Brescia Felipe Curcio veste a camisa do Brescia, o time em que Branco brilhou nos anos 1990 Felipe Curcio veste a camisa do Brescia, o time em que Branco brilhou nos anos 1990

Ajudou o Brescia a subir para a Série A do Italiano e sonha com a Squadra Azzurra: conheça Felipe Curcio

Publicado em Esporte

Aos 25 anos, Felipe Castaldo Curcio curte o fim de temporada dos sonhos. O lateral-esquerdo nascido em Jundiaí (SP) acaba de ser um dos responsáveis pelo milagre do retorno do Brescia à elite do Campeonato Italiano. O clube por onde passaram Roberto Baggio, Pep Guardiola, Hagi, Pirlo, Luca Toni e outros ídolos amargava a segunda divisão havia oito temporadas e desembarcará na Serie A após a emocionante conquista da B. O Brescia terminou a segunda divisão com 67 pontos, um à frente do outro time promovido, o Lecce.

Felipe Curcio joga no clube que abriu as portas da Itália a um dos ídolos do clube: Branco, campeão da Copa-1994 e da Copa América-1989 com a camisa da Seleção. Imigrante, Felipe fez o caminho inverso. O avô deixou a Itália aos 20 anos para morar no Brasil e dizia aos parentes do País da Bota que o neto um dia jogaria lá. Profecia cumprida. Felipe seguiu para a Itália aos 19 anos. Topou jogar até na Série C para evoluir na carreira. “Acho que o meu avô ficaria muito feliz com o que está acontecendo agora”.

Classificado para disputar a primeira divisão na temporada 2019/2020, Felipe espera bater de frente com astros como o jogador eleito cinco vezes melhor do mundo Cristiano Ronaldo para mostrar futebol e realizar um sonho: defender a seleção italiana como os brasileiros naturalizados Thiago Motta, Emerson Palmieri, Jorginho, Éder, Amauri. “Bom, se eu falar para você que eu não penso é mentira. Eu tenho passaporte italiano, penso sim. Tenho que pensar grande. Se um dia eles me chamarem será um prazer.  Pode até ser uma escolha difícil, mas a minha família tem origem italiana. A minha posição é muito carente no futebol, ainda mais na Itália”.

A seguir, confira o bate-papo de Felipe Curcio com o blog.

 

 

O Brescia não disputa a Série A do Campeonato Italiano desde a temporada 2010/2011. Qual é a sensação de devolver o clube à elite após oito anos?

A sensação é inexplicável. Fazer parte de um grupo que conseguiu o acesso depois de oito anos, ainda mais em um time que tem uma tradição é fantástico, para ficar na história.

 

O Brescia é tetracampeão da Série B. Conta para a gente como é o nível da segunda divisão do Campeonato Italiano?

O nível da Série B italiana é bem forte em comparação com as outras segundas divisões europeias. O futebol italiano é bem competitivo fisicamente e taticamente. É acirrado, difícil, vemos muito o último colocado ganhando do primeiro. São jogos imprevisíveis, complicados.

 

Você também disputou a Série C por Foggia, Lupa Roma, Martina e Fidelis Andria. Conta como foi a sua peregrinação pelas divisões inferiores do futebol italiano até desembarcar no Brescia…

A minha passagem pela Série C foi muito importante. Foi como uma bagagem, para adaptação à Itália. Foi primordial para chegar onde estou, uma escada, degrau por degrau. Levo isso como aprendizado, para trabalhar forte, não cair mais e apenas subir.

 

No Brasil, a parte tática está bem pra trás. Evoluí bastante nisso aqui, na parte defensiva, por ser lateral. Vou levar para a minha carreira. O futebol italiano é bem completo. Se você jogar muito tempo na Itália será bem mais fácil atuar em outras ligas.

 

A sua chegada ao Brescia foi escolhida a dedo pelo presidente Massimo Cellino. Ele ficou encantado com os seus cruzamentos e os quatro gols nas temporadas 2016/2017 e 2017/2018. Esses foram os trunfos para a contratação?

Foi ele quem me escolheu mesmo para chegar ao Brescia. Foi uma contratação por isso também, pelos cruzamentos, os gols que eu havia feito. Ele preza muito a parte técnica.

 

Há sempre aquela referência de que o futebol italiano é extremamente tático. O que você aprendeu, aprimorou nesse tempo em que atua por aí?

No Brasil, a parte tática está bem pra trás. Evoluí bastante nisso aqui, na parte defensiva, por ser lateral. Vou levar para a minha carreira. O futebol italiano é bem completo. Se você jogar muito tempo na Itália será bem mais fácil atuar em outras ligas.

 

 

Está pronto para encarar Cristiano Ronaldo, Dybala, Higuaín, Quagliarella e outros figurões da elite?

Seria um sonho encarar esses caras. Espero que tudo dê certo, que eu possa jogar no ano que vem, continuar no Brescia… A minha vontade é muito grande de disputar a Série A. Agora, é focar e fazer de tudo para ficar no Brescia.

 

Você joga em um time sem camisas 10 e 13. Os números foram aposentados em homenagem ao Roberto Baggio e ao Vittorio Mero. Como é a relação da cidade e do clube com esses dois ídolos?

Pois é, a gente tem essas duas camisas que foram aposentadas. São ídolos do clube. Todo mundo lembra deles, do Pirlo, do Guardiola… É uma coisa bem legal. Eles respeitam muito quem passou aqui e fez história. Muito bacana por parte da cidade, da torcida.

 

Você é lateral-esquerdo de origem. Um dos grandes jogadores brasileiros da posição passou pelo Brescia. Você se inspira no Branca, campeão da Copa de 1994?

Eles falam bastante do Branco. Muitos torcedores chegaram pra mim e falaram sobre a passagem dele por aqui. Eu me inspiro sempre nos campeões. Não vi muito o Branco jogar, mas sei que ele passou pelo Brescia, fez muito bem e foi um grande jogador.

 

Uma vez, um torcedor me deu um livro e tinha várias páginas sobre o Branco. Eles lembram bastante de quem passou pelo Brescia e fez história. Não vi muito o Branco jogar, mas sei que ele passou pelo Brescia, fez muito bem e foi um grande jogador.

 

Branco tem moral na cidade, os torcedores falam sobre ele?

Uma vez, um torcedor me deu um livro e tinha várias páginas sobre o Branco. Eles lembram bastante de quem passou pelo Brescia e fez história.

 

A sua trajetória lembra um pouco a de outros brasileiros que passaram por aí e fizeram do Brescia um trampolim na carreira. São os casos do Gustavo Boccoli, do Fábio Bilica e mais recentemente do Éder, que se naturalizou e defende a Itália. Você pensa em jogar pela Squadra Azzurra no futuro?

Bom, se eu falar para você que eu não penso é mentira. Eu tenho passaporte italiano, penso sim. Não vejo motivo por que não. Tenho que sonhar grande. Se um dia eles me chamarem será um prazer.  Pode até ser uma escolha difícil, mas a minha família tem origem italiana. Muito se naturalizaram, lembro agora do Emerson Palmieri também. A minha posição é muito carente no futebol, ainda mais na Itália.

 

Dispensa do Athetico-PR deu início ao sonho de tentar a vida no futebol italiano

 

Allan, por exemplo, era um jogador preterido pela Seleção. Quando estava próximo de defender a Itália, o Tite se lembrou dele e está relacionado para a Copa América. Acha que vale a pena esperar por uma chance ou o melhor caminho é vestir a camisa de outro país?

O Allan estava em boa fase há bastante tempo. Isso pode ter despertado o interesse do Brasil. Há muito jogadores que não estão na mídia, mas têm nível de seleção. Eu penso que tenho de fazer o meu melhor a cada dia para as coisas acontecerem naturalmente.

 

De Jundiaí para a Itália: onde começou, quem foram e por onde andam os seus parças?

Comecei aos quatro anos no futsal, em Jundiaí. Joguei até os 15 anos. Era muito gratificante jogar no time da minha cidade. Aprendi bastante, fiz grandes amizades. É lógico que muitos ficam pelo caminho, mas, no futebol, tem que ser muito determinado. Não é fácil ficar longe da família. Muito ser perdem no caminho, mas fui muito determinado.

 

Como foi a passagem pela base do São Paulo? Quais são as lembranças?

Excepcional, uma das melhores lembranças. Aprendi muito ali. A base tem que ser feita com qualidade. Ali, não temos o que falar. É top. Um lugar com uma estrutura excepcional.

 

O Allan (convocado para a Copa América) estava em boa fase havia bastante tempo. Isso pode ter despertado o interesse do Brasil. Há muito jogadores (no futebol italiano) que não estão na mídia, mas têm nível de seleção. Eu penso que tenho de fazer o meu melhor a cada dia para as coisas acontecerem naturalmente.

 

O Athletico-PR dispensou você, Bruno Paulo e outros jogadores em 2013. A passagem pelo Furacão foi frustrante?

Frustrante, não. O Athletico foi o meu primeiro contrato profissional. Aprendi bastante. A estrutura pode se comparar muito bem com a do São Paulo. O centro de treinamento é incrível. Tem tudo que o um atleta precisa. Fui emprestado ao Cianorte por dois meses, voltei, tinha mudado a diretoria e fizeram uma lista de dispensas. Eu estava nela. Rescindiram o meu contrato. Eu havia voltado bem no Cianorte. Tenho boas lembranças, grandes amizades do clube e de Curitiba. É um clube estou sempre acompanhando.

 

Você também teve passagem por Olé Brasil, Paulista, Grêmio Barueri e chegou a disputar a Série D pelo Cianorte. Quando decidiu se mandar para a Itália? Qual foi a gota d’água?

A dispensa, a rescisão de contrato com o Athletico-PR. Eu tinha 18 para 19 anos, Eu tendo passaporte italiano, decidi com o meu pai ir para a Itália. Deu certo. Assinei o meu primeiro contrato e faz seis anos. Foi uma escolha de risco. Eu não tinha muitas condições, mas a minha família na Itália ajudou bastante com moradia, suporte.

 

Como é a vida aí na Lombardia. Alguma história curiosa?

A história curiosa é saber que o meu avô italiano tinha 20 anos quando foi para o Brasil. Eu fiz o percurso contrário. É bem curioso isso. Acho que ele ficaria muito feliz com o que está acontecendo agora. Quando eu era criança, ele ligava para os parentes aqui na Itália e dizia que um dia eu jogaria na Itália. Acho isso bem emocionante.

 

 

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