Credito: Reproducao. 100 anos da Revolucao Russa. Credito: Reproducao. 100 anos da Revolucao Russa.

Cinco biografias para entender a Revolução Russa

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A Revolução Russa nasceu de um ideal que colocava o homem trabalhador em primeiro plano. Foi a última das grandes revoluções do hemisfério norte a destituir uma monarquia e a instituir uma república. Aconteceu no século 20, quando o absolutismo  já havia caído por terra há pelo menos um século na maioria dos países da Europa. A Rússia também teve uma industrialização tardia e esse é um dos motivos que explica a revolução ter acontecido  no século 20. Completados este mês, os 100 anos dessa revolta que tirou do trono o czar Nicolau II e implantou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) movimentaram o mercado editorial com publicações que vão de biografias dos líderes revolucionários a novas análises da história.

Crédito: Editora Schwarcz/Reprodução do livro "Stálin"
Crédito: Editora Schwarcz/Reprodução do livro “Stálin”

 

A Revolução Russa dividiu o mundo, por mais de 70 anos, em dois blocos, um socialista e outro comunista. Acabou no início dos anos 1990, com a abertura promovida por políticas implantadas por Mikhail Gorbachev. Abaixo, o Leio de tudo traz uma lista de cinco biografias que ajudam a traçar a trajetória de líderes como Stálin, Lênin e Trotski, além de um livro que biografa a história cultural da Rússia, local que deu origem a mitos da literatura, da música e da dança.

 

Crédito: Editora Schwarcz/Reprodução. Capa do livro Stálin: Vol 1: Paradoxos do poder. 1878-1928, de Stephen Kotkin: tradução Pedro Maia Soares.
Crédito: Editora Schwarcz

Stálin – Paradoxos do poder

De Stephen Kotkin. Tradução: Pedro Maia Soares. Objetiva, 1142 páginas. R$ 119,90

Este é o primeiro de três volumes dedicados ao ditador responsável por implantar os anos de terror pós-revolucionário. O livro, um tijolão que exige tempo e dedicação, é o que o autor chama “casamento entre biografia  história”. A partir da perspectiva de Stalin, ele reconstrói os eventos ocorridos entre 1978 e 1928. O livro começa anos antes da revolução e termina alguns anos após o poder socialista estar realmente instalado e as últimas tentativas de contragolpe terem sido abafadas. “Este livro pretende mostrar em detalhes como indivíduos, grandes e pequenos, são ambos habilitados e limitados pela posição relativa de seu estado em face de outros (…)”, explica Kotkin. “Até mesmo ditadores como Stálin enfrentaram um cardápio de opções limitado. Os acidentes abundam na história: as consequências não intencionais e os resultados perversos são a regra.” Stálin implantou, na URSS, o programa de coletivização da agricultura e da indústria e, para isso, matou milhões de pessoas. Não sucumbiu às resistências nem às dúvidas é essa trajetória que o autor, professor de história nas universidades de Princeton e Stanford, recria neste livro.

 

Crédito: Editora Record/Reprodução
Crédito: Editora Record/Reprodução

Trotski – Uma biografia

De Robert Service. Tradução: Vera Ribeiro. Record, 770 páginas. R$ 94,90

Leon Trotski foi figura fundamental na criação e implantação do Exército Vermelho e das estratégias políticas e de guerra da URSS. Ao lado de Lênin, ajudou a derrubar o Governo Provisório, que derrubou o czar Nicolau II em fevereiro de 1917, e a levar os bolchevique ao poder, em outubro do mesmo ano. Muitos historiadores defendem que boa parte do sucesso da revolução se deveu à inteligência de Trotski, que acabou  por se desentender com Lênin e foi exilado antes de ser assassinado a mando de Stálin. Segundo Service, professor de história da Rússia na Universidade de Oxford, tudo poderia ter sido diferente se Trotski não tivesse rompido com a cúpula revolucionária. O biografado costumava dizer que teria sido capaz de instalar a democracia na URSS, com total apoio do povo, caso este não tivesse sido oprimido pelas forças policiais.

 

Crédito: Boitempo Editorial/Reprodução de "Reconstruindo Lênin". Manifestação de operários de fábrica de armamentos em Petrogrado, julho de 1917.
Crédito: Boitempo Editorial/Reprodução de “Reconstruindo Lênin”. Manifestação de operários de fábrica de armamentos em Petrogrado, julho de 1917.

 

Reconstruindo Lênin – Uma biografia intelectual

De Tamás Krausz. Tradução: Baltazar Pereira. Boitempo, 636 páginas. R$ 89

Chefe do Departamento de História da Europa Oriental na Universidade de Eötvös Loránd, em Budapeste (Hungria), Tamás Krausz ganhou o Deutscher Memorial Prize em 2015 (dedicado a publicações marxistas inovadoras) por essa biografia que tenta humanizar um dos mitos da Revolução Russa. Depois de um primeiro capítulo sobre as origens de Lênin, com destaque para o fato de que o próprio biografado pouco se importava com sua árvore genealógica, Krausz segue com uma combinação de fatos biográficos e históricos. Um capítulo sobre o capitalismo russo e a revolução ajuda a entender o que se passava na Rússia nos momentos pré-revolucionários, uma boa introdução antes de entrar na política e na teoria defendidas por Lênin e na Revolução em si.

Crédito: Editora Record
Crédito: Editora Record

A maldição de Stálin

De Robert Gellately. Tradução: Joubert de Oliveira Brízida. Record, 558 páginas. R$ 79,90

 

É com a história da implantação da agricultura planificada e coletivizada que Service, professor da Universidade Estadual da Flórida, dá início a esse livro. À Revolução Stalinista, na qual entra o terror de Stálin e seus projetos expansionistas para levar a revolução socialista ao resto da Europa. segue-se a Guerra Fria, tanto aquela mantida com os Estados Unidos quanto a levada a termo para impor o comunismo na Europa Oriental.

 

Uma história cultural da Rússia

De Orlando Figes. Tradução: Maria Beatriz de Medina.

Em que consiste a identidade russa? Como ela se moldou ao longo do tempo? Por que a arte russa sempre foi associada, erroneamente, ao nacionalismo? Como a Europa compreende a cultura Russa? Ela existe realmente? Todas essas questões nortearam a pesquisa desse historiador britânico, professor do Birbeck College, em Londres, e autor dessa enorme biografia da cultura russa. É preciso muito mais que as noções de exotismo e nacionalismo para compreender o legado de nomes como Dostoievski, Gogol, Tchaikovsky, Prokofiev e Tolstói. O livro é também uma investigação detalhada da ideia de identidade e de como a produção cultural de um país pode ser tão definidora de suas configurações, inclusive, geopolíticas.