem símbolo de um Congresso. A defesa da Constituição é para ele um dogma e o trato para com as leis é para ele uma devoção. Chamam-no de impertinente, combatem-no, mas que bom se todos os deputados tivessem a mesma consciência do sr. Aurélio Viana. (Publicado em 2/9/1961)
Personalismo, que o dicionário traduz como atitude de que tem a si próprio como ponto de referência de tudo o que ocorre à sua volta, adquiriu características muito próprias entre nós. Tomado fora do conceito de movimento ligado ao Humanismo de 1929, de Emmanuel Mounier, que busca conduzir o homem para a sua realização como pessoa, o que temos atualmente com o governo da presidente Dilma é desvirtuação completa do conceito original, utilizado mais no sentido de voluntarismo, no qual a pessoa acredita que possa modificar o curso dos acontecimentos apenas por vontade própria.
O problema com o sistema presidencialista, nos moldes como ele é concebido no Brasil, é que as variações de humor e personalidade dos chefes do Executivo possuem poder brutal de se irradiar para todo o governo, contaminado a máquina pública, que passa a operar segundo desejos e feelings do mandatário. Logicamente, isso não dá certo, ainda mais quando esse posto passa a ser ocupado por alguém de personalidade obtusa, incapaz de enxergar o mundo a sua volta.
Essa limitação, somada à falta de talento demonstrada por Dilma para comandar a administração, levou-nos até aqui em abaixo. Para piorar a situação, a presidente se encontra refém, por vontade própria, de seu criador e de seu partido, um agrupamento de gente primitiva e extremamente perniciosa aos interesses da nação.
Como não podia deixar de ser, nesse caso, Dilma transformou o Palácio do Planalto em bunker de sua trupe, de onde passa a fazer diariamente discursos inflamados e irresponsáveis, buscando desacreditar não só a Justiça, como o parlamento e todos os que dela discordam.
Fechada, cada vez mais em torno de um núcleo formado de áulicos oportunistas, e com um discurso que vai se assemelhando a grito de guerra, Dilma segue ao encontro do destino que traçou para si, arrastando todos, indistintamente, para seu ocaso. Na eminência da hecatombe, Dilma acaricia displicente as cordas de sua lira louca, enquanto assiste impassível, da janela no terceiro andar do seu Palácio, a um país que arde em chamas.
A frase que não foi pronunciada
“O caixa da Petrobras é nosso.”
Campanha flagrada
Rigor
É preciso que a Secretaria da Saúde exija dos profissionais que a lavagem das mãos seja rigorosamente técnica. Hospitais e postos de saúde, principalmente na vacinação, a equipe é completamente displicente na limpeza das mãos.
Buraqueira
Principalmente agora, durante cobrança do IPVA, seria bom que os responsáveis pelo pavimento das estradas fizessem uma vistoria mais apurada. O que os cidadãos não aguentam mais é pagarem impostos e não terem a contrapartida. Os buracos nas pistas, a cada chuva, acabam custando mais caro do que os impostos para a manutenção dos automóveis.
Desleixo
No Trecho 8 da SMLN, uma empresa a serviço da Caesb rasgou o asfalto para levar manilhas da RA do Paranoá até o Lago. Metade da pista, na entrada da quadra, era de asfalto, e hoje é de terra. E fica por isso mesmo. Os moradores que pagam o IPTU mais caro da cidade que aguentem.
Precificar
Ocupando o terreno desde a fundação da cidade, o Lions Club recebeu apoio de Agaciel Maia para que permaneça no local. A Terracap quer leiloar a área. Talvez o preço do terreno valha o trabalho social que o Lions Club tem feito para contrabalançar a omissão do Estado.
Atitude
Por falar em social, a Action Aid, com sede no Rio de Janeiro, é uma proposta interessante de caridade. A instituição tem o cadastro de crianças que precisam de socorro, cuidados alimentares, carinho e atenção. Com R$ 50 por mês, a instituição repassa o que recebe dos apoiadores para uma criança, em especial, que tem endereço e nome. Assim, você se comunica e pode até marcar um encontro. Nepal. Etiópia, Zâmbia e também crianças do Brasil são atendidas pela iniciativa. É só ligar para 08009404420.
História de Brasília
Não defendo o sr. Jango Goulart. Vemos, com tristeza, o tratamento que está sendo dado à Constituição, pela qual todos os deputados e senadores juraram. (Publicado em 2/9/1961)
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Um turista displicente, que adentrasse o Palácio do Planalto em meio à solenidade em que os juristas petistas foram emprestar solidariedade à presidente Dilma e ouvisse, por curiosidade, o discurso proferido em que a chefe do Executivo alertava para a iminência de um golpe, com sérios riscos para a ruptura democrática, com certeza pensaria estar em alguma outra republiqueta latino-americana, perdida em algum lugar do passado.
Uma boa parcela da população brasileira já se habituou a considerar, nesses últimos anos, que nos discursos da presidente, aqueles previamente escritos e com início, meio e fim, uma parte é composta por louvações a conquistas, outra se refere sempre ao papel que os pais da pátria têm na redenção dos brasileiros e, daí, a importância de mantê-los ad eternum no poder.
A outra metade é necessariamente formada por alertas e riscos para a continuidade do processo, caso a oposição ou os discordantes venham a vencer as eleições. Em regra, esses discursos parecem escritos pelo pessoal de marketing, em colaboração com ficcionistas e outros artífices da literatura e da propaganda.
A objetividade e a verdade dos fatos, com o reconhecimento dos erros de percurso do governo, são solenemente apagadas da fotografia oficial. Assim como são deixados de lado também quaisquer programas de governo de interesse da nação. Feitas as contas, o último discurso de Dilma é tecido apenas com os fios invisíveis da mentira, que busca dar roupagem a um governo que todos agora veem completamente nu.
O problema com discursos com esse perfil é que eles buscam recorrentemente a tática de apartar a sociedade em dois grupos antagônicos, lançando uns contra os outros, sempre em proveito próprio. Os ataques às instituições do Legislativo e do Judiciário representam, isso sim, desserviço à democracia de consequências irreparáveis. Ao afirmar ser necessário uma campanha pela legalidade, o que o governo deixa à mostra é seu desapreço pelo que diz a Constituição quanto aos mecanismos legais do processo de impeachment.
Dizer que “há uma ruptura institucional sendo forjada nos baixos porões da política”, e que os diálogos gravados pela polícia em que ela e o ex-presidente Lula, numa atitude flagrantemente antirrepublicana, tramam meios para obstruir a Justiça, violam a segurança nacional, é desrespeito à nossa inteligência e ao bom senso. Seria golpe se o governo e amigos tivessem cumprido a Constituição e todas as leis ao exercer suas obrigações frente à nação.
O que esse governo hoje colhe não é mais nem menos do que exatamente vem semeando nesses últimos anos. A presidente deveria dar graças aos céus por não ter os órgãos de investigação gravado os diálogos mantidos entre ela e o ex-presidente Lula nos almoços e jantares que ocorrem rotineiramente no Palácio da Alvorada sempre que há aumento da temperatura da crise. “Eu preferia não viver este momento”, disse a presidente. Imaginem, então, todos nós?
A frase que foi pronunciada
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”
Bertolt Brecht
Educação
Aluno não tolera só ouvir sem participar. Daí o sucesso nas escolas que encampam a novidade. A criançada vibra com a oportunidade de fazer parte de projetos LabMakers. Trata-se de laboratório tecnológico, em que os próprios alunos criam projetos físicos ou digitais. Espaços tecnológicos que funcionam como laboratórios que permitem aos estudantes criarem projetos físicos ou digitais para que tenham novas e ricas oportunidades de aprendizado.
Prevenção
Sem nunca ter enfrentado uma guerra, nós os brasileiros não temos a cultura da economia. Mas, com as dificuldades mundiais, esse cenário vem mudando. A iniciativa de parlamentares para o combate ao desperdício foi discutida em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária.
Sem fome
Dois senadores solicitaram o debate. Senador Acir Guracz e Lasier Martins. O senador Ataídes Oliveira apresentou projeto de lei, dispondo que os estabelecimentos com mais de 200m², que trabalhem com alimentos, firmem parcerias com instituições que se interessem pelas sobras. “Temos no Brasil 26 milhões de toneladas de alimentos que vão, a cada ano, para o lixo. Sabemos que temos algo em torno de 7 milhões de pessoas que passam fome no país, das quais 3,4 milhões são crianças, que poderão ter comprometimento de seu aproveitamento escolar por causa da subnutrição”, explica o senador Ataídes.
História de Brasília
A ideia geral, o pensamento do novo, é no sentido de que o Congresso dê posse ao presidente Jango Goulart, e depois discuta a emenda parlamentarista. Tapar buraco na Constituição para atender a interesses políticos não é função do poder que emana do povo. (Publicado em 2/9/1961)
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Guerras, guerrilhas, atentados terroristas e conflitos armados de toda espécie e em todo o planeta, ao longo da maior parte da história humana, têm, a grosso modo, raízes comuns e facilmente identificáveis. Deixando de lado os aspectos puramente econômicos, os principais fatores que aparecem sempre como catalisadores ou como pano de fundo dessas carnificinas sistemáticas são de ordem política, religiosa ou militar — isso desde o surgimento das primeiras civilizações no vale dos Rios Eufrates e Tigre. Ao longo de milhares de anos os homens vêm sendo caçados e mortos com animais em nome da política, da religião e do militarismo.
Numa análise mais ligeira, poderia se pensar, então, em acabar com essa mortandade, cortando o mal pela raiz, por meio da eliminação pura e simples da política, da religião e do militarismo. Nada mais falso e mais impossível. Alguns analistas acreditam que a entrada da humanidade no terceiro milênio ou o fim da adolescência da espécie só ocorrerá, de fato, quando ela se libertar das amarras da política, tal como ainda desenhada hoje, qualificar e aperfeiçoar os modelos de representação atual, por meio de efetiva participação de todos, em tempo real, via meios virtuais. Na outra ponta, a evolução da espécie a levaria também ao descarte da atividade militar, representada principalmente pelo fim da indústria bélica, da corrida armamentista e dos exércitos.
Essa maturidade humana, acreditam eles, se completaria e teria seu coroamento simbólico com a eliminação ou abandono das religiões que aí estão. Para alguns pensadores, o homem do futuro prescindirá dessas antigas ancoras, doravante baseando as relações pessoais e com o próprio planeta por meio de modelos calcadas exclusivamente numa ética humana e universal.
Para alguns radicais, a redenção da espécie humana virá somente quando o último político for enforcado nas tripas do último pastor e ambos enterrados na cova onde jaz o derradeiro militar. Mesmo que isso venha a ocorrer algum dia, ainda assim não cessariam as hostilidades entre os homens. Bastaria apenas que uma flor resplandecesse mais que outra, em outro jardim, para todo o processo retornar ao ponto de partida.
Aquela flor mais rutilante foi obra de Deus dada somente àquele homem, dirão os novos profetas. Aquela flor mais notável é decorrente da interação mais intensa daquele jardineiro com outros, dirão os políticos. Aquela flor notável surgiu naquele jardim, por que é ali o local mais seguro para ela, dirão os militares. Enquanto não se chega à conclusão satisfatória, mata-se o jardineiro, destrói-se o jardim, arranca-se a flor.
A frase que foi pronunciada
“O Brasil é um velho Oeste sem nenhum candidato a xerife.
Bruna Ribeiro, estudante
Matagal e escuridão
Há décadas, os caminhos da UnB que levam às quadras da Asa Norte são perigosíssimos pela falta de iluminação. Estupros, furtos e roubos são comuns. Agora, com as facilidades eletrônicas os alunos da universidade fizeram o que a prefeitura deveria ter feito: um mapa dos locais onde é necessária iluminação. A promessa foi feita. O prefeito professor Marco Aurélio Gonçalves de Oliveira garantiu que novos postes serão instalados.
Atenção
Com lobby pesado os defensores do canabidiol para tratamento de algumas doenças precisaram aguentar a presença de alguns parasitas mal-intencionados. Em um hang out ficou o registro de que tudo estava combinado para aprovar em um pulo. Foi o que aconteceu. Os pacientes que precisam do canabidiol estarão a salvo. Como jabuti, o THC entrou no texto. Liberado também.
Consciência
O movimento Brasil sem Drogas está com força suficiente para reverter a conquista dos mal intencionados. O próprio senador Cristovam Buarque ficou horrorizado com o depoimento de mães de viciados. O que parece droga para recreação, em alguns adolescentes pode se transformar em inferno para a família.
Conad
Pior. O lobby para trazer as drogas para o Brasil está querendo mais. Mês que vem, na ONU a intenção do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas é de que o país deixe de ser signatário, automaticamente se desvinculando dos compromissos em proteger a população contra drogas, que passarão a ser lícitas.
História de Brasília
Estão fazendo guerra fria, com relação à Legalidade no rio Grande do Sul. A Marinha divulga que a obstrução do canal da Lagoa dos Patos poderá trazer colapso para o abastecimento de gêneros e de gasolina ao Estado; o Exército licencia todos os cabos e sargentos do III Exército, e a Aeronáutica informa que não há nenhum avião militar em Porto Alegre. Todos voaram para o Rio. Guerra fria, e fria mesmo. (Publicado em 2/9/1961)
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Somente o desprezo pelo Estado, incluídas todas as suas instituições, e, sobretudo, desdém pelos mais elementares direitos da nação, é que podem explicar a situação atual de derrocada total, tanto do Partido dos Trabalhadores, quanto de suas principais lideranças.
As últimas manifestações de rua a favor do impeachment da presidente Dilma enterraram de vez, em cova rasa da indigência, 13 anos de um governo que, a princípio, poderia ter dado certo, devido ao grau de adesão de primeira hora do grosso da população às suas teses originais, dada à esperança de todo um povo em mudanças.
O tempo, com seu ralador implacável, cuidou de transformar em farinha contaminada o índice de popularidade inédito, superior a 80%. A população deu e agora tomou. Perdeu o partido, com o carimbo duradouro do descrédito. Perdeu a sociedade, que terá de arcar com os prejuízos de terra arrasada deixada para trás e o tempo para reconstruir tudo novamente.
Para a democracia em formação, a experiência renderá lições preciosas, principalmente um manual sobre o que não fazer. Piores, nessa experiência mal lograda e infeliz, serão as consequências para o conjunto da população sob a forma de uma cizânia belicosa.
Sem dúvida, a maior herança maldita legada aos brasileiros foi cuidadosamente semeada, dia após dia, e tinha como objetivo claro, numa primeira fase, dividir para dominar. Posteriormente, essa tática divisionista viria a ser sistematicamente empregada como meio de desviar a atenção das pessoas para os reais problemas que surgiam à medida que as investigações policiais avançavam. Coxinhas, golpistas, nós contra eles, elite conservadora, brancos de olhos azuis e outros rótulos forjados a ferro e fogo como tatuagens.
O mesmo separatismo foi utilizado, no passado, pelos nazistas, para dividir os arianos dos judeus, obrigados a trazer marcado na pele a estrela de Davi. Essa é, entre todos os legados, a verdadeira semente do mal. Essa é a mesma semente germinada recentemente nos Bálcãs e que custou centenas de milhares de vidas.
Ao colocar o partido e seus ditames acima da vida e da dignidade humana, essa gente que agora se despede deixou à mostra seu desprezo pelo outro, tratado como inimigo a ser eliminado. De todas as acusações que poderão levar ao processo de impeachment desse governo, nenhuma é mais grave e mais nefasta, por seus efeitos deletérios do que induzir e lançar os brasileiros numa rinha fratricida e insana. Trata-se aqui de instigar e catalisar o genocídio, na sua forma mais cristalina, vista em diversos outros casos na história da humanidade.
A frase que foi pronunciada
“Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.”
Mario Quintana
Conde
Fernando Conde dá uma dica à redação para fazer matéria sobre a carne de bode. Segundo nosso leitor, e com o meu aval, trata-se de carne saudável e de bom paladar. Ele afirma que sem colesterol. Em Brasília, valeria a pena maiores esclarecimentos sobre a procedência dessa carne. A missiva termina com uma convocação dos patrícios nordestinos para se organizarem e formarem um pool de negócios por tão saudável iguaria.
Novidade
Tem gente que já comprou terreno no céu. Mas agora ficou mais fácil para quem quiser trazer o céu para o chão. O Senado votou, em segundo turno, a isenção de IPTU para igrejas. O projeto é do senador Crivella.
Reunião
Rogério Rosso, deputado federal, é um homem sério, apto para a missão que lhe foi conferida. Com o relator, Jovair Arantes, conduzirá as discussões na comissão especial do impeachment da presidente Dilma. O documento assinado pelos juristas Helio Bicudo e Miguel Reale Jr. e pela advogada Janaina Paschoal provocou a instalação da comissão especial.
Emater-MG
Estudos feitos pela Emater mineira nos municípios de Mariana, Barra Longa, Ponte Nova e Rio Doce apontaram prejuízo em torno de R$ 23,2 milhões aos produtores rurais diretamente atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco. Os técnicos da empresa visitaram cada uma das propriedades.
História de Brasília
E por falar em DCT, o que ele devia fazer era espalhar agências para receber correspondência, pagar condignamente aos seus funcionários, melhorar as condições de higiene de todas as suas repartições em todo o Brasil, e moralizar, enfim, o serviço, que é o pior do mundo. (Publicado em 2/9/1961)
De todos os diálogos de Lula, captados pela Polícia Federal e que vieram agora ao conhecimento da população, nenhum é tão significativo e sintomático quanto a confissão feita por ele à presidente Dilma de que estaria “sinceramente assustado com a república de Curitiba”.
A alusão à República do Galeão de 1954, que antecedeu e, de certa forma, catalisou os acontecimentos que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas, é clara, mas objetiva e historicamente imprecisa e falsa. Trata-se aqui, mais uma vez, do tradicional método leninista de falsificar os fatos, moldando acontecimentos do passado a imagens do presente, distorcendo a verdade e dando-lhe roupagem nova, feita sob medida para induzir o público a erro de avaliação.
A insistência de Lula em fundir sua imagem à do ex-presidente Getúlio Vargas é recorrente e tem como pano de fundo apenas uma estratégia marqueteira de reforçar a imagem populista e real de pai dos pobres, conferida a Vargas, mas que, em absoluto, se encaixa no perfil do petista. Comparar Vargas com Lula beira a sandice. Quem se interessa por história reconhece nessa comparação apenas mais um estelionato.
Já para quem se interessa por psicanálise e, de algum modo, quer entender um pouco sobre o senhor Lula, um bom começo é assistir ao filme Zelig, de Woody. Nessa história, Leonard Zelig, sofre de estranho distúrbio de personalidade que o leva a se comportar como camaleão. Recorrendo à mentira sistemática, o personagem se faz passar por outras pessoas.
Esse comportamento decorre de vontade inconsciente de se sentir pertencente e ser aceito pela sociedade e, de certo modo, se ajustar à vida em seu redor. Dentro da teoria do coitadismo, o que o ex-presidente pretende e tenta passar adiante, de fato, na nomeada “república de Curitiba” é a sua própria versão de que existe uma perseguição movida pelas elites odiosas contra sua pessoa, seu governo e seu pretenso legado em prol dos menos favorecidos.
Na verdade, o que assusta Lula na república de Curitiba é justamente a desconstrução de sua imagem moldada com esmero pela máquina de propaganda personalista, azeitada com muitos milhões de reais e cujos artífices estão no catre, aguardando companhia. O problema com ídolos de pés de barro é que, na intimidade, à luz iconoclasta da verdade, eles são apenas fantasmas.
A frase que foi pronunciada
“A Justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal, a balança sem a espada é a impotência do direito.”
Rudolf Von Jhering
Desequilíbrio
Está na Comissão de Educação do Senado projeto que altera a Lei Rouanet. A ideia é que propostas de instituições públicas de ensino superior sejam também beneficiadas com recursos para cultura e arte. O que não está claro é a contrapartida. As universidades públicas que recebem verbas do governo concorrerão com iniciativas privadas ou particulares.
Registro
Muito se fala e pouco se faz. Aquele que não ficou satisfeito com o atendimento em hospitais públicos deve encaminhar reclamação ao Ministério Público e aos conselhos Regional e Federal de Medicina. Uma pessoa apenas pode não mudar, mas uma população que registra a insatisfação tem maior chance de fazer o sistema acompanhar a demanda.
Seu direito
Seguro obrigatório é um mistério. Existe desde 1974, mas investe pouco em publicidade. O DPVAT é pago com o IPVA e a verba vai para uma empresa particular, o que gera dúvidas. Para dar entrada na Seguradora Líder ao DPVAT, em caso de acidente, o procedimento é simples e não há necessidade de despachante ou advogado.
Dúvidas
Por falar nisso, há um parecer da Silveiro Advogados sobre uma empresa particular receber o DPVAT, que diz: “Restarão, sim, maculadas a livre concorrência e a livre iniciativa, princípios constitucionais básicos e gerais de toda a ordem econômica e financeira, bem como restará caracterizado exercício abusivo do poder de controle, por parte dos acionistas controladores”.
Dificuldades
Alunos que acreditaram no Fies estão penando. Uma estudante, que pede para não ser identificada com medo de represália, conta que, a cada semestre, o Banco do Brasil vai tornando mais difícil recepcionar os documentos para o financiamento. Burocracia exagerada, cobranças descabidas e, principalmente, o desencontro de informações abusam do tempo que não tem para dispor. Na Caixa, as reclamações são menos frequentes.
História de Brasília
O DCT está divulgando a mentira que está recebendo telegramas em código, dos países da “Cortina de Ferro” para conhecidos comunistas brasileiros. Se for verdade, muito pior, porque cabia à repartição reter os telegramas, com apoio da Justiça, e não divulgar para provocar apreensão. (Publicado em 2/9/1961)
Detalhes, desses perdidos entre os fragmentos e miúças da vida, por algum capricho dos deuses, possuem o poder de conferir significado colossal aos acontecimentos e coisas do dia a dia. Não à toa dizem que “Deus mora nos detalhes”. Também é neles que estão as pistas fundamentais que levam aos esclarecimentos e à origem dos fatos.
Na cerimônia oficial, preparada com pompa e circunstância pelo Palácio do Planalto para marcar a entronização do ex-presidente Lula, agora na armadura blindada da Casa Civil, quis o destino que um detalhe, desses nascidos no fundo da plateia escolhida a dedo, ganhasse repercussão maior do que a própria solenidade empolada em si.
Logo que começou o discurso, a presidente Dilma e a audiência seleta presente no local, assim como milhões de brasileiros que acompanhavam a transmissão ao vivo pela tevê, foram surpreendidas pelos gritos do deputado Major Olímpio (SD-SP), até então desconhecido para a maioria dos brasileiros. Lá do fundo da plateia, ele gritou, mais uma vez e alto e bom som, a palavra vergonha.
Por longos instantes, balde de realidade fria e viscosa — enviado talvez pelas ruas agitadas — foi repentinamente despejado sobre as cabeças coroadas. No curto lapso de tempo que se estendeu entre o ato físico de escutar e entender o significado da introdução daquela expressão estranha ao ato sagrado e a identificação do autor da blasfêmia, a cerimônia ficou suspensa no vácuo…
Graças à difusão da tecnologia das imagens e sons, introduzidas no nosso cotidiano e que podem ser acessadas repetidas vezes num simples clique, ao que se assiste, naqueles instantes eternos — comuns às vítimas de atentados à bomba, surpreendidas pelo estampido e pelos destroços —, é a expressão de incredulidade das autoridades presentes.
Num futuro distante, quando historiadores se detiverem no garimpo e no levantamento desses registros documentados, provavelmente darão ao episódio o título de “A posse da vergonha”. Nesse dia, dirão que a expressão corrente na língua portuguesa foi introduzida, pela primeira vez, naquele Palácio casto. Dirão também os arqueólogos do futuro, com suas minúcias, que a nova expressão, ali introduzida, significava, naquele tempo, algo como desonra, ultraje ou opróbrio. Difícil para os pesquisadores será a identificação do rubor na face, comuns nas pessoas que sentem verdadeiramente vergonha na cara, naquela solenidade, já que a maioria dos ali presentes estavam, estranhamente, uniformizados de vermelho, sem sinal de embaraço.
A frase que foi pronunciada
“Sou ex-opositora de um regime de força que provocou em mim dor e me deixou cicatrizes, mas não tenho nenhum revanchismo.”
Interrompida por lágrimas, quando falava em seu discurso de posse, a presidente Dilma mal poderia prever que hoje, sua permanência no poder, também depende do respaldo do Exército.
Observação enviada pelo leitor Edvaldo de Oliveira
Leitor
E os moradores de Mariana continuam abandonados. Ou nós saímos da inércia e da politização virtual para a ação, ou uma hora essa boiada vai estourar desordenadamente. Pode demorar, mas vai estourar. Missiva de Pedro Cardoso da Costa.
Registro
Toda a família de Miguel Alves Lopes nos pede para registrar elogio especial ao pediatra dr. Sasaki, a enfermeiros, técnicos, equipe da pediatria, auxiliares da limpeza e merendeiras. Internada por quatro dias, a criança foi rodeada de cuidados e carinho e graças à competência dos funcionários do HUB. Miguel voltou para casa curado.
Doação
Por falar nisso, a brinquedoteca do HUB está precisando de doações. Definitivamente, é um local importante para a cura da meninada. Ali, a estada no hospital se torna mais agradável sob os cuidados da pedagoga Bianca, que trabalha com entusiasmo, contagiando as crianças com sua alegria.
Interrogação
Não faz muito tempo, o senador Aloysio Nunes Ferreira disse que o “governo não é do PT, está sem pai nem mãe”. Durante a festa dos 36 anos do PT, foi apresentado o documento O futuro está na retomada das mudanças. O senador criticou o anúncio porque o texto é diferente das propostas defendidas pelo governo. Hoje, a única certeza sobre o futuro e o governo é a dúvida.
Pois é
“A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil serviria para impedir as investigações contra ele? Absolutamente não. Os juízes da Corte Suprema obviamente são tão apegados à lei e à ordem jurídica como quaisquer outros juízes. Dizer que Lula está escolhendo foro privilegiado seria duvidar da idoneidade dos ministros do STF”, explica Paulo Abrão, secretário executivo do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul.
História de Brasília
A Shindler até hoje não chegou a um acordo com o Ipase, no que diz respeito ao funcionamento dos elevadores do Bloco 11 da Superquadra 208. O serviço é péssimo, e o elevador está parado toda a vez que dele se precisa. (Publicado em 2/9/1961)
Na tênue teia que vai se enredando o principal personagem político desses últimos 14 anos, estão presos, além do partido e da sucessora no cargo, todo o governo e, por tabela, o Estado, inclusive o Poder Legislativo. Paralisados, à espera da aranha da lei que avança sobre os ímprobos.
Ao país, só resta aguardar o ato final e o desfecho de uma saga que mistura política e polícia na mesma proporção. De positivo, vislumbra-se o aflorar de um Estado mais depurado e, por conseguinte, uma democracia mais aprimorada, expurgada da ação nefasta de falsos e numerosos partidos, sempre alheios aos reais interesses da nação.
Para um Estado que se vê obrigado a sustentar tantas e tão diversas legendas, o mínimo que se poderia esperar é que tivesse iniciativa de deliberar para cessar a crise. Na verdade, a crise demonstra claramente a total inutilidade e até mesmo o prejuízo para o cidadão em manter superestrutura partidária, formada por miríade de legendas de aluguel, que funcionam mais como clube fechado, voltado ao atendimento dos interesses dos associados da cúpula.
O processo insidioso que permite que o partido no poder possa se imiscuir na máquina pública, parasitando a administração é, entre as muitas variáveis da crise, o fator que mais chama a atenção e, por isso mesmo, clama por reparos urgentes.
O governo de coalizão, baseado, isso sim, na cooptação de partidos, por meio de prebendas, deve ser banido de imediato. Qualquer reforma que minimize a ingerência de partidos na gestão pública será um avanço na política brasileira. É preciso, e isto é consenso entre muitos brasileiros, vedar o acesso desses clubes políticos à máquina administrativa, fechando a porteira do Estado à ação infecciosa dessas instituições.
Se a democracia não pode prescindir de partidos para funcionar, do mesmo modo não pode existir sabotada por multidão de agremiações de fantasia. Nesse dilema, de aparente complexidade, a solução passa primeiro pela redução dos excessos, filtrando esses clubes de acordo com um rígido esquema de cláusula de barreiras.
A quantidade, em nosso caso, nos conduziu à superdosagem, levando nossa recém-democracia a envenenamento grave. Também o Tribunal Superior Eleitoral, criação exótica de nossa Carta, mostrou que, em momentos de crise, é inócuo. Mais do que políticos articulados e incensados, o país necessita agora de autênticos brasileiros. Quem sabe eles estejam em meio à grande multidão que as ruas anunciam.
O texto que não foi escrito:
“Nação brasileira, nos perdoe. Mentimos. Defendíamos uma Nação e criticamos as elites. Hoje fazemos parte da elite que sempre criticamos. Da banda podre da elite. Da parte desonesta, que rouba. E, para dizer a verdade, valeu a pena. Estamos riquíssimos. Temos dinheiro para qualquer parada. Preso ou não, o dinheiro é só meu e ninguém tasca. Isso tudo vai passar e vocês vão esquecer e me adorar novamente. Esperem para ver. Pensamos na política como bem comum. Antes, queríamos estar no poder; hoje, defendemos nos manter no poder. Para mim, é bem comum viajar, voar, ficar nos melhores hotéis, comer do bom e do melhor. Tentem vir para o poder para vocês verem como é bom. Duvido que queiram deixar isso aqui! Estou cantando e andando para o que vocês pensam. Por isso, nem percebi em que jatinho estava viajando para escapar da prisão. Eu aprendi que ser do governo é buscar o bem social dessa galera daqui. Quero mesmo que vocês briguem bastante, negros contra brancos, ricos contra pobres, homossexuais contra héteros. Assim, vocês me esquecem um pouco. Nossa meta é deixar mais ricos os ricos, ensinar os filhos a tomarem parte desse queijo. Façam tudo para o povo continuar manso e ignorante. Assim a gente consegue mais tempo nesse paraíso. Perdão, Brasil. Quando eu dizia bem de todos vocês deveriam entender bem de todos os meus amigos, interesseiros ou não. Perdão, mas não estou arrependido. Nem teria do que me arrepender. Essa é a verdade. “
Carta jogada na Esplanada assinada por um ex-presidente
Tranquilidade
Se uma comissão especial levar 45 dias para analisar o impeachment da presidente Dilma, ela pode descansar tranquila. Esse número de dias equivale a 10 anos na memória do brasileiro. Basta ver que uma multinacional acabou com um rio do Brasil e ninguém fala mais nisso.
Alerta
Policiais avisam para motoristas desviarem de frutas jogadas nas pistas. Ladrões estão usando essa tática para furar pneus. As frutas são carregadas de pregos.
Elogio
Por falar nisso, o comandante-geral da PMDF, coronel Nunes, deu uma excelente reformulada na rotina da segurança da cidade. A toda hora, carros da polícia são vistos pela cidade, em rondas e abordagens. Até o fechamento da coluna, a Polícia Militar foi eficiente nas manifestações no DF.
Hábito
Em Brasília, não se buzina porque o trânsito é educado. Mas há uma mudança de hábito.
Agora, é praxe. São raros os carros que passam em frente ao Palácio do Planalto sem buzinar.
Reclamação constante
Ônibus que transitam na W3 Sul não respeitam a faixa própria. Ocupam todas as pistas, muitas vezes apostando corrida para pegar os passageiros à frente. Perigo para todos.
Competência
Se foi de propósito, perdeu. Quando a presidente Dilma trocou o nome de uma deputada pela deputada Ângela Amim, acabou lembrando ao país e, especialmente, a Santa Catarina, que a brilhante carreira e o passado ilibado da sra. Amim são a garantias necessárias para que ela ocupe a prefeitura de Florianópolis.
História de Brasília
Depois que o Heron Domingues foi suspenso, o Repórter Esso deixou de ser o grande informativo, de prestígio em todo o país. Ontem, por exemplo, no Rio comeu barriga quando informou extraordinariamente que o sr. João Goulart havia renunciado. (Publicado em 2/9/1961)