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Nas conversas entre PMDB e PSDB antes das manifestações de Domingo, cogitou-se o semi-presidencialismo, ou seja, um acordo no qual seria colocado sobre a mesa a redução dos poderes da presidente Dilma Rousseff. Menos de 10 dias depois,a resposta do governo e do PT vem na forma de colocar o ex-presidente Lula na Casa Civil, implantando aí algo inédito na história recente do Brasil. Lula coordenará a parte política do governo e a presidente Dilma o dia-a-dia da administração, numa espécie de administração compartilhada. Vejamos como e se funcionará.
Por que a Casa Civil?
O fato de Lula ter ido para a Casa Civil, deslocando assim Jaques Wagner e não Ricardo Berzoini (Relações Institucionais e Secretaria Geral da Presidência), surpreendeu a muitos. A explicação, segundo assessores palacianos, está no trabalho da bancada paulista do PT, que pressionou para não perder uma vaga palaciana. Mesmo em baixa e quase nas cordas, o PT não abandona a luta interna.
A chegada do presidente Lula para integrar o comitê anti-impeachment terá o papel de ajudar o governo dentro do parlamento. Aí, avaliam nove em cada 10 políticos, a presença dele será positiva. Mas, para o público externo, o sinal será inverso: é levar para dentro do Palácio do Planalto o nome mais rejeitado nas manifestações do último domingo.
O governo, entretanto, avalia que desgaste por desgaste, a presença de Lula mais ajudará do que atrapalhará. Afinal, ele, a partir de agora, será o centro das atenções e, mal ou bem, tem o dom do trato político. É ali que ele vai atuar.
Périplo
O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, passou os últimos dias em rodadas de conversas com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar a posição do governo em relação ao rito de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a ser
definido hoje.
A esperança
O governo reza para tentar matar o pedido de impeachment ainda na Câmara e, aí sim, reformular todo o governo. Falta combinar com os deputados.
Por falar em deputados…
… Aí, ministra Kátia Abreu: a Frente Parlamentar da Agropecuária tem reunião hoje para definir uma posição a respeito do impeachment da presidente Dilma. Até ontem à tarde, 57 parlamentares já haviam confirmado presença.
Marina em gestação
A ex-ministra Marina Silva se posicionou no domingo de forma muito ponderada, defendendo a Constituição e rejeitando qualquer golpe. Tudo para se preservar rumo a 2018 (ou talvez antes) e atrair aqueles desapontados com seu antigo partido, o PT.
CURTIDAS
Conta outra/ José Eduardo Cardozo (foto) gravava uma entrevista na TV Brasil quando o assessor entrou com um telefone. Era a presidente Dilma Rousseff. Por duas vezes, ela telefonou, interrompendo a entrevista. Sem graça, o ministro, ao voltar, apenas respondia: “Despachos de rotina”. Ahã.
Entre quatro paredes…/ Dilma Rousseff ficou furiosa com o fato de o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ter recebido Eduardo Marzagão. São impublicáveis as palavras que ela disse quando viu a notícia de que Marzagão e Mercadante conversaram a respeito de ajuda a Delcídio são impublicáveis.
Sensações I/ O presidente de um partido aliado ao Planalto definia assim a situação do governo: “É como aquele paciente terminal que a família insiste em não desligar os aparelhos. E nós ficamos aqui, esperando um milagre”.
Sensações II/ A oposição também não está nada satisfeita com a atual situação. Embora mantenha a pose em público, há quem diga: “Estamos todos no mesmo barco. Se continuar assim, em 2018, teremos um bravateiro ou um ET”.
O vice procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, será o novo ministro da Justiça. Ele pode ocupar o cargo porque é procurador da República antes de a Constituição de 1988 vedar o exercício de outras funções pelos procuradores. Será oficializado daqui a pouco.
Na luta pela sobrevivência, o ex-presidente Lula janta agora no Alvorada com a presidente Dilma Rousseff, os ministros Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, e ainda o governador de !inas Gerais, Fernando Pimentel. A ordem no encontro é discutir saídas para a crise política e estratégias para tentar blindar o governo diante da iminente abertura do processo de impeachment.
O alerta do governo disparou quando parte da bancada mineira e o filho do deputado Mauro Lopes, Adalclever Lopes, pressionaram para que o parlamentar dispensasse o convite para ocupar a Secretaria de Aviação Civil e se guardasse para uma troca de comando no Planalto. Mauro Lopes, entretanto, está pronto para assumir e tentar ajudar o governo que lhe abre espaço, nem que seja por pouco tempo.
Os mineiros, portanto não representam a grande preocupação do governo. A dor de cabeça é o risco iminente do partido de Michel Temer desembarcar do Planalto, como você lerá na coluna Brasília DF desta quarta-feira no Correio. Não por acaso, Lula toma café amanhã cedo com o presidente do Senado, Renan Calheiros. É uma conversa para sondar o índice de fidelidade do partido para com o governo. Depois de perder tantas batalhas importantes nos últimos tempos e de brigarem enquanto o processo de impeachment ganhava corpo, Lula e Dilma agora acertam os ponteiros e trabalham juntos. Ambos na torcida para que não seja tarde demais.
Enquanto o PT se pinta para a guerra, os peemedebistas adotam o estilo paz e amor. Não se viu quem saísse em defesa do aliado Luiz Inácio Lula da Silva. Também não se viu um ministro peemedebista no pronunciamento da presidente Dilma. O PMDB está na muda. Não vai cutucar o PT para não ver os petistas apontando o indicador para as mazelas dos peemedebistas. O PMDB agora acredita piamente que o impeachment é factível e quer se preparar para assumir.
Em 12 de março, Michel Temer assumirá o comando da legenda, com um discurso voltado para a necessidade de recuperar a economia. Mencionará o projeto Ponte para o futuro, esquecido por Dilma e pelos petistas. Para conseguir a propalada união, entretanto, terá de distribuir poder com as outras alas do partido.
Em tempo: o fato de Michel Temer ter cancelado sua agenda nada teve a ver com a versão oficial, de acompanhar a Operação Alethea. Ele foi para São Paulo, onde estaria livre de ter que falar publicamente sobre o episódio.
Mudança dos ventos
O PT, que na sua festa de aniversário se afastava do governo Dilma com uma saraivada de críticas, agora se reaproxima do Planalto e vice-versa. Muitos ministros foram ao ato de apoio ao ex-presidente Lula ontem. O titular da Educação, Aloizio Mercadante, um dos mais próximos de Dilma, foi o primeiro a chegar, uma vez que já estava em São Paulo.
Muita calma nessa hora I
Em suas conversas mais reservadas, os tucanos têm demonstrado uma preocupação em relação ao movimento pró-impeachment: há o receio de que, se as investidas sobre Lula e Dilma forem muito fortes, eles terminem vistos como vítimas.
Muito explicadinho
Quem sabe das coisas tem certeza de que o ministro José Eduardo Cardozo tomou conhecimento da delação de Delcídio antes de ser publicada. Num dia de posse, ele não teria como preparar tudo com tantos detalhes
Tá feliz?
Enquanto se preparava para a troca da bandeira na Praça dos Três Poderes, a banda militar abriu seu repertório com Happy, de Pharrel Williams. Nada a ver com o clima palaciano ontem.
Toque da Alvorada
Passava pouco das sete da matina quando o país, atônito, tomava conhecimento da condução coercitiva de Lula.
Um morador do bairro Park Sul, próximo ao ParkShopping, colocou o Hino nacional nas alturas para todos os vizinhos ouvirem, e inclusive soltou fogos.
Não aperta!
Tanto Lula quanto Dilma anunciaram que dariam entrevistas ontem. O que se viu foram apenas pronunciamentos.
Por falar em entrevista…
O ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, sugeriu aos repórteres na quinta-feira que falassem primeiro dos temas do Ministério da Justiça, para, numa segunda etapa, tratar da delação de Delcídio (foto). Ninguém fez perguntas sobre índios etc. E ele foi obrigado a passar direto para a delação.
Conversei com alguns integrantes do PT, que me disseram que nunca antes na história recente do país se viu um dia como hoje, um ex-presidente da República alvo de condução coercitiva para prestar depoimento. Nem Fernando Collor passou por isso quando deixou o Planalto em 1992 pela porta dos fundos. O simbolismo é forte. É isso que deixa os petistas revoltados e, na avaliação de muitos, levará o PT às ruas para defender seu maior líder. Teremos um país dividido e conflagrado. O que a TV exibe nesse momento em Congonhas e na frente do edifício onde Lula mora é apenas o começo.
O governo chega ao mês de março com um cenário nada promissor: O PMDB anda o país em busca da unidade interna. Se conseguir e a rua permitir, vai apostar mais alto no impeachment. A economia não demonstra sinais de reação capazes de dar um respiro maior ao governo. A Lava Jato beira a campanha de Dilma ao prender o marqueteiro João Santana e, agora, sai o ministro da Justiça. Nos bastidores, o que se diz é que Cardozo sai por pressão do PT. Porque não controla a Polícia Federal e as investigações que deixam o partido desgastado.
O novo ministro, Wellington César, procurador da Bahia, dificilmente terá o sucesso que o PT deseja nessa seara, uma vez que todos os holofotes estão sobre a força-tarefa da Lava Jato, a cada dia mais empenhada nas apurações em curso. Se alguma coisa atrapalhar as investigações, o resultado por terminar levando às ruas uma população que até aqui não lotou as praças pedindo impeachment. O primeiro teste será em 13 de março, data marcada para aquilo que os partidos planejam transformar na primeira grande manifestação do ano contra o governo.
A saída de Cardozo do Ministério da Justiça tem ainda outro simbolismo: O fim do triunvirato que acompanhou a campanha de 2010. José Eduardo Dutra, então presidente do PT, faleceu. Antonio Palocci foi afastado por causa das denúncias a respeito de um apartamento em São Paulo. Restava o ministro da Justiça, como a memória e acompanhamento da presidente Dilma ao longo de todos esses anos de governo. E ela fica cada vez mais sozinha.
A sorte de Dilma é que a oposição não vive seus melhores momentos. Para muitos, a prévia do PSDB de São Paulo suga parte da energia que poderia ser usada no embate nacional. Porém, a lava Jato, sozinha, faz mais estragos na base governista e no PT do que todos os partidos de oposição juntos. Assim, o mês do carnaval vai embora com a chapa um pouco mais quente e João Santana levando a crise ao telhado do Planalto. Estão todos em movimento. Que venham as águas de março.
A Câmara demonstrou que a maioria mais conservadora tem maior poder de mobilização no plenário. Hoje, foi retirada da regulamentação da secretaria da mulher a expressão “perspectiva de gênero” no artigo que trata do planejamento da secretaria para ações de promoção de igualdade entre homem e mulher. A emenda, do deputado Vinícius Carvalho (PRB-SP), foi aprovada por 188 votos a 166. “Só existem dois gêneros”, comentou o deputado. Para os estudiosos, entretanto, não é bem assim e o texto aprovado termina por excluir os transexuais. Foi a última etapa de apreciação no Congresso. Agora, só num novo projeto é que a comunidade LGBT tentará repor o texto original. Porém, diante da força dos evangélicos, será difícil obter qualquer modificação num outro texto.
Quem disser ter certeza do resultado da eleição para líder do PMDB estará blefando. Há traidores nos dois grupos, tanto no de Hugo Motta (leia-se Eduardo Cunha), quanto entre os aliados de Leonardo Picciani. Hoje de manhã os coordenadores das duas alas não conseguiram acordo sequer para proceder a votação eletronicamente. Será por cédula de papel e qualquer marca feita na cédula, seja um pontinho, anulará o voto. É que há o receio dos aliados de Cunha de que as marcações sejam para cobrar a fatura (cargos e emendas).
Cada lado conta com a vitória por quatro votos dos 71 peemedebistas. A eleição começa às 15hs.
Este ano segui a máxima adotada por muitos brasileiros: a de que o ano só começa depois do carnaval. As férias prolongadas, no entanto, não tiraram nada do lugar. Os temas de 2015 continuam todos aí, a crise econômica, as suspeitas sobre Lula, a sombra do impeachment, Eduardo Cunha num balé de voltas para ganhar tempo e tentar chegar ao fim do mandato de presidente da Câmara. O juiz Sérgio Moro e a força tarefa da Lava Jato em movimento, causando espasmos na política. E Dilma Rousseff tenta se equilibrar nesse mar de velhos temas em novos dias. Hoje se move a primeira peça desse jogo, a liderança do PMDB. É aqui que eu volto ao trabalho.