Gilmar Mendes critica falas sobre autocontenção do Judiciário

Publicado em Crise com os EUA, Crise diplomática, Crise entre os Poderes, Governo Bolsonaro, Política, STF, STF versus bolsonaristas, STF versus Fake News, Tarifaço de Trump

Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes criticou falas sobre contenção do Poder Judiciário. “Se nós tivéssemos sido contidos durante a pandemia, muito provavelmente, nós não teríamos tido só ‘700 mil mortos’, teríamos muito mais mortos. Acabei de dar o exemplo da decisão do ministro Lewandowski que mandou que comprassem vacinas. Alguém poder dizer: ‘mas isso fere a divisão de Poderes’ mas nós não permitimos que isso aconteça. Certamente tem muita gente que se antipatiza conosco, mas que teve a família salva, parentes salvos, graças a essa ação que alguém vai dizer ‘ativista do tribunal’. Ativismo não, isso tem total respaldo na Constituição, que consagra o direito à saúde”, declarou Mendes. A fala foi dada após participação no seminário “Brasil Hoje”, do think tank Esfera, em São Paulo, nesta segunda-feira (25/8).

Crédito: Nelson Jr./SCO/STF

O decano do STF também ressaltou que a democracia também impõe limites constitucionais e que a Corte trabalha para que sejam respeitados. “A democracia não é um espaço livre em que todos possam fazer o que quer. A democracia constitucional significa ter limites. É preciso ter essa noção e foi isso que, de alguma forma, o tribunal fez, impondo limites. Ou na esfera das chamadas fake news, ou na esfera digital, tentando dizer ‘quem presta serviço no Brasil tem que se ater às leis brasileiras’. Isto é algo comum. Ainda ontem ouvia uma manifestação de um autor estrangeiro reconhecendo que a democracia brasileira é uma democracia vital, que nós estamos hoje em uma situação muito mais forte e representativa do que muitas democracias, até então, tradicionais”, complementou.

Defesa a Moraes

Mendes também defendeu o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo o magistrado, não há justificativa para as sanções impostas ao ministro. “Não tem nenhuma justificativa para aplicação dessa legislação contra Alexandre de Moraes ou contra qualquer outro colega que está cumprindo as suas funções. E, certamente, se houver necessidade, a jurisdição brasileira vai se manifestar. Não preciso lhes dizer que nós, a maioria do tribunal, inequivocamente suportamos e apoiamos integralmente o ministro Alexandre de Moraes. Tenho a impressão de que a ampla maioria do tribunal tem reconhecimento e percepção de que talvez nós não estivéssemos aqui hoje se não fosse a ação do ministro Moraes, de sua liderança à frente desses diversos inquéritos”, ressaltou a jornalistas.

Questionado sobre quais ações a justiça brasileira poderia tomar caso os decanos fossem retaliados pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mende disse que os ministros ainda não conversaram sobre isso. “Não cogitamos retaliações dos Estados Unidos, a nossa vida segue normal e nós vamos cumprir o nosso papel que a Constituição quer que nós exerçamos. Essas questões vamos considerar no âmbito da nossa jurisdição no Brasil, se houver algum tipo de provocação. É claro que há uma politicidade, uma politização dessa temática toda, agora é absolutamente anômalo tentar mudar uma decisão judicial ou colocar em negociações econômico-financeiras ou comerciais a capacidade de liberação de uma Corte sobre assuntos internos de nosso próprio interesse”, reafirmou o ministro.

Moraes x Mendonça

Gilmar Mendes também comentou sobre as recentes “trocas de farpas” entre os ministros Alexandre de Moraes e André Mendonça. Mendes citou uma recomendação do ministro Luís Roberto Barroso. “É um esforço que todos temos feito a partir do próprio presidente Barroso. Nós não podemos perder a noção de unidade e institucionalidade. A corte é forte como instituição. Acho que construímos, isso é reconhecido hoje por pesquisadores internacionais, uma das cortes mais reconhecidas e poderosas do mundo. Cumpre um papel importantíssimo na preservação da democracia e isto precisa ser preservado”, disse.

*Enviada especial

Bia Kicis e deputados do PSL pedem impeachment de Alexandre Moraes

Publicado em STF versus Fake News

A deputada Bia Kicis (DF) e seus colegas Filipe Barros (PR) e Carlos Jordy (RJ) acabam de provocar no Senado um pedido de impeachment do ministro relator do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes. O inquérito, na avaliação dos parlamentares, é inconstitucional, não tem objeto definido e não tem a participação do Ministério Público Federal. Os deputados lembram que, em abril do ano passado, o ministro do STF ignorou a decisão da então procuradora-geral da Republica, Raquel Dodge, de arquivamento do inquérito. Os parlamentares consideram ainda que a ação que mira suas redes sociais fere a liberdade de expressão.

O pedido dos deputados pelo impeachment de Moraes não é o primeiro, a deputada Carla Zambelli já havia dado entrada em outro. A iniciativa vai reforçar a pressão desses parlamentares para que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, abra o processo contra Moraes. O Congresso, aliás, está se tornando cada vez mais o Poder capaz de tentar reequilibrar as relações entre os Poderes.

O presidente Jair Bolsonaro também não ficou de braços cruzados. Hoje cedo, ele visitou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que continua hospitalizado depois da cirurgia a que foi submetido no último fim de semana. Agora, Bolsonaro está reunido com seus ministros para buscar uma reação conjunta ao inquérito das fake news e ao chamamento do ministro Abraham Weintraub para que dar explicações sobre o que disse na reunião de 22 de abril, em que disse que chamou os ministros do STF de “vagabundos” e que eles deveriam estar na cadeia. Num cenário cada vez mais conturbado, a união entre os poderes está cada vez mais difícil. Se conseguirem conviver de forma civilizada em meio à pandemia, já será um feito.