Destino

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com

Circe Cunha e MAMFIL

Para os que creem nas armações do destino, tal qual concebido pela antiguidade clássica grega, Brasil tem sido, nas últimas décadas, o alvo predileto dos caprichos das Moiras. Justamente nos momentos-chaves, quando se imagina que o país vai finalmente engrenar a marcha rumo ao pleno desenvolvimento econômico e social, interrupções abruptas e inesperadas surgem como num passe de magia e tudo regressa ao ponto de partida.

No caso atual, com a morte súbita do ministro do STF Teori Zavaschi , o sentimento da maioria da população brasileira é de que nem bem inaugurada, a obra de passar o país a limpo ameaça desabar diante de nossos olhos. E, mais uma vez, não há nada que se possa fazer para impedir o colapso do sonho de um Brasil contra a corrupção.

Impossibilitados de controlar o leme desse país que, mais uma vez, é levado pelas correntezas da incerteza a destinos ignorados. A decepção com o futuro do país tem sido o mote na vida dos brasileiros que pensam nos netos. Com o fim do governo JK, em 1960, o que os brasileiros informados da época esperavam é que, na sequência viriam outros presidentes eleitos democraticamente e seguiria na trajetória desenvolvimentista inaugurada em 1955. Com o curto mandato de Jânio Quadros, precipitado, segundo dizem, por uma ressaca monumental, no Palácio da Alvorada, à época, deserto e mal-assombrado, o que se seguiu foi uma posse improvisada de um vice despojado dos poderes e, malvisto pelos quartéis.

A Guerra Fria, que não nos dizia respeito direto, acabou empurrando o país para a aventura da tomada do poder à força pelos militares, evitando-se, assim, que o país rumasse ligeiro para um modelo de comunismo, também estrangeiro, e que tinham na União Soviética e na China seus exemplos máximos. Decepção geral. A democracia interrompida ficaria de molho por mais duas décadas.

Mais uma vez o destino cortou os fios da esperança, com Tancredo Neves internando em estado grave, o homem escolhido que não chegou a assumir. José Sarney, com todas as dificuldades para firmar a economia, conduz a redemocratização do país, com a promulgação da Constituição de 1988.

Na sequência, pelas Diretas Já, Collor cativa a população como o caçador de marajás. Com apenas dois anos no poder, cai em desgraça por ter tocado no brio dos ricos e por ter levado ao desespero, a classe média. Faltava base de sustentação no Legislativo. Mais uma decepção. Na sequência, assume seu vice, um mineiro tímido, de que não se esperava muito, mas que teve a clareza de entregar a acadêmicos conceituados a resolução para uma economia há muito estagnada. Fez-se luz no fim do túnel.

Seguem-se anos de relativa bonança, com a modernização da estrutura econômica do país. Como fim do governo FHC, quem assume é um operário cheio de discurso e prosa. Empatia com o povo como nunca vista entre os presidentes. Abraços e beijos sinceros. Mas o poder nos corrompe, disse Maquiavel, e mostra o que estava escondido.

Dois anos depois, eclode o escândalo da compra votos e de consciência de parlamentares. Com o mensalão, vem outra decepção. Com a base parlamentar nas mãos, o operário consegue se reeleger e fazer a sucessora. Nesse período os cofres públicos estão sendo dilapidados com uma voracidade jamais vista. Com os milhões de desviados até dos próprios operários, Dilma se elege numa campanha caríssima.

Tem início a nova matriz econômica que arruinaria profundamente o Brasil, levando todas as agências de risco do planeta a classificar o país como caloteiro. Os capitais saem em debandada. Dilma se reelege com base em falsas promessas, e escondendo de todos a precária situação financeira do país. Dois anos depois é deposta pelo Congresso.

Decepção geral, principalmente da classe trabalhadora que se vê traída e esfolada. A essa altura, o escândalo da Lava-Jato é do conhecimento de todos. Seguem manobras de bastidores de toda ordem para suavizar o episódio da maior roubalheira da história. Figurões do governo e do empresariado são presos.

Seguem-se mais decepções à medida que a população toma ciência sobre a real situação do país e sobre os malfeitos do governo. No STF, uma série de decepções por conta do corporativismo ou mesmo por conta da ligação de ministros da Corte com o partido dos trabalhadores, aumenta a apreensão da sociedade de que tudo vai, mais uma vez, acabar em pizza. Teori assume a relatoria da Lava-Jato. Quando tudo parecia retornar aos trilhos, morre o ministro da Suprema Corte no qual a população depositava total confiança. Decepção novamente.

A frase que foi pronunciada
“Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio.”
Gibran Kahlil Gibran

História de Brasília
O regime parlamentarista não vai durar muito. Pelo menos, é o que se pode prever através deste meio mês de governo. (Publicado em 21/9/1961

It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin