Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Mão segura e congela peça de xadrez. Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press.

CPI da Covid: O estrago está feito. Resta proteger o rei

Publicado em coluna Brasília-DF

A segurança com que o técnico do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda se apresentou à CPI da Covid deixou o governo muito preocupado com os possíveis desdobramentos. Até aqui, acredita-se que o presidente Jair Bolsonaro está protegido por ter dito que, em março, avisou ao então ministro Eduardo Pazuello sobre as suspeitas de irregularidades no contrato bilionário para a compra da Covaxin. Mas só isso não resolve, em se tratando de alguém que, como Bolsonaro, afirma dia e noite não tolerar corrupção e negócios suspeitos, tampouco evita um desgaste para o governo como um todo. Ainda mais quando o deputado Luis Miranda informa que teria avisado, inclusive, ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A principal ponta solta dessa história, avaliam os senadores, é a pressão de um parlamentar, (no final da CPI, revelado o nome, o líder do governo, Ricardo Barros), para desembaraçar o pagamento e a importação da Covaxin, um contrato de R$ 1,6 bilhão de uma vacina que não havia sequer concluído a fase três de testes. Essa novela ainda terá muito enredo nos próximos dias.

O autor da emenda

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), ex-ministro da Saúde, terá um convite para comparecer à CPI apresentado em breve. Isso porque é autor da emenda que queria colocar, além da Anvisa, a indiana Central Drugs Standard Control Organization para autorizar a importação e distribuição de vacinas. Esse será o principal motivo.

E o Luís Miranda, hein?

O deputado pelo DEM-DF concluiu que não tem mais nada a perder, uma vez que rompeu suas pontes com o governo e também não é aceito nos partidos de esquerda. Nesse sentido, parte agora para uma missão na base do tudo ou nada. Vai centrar seu discurso na luta contra a reforma administrativa e, conforme o leitor da coluna já sabe, sonha com o
Senado em 2022.

Dá com uma das mãos…

Levada ao Congresso por três ministros de Estado, a proposta de aumento da faixa de isenção do imposto de renda é parte do pacote do governo para tentar recuperar a popularidade perdida. A avaliação do mercado de capitais é a de que o governo pensou apenas no curto prazo, o que pode funcionar no imediatismo, mas trazer problemas para o futuro.

… tira com a outra

O texto apresentado traz mudanças profundas, complexas e estruturais, com riscos de aumento na carga tributária, fuga de investidores e aumento do custo das empresas. Não por acaso, a Bolsa despencou. E, nesse cenário, se a reforma acabar mesmo com o estímulo às empresas, a resultante será menos empregos e investimentos. Ou seja: ao mesmo tempo em que alivia um lado, ampliando o volume de isenção, o governo aperta no setor de empregos, um dos gargalos para destravar o desenvolvimento no país.

E pode piorar

A ideia fechada entre os ministros e o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), é levar o texto direto para o plenário, sem comissão especial. Em se tratando de impostos, a pressa, invariavelmente, é inimiga da perfeição.

Lula no aquecimento/ Embora diga que ainda não decidiu se será candidato, a entrevista do ex-presidente Lula ao jornalista Paulo Moreira Leite elenca um programa de governo que inclui, até mesmo, a criação de uma moeda dos BRICS para negociações entre os países do bloco — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

De olho/ Autor de dois pedidos de impeachment contra o agora ex-ministro Ricardo Salles, o deputado federal Celio Studart (PV-CE) deixa um recado para o novo gestor da pasta: “Vamos continuar passando o pente fino em todas as ações do Ministério do Meio Ambiente. O novo ministro não vai passar a boiada”.

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”/ Luís Miranda tentou faturar com a chegada da vacina da Janssen ao Brasil. Logo cedo, postou em suas redes que seu irmão, Luís Ricardo, foi buscar a vacina. E, de quebra, ainda mencionou João 8:32, sempre citado por Bolsonaro.

510 mil mortes…/ Em seis dias, foram 10 mil. Nesse ritmo, a previsão do cientista Miguel Nicolelis de que, em setembro, vamos ultrapassar os Estados Unidos nessa tragédia, ocorrerá antes do prazo que ele calculou. O pesadelo não terminou. Por isso, cuide-se.