Em 1º de maio, a Amazon Prime Vídeo lançou no catálogo de forma até despretensiosa uma das séries que já se tornou numa das grandes surpresas do streaming: Upload. A comédia de ficção científica, como vem sendo classificada, foi criada por Greg Daniels, nome por trás de The office, produção bastante celebrada entre os seriemaníacos.
A trama se passa em 2033, quando a humanidade encontrou uma forma de manter a vida pós-morte, por meio de um upload de consciência para um plano digital. Plano esse, que, ao melhor estilo Black mirror, é destinado aos ricos, pois tudo lá é pago. Dessa forma, só a classe mais abastada tem vez, podendo interagir com os outros “mortos” e também com as pessoas do plano físico por meio da tecnologia, além de participar do próprio enterro a até fazer sexo a distância.
Dentro desse contexto, a história acompanha o protagonista Nathan Brown (Robbie Amell), um típico personagem superficial que parece estar mais preocupado com as várias mulheres com quem se relaciona e com o físico do que com qualquer outra coisa. Programador, ele tem um projeto com o sócio Jamie (Jordan Johnson-Hinds) que envolve o upload — ao longo dos episódios, o enredo se desenvolve revelando pontos-chaves da narrativa — e namora, mesmo que sem paixão, a riquinha e fútil Ingrid (Allegra Edwards).
Após um encontro com a família, ele e Ingrid seguem para suas casas. No trajeto, um acidente misterioso. O carro automático que, na teoria é extremamente seguro, onde está Nathan perde o controle e bate. Entre a vida e a morte no hospital, Ingrid sugere que Nathan aceite fazer upload na conta da família dela no plano digital Lakeview, um dos mais caros e prestigiados. Meio indeciso, ele acaba aceitando e deixa de vez o plano físico.
Ao longo dos 10 episódios, Upload acompanha essa trajetória de Nathan em Lakeview, tendo que aceitar essa vida pós-morte que não foi realmente planejada por ele. No local, o protagonista interage com Nora (Andy Allo), uma espécie de assistente do sistema que o auxilia na estadia em Lakeview. Os dois passam a criar um relação mais próxima, um laço real mesmo que em planos diferentes. Essa experiência serve para a desconstrução do personagem, que, a cada episódio, vai entrando em redenção em relação a pessoa que foi no plano físico.
Nos momentos em que Upload foca na relação dos dois há um ar de romance, ao mesmo tempo de comédia, já que a dupla se envolve em situações cômicas também. Os outros personagens de Lakeview com quem Nathan interage agregam, principalmente, no lado do humor. Há cenas ótimas com o soldado sem noção Luke (Kevin Bigley) e o jovem Dylan (Rhys Slack), que morreu ainda criança, mas almeja que os pais façam um upload de um corpo mais maduro para ele, o que rende cenas muito boas.
Em meio a isso tudo, a história traz um aspecto mais misterioso e profundo. Nathan começa a perceber que tem algo errado. Não consegue contato com o sócio. A namorada o controla o tempo todo. Ele passa, inclusive, a duvidar da própria morte. O que Nora também faz já que várias memórias de Nathan foram apagadas durante o upload. Os dois, então, começam a investigar o caso.
Durante essa investigação descobrem algo importante no projeto de Nathan com o sócio que debate a questão do privilégio, já que o acesso ao plano digital não é algo exclusivo para os ricos, expondo ainda mais as desigualdades existentes também no plano físico. O que ainda é explorado a partir do aprofundamento na história de Nora, que ganha espaço de tela também fora das interações com Nathan. A série mostra o dia a dia dela na empresa que cuida de Lakeview, os problemas em seguir em frente num relacionamento e no esforço que faz para garantir um upload para o pai que sofre de um problema de saúde.
O único defeito de Upload, que é uma série leve e que fisga o espectador, está no final da temporada. É uma coisa abrupta, que chega a parecer mal feito. A sorte é que uma segunda temporada está garantida, podendo consertar isso.
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