Um golpe em curso na CBF

Publicado em Sem categoria

Com a devida autorização do amigo jornalista autor do texto a seguir, reproduzo revelações dos bastidores do outro lado do futebol que você está acostumado a acompanhar…

 

POR SÍLVIO BARSETTI

 

Aos 800 jornalistas da minha lista de amigos no Face e demais amigos. Decidi escrever este texto para denunciar um GOLPE EM CURSO NA CBF. Tenho feito matérias sobre isso, assim como outros colegas (POUCOS). Mas em meus textos no Portal Terra não posso ser opinativo (tem de ser assim mesmo) e, portanto, resolvi usar este espaço para fazer uma denúncia. Como não bastassem tantos problemas para o futebol brasileiro, evidenciados para o mundo após o vexame dos 7 a 1 da Copa, e que abrangem o volume gigantesco de dívidas dos clubes, arbitragem deficiente, um sem-número de clubes profissionais sem atividades por 8, 9 meses ao ano, etc, etc, etc, há um GOLPE EM CURSO NA CBF. Um golpe quase silencioso, orquestrado pelo grupo do presidente licenciado Marco Polo Del Nero.

Comecei no jornalismo cobrindo a eleição de 1989 na CBF e prossegui com poucas interrupções na cobertura da entidade até hoje. Defendo o esporte, o futebol, como uma atividade limpa, integralmente honesta e lúdica, seja qual for a circunstância. São 26 anos praticamente acompanhando o dia a dia da CBF.
Vou tentar ser claro.

Marco Polo Del Nero, que pertence ao grupo de José Maria Marin e de Ricardo Teixeira, que o inventou, foi indiciado pela Justiça dos EUA por crimes de corrupção. Todos sabem que ele não sai do País há mais de seis meses para evitar a prisão. Com as evidências de que mais cedo ou mais tarde o FBI tornaria público seu envolvimento em casos ilícitos (ele tem direito de defesa), Del Nero começou a arquitetar um plano semanas atrás para perpetuar seu grupo no poder e assim impedir que a própria entidade investigue desvios que lhe são imputados e a Ricardo Teixeira e José Maria Marin.

Primeiro, a licença do cargo, tão logo anunciado seu indiciamento em entrevista da Procuradora-Geral de Justiça dos EUA, Loretta Lynch, em 4 de dezembro. De acordo com o estatuto da CBF, o presidente pode indicar o vice de sua preferência para ocupar o seu lugar em caso de licença. São cinco vices na CBF, cada um representando uma região do País. O do Sul, Delfim Peixoto, defende publicamente uma auditoria séria na entidade e punição exemplar para Marin, Teixeira e o próprio Del Nero. Portanto, não seria o escolhido.

O vice do Sudeste, José Maria Marin, vive nos EUA com uma tornozeleira eletrônica. Restariam três opções. O vice do Norte, Fernando Sarney, com amplo histórico de problemas na Justiça, era o preferido de Del Nero. Mas o filho de José Sarney foi firme e bateu pé. Disse não, não e não. Não poderia assumir tal responsabilidade. Tem telhado com telhas de vidro. Gustavo Feijó, do Nordeste, é considerado pelo grupo que controla a CBF como despreparado, como incapaz para o cargo. Sobrou o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), da bancada da bola. Embora do Espírito Santo, ele é vice da Região Centro-Oeste. Foi alçado como presidente em exercício da entidade.

O que talvez Marcus Vicente não saiba (é bem provável que já saiba sim) é que ele vai ser vítima do GOLPE EM CURSO NA CBF, assim como Delfim Peixoto. No dia 5 de dezembro, Del Nero e seu grupo mais próximo (o secretário geral Walter Feldman, o diretor financeiro Rogério Caboclo, o diretor jurídico Carlos Eugênio Lopes, o diretor de Desenvolvimento e Projetos, André Pitta) levaram Marcus Vicente a convocar uma assembleia para 16 de dezembro com o objetivo de definir um novo vice, na vaga de José Maria Marin, que, segundo a CBF, perdeu o cargo de vice do Sudeste por estar preso há mais de seis meses.

Aqui, há capítulos bem sórdidos da história recente do futebol brasileiro. Primeiro, a CBF convidou 26 dos 27 presidentes de federações para uma confraternização de fim de ano, com um almoço, na sede da entidade. O evento foi no próprio dia 5 de dezembro. Não estava convocada uma assembleia, tampouco uma reunião para tratar de formalidades. Na verdade, a confraternização simulava um encontro para manobras. Delfim Peixoto foi o único excluído da lista de convidados. Com a ausência dele, estaria aberto o caminho para mais um passo do GOLPE EM CURSO NA CBF.

Vários presidentes de federações foram pegos de surpresa no encontro, quando Del Nero e Marcus Vicente anunciaram a eleição para o lugar de Marin, marcada para 16 de dezembro. Alguns ficaram mais surpresos ainda quando houve o anúncio do nome que concorreria ao cargo como candidato oficial da CBF. Coronel Nunes, presidente da federação do Pará, um dirigente de 77 anos que costuma dormir nas reuniões da entidade e faz o mesmo quando ocupa os puffs no térreo do prédio da entidade.

Pelo seu histórico de anos como chefe da federação do Pará e homem de confiança de Teixeira, Marin e Del Nero, o coronel Nunes é um dos dirigentes mais apagados dos que frequentam a CBF. Sem iniciativa, fala pouco e boceja demais. Tem o hábito de assinar o que lhe mandam assinar e está sempre preocupado em saber qual o restaurante reservado para os banquetes oferecidos pela CBF. Recentemente, numa conversa informal na entrada do prédio da CBF, ele se espreguiçava num puff enquanto dizia para quem quisesse ouvir: “Quero que o futebol se dane.”

O coronel Nunes, de 77 anos, só foi escolhido por um motivo. Ele é mais velho que Delfim Peixoto, de 74 anos. E passaria assim a ser o primeiro na linha sucessória da CBF em caso de renúncia de Del Nero. O GOLPE EM CURSO NA CBF avançava e exibia as vísceras de um modelo de gestão de futebol totalmente corrompido e corroído. Para ser mais claro. O estatuto da CBF define que em caso de impedimento do presidente, o vice mais idoso assume o cargo. Há uma convicção na CBF de que Del Nero não voltará mais à presidência e que, cedo ou tarde, será obrigado a renunciar. Mas agora ele já tem quem continue controlando a caixa preta da CBF: é o coronel Nunes, que só não vai cochilar na hora de enxotar do cargo o presidente em exercício Marcus Vicente.

Para ser completo, o roteiro do almoço de confraternização de fim de ano reservava um momento de extrema coação e constrangimento. Foi o que se sucedeu ao anúncio do coronel Nunes como candidato da CBF. Ali, naquele instante, foi passado de mão em mão um documento para ser assinado pelos presidentes de federações, avalizando a candidatura do coronel Nunes. Não houve recusas. Só os ausentes não o assinaram (obviamente). Faltaram ao encontro Delfim Peixoto, e os presidentes das federações do Rio Grande do Sul, Francisco Novelletto, e do Rio Grande do Norte, José Vanildo.

Ou seja, com 24 assinaturas de presidentes de federações, estava praticamente selada a eleição. Faltava apenas o apoio de cinco dos 40 clubes votantes (os 20 da Série A e os 20 da Série B têm direito a voto, assim como as 27 federações). Num estalar de dedos a CBF consegue apoio de cinco entre 40 clubes. E já o obteve. No mesmo dia da confraternização, a CBF publicou no seu site o edital da convocação para a assembleia.

Aqui o GOLPE EM CURSO NA CBF mostra mais uma vez a sua cara e debocha do torcedor brasileiro. No edital, está claro. Para inscrever uma chapa, é necessário o apoio mínimo de cinco clubes e OITO federações. Ora, se ao publicar o edital a CBF já contava com 24 das 27 federações, qual a probabilidade matemática de se inscrever uma chapa alternativa? O que há de mais aviltante em todo esse processo ficou claro numa conversa rápida que mantive com um presidente de federação. Quando eu lhe perguntei sobre o porquê de ele ter assinado o documento de apoio ao coronel Nunes, ele me respondeu, obviamente em off, e constrangido. “Ou eu assinava ou eu ficava sem receber da CBF a ajuda anual para pagar o 13 salário dos funcionários da minha federação.”