O maltratado

Publicado em Geral

 
 
Todos o amam. Todos o querem. Mas poucos o respeitam. Sem cerimônia e sem vergonha, mudam-lhe a conjugação. A vítima é o verbo viger. Advogados, juízes, ministros não o poupam. Flexionam-no como se pertencesse à 3ª conjugação. Ele esperneia. Em vão.
 
Vigir não existe. A forma é viger: O novo salário vai viger a partir de maio. A lei não pode ser aplicada porque ainda não vige.Em que período a lei vigeu?Sei que o decreto não vige, não vigeu e nunca vigerá.
 
O dissílabo tem um defeitão. É intolerante. Detesta o a e o o. Resultado: só se conjuga nas formas em que essas vogais não aparecem depois do g. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu vigo) não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? Uhhhhh!
 
Nas demais, o amigo-só-de-alguns é regular. Conjuga-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigemos), vivem (vigem); vivi (vigi), viveu (vigeu), vivemos (vigemos), viveram (vigeram); vivia (vigia); viveriam (vigeriam).
 
E por aí vai.
 
Complicado? A língua oferece mil outras possibilidades. Deixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor? O novo salário vai vigorar a partir de maio. O novo salário vai entrar em vigor a partir de maio. A lei não pode ser aplicada porque ainda não vigora. A lei não pode ser aplicada porque ainda não entrou em vigor. Em que período a lei vigorou? Em que período a lei esteve em vigor? Sei que o decreto não vigora, não vigorou e nunca vigorará. Sei que o decreto não está em vigor, nunca esteve e nunca estará.