Concordância privilegiada

Publicado em Geral

 
 
 
Na língua como na vida, nem todos são iguais perante a lei. Há exceções e concessões que os tornam mais iguais. Um dos privilegiados é o verbo ser. Expressões com ele construídas podem ir contra a regra da concordância. O predicativo, simplesmente, não concorda com o sujeito.
 
 
 
Você conhece os manhosos? Para acertar no diagnóstico, faça o teste. Leia a frase com cuidado. Está certinha da silva? Brinde-a com um V, de verdadeiro. A danada não está com nada? Assinale-a com um baita F, de falso. Depois, assinale a opção pra lá de certa:
 
 
 
(   ) Banana é bom para a saúde.
(   ) Banana é boa para a saúde.
(   ) Esta banana é bom para a saúde.
(   ) Esta banana é boa para a saúde.
(   ) Aquelas bananas não são boas para a saúde.
 
 
 

F, V, F, V, V
V, F, F, V, V
F, V, V, F, F
V, F, F, V, F
 
 
Marcou a letra b? Puxa, você está cobra que só! As concordâncias privilegiadas não pegam você pelo pé. Vá em frente.
 
 
 
Preferiu outra letra? Bobeou. Mas não é nada grave. Dê uma estudadinha no assunto a seguir. Você vai desvendar um segredo. O diabo só assusta enquanto for desconhecido. Quando o descobrimos, vira gente boa.
 
 
 
Banana é bom
 
 
 
Examine a frase:
 
 
Banana é bom para a saúde.
 
 
Banana funciona como sujeito da oração. É um substantivo feminino. Mas o predicativo – bom—não concorda com ele. Está no masculino. Por quê?
 
 
É bom goza de privilégios na língua. Quando o sujeito é genérico, apresentado sem artigo ou pronome, fica neutro. Não obriga o adjetivo a concordar com ele. Sabe por quê? No fundo, há um verbinho escondido:
 
 
(Comer) banana é bom para a saúde.
 
 
Quer mais exemplos? Ei-los:
 
 
Gelatina é bom para os músculos.
 
Leitura é bom para melhorar a redação.
 
Natação é bom para manter a forma.
 
 
 
Esta banana é boa para a saúde
 
 
O privilégio tem limite. Quem o impõe é o pronome ou o artigo. Se o sujeito estiver acompanhado de um deles, cessa tudo que a musa antiga canta. O predicativo põe o rabinho entre as pernas e concorda com o sujeito:
 
 
Aquela banana é boa para a saúde.
 
A banana é boa para a saúde.
 
Qualquer  gelatina é boa para os músculos.
 
A leitura de bons textos é boa para melhorar a redação.
 
A natação é boa para manter a forma.
 
 
 
 
Palavras de Molière
 
“Não há piores surdos que os que não querem ouvir.”
Molière