Positivo e negativo

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A chegada do presidente Lula para integrar o comitê anti-impeachment terá o papel de ajudar o governo dentro do parlamento. Aí, avaliam nove em cada 10 políticos, a presença dele será positiva. Mas, para o público externo, o sinal será inverso: é levar para dentro do Palácio do Planalto o nome mais rejeitado nas manifestações do último domingo.

O governo, entretanto, avalia que desgaste por desgaste, a presença de Lula mais ajudará do que atrapalhará. Afinal, ele, a partir de agora, será o centro das atenções e, mal ou bem, tem o dom do trato político. É ali que ele vai atuar.

Périplo

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, passou os últimos dias em rodadas de conversas com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar a posição do governo em relação ao rito de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a ser
definido hoje.

A esperança

O governo reza para tentar matar o pedido de impeachment ainda na Câmara e, aí sim, reformular todo o governo. Falta combinar com os deputados.

Por falar em deputados…

… Aí, ministra Kátia Abreu: a Frente Parlamentar da Agropecuária tem reunião hoje para definir uma posição a respeito do impeachment da presidente Dilma. Até ontem à tarde, 57 parlamentares já haviam confirmado presença.

Marina em gestação

A ex-ministra Marina Silva se posicionou no domingo de forma muito ponderada, defendendo a Constituição e rejeitando qualquer golpe. Tudo para se preservar rumo a 2018 (ou talvez antes) e atrair aqueles desapontados com seu antigo partido, o PT.

CURTIDAS

Conta outra/ José Eduardo Cardozo (foto) gravava uma entrevista na TV Brasil quando o assessor entrou com um telefone. Era a presidente Dilma Rousseff. Por duas vezes, ela telefonou, interrompendo a entrevista. Sem graça, o ministro, ao voltar, apenas respondia: “Despachos de rotina”. Ahã.

Entre quatro paredes…/ Dilma Rousseff ficou furiosa com o fato de o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ter recebido Eduardo Marzagão. São impublicáveis as palavras que ela disse quando viu a notícia de que Marzagão e Mercadante conversaram a respeito de ajuda a Delcídio são impublicáveis.

Sensações I/ O presidente de um partido aliado ao Planalto definia assim a situação do governo: “É como aquele paciente terminal que a família insiste em não desligar os aparelhos. E nós ficamos aqui, esperando um milagre”.

Sensações II/ A oposição também não está nada satisfeita com a atual situação. Embora mantenha a pose em público, há quem diga: “Estamos todos no mesmo barco. Se continuar assim, em 2018, teremos um bravateiro ou um ET”.

Depois das manifestações

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Tá bom. Você foi pra a rua, as manifestações foram expressivas, está tudo resolvido, Dilma sai em junho. Não. Nada é tão simples assim, nem se pode tratar qualquer coisa nesse momento como fato consumado. Porém, é notório que o impeachment bate à porta da presidente com maiores chances de ser aprovado do que no ano passado e as margens de manobras do governo são cada vez menores. Mas não dá para cravar que isso ocorrerá, uma vez que o imponderável Lava jato continua dando as cartas e agitando a política. Vejamos alguns fatores:

PMDB _ O partido vai tentando se mostrar uma opção de poder. A decisão da convenção, de impedir seus filiados de assumirem cargos no governo, tem endereço certo: o deputado Mauro Lopes, do PMDB de Minas Gerais. Que esta terça-feira seria nomeado ministro. A bancada de Minas Gerais é importante demais para deixar que seja cooptada pelo governo nesse momento. Michel Temer e Eliseu Padilha, o ex-ministro da Aviação Civil que Lopes iria assumir, decidiram apoiar essa moção contra as indicações porque foram pressionados pelo grupo contrário ao governo, o que mais apoia Michel hoje. Além do mais, se, em 30 dias, o partido vai definir seu destino, não dá para ficar nomeando ministro.

Nos bastidores do próprio PMDB, entretanto, há quem diga que essa pressa para se afastar do governo e abraçar a tese do impeachment tem um outro objetivo velado: entregar a cabeça de Dilma para ver se, em meio à confusão na sala principal da política, os peemedebistas enroscados na Lava Jato terminem esquecidos. Ocorre que as mesmas ruas que pedem o afastamento da presidente Dilma também citam Eduardo Cunha e Renan Calheiros. No geral, os peemedebistas sabem que Dilma não etá sendo investigada na operação e que esses dois peemedebistas estão. Portanto, ainda não se sabe se o PMDB terá esse fôlego todo para conduzir o país, apesar do equilíbrio de Michel Temer.

TSE _ A maioria dos oposicionistas deseja mesmo é uma nova eleição. Esse tema está a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que analisa a legalidade das campanhas. O processo no Tribunal é lento. Seus ministros, para julgar, precisarão ter acesso às delações da Lava Jato que falam em caixa dois na campanha de 2014. Se isso ficar realmente comprovado, adeus Dilma e… Temer.

O futuro julgamento do TSE é hoje mais um incentivo para que os peemedebistas tentem correr com o processo de impeachment de Dilma. O raciocínio de alguns é o seguinte: quem sabe se, com um fato consumado, Temer na Presidência, o TSE termine não cassando a chapa e deixe o vice governar em paz?

Lava Jato _ O maior vitorioso das passeatas de ontem foi mesmo o juiz Sérgio Moro. É nele que a população deposita suas esperanças. E, embora muitos não gostem, o Supremo Tribunal Federal hoje deseja muito mais se assemelhar a Moro do que a um Tribunal que deixa as coisas correrem frouxas. Melhor assim.

Moral da história:
Com tantos fatores ainda para acontecer e tantas perguntas ainda sem resposta fica difícil traçar um cenário preciso para o futuro, apesar das manifestações de ontem. O fato é que, dentro de alguns dias, a Câmara começará a analisar o processo de impeachment, que deve atrair mais a imprensa como um todo. Paralelamente, o Conselho de Ética segue suas apurações sobre Eduardo Cunha e o ministro Teori Zavaschi vai despachando os processos contra os parlamentares. E Sergio Moro detonando novas fases da Lava Jato. Tudo indica que antes do final de maio não teremos um desfecho da crise. É o Brasil vivendo a cada dia a sua aflição.

A luta de Lula

Publicado em coluna Brasília-DF

A luta de Lula

Que ministério que nada. O que o presidente Lula está disposto a discutir no momento é o tema Poder Judiciário. Por isso, reuniões intermináveis com advogados e juristas nos últimos dias. O debate que ele e o PT não enfrentaram no mensalão, quando viram a cúpula partidária na cadeia, o ex-presidente pretende fazer agora no petrolão. Sabe como é: pimenta nos olhos dos outros levou Lula a adiar o tema no passado, para não jogar luz sobre algo incômodo ao PT, especialmente, quando se tratava de temporada eleitoral. Entretanto, neste momento, em que ele próprio, Lula, entra no centro do debate e no risco da prisão, não dá mais para fugir. Ainda que seja um ano eleitoral, é aí que o ex-presidente pretende dispender sua energia.

A malemolência do PMDB
Diante das incertezas sobre o futuro, o PMDB vai ficar hoje com uma pizza metade calabresa, metade mussarela. A ideia de deixar os pedidos de rompimento com o governo para votação daqui a 30 dias é sinal de que o partido ainda não tem segurança sobre o fim do governo Dilma, tampouco confia nos tucanos para lhe ajudar a reorganizar a economia, caso venha o impeachment e Michel Temer assuma o poder. Afinal, todos têm seus planos para 2018.

Por que 30 dias?
Daqui a um mês, calculam os peemedebistas, haverá mais clareza a respeito das conversas deflagradas essa semana com o PSDB sobre as saídas para a crise. De mais a mais, qualquer atitude agora dividiria um partido que quer se mostrar unido para tentar convencer as demais forças políticas de que consegue tocar o barco, se houver um impeachment de Dilma.

Ele sabe
A outra variável que deixa o partido de Michel Temer no lusco-fusco entre governo e oposição é a Lava-Jato. Os peemedebistas estão inseguros sobre o que virá nas delações em curso. Embora Delcídio do Amaral tenha dito a amigos que não mencionou os peemedebistas, outros delatores o fizeram. Ontem mesmo houve mais um pedido de abertura de mais um inquérito contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Risco
Depois de uma nota de promotores e procuradores com críticas ao que chamam de “banalização da prisão preventiva”, acendeu-se um pisca-alerta nos partidos de oposição. Há quem esteja preocupado com a hipótese de Lula se transformar em vítima nesse contexto.

Dilma falante
A entrevista da presidente Dilma Rousseff ontem vai se repetir mais vezes. Ela gostou de falar e voltará a fazê-lo em breve.

CURTIDAS

Walter, o recolhido/ Pouco tem se ouvido do senador Walter Pinheiro (foto), do PT-BA, a respeito da crise política em plenário. Justifica-se: ele está a caminho do PSD do senador Otto Alencar (BA).

Sono difícil/ As olheiras de Dilma indicam que o batidão diário não está fácil, apesar das pedaladas matinais.

Por falar em pedaladas…/ Nos bastidores do Planalto, esse tema é visto como matéria vencida. Ou seja, na visão palaciana, não será por aí que se conseguirá o impeachment da presidente Dilma.

E o Beto Richa, hein?/ Com a abertura de inquérito para investigar o governador do Paraná, Beto Richa, que é do PSDB, os petistas se preparam para provocar os tucanos na semana que vem no embate congressual.

Lula e o xadrez político-policial

Publicado em coluna Brasília-DF

Diante do pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula, ficou em segundo plano a nova fornada de delações premiadas, capaz de pôr em xeque todas as conversas políticas da quarta-feira em Brasília — tanto as que o petista manteve no sentido de preservar o mandato da presidente Dilma Rousseff, tanto os ensaios feitos por tucanos e peemedebistas desenhando cenários sobre um hipotético afastamento de Dilma.

A contar que seja verdade o pouco que se sabe, virão à baila doações em caixa dois da campanha de 2014, o que reforçará a ação contra a presidente e seu vice, Michel Temer, dentro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Comprovada essa irregularidade, todos os movimentos para assunção de Temer estariam comprometidos. É a Lava Jato mandando no presente e deixando um mar de incertezas sobre o futuro.

Ele sabia

O ex-presidente Lula foi quem sugeriu que o presidente do Senado, Renan Calheiros, buscasse o PSDB para sentir o clima e começar a tentar construir cenários para sair da crise. Uma pergunta foi feita pelos peemedebistas: “Tem saída com Dilma? Se tiver, nos digam”.

Ele já sabia

A resposta dos tucanos, o “fora Dilma”, também já era esperada. A ordem agora é saber com quem se pode contar na hora da verdade, quando o processo de impeachment chegar ao plenário. O que o ex-presidente não esperava era uma prisão preventiva pelo Ministério Público paulista.

Enquanto Dima tiver caneta…

Jorge Picciani não faz segredo de que o filho dele, Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara, continua com Dilma até o fim, contra o impeachment, ainda que o PMDB desembarque. Mas na mesma hora completa que o governo Dilma não durará mais 90 dias.

Moro pegou pouco

São, pelo menos, 172 offshores que abrigam recursos de brasileiros no exterior. Até aqui, as apontadas pela Lava Jato não chegam a 10.

CURTIDAS

Corrida da preventiva/ Os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato não engoliram o pedido de prisão preventiva de Lula pelo Ministério Público de São Paulo: “Pô, foram na frente da gente”, reagiu um procurador.

Suspense desfeito/ O delegado Márcio Anselmo, que integra a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, passou a semana em Brasília. Calma, pessoal! Ele não veio prender ninguém tampouco preparar uma nova condução coercitiva ou prisão preventiva. Estava num curso na Academia Nacional de Polícia.

Valdemar ainda manda/ De tornozeleira e tudo, Valdemar Costa Neto (foto) continua reinando no PR. Com a janela partidária aberta, tratou pessoalmente da filiação de dois deputados: Delegado Waldir, em Goiás, e Christiane Yared, no Paraná. Waldir saiu do PSDB. Yared, do PTN.

Por enquanto, tá pesado/ Os peemedebistas começaram ontem as conversas para a convenção de sábado, de olho na valorização das ações de Michel Temer para presidir o país. Ocorre que, enquanto a Lava-Jato estiver fervendo, difícil os grandes mastros da política içarem a bandeira de Michel, com Eduardo Cunha na garupa..

Lula, o coordenador

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Que ninguém se surpreenda se, depois dos senadores, Lula vier a buscar a oposição. Seja dentro ou fora do governo, ele assumiu ontem o papel de coordenador da campanha contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e as conversas com os oposicionistas são inevitáveis mais à frente, quando terminar o périplo pelos partidos da base aliada.

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A ideia é colocar sobre a mesa um programa econômico que possa ser usado como atrativo. O tema, aliás, foi mencionado num artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nada acontece, entretanto, antes do embate do 13 de março nas ruas.

Bala de prata

Integrantes da força-tarefa da Lava-Jato discutiram as consequências políticas da condução coercitiva do ex-presidente Lula. Apenas um deles foi contra e queria indícios mais fortes para pedir logo a prisão do petista. Foi voto vencido, mas deixou uma pista: a força-tarefa ainda não tem essa prova definitiva.

Pasadena, o retorno

Com a suspeita da delação premiada de Delcídio do Amaral, o Tribunal de Contas da União (TCU) volta ao foco por causa do processo de investigação sobre a refinaria de Pasadena. O relator é o ministro Vital do Rêgo, do PMDB de Renan Calheiros.

Herói da resistência I

Lula tem vários motivos para resistir ao tapete vermelho que lhe foi estendido em frente à rampa do Planalto para subir como ministro de Dilma. O primeiro deles é que a família está enroscada na teia da Lava-Jato e não há espaço para todos no gabinete presidencial. Outro é a proteção ao próprio governo: seria colocar a operação dentro do Planalto, que já tem problemas demais para resolver, haja vista a proximidade do processo de impeachment e a crise econômica.

Herói da resistência II

Além desses dois problemas, há um que Lula considera com carinho: seria o reconhecimento público de que ele teme ser preso. E, diz o ditado popular, quem não deve não teme. Se a força-tarefa da Lava-Jato requerer a prisão do ex-presidente, o risco de virar vítima é grande. Isso, aliás, já está no radar dos investigadores.

CURTAS

Coisa antiga/ Circula nas redes sociais reportagem do Jornal Nacional exibida em 2010 sobre a Bancoop, suspeita de desvio de dinheiro da cooperativa para o PT, e ainda reclamações dos mutuários sobre a paralisação das obras do condomínio no Guarujá. À época, Lula foi citado como dono do tríplex. Ao fim, aparece Fátima Bernardes dizendo que o Planalto não quis comentar o assunto.

Porteira aberta/ Aprovada ontem no TRE do Amazonas, a cassação do mandato do governador José Melo desaguará em breve no TSE. Será o primeiro grande teste das ações por abuso de poder político. Inclua-se aí a chapa Dilma-Temer.

Acredite se quiser/ O ex-senador Delcídio do Amaral (foto) mandou avisar ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ue não o citou na delação premiada. Mas a situação é tal ue a desconfiança prevalece diante da palavra.

É o bicho!/ No café da manhã com os senadores de vários partidos da base, Lula ouviu de um deles que ficasse tranquilo em relação ao PSDB: “O que mata jararaca é gavião, tuiuiu e carcará. Tucano só come frutinhas e, se estiver com muita fome, pega filhotes de outras aves”.

Dilma e Lula

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Na luta pela sobrevivência, o ex-presidente Lula janta agora no Alvorada com a presidente Dilma Rousseff, os ministros Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, e ainda o governador de !inas Gerais, Fernando Pimentel. A ordem no encontro é discutir saídas para a crise política e estratégias para tentar blindar o governo diante da iminente abertura do processo de impeachment.

O alerta do governo disparou quando parte da bancada mineira e o filho do deputado Mauro Lopes, Adalclever Lopes, pressionaram para que o parlamentar dispensasse o convite para ocupar a Secretaria de Aviação Civil e se guardasse para uma troca de comando no Planalto. Mauro Lopes, entretanto, está pronto para assumir e tentar ajudar o governo que lhe abre espaço, nem que seja por pouco tempo.

Os mineiros, portanto não representam a grande preocupação do governo. A dor de cabeça é o risco iminente do partido de Michel Temer desembarcar do Planalto, como você lerá na coluna Brasília DF desta quarta-feira no Correio. Não por acaso, Lula toma café amanhã cedo com o presidente do Senado, Renan Calheiros. É uma conversa para sondar o índice de fidelidade do partido para com o governo. Depois de perder tantas batalhas importantes nos últimos tempos e de brigarem enquanto o processo de impeachment ganhava corpo, Lula e Dilma agora acertam os ponteiros e trabalham juntos. Ambos na torcida para que não seja tarde demais.

Troca da guarda

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No mercado da advocacia, há quem aposte na troca iminente da defesa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Supremo Tribunal Federal (STF). É que já foi detectada uma certa hostilidade do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o ex-procurador Antônio Fernando de Sousa, hoje advogado de Cunha. A substituição seria apenas no sentido de proteger o cliente.

Climão I
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não deu a menor satisfação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de que faria hoje uma sessão do Congresso Nacional. A leitura foi a de que a relação entre os dois não está lá essas coisas.

Climão II
O mesmo vale para a relação do PMDB com o presidente da Câmara. Nos bastidores, até aliados de Cunha alegam desconforto com a situação de ter o comandante da Casa réu na Lava-Jato. Se seguir por esse rumo, corre o risco de falar e não ser ouvido pelos seus pares. Por enquanto, ele ainda não passou por esse constrangimento.

Amedrontar para afastar
Os alertas sobre possíveis conflitos nas manifestações previstas para 13 de março, próximo domingo, levaram os oposicionistas a ficarem desconfiados de uma tentativa de esvaziar o movimento. Afinal, é sabido que a oposição só terá fôlego para tratar do impeachment se houver gente na rua para pedir o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Reflexão
“Se vier o apoio ao rompimento, ótimo. Se não vier, pelo menos, faremos o partido refletir a respeito.” Do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), autor de uma moção para que o partido rompa com o governo Dilma Rousseff

Que Lula, que nada!
O que preocupa os congressistas hoje é a delação de Delcídio do Amaral. Isso porque a situação está complicada: senadores acreditam que não têm como deixar de condená-lo. E, nesse caso, Delcídio não terá nada a perder, reforçando as suspeitas da força-tarefa sobre vários políticos com mandato. É isso que mais tira o sono de alguns senadores e vários deputados.

Direto ao ponto
Diante da polêmica a respeito da nomeação do ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva, os palacianos comentavam que era o único nome neutro à disposição. Se a indicação for derrubada na Justiça, o jeito vai ser carimbar a pasta com um nome do PT de carteirinha. Wadih Damus está no páreo.

Ainda tem muito chão pela frente…/ A reportagem do Fantástico que apresentou a prateleira da fase 31 da Lava-Jato assustou os políticos. É sinal de que ainda vem muita coisa por aí e também que os detentores de mandato eletivo não estão fora da roda dos mandados de busca e apreensão.

Cochilo/ Dentro do próprio PT, há quem considere que o partido deveria ter arcado com as despesas de deslocamento da presidente Dilma Rousseff para São Bernardo no último sábado, quando ela visitou o ex-presidente Lula. Afinal, não era uma visita de estado e sim a solidariedade pessoal e partidária.

Périplo/ Os ministros que têm alguma responsabilidade, ainda que periférica, com as Olimpíadas vão passar pelo Rio de Janeiro esta semana e na próxima. A maratona termina em 18 de março numa reunião geral, com a presença da presidente Dilma Rousseff.

Firme?/ Quando o ministro Gilberto Kassab (foto) declara que seu partido está “firme”com a presidente Dilma, os deputados garantem que metade já foi embora.

8 de Março/ Se não fosse tanta crise, até que dava para comemorar.

O pós 04/03

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A condução coercitiva de Lula fez com que cada partido tomasse o seu rumo e outros se dividissem. A nota oficial do PSB, por exemplo, colocando-se de vez na oposição, causou mal-estar entre filiados. A bancada do Senado, mais afeita à continuidade de uma amizade com os petistas, divulgou outra, criticando a condução coercitiva. PMDB, conforme já dito aqui, manteve-se em silêncio, enquanto o PSol, saído de uma costela petista, não fechou totalmente com os partidos de oposição que pedem o impeachment de Dilma. Nem Marina Silva, da Rede, o fez. O 4 de março, se era para testar como se comportam os atores da política, deixou claro que Lula, certo ou errado, ainda detém poder de incendiar a militância de seu partido e tem amigos entre os adversários.

PMDB em desembarque

Os peemedebistas voaram mais cedo neste fim de semana para Brasília a fim de avaliar a crise. Entre eles, há quem diga que não há mais como segurar a presidente Dilma. A mesma avaliação é feita para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Onde mora o perigo I

A possibilidade de ver sua mulher, Cláudia, na rede do juiz Sérgio Moro deixou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em pânico. Se ele obrigou Lula a depor, pode fazer o mesmo com a primeira-dama da Câmara e a filha.

Onde mora o perigo II

Quando Eduardo Cunha se sente acuado, ele desconta na pauta da Casa. Mas, com a família em risco, há quem aposte na renúncia. Desdobramentos virão.

Operação Uruguai

Do Paraná, quem vê Ciro Gomes candidato a presidente da República pede que ele vá devagar com o andor. Dario Galvão, da Galvão Engenharia, detentora de obras no Ceará, está na fila das delações premiadas.

Coutinho na corda bamba

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, entrou na mira dos dirigentes de seu partido, o PSB. Se ele for arrolado no petrolão, terá que deixar a legenda. Os socialistas querem distância dessa confusão.

Pegou/ Os peemedebistas só se referem ao ministro da Saúde, Marcelo Castro (foto) como Marcelo Zikastro. Enquanto tiver mosquito se reproduzindo por aí, é assim que ele será chamado.

Aloprou/ Depois do vídeo gravado pela deputada Jandira Feghali no diretório do PT em São Paulo, ela vem sendo chamada de “aloprada” pelos petistas. É aquele em que, ao fundo, Lula conversava ao telefone, segundo ela disse, com a presidente Dilma. Ou alguém fez alguma montagem com um timbre parecido com a voz do ex-presidente, ou ele mandou mesmo a força-tarefa da Lava-Jato enfiar o processo dele (Lula) “naquele lugar”. Em tempo: se os petistas estão reclamando, é um sinal de que, talvez, seja verdade.

O crime compensa?/ Amigos de Lula se perguntam: os operadores, entre eles, Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, estão todos em casa, cumprindo penas modestas e se preparando para gastar o dinheiro que mantiveram escondido. Isso é justo?

A lei é para todos? / Outra é a seguinte: outros, entretanto, só pelo fato de terem foro privilegiado, continuam por aí, como se nada tivesse acontecido. Isso é justo? Pelo que se vê de março, e dos impropérios mútuos ditos nos bastidores, a crise só tende a piorar.

O silêncio do PMDB

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Enquanto o PT se pinta para a guerra, os peemedebistas adotam o estilo paz e amor. Não se viu quem saísse em defesa do aliado Luiz Inácio Lula da Silva. Também não se viu um ministro peemedebista no pronunciamento da presidente Dilma. O PMDB está na muda. Não vai cutucar o PT para não ver os petistas apontando o indicador para as mazelas dos peemedebistas. O PMDB agora acredita piamente que o impeachment é factível e quer se preparar para assumir.

Em 12 de março, Michel Temer assumirá o comando da legenda, com um discurso voltado para a necessidade de recuperar a economia. Mencionará o projeto Ponte para o futuro, esquecido por Dilma e pelos petistas. Para conseguir a propalada união, entretanto, terá de distribuir poder com as outras alas do partido.

Em tempo: o fato de Michel Temer ter cancelado sua agenda nada teve a ver com a versão oficial, de acompanhar a Operação Alethea. Ele foi para São Paulo, onde estaria livre de ter que falar publicamente sobre o episódio.

Mudança dos ventos
O PT, que na sua festa de aniversário se afastava do governo Dilma com uma saraivada de críticas, agora se reaproxima do Planalto e vice-versa. Muitos ministros foram ao ato de apoio ao ex-presidente Lula ontem. O titular da Educação, Aloizio Mercadante, um dos mais próximos de Dilma, foi o primeiro a chegar, uma vez que já estava em São Paulo.

Muita calma nessa hora I
Em suas conversas mais reservadas, os tucanos têm demonstrado uma preocupação em relação ao movimento pró-impeachment: há o receio de que, se as investidas sobre Lula e Dilma forem muito fortes, eles terminem vistos como vítimas.

Muito explicadinho
Quem sabe das coisas tem certeza de que o ministro José Eduardo Cardozo tomou conhecimento da delação de Delcídio antes de ser publicada. Num dia de posse, ele não teria como preparar tudo com tantos detalhes

Tá feliz?
Enquanto se preparava para a troca da bandeira na Praça dos Três Poderes, a banda militar abriu seu repertório com Happy, de Pharrel Williams. Nada a ver com o clima palaciano ontem.

Toque da Alvorada
Passava pouco das sete da matina quando o país, atônito, tomava conhecimento da condução coercitiva de Lula.
Um morador do bairro Park Sul, próximo ao ParkShopping, colocou o Hino nacional nas alturas para todos os vizinhos ouvirem, e inclusive soltou fogos.

Não aperta!
Tanto Lula quanto Dilma anunciaram que dariam entrevistas ontem. O que se viu foram apenas pronunciamentos.

Por falar em entrevista…
O ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, sugeriu aos repórteres na quinta-feira que falassem primeiro dos temas do Ministério da Justiça, para, numa segunda etapa, tratar da delação de Delcídio (foto). Ninguém fez perguntas sobre índios etc. E ele foi obrigado a passar direto para a delação.