O colorido de Brasília brota do chão e desafia a cidade feita em concreto rígido. Mas nem sempre foi assim. Nos primeiros anos da capital, o objetivo principal era plantar grama; por um motivo prático: conter a poeira que subia da terra vermelha, impulsionada pelos lacerdinhas, como eram chamados os redemoinhos. A nova capital nasceu do cerrado desmatado por correntes […]
A habilidade do ser humano fazer música nasceu junto com as palavras. Ou até antes: há quem defenda que as primeiras comunicações eram musicais, ou quase; ainda hoje um grunhido vale por mim palavras, principalmente se sair da garganta da patroa. Daí para a frente foi a sonoridade – a onomatopeia – que dava sentido ao que ia sendo nominado. […]
Quem toca um instrumento logo conhece alguém que também toca, que conhece outro e normalmente isso acaba numa roda musical. A cada encontro, uma descoberta, uma alegria que contagia também quem gosta de música mesmo sem tocar nada; alguns até decidem aprender. Não há nada de anormal nisso. O que é fora de série é um pessoal assim estar junto […]
As esparsas chuvas recentes lavaram o céu de Brasília. A névoa seca formada por poeira, material orgânico flutuante e sabe-se lá mais o quê deu lugar a um azul anil vivíssimo que tem tornado a secura dos últimos dias suportável; no mínimo, mais colorida. Como está difícil ficar em casa, muita gente se arrisca pelos lugares públicos da cidade, desafiando […]
O rapaz tem pinta de ser um brasileiro que sua para viver. O frio da noite nesta temporada de seca pedia casaco e até um pouco mais, mas ele ainda estava em mangas de camisa quando entrou no bar e, sem economizar na altura da voz – um amigo meu, preconceituoso, diz que pobre só fala gritando – pediu: – […]
Não demora muito e Brasília vai passar a ser conhecida como a capital das capivaras. E pelo menos desta vez não tem nada a ver com os antecedentes criminais de burocratas e políticos que eleitores de todo o País mandam para cá – capivara, no mundo jurídico, é sinônimo de folha corrida; quanto mais cabeluda, mais capivarento é o sujeito. […]
A noite ainda começava a cair quando nosso amigo entrou no bar reclamando que nasceu na época errada. Antes de prosseguir com o lamento, é necessário dizer que no boteco não é de bom tom – sim, há uma etiqueta – ficar inquirindo os parceiros, até porque quase sempre a amizade se limita àquele determinado local; fora dali, pessoas que […]
Os amigos estão reaparecendo em pleno inverno. Parece que a autorização oficial para a reabertura dos botecos foi a senha da retomada das atividades sociais, embora muita gente ainda esteja cabreira e sem coragem de enfrentar o tal vírus de peito aberto. Esses preferem a segurança do telefone. Logo na primeira hora o Faixa ligou. “Vai hoje?”, perguntou antes de […]
Desde início do século passado sabe-se que “samba é como passarinho que voa: é de quem pegar primeiro”. Pelo menos foi o que disse Sinhô, um dos sambistas pioneiros, ao ser acusado de roubar Gosto Que Me Enrosco, de Heitor dos Prazeres. Sinhô mandou imprimir abaixo do nome, no cartão de visitas, o epônimo “rei do samba”, mas era mesmo […]
Meu amigo já tem mais de 70 anos. Bem mais. Duplamente aposentado, tem boa renda, paga seus impostos e, mesmo sem precisar, vota em toda eleição e ainda briga pelo candidato escolhido. Até no clube. Participa do grupo da paróquia ao lado da esposa, é bem informado, inteligente e gosta de ler. É o tal cidadão exemplar. Mas já faz […]