Bolsonaro emparedado e cada vez mais isolado

Bolsonaro
Publicado em Política

Há menos de uma semana, quando o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu abertura de inquérito para apurar quem organizou as manifestações em favor do AI-5 e contra o estado de direito no país, os bolsonaristas disseram que não iria “dar em nada”, conforme adiantou a coluna. A aposta do grupo veio cedo demais.

A abertura do inquérito pelo Supremo Tribunal Federal e as notícias de que virá uma busca e apreensão nos gabinetes de parlamentares ligados ao presidente mudou essa visão. Até aqui, essa investigação, somada ao que vem sendo apurado pela CPI das fake news, levaram alguns parlamentares a elevar a pressão pela troca do diretor da Polícia Federal.

Foi por isso que Bolsonaro, mais uma vez, insistiu com o ministro Sérgio Moro para trocar o diretor. O estrago dessa substituição, porém, foi maior do que o presidente poderia supor: Moro deixa o cargo, acusando o presidente da República de crimes e expondo a vontade de Bolsonaro em “ter um diretor com quem pudesse telefonar, colher informações, ter relatórios de inteligência”, ou seja, influir politicamente na PF.

Moro ainda fez um paralelo com governos anteriores no auge da Lava-Jato e citou “imagine se a presidente Dilma ligasse para colher informações de investigações em andamento”. Citou ainda o valor e a autonomia de Maurício Valeixo, que, em 2018, conseguiu segurar a prisão de Lula, depois de um alvará de soltura expedido por um juiz.

E, de quebra, ainda acusou o governo de falsidade ideológica ou dizer que não assinou o ato de exoneração do diretor da PF. Agora, virão as consequências, com um presidente cada vez mais isolado. O tilintar das panelas foi forte depois da saída de Moro. E isso que as investigações sobre quem organizou as manifestações mal começaram. O “dar nem nada” já deu em muita coisa e outras virão.

Confiante em atrair novo eleitorado com o auxílio emergencial, Bolsonaro balança Moro e Guedes

Sérgio Moro Paulo Guedes
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Até aqui, as medições de popularidade em redes sociais feitas por bolsonaristas apontam que a saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde não derrubou os índices presidenciais ao chão, como alguns mais pessimistas previam. A impressão dos aliados é a de que aqueles que abandonam o governo podem ser substituídos pelos agraciados com o auxílio emergencial de R$ 600, um contingente de 33 milhões de brasileiros. Não por acaso, o auxílio foi o tema da live desta semana. É aí que Bolsonaro joga suas fichas para tirar votos que até aqui eram atribuídos ao PT, inclusive no Nordeste.

» » »

Em tempo: a certeza de que acertou na troca da saúde, no pagamento dos R$ 600 e, de quebra, no discurso de volta ao trabalho, é que leva o presidente a fazer, neste momento, as trocas que deseja há tempos. Daí a investida contra Maurício Valeixo, na Polícia Federal. Só tem um probleminha: quem fez a aproximação entre Moro e Bolsonaro foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que também anda cansado. Se perder os dois, aí, as apostas de Bolsonaro podem quebrar o seu caixa eleitoral.

Moral da história

Entre os delegados da Polícia Federal há uma lei: diretor-geral não interfere em investigação. Quem chega com a missão de barrar, ou interferir em investigações, tem um de dois destinos: ou é escanteado, ou, se ultrapassar certos limites, sai preso.

Um já foi

No governo do presidente Michel Temer, por exemplo, o delegado Fernando Segóvia, diretor da PF nomeado pelo Planalto, terminou acusado de interferir no inquérito que investigava o presidente por causa da mala que o ex-assessor palaciano Rodrigo Rocha Loures carregou pelas ruas de São Paulo. Ficou 99 dias no cargo e terminou fora.

Bolsonaro repete Temer

Aliás, delegados da PF que acompanharam de perto a troca de comando da instituição no governo do presidente Michel Temer estão com uma sensação de “déjà-vu”. Naquela época, Segóvia assumiu sem que o presidente ouvisse o então ministro da Justiça, Torquato Jardim. A indicação de Segóvia partiu justamente da ala do MDB investigada na Lava Jato e obteve aval de outros partidos que agora conversam com Bolsonaro.

Eles têm o que temer

Chegou aos ouvidos dos bolsonaristas que deputados suspeitos de organizar a manifestação em favor do AI-5 serão alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. E há quem diga que essa turma foi chorar nos ouvidos presidenciais.

CURTIDAS

Menos três/ Quem está torcendo pelos resultados das investigações contra deputados bolsonaristas é o presidente do PSL, Luciano Bivar. Será a senha para expulsar aliados de Bolsonaro do partido.

Moro-Mandetta/ Já tem político sonhando com essa chapa para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, em 2022: Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta. Justiça e Saúde caminhando juntas.

#ParabénsSarney I/ O ex-presidente Sarney recebeu uma ordem expressa dos médicos para esta sexta-feira, em que completa 90 anos: “Sem visitas e sem exceções”. Fica a dica para os amigos que desejam parabenizá-lo pelo aniversário. Melhor programar uma videochamada. Por causa da pandemia de Covid-19, Sarney está obedecendo à risca a hashtag #Fiqueemcasa. Ficam aqui os cumprimentos da coluna.

#ParabénsSarney II/ Com o cancelamento das festividades de seus 90 anos por causa da pandemia, o ex-presidente José Sarney será homenageado com uma live hoje, 11h, preparada por amigos. São mais de cem mensagens gravadas e transformadas num vídeo. É até pouco para quem sempre é procurado em busca de conselhos para momentos de crise como o que vivemos agora.

Se interferir na eleição da Câmara, Bolsonaro perderá aliados

eleição da câmara
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O presidente Jair Bolsonaro recebeu de aliados o seguinte alerta: se interferir na eleição para o comando da Câmara, corre o risco de levar o governo a criar ainda mais inimizades dentro do Congresso, com ou sem a distribuição de cargos aos partidos. Se optar por Marcos Pereira, do Republicanos, o vice-presidente da Casa que deu abrigo partidário aos filhos de Bolsonaro, o capitão perderá o PP, de Arthur Lira. Se optar por Lira, decepcionará Pereira e parte da bancada evangélica.

Ou seja, não há a solução ganha-ganha. Assim, as chances de sucesso nessa operação de buscar um novo presidente da Casa são mínimas e deixam um campo aberto a ser ocupado por um candidato que o presidente não apoie.

O PAC de Bolsonaro

A coletiva em que ministros anunciavam o novo plano de investimentos Pró-Brasil deu uma sensação de “déjà-vu” em políticos experientes que acompanharam de perto o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O primeiro plano foi apresentado por Lula em 2007, ou seja, há 13 anos. Até nisso, há quem veja uma simbologia.

 

Lei do distanciamento I

Alguns presidentes de partido que estiveram recentemente com o presidente Jair Bolsonaro saíram desconfiados de que ele vai forçar a porta do distanciamento social, com a apresentação de um projeto de lei para tratar desse tema. Ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha definido que os governadores é que decidem, há quem esteja disposto a testar esse limite, em caso de um projeto de lei.

Lei do distanciamento II

A ideia do presidente, entretanto, é considerada inócua, porque o Congresso pode perfeitamente dizer que as medidas serão adotadas conforme critérios a serem definidos em cada estado. Ou seja, deixará tudo como está.

Te cuida, Marcelo!

Se depender do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro terá que atender aos seus novos aliados com os cargos que já existem. Dia desses, numa reunião do primeiro escalão, Guedes chegou a dizer na cara do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro, que, se dependesse da área econômica, o Ministério do Turismo não existiria. Álvaro se limitou a sorrir, para esconder o constrangimento.

“Não é hora de discutir política nem de partidarização da crise. O momento é de salvar vidas e o país”

Do líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), que alertou o presidente sobre a situação de Manaus e, com o presidente do partido, Baleia Rossi, avisou a Bolsonaro que a sigla não quer saber de cargos no governo

Pai e filha/ Em tempos de pandemia, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo aproveita para ministrar um curso de oratória para advogados e operadores do Direito. Ele fala do lado mais prático da profissão, enquanto sua filha, Mayra Martins Cardozo, advogada e professora de yoga, alerta para a necessidade de aprender a respirar, misturando as técnicas de yoga e meditação.

O terceiro elemento/ No curso do ex-ministro tem também a participação da administradora e cientista política Maytê Carvalho. Ela mora nos Estados Unidos e fala da teoria da oratória e dos grandes oradores do mundo antigo.

Coquetel olavista/ Em conversas reservadas, diplomatas se perguntam o que o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomou para, em artigo, misturar pandemia com comunismo, alertando para o que chama de “comunavírus”. Agora, uma coisa todos têm certeza: houve uma “aula” com o escritor Olavo de Carvalho.

Nem tudo é por aí/ Em entrevista que foi ao ar ontem à noite, na Rede Vida, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, reforçou que não defende a intervenção militar, nem a volta do AI-5. Melhor assim.

Para tirar Maia do comando da Câmara, Bolsonaro tenta dividir o Centrão

Bolsonaro
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O presidente Jair Bolsonaro trabalha para dividir o Centrão e, assim, tirar Rodrigo Maia do comando da Câmara, fazer o seu sucessor e dominar a Casa. Só tem um probleminha: ainda que Bolsonaro conte com seus apoiadores e metade do Centrão em favor de uma candidatura, ainda assim não terá metade dos votos da Câmara a fim de liquidar a eleição no primeiro turno.

E é essa conta que o presidente tem de fechar para decidir se apoiará o vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), ou o líder do Progressistas, Arthur Lira (AL).

» » »

Bolsonaro está mais propenso, no momento, a insuflar a candidatura de Lira, de forma a rachar o antigo PP. Tudo por causa da proximidade entre Maia e o líder da maioria, Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), uma das apostas do atual presidente da Câmara, com bom trânsito entre os partidos. Porém, políticos experientes como Arthur e Aguinaldo sabem que Bolsonaro costuma largar pelo caminho quem lhe contraria. No momento, Lira se aproxima, mas desconfiado.

Segura isso aí

O presidente já foi aconselhado a deixar de lado a disputa pela Presidência da Câmara. Seus aliados consideram que ele entrou muito cedo. E, no quesito, quem sai a campo muito antes da hora costuma queimar a largada. Ainda mais quando não tem tanto lastro político no Parlamento, como é o caso de Bolsonaro no cenário atual.

Economistas não gostaram

A defesa do AI-5 e da intervenção militar na manifestação de domingo acendeu o pisca alerta na área econômica. Não dá para criar instabilidade dizendo que não tem negociação, como fez o presidente, e querer que os investidores apostem suas economias no Brasil.

Inquérito educativo

A coluna antecipou, ontem, que os bolsonaristas não estão nada preocupados com o inquérito que investigará quem conclamou atos contra o Estado de direito no Brasil — há quem diga que a iniciativa será, no mínimo, um alerta. Agora, quem quiser convocar atos de fechamento das instituições e de volta de instrumentos para calar a voz de quem pensa diferente terá de calcular mais os riscos.

A aposta do Senado

Os senadores vão partir para uma proposta intermediária entre o que foi aprovado pela Câmara em termos de socorro aos estados e o que deseja o governo. A ideia da equipe econômica é transferir 80% de R$ 40 bilhões per capita e suspender o pagamento de parcelas de dívidas com a União. Os senadores estão analisando e, ontem, tiveram reuniões virtuais para tentar aprovar algo desse tipo ainda esta semana.

Sem “contrabando”

Ao deixar caducar a MP da carteira de trabalho verde e amarela, o Congresso deu uma lição ao governo: sempre que vier algo como uma minirreforma dentro de uma MP, os congressistas não vão levar adiante. Afinal, conforme bem lembrou a senadora Simone Tebet, ao programa CB.Poder, se fosse só a carteira verde e amarela, a proposta teria sido aprovada sem muita polêmica.

CURTIDAS

A hora do MDB/ Além da Câmara, Bolsonaro começa a auscultar o ânimo dos senadores. Hoje, ele tem na agenda o presidente do partido, Baleia Rossi, e o senador Eduardo Braga (AM), pré-candidato a presidente do Senado.

DEM na área/ O presidente quer conversar, ainda, com o presidente do Democratas, ACM Neto. É para dizer que a demissão de Mandetta e a briga com Rodrigo Maia não têm nada de “pessoal”. Há quem diga que Bolsonaro quer mesmo é a foto com o presidente da legenda ainda esta semana. Assim, de foto em foto, monta o discurso de que tem diálogo político com o Congresso.

Sinais invertidos/ Bolsonaro tenta se reaproximar do DEM, mas seus aliados, não. O deputado Diego Garcia (Podemos-PR) foi para as redes sociais pedir o afastamento de Maia: “A revolta da população é clara, tem nome, presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que insiste em falar em nome da Câmara, ou seja, 513 deputados! Quero deixar bem claro, ele não fala em meu nome. Sua maior contribuição, agora, seria seu afastamento! #foramaia”, escreveu.

Enquanto isso, no aniversário de Brasília…/ Nem só de sessões virtuais e de polêmicas vive a senadora Kátia Abreu (PDT-TO). Ontem, por exemplo, ela e o marido aproveitaram o feriado para cozinhar um assado de cordeiro e um arroz com frango desfiado, cebola dourada, uva-passa e castanhas: “Dizem que é marroquino, mas é, na verdade, tocantino”, comentou, repetindo o bordão que tem tomado conta das postagens nas redes sociais: “Se você não precisa sair, fique em casa”.

Bolsonaro procura aliado para substituir Rodrigo Maia

Bolsonaro observando do Planalto
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Ao receber os presidentes de partido ao longo dos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro não só tratou da formação de uma base mínima, conforme o leitor da coluna já sabe, como deixou entrever que deseja influir na escolha do novo presidente da Câmara, em janeiro do ano que vem.

Com a pandemia, esse tema ficou na geladeira por um tempo, mas Bolsonaro resolveu tirá-lo do freezer e deixar que descongele naturalmente, para, quando a pandemia passar, estar em condições de tentar interferir. Bolsonaro não quer nomes ligados a Rodrigo Maia. Daí, o fato de receber os integrantes do antigo Centrão — PP, PR, PSD e MDB — e não o DEM.

» » »

Bolsonaro, entretanto, corre, nessa operação, um risco tão grande quanto a defesa do fim do isolamento social. Todos que tentaram influir em eleição do Legislativo, desprezando a correlação de forças internas no Congresso e num clima de popularidade em baixa, perderam.

Teich sob vigilância

Quando a missão do almirante Flávio Rocha na transição da Saúde terminar, quem ficará de olho no novo ministro da Saúde, Nelson Teich, será o coronel Robson Santos da Silva, atual secretário Especial de Saúde Indígena. Há, no governo, quem aposte um bom vinho de que o coronel será guindado à Secretaria Executiva, para assegurar o “alinhamento total” com os desejos do presidente Jair Bolsonaro.

Adeus Bolsonaro versus PT

A leitura dos políticos de um modo geral é a de que o PT está sendo substituído como principal opositor ao presidente Bolsonaro, espaço que vem sendo ocupado por João Dória, Rodrigo Maia e representantes de outros partidos, como o Cidadania e o Podemos. A eleição municipal é vista como a prova dos nove dessa mudança de eixo da oposição ao presidente.

Amigos, pero no mucho

Mesmo esses partidos que hoje conversam com o presidente Bolsonaro não confiam no governo e sabem que podem ser chutados ao menor estrilar de apoiadores do governo nas redes sociais. Mas ninguém está de inocente. O Planalto sabe que, geralmente, essas legendas costumam abandonar presidentes quando a coisa aperta. Ou seja, não será dali que o presidente buscará uma estabilidade política.

É o tudo ou nada

Bolsonaro aproveitou a manifestação de ontem para, mais uma vez, jogar a população contra os governadores, que, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, decretaram isolamento social. É a aposta no confronto, para que tudo volte à normalidade na marra e não quando for possível, dentro das recomendações das autoridades sanitárias.

» CURTIDAS

Não é primeiro de abril/
Tem gente dizendo sinceramente que o presidente Jair Bolsonaro deveria ouvir a ex-presidente Dilma Rousseff. Ela sabe perfeitamente como funcionam os partidos que agora se aproximam do Planalto.

Alcolumbre, o novo alvo/
Bastou o Senado apresentar dificuldades em aprovar já a carteira de trabalho verde e amarela para que o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, viesse a se juntar a Rodrigo Maia nos ataques dos bolsonaristas nas redes sociais. Dados da Bites indicam que, de quinta-feira até ontem, Maia era alvo de dois milhões de posts negativos. Só na manhã de sábado, foram 264 mil posts ancorados na hashtag Fora Alcolumbre.

A magia do 3 de maio/
A intenção dos lojistas que pressionam para reabertura do comércio do Distrito Federal nessa data é aproveitar o Dia das Mães e tentar recuperar parte do que foi perdido na segunda quinzena de março e abril. Resta saber se a população irá às compras. Em tempo de desemprego, redução de salários na iniciativa privada e muita incerteza quanto ao setor público, as apostas estão mais modestas.

Por falar em comércio…/
A carreata de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e pela reabertura do comércio em Porto Alegre encontrou, em seu caminho, pessoas favoráveis ao isolamento social que, das janelas dos apartamentos, atiraram ovos no carro de som e demais veículos.

“Você será responsabilizado pelas consequências, pelas mortes”, disse Mandetta em última reunião com Bolsonaro

Bolsonaro e Mandetta
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Quem viu a saída de Luiz Henrique Mandetta da sua última reunião com Bolsonaro não se esquece da cena. “Você será responsabilizado pelas consequências, pelas mortes”, disse o ex-ministro. “Eu, não, os governadores é que vão!”, respondeu Bolsonaro, aos gritos. Mandetta não respondeu mais e deixou o presidente falando sozinho.

Casamento arranjado

Quem conhece bem o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, adverte: ele não rasgará a biografia para fazer o que for da vontade presidencial. Fará o que determinar a ciência e o que for possível. A não ser que seja mordido pela mosca da vaidade que, muitas vezes, infesta quem assume um cargo de visibilidade no poder público.

Bolsonaro em “dia de alegria” e de dobrar a aposta

Bolsonaro e Nelson Teich
Publicado em Covid-19, Governo Bolsonaro

Ao discursar há pouco no Planalto, o presidente, embora medindo as palavras, não escondeu que trocou ministro da Saúde porque queria o fim do isolamento social e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta não atendeu aos seus apelos. Agora, com o novo ministro, o presidente espera que isso seja feito e disse que sua visão era a da economia, a do emprego. “Tinha a visão – e ainda tenho – que devemos abrir o emprego”.

A troca indica que Bolsonaro dobrou a aposta num cenário pós-pandemia, quando a economia falará mais alto. Ele mesmo disse, “é um risco que corro, se agravar vem para o meu colo”. O problema é que o resultado dessa aposta do presidente envolve vidas, pessoas internadas nos hospitais em estado grave, ou em casa, doente, em isolamento. E, para chegar lá com credibilidade e apoio político no pós-pandemia, tem que passar bem por esse corredor polonês, algo que Bolsonaro até momento não conseguiu, dada a queda de popularidade registrada nas pesquisas e os panelaços estridentes em algumas cidades.

Bolsonaro segue fazendo tudo o que a Organização Mundial de Saúde não recomenda: Mantém apertos de mãos, fez inclusive solenidade de posse no Planalto, foi para o meio das pessoas quando da visita ao hospital de campanha, em Águas Lindas. Dentro da área do futuro hospital, usou máscara. Do lado de fora, dispensou o acessório que se torna cada vez mais obrigatório no mundo. (Na França, por exemplo, haverá distribuição de máscara às pessoas para a reabertura gradual do lockdown).

Enquanto o presidente faz o seu discurso, defendendo o retorno ao trabalho, o sistema de saúde de algumas cidades, como Fortaleza e Manaus, já entraram em colapso. Para completar, o novo ministro, Nelson Teich, até aqui se mostrou mais aceito a seguir as recomendações da área medica do que as determinações presidenciais. Chega pressionado pelo presidente e, até aqui, mesmo na lie do presidente ontem, não fugiu à defesa da ciência. É sério e, na própria posse, não demostrou a mesma alegria do presidente Jair Bolsonaro diante de ministros que também não pareciam felizes com a situação. Especialmente, depois do discurso de Mandetta, em que agradeceu o apoio de todos, inclusive dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio, citados nos bastidores da politica como aqueles que também pressionaram pela demissão do ministro. O “dia de alegria”, que Bolsonaro citou no início de seu discurso há pouco, não teve eco. A ordem é esperar, para ver o que virá da nova gestão da saúde.

Impedido de agir como quer pelo STF, Bolsonaro ficará mais à vontade após trocar ministro

Bolsonaro STF
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

Ainda que Jair Bolsonaro tenha trocado o ministro da Saúde, o presidente não conseguirá fazer tudo o que quer em termos de fim do isolamento social ou mesmo uso indiscriminado da hidroxicloroquina. Quanto ao isolamento, o Supremo Tribunal Federal já definiu por unanimidade que governadores e prefeitos têm o direito de determinar o isolamento, se considerarem necessário. Em relação à cloroquina, também não está descartada uma judicialização, conforme bem lembrou o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, na entrevista ao CB.Poder, na semana passada.

» » »

No meio dessa disputa, ainda que não consiga impor sua vontade com a troca, o presidente apostará nas manifestações que seus apoiadores farão nos próximos dias, em prol do retorno ao trabalho. Agora, Bolsonaro se sente mais “solto” para convocar os seus sem se preocupar em levar “bronca” do ministro.

Onde mora o perigo

Bolsonaro vai interferir nas nomeações do segundo escalão do Ministério da Saúde. Já tem muita gente na área técnica com receio de que venham aí mais alguns “bolsonaristas raiz”, sem carta branca para que Nelson Teich monte sua equipe.

Antes da demissão…

O presidente passou os dias em reunião com agentes políticos para tentar reduzir o dano político no Congresso com a decisão tomada, desde domingo, de tirar Luiz Henrique Mandetta do cargo. Ontem, conforme antecipou a coluna, foi a vez do presidente do PSD, Gilberto Kassab.

… preparar o terreno…

As conversas políticas não foram apenas para preparar o terreno, a fim de baixar o tom pela demissão de Mandetta. Pesou também a vontade de arrumar alguma base política para que a vida pós-pandemia não vire um pandemônio.

…e ampliar os 70

O presidente está muito preocupado com o fato de ter obtido apenas 70 votos, no plenário da Câmara, quando da votação do socorro aos estados e municípios, conforme antecipou a coluna, ontem, ao elencar os encontros políticos nos últimos dias. Bolsonaro agora está disposto a tentar ampliar esse número, atacando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). O problema é que, para essa ampliação, conversa justamente com o que os bolsonaristas chamam de “supra-sumo da velha política”.

CURTIDAS

Tira a saúde da sala e põe Maia/ Com a saída de Mandetta do governo, Bolsonaro coloca agora o presidente da Câmara como o alvo preferencial. O presidente não vive sem um confronto direto e acaba de eleger mais um, enquanto o novo ministro Da Saúde, Nelson Teich, fará as mudanças na equipe do Ministério.

Entre Mandetta e Bolsonaro…/ Até aqui, pelas reações dos políticos, a maioria dá sinais de apoio maior ao ex-ministro. O DEM, por exemplo, está cada vez mais distante do presidente.

Ninguém entendeu/ O presidente insistiu tanto no uso da hidroxicloroquina e não bateu bumbo sobre os testes com um novo medicamento, que o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, defendeu e anunciou como algo que tem 94% de chance de dar certo.

E tem mais/ Em entrevista à Rede Vida, na noite de quarta-feira, Pontes citou ainda que o Brasil já desenvolveu tecnologia para testes de detecção do novo coronavírus e está pronto para produção em larga escala.

Bolsonaro quer um novo ministro da Saúde que seja médico, cristão e de SP

Bolsonaro
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O presidente quer um novo ministro da Saúde que seja médico, cristão e de São Paulo. O perfil “de São Paulo” tem um objetivo muito claro: fazer um contraponto ao governador João Dória com a defesa do fim do isolamento social pregado no estado que é visto como a locomotiva do Brasil.

O alvo de Bolsonaro

Alguns dos médicos contactados já perceberam essa armadilha e recusaram o convite do presidente. Preferem ficar na frente de batalha, ou seja, nas trincheiras hospitalares.

O xeque de Mandetta

No papel de namoradinho do Brasil, o ministro da Saúde diz que está com o SUS, a saúde e a ciência, e tem o compromisso de transparência de todos os números de casos. Sua fala, avaliam alguns, deixou o presidente com a missão de encontrar alguém que siga por esse mesmo caminho. Caso contrário, o novo ministro chegará sob o signo da desconfiança, o que seria o pior dos mundos.

Onde mora o perigo

É grande a desconfiança de que Bolsonaro determinará a um novo ministro que não divulgue o número de mortos pela Covid-19, e sim pela comorbidade –– ou seja, cardiopatia grave e por aí vai. Seria a inversão dos fatores, algo que a atual equipe da Saúde não faz, porque, nesse caso, a inversão dos fatores altera o produto.

Bolsonaro quer trocar DEM por MDB

Bolsonaro DEM MDB
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O afastamento do grupo do DEM que, em 2019, defendia um alinhamento automático com o governo Bolsonaro, gerou um movimento de busca a novos amigos por parte do presidente da República. Ele já se reuniu com representantes do MDB, do PP, do PR e, ontem, foi a vez do PSD, de Gilberto Kassab. Esses partidos têm algo em comum: todos ofereceram seus serviços a Lula, em 2005, quando o ex-presidente se viu às voltas com o escândalo do mensalão. Deu no que deu.

A separação entre o DEM e Bolsonaro virá acompanhada de um pedido para que aqueles leais ao governo sigam para o Aliança pelo Brasil, num futuro próximo. Dos três que estão hoje na Esplanada, as apostas indicam que o único a trocar de legenda em prol do presidente será o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. A da Agricultura, Tereza Cristina, dizem os palacianos, deve optar continuar na legenda atual. Luiz Henrique Mandetta está de saída é do governo.

Por falar em hospitais…

A situação do Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, está insustentável. Estudantes de medicina residentes estão atendendo na área de clínica médica sem qualquer supervisão de um profissional contratado. Em alguns andares, os médicos simplesmente sumiram. E detalhe: os estudantes estão preocupados porque não sabem entubar um paciente, se necessário.

Só resta espernear/ Entre os bolsonaristas mais aguerridos, havia quem estivesse disposto a pedir a Bolsonaro que encontrasse um meio de recorrer à decisão do Supremo Tribunal Federal de não permitir que ele interfira no isolamento social determinado por governadores e prefeitos. Como foi por unanimidade, não há saída.

A política é local/ O Senado aprovou por 80 votos a favor e uma ausência o projeto do senador Fernando Collor (Pros-AL), que facilita a doação e combate ao desperdício de alimentos. Apenas um senador não votou: Renan Calheiros (MDB), outro alagoano.

Enquanto isso, na Esplanada…/ Tem aumentado a reclamação de servidores públicos que se sentem pressionados a não fazer quarentena, mesmo quando não se trata de serviços essenciais.