O Banco Central, os juros e o desemprego recorde

Publicado em Economia

O Banco Central entrou com tudo no radar do Palácio do Planalto. Assessores do presidente Michel Temer andam se perguntando por que a autoridade monetária está impondo um custo tão alto à economia. Os questionamentos ganharam força ontem, depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou novo recorde no desemprego no trimestre terminado em março. A desocupação atingiu 13,7% da população economicamente ativa, totalizando 14,2 milhões de pessoas. Para auxiliares de Temer, o conservadorismo do BC, sob o comando de Ilan Goldfajn, está contribuindo para atrasar a recuperação da economia. Os juros, dizem eles, deveriam ter caído mais rápido. A taxa básica (Selic) está em 11,25% ao ano.

 

No Planalto, todos reconhecem os bons serviços prestados por Ilan e seus subordinados no controle da inflação. A credibilidade da diretoria do BC foi fundamental para controlar as expectativas de inflação dos agentes de mercado. Mas a visão unânime entre os auxiliares de Temer é de que o BC precisa dar uma cota maior para a retomada do crescimento. Quanto mais a autoridade monetária demorar para levar os juros ao que o mercado chama de taxa de equilíbrio, algo entre 8% e 9% ao ano, mais tempo o país demorará para sair do atoleiro. Os juros muito altos inibem, principalmente, a renegociação de dívidas de empresas e das famílias, travando três pilares do Produto Interno Bruto (PIB): produção, investimentos e consumo.

 

A demora para a recuperação da economia também tem um custo político, destacam assessores presidenciais. Eles acreditam que o desemprego maior engrossa a gritaria dos que são contra as reformas trabalhista e da Previdência e dão fôlego para os que estão indo às ruas em manifestações contra o governo. “Certamente, os juros mais baixos dariam ânimo novo aos empresários. Criariam um ambiente mais favorável. Há uma ansiedade grande para que o crescimento econômico volte. Talvez, se o BC tivesse derrubado mais rápido a Selic, a chave já teria sido virada”, diz um ministro muito ligado a Temer.

 

Deflação

 

O governo acreditava que a taxa de desemprego se estabilizaria em torno dos 12%, com a economia mostrando força no primeiro trimestre. A significativa queda da inflação seria fundamental para que esse quadro se confirmasse. O problema foi que a atividade não se recuperou como o esperado e o desemprego continuou firme. A cada ponto percentual de aumento da taxa de desocupação, pelo menos 1 milhão de pessoas engrossam o exército de pessoas sem trabalho. É muita coisa. Na avaliação de especialistas, a taxa de desemprego ainda continuará aumentando e deve passar de 14%. Na melhor das hipóteses, o mercado de trabalho só deverá mostrar reação no último trimestre do ano. Mas é mais torcida do que um fato concreto.

 

“Não dá para dizer que o BC errou na condução dos juros. Porém, se pode afirmar que o excesso de conservadorismo está resultando em uma fatura pesada. O próprio BC aponta em seus documentos que discutiu, em todas as reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), um corte maior da Selic. Ou seja, havia espaço para mais ousadia”, diz um integrante do gabinete presidencial. “A inflação está derretendo. E não somente por causa do BC. A queda decorre, sobretudo, da forte recessão e do desemprego”, emenda. Ele lembra que os números da atividade são desanimadores. Tanto que a arrecadação de impostos voltou a cair em março, assim como as vendas de supermercados, que encolheram 3,9% ante o mesmo mês de 2016.

 

O governo espera que o BC apresse os passos nos cortes dos juros. Um dos argumentos usados para justificar uma queda maior da Selic é o IGP-M, que registrou deflação de 1,10% em abril. O indicador revela que, se há pressão sobre o custo de vida, é para baixo. O recuo dos preços no atacado deverá ser repassado ao varejo. Como explica o economista Carlos Thadeu Filho, da consultoria MacroAgro, o IGP-M está captando a desvalorização das commodities agrícolas, isto é, grãos e proteína animal. É um movimento mais duradouro. “A inflação aos consumidores vinha captando, principalmente, a queda dos preços de alimentos produzidos apenas para o mercado interno. Por isso, aposto em IPCA de 3,5% neste ano”, afirma.

 

Brasília, 09h30min