Confiante em atrair novo eleitorado com o auxílio emergencial, Bolsonaro balança Moro e Guedes

Sérgio Moro Paulo Guedes
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Coluna Brasília-DF

Até aqui, as medições de popularidade em redes sociais feitas por bolsonaristas apontam que a saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde não derrubou os índices presidenciais ao chão, como alguns mais pessimistas previam. A impressão dos aliados é a de que aqueles que abandonam o governo podem ser substituídos pelos agraciados com o auxílio emergencial de R$ 600, um contingente de 33 milhões de brasileiros. Não por acaso, o auxílio foi o tema da live desta semana. É aí que Bolsonaro joga suas fichas para tirar votos que até aqui eram atribuídos ao PT, inclusive no Nordeste.

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Em tempo: a certeza de que acertou na troca da saúde, no pagamento dos R$ 600 e, de quebra, no discurso de volta ao trabalho, é que leva o presidente a fazer, neste momento, as trocas que deseja há tempos. Daí a investida contra Maurício Valeixo, na Polícia Federal. Só tem um probleminha: quem fez a aproximação entre Moro e Bolsonaro foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que também anda cansado. Se perder os dois, aí, as apostas de Bolsonaro podem quebrar o seu caixa eleitoral.

Moral da história

Entre os delegados da Polícia Federal há uma lei: diretor-geral não interfere em investigação. Quem chega com a missão de barrar, ou interferir em investigações, tem um de dois destinos: ou é escanteado, ou, se ultrapassar certos limites, sai preso.

Um já foi

No governo do presidente Michel Temer, por exemplo, o delegado Fernando Segóvia, diretor da PF nomeado pelo Planalto, terminou acusado de interferir no inquérito que investigava o presidente por causa da mala que o ex-assessor palaciano Rodrigo Rocha Loures carregou pelas ruas de São Paulo. Ficou 99 dias no cargo e terminou fora.

Bolsonaro repete Temer

Aliás, delegados da PF que acompanharam de perto a troca de comando da instituição no governo do presidente Michel Temer estão com uma sensação de “déjà-vu”. Naquela época, Segóvia assumiu sem que o presidente ouvisse o então ministro da Justiça, Torquato Jardim. A indicação de Segóvia partiu justamente da ala do MDB investigada na Lava Jato e obteve aval de outros partidos que agora conversam com Bolsonaro.

Eles têm o que temer

Chegou aos ouvidos dos bolsonaristas que deputados suspeitos de organizar a manifestação em favor do AI-5 serão alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. E há quem diga que essa turma foi chorar nos ouvidos presidenciais.

CURTIDAS

Menos três/ Quem está torcendo pelos resultados das investigações contra deputados bolsonaristas é o presidente do PSL, Luciano Bivar. Será a senha para expulsar aliados de Bolsonaro do partido.

Moro-Mandetta/ Já tem político sonhando com essa chapa para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, em 2022: Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta. Justiça e Saúde caminhando juntas.

#ParabénsSarney I/ O ex-presidente Sarney recebeu uma ordem expressa dos médicos para esta sexta-feira, em que completa 90 anos: “Sem visitas e sem exceções”. Fica a dica para os amigos que desejam parabenizá-lo pelo aniversário. Melhor programar uma videochamada. Por causa da pandemia de Covid-19, Sarney está obedecendo à risca a hashtag #Fiqueemcasa. Ficam aqui os cumprimentos da coluna.

#ParabénsSarney II/ Com o cancelamento das festividades de seus 90 anos por causa da pandemia, o ex-presidente José Sarney será homenageado com uma live hoje, 11h, preparada por amigos. São mais de cem mensagens gravadas e transformadas num vídeo. É até pouco para quem sempre é procurado em busca de conselhos para momentos de crise como o que vivemos agora.

Se interferir na eleição da Câmara, Bolsonaro perderá aliados

eleição da câmara
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O presidente Jair Bolsonaro recebeu de aliados o seguinte alerta: se interferir na eleição para o comando da Câmara, corre o risco de levar o governo a criar ainda mais inimizades dentro do Congresso, com ou sem a distribuição de cargos aos partidos. Se optar por Marcos Pereira, do Republicanos, o vice-presidente da Casa que deu abrigo partidário aos filhos de Bolsonaro, o capitão perderá o PP, de Arthur Lira. Se optar por Lira, decepcionará Pereira e parte da bancada evangélica.

Ou seja, não há a solução ganha-ganha. Assim, as chances de sucesso nessa operação de buscar um novo presidente da Casa são mínimas e deixam um campo aberto a ser ocupado por um candidato que o presidente não apoie.

O PAC de Bolsonaro

A coletiva em que ministros anunciavam o novo plano de investimentos Pró-Brasil deu uma sensação de “déjà-vu” em políticos experientes que acompanharam de perto o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O primeiro plano foi apresentado por Lula em 2007, ou seja, há 13 anos. Até nisso, há quem veja uma simbologia.

 

Lei do distanciamento I

Alguns presidentes de partido que estiveram recentemente com o presidente Jair Bolsonaro saíram desconfiados de que ele vai forçar a porta do distanciamento social, com a apresentação de um projeto de lei para tratar desse tema. Ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha definido que os governadores é que decidem, há quem esteja disposto a testar esse limite, em caso de um projeto de lei.

Lei do distanciamento II

A ideia do presidente, entretanto, é considerada inócua, porque o Congresso pode perfeitamente dizer que as medidas serão adotadas conforme critérios a serem definidos em cada estado. Ou seja, deixará tudo como está.

Te cuida, Marcelo!

Se depender do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro terá que atender aos seus novos aliados com os cargos que já existem. Dia desses, numa reunião do primeiro escalão, Guedes chegou a dizer na cara do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro, que, se dependesse da área econômica, o Ministério do Turismo não existiria. Álvaro se limitou a sorrir, para esconder o constrangimento.

“Não é hora de discutir política nem de partidarização da crise. O momento é de salvar vidas e o país”

Do líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), que alertou o presidente sobre a situação de Manaus e, com o presidente do partido, Baleia Rossi, avisou a Bolsonaro que a sigla não quer saber de cargos no governo

Pai e filha/ Em tempos de pandemia, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo aproveita para ministrar um curso de oratória para advogados e operadores do Direito. Ele fala do lado mais prático da profissão, enquanto sua filha, Mayra Martins Cardozo, advogada e professora de yoga, alerta para a necessidade de aprender a respirar, misturando as técnicas de yoga e meditação.

O terceiro elemento/ No curso do ex-ministro tem também a participação da administradora e cientista política Maytê Carvalho. Ela mora nos Estados Unidos e fala da teoria da oratória e dos grandes oradores do mundo antigo.

Coquetel olavista/ Em conversas reservadas, diplomatas se perguntam o que o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomou para, em artigo, misturar pandemia com comunismo, alertando para o que chama de “comunavírus”. Agora, uma coisa todos têm certeza: houve uma “aula” com o escritor Olavo de Carvalho.

Nem tudo é por aí/ Em entrevista que foi ao ar ontem à noite, na Rede Vida, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, reforçou que não defende a intervenção militar, nem a volta do AI-5. Melhor assim.

Para tirar Maia do comando da Câmara, Bolsonaro tenta dividir o Centrão

Bolsonaro
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O presidente Jair Bolsonaro trabalha para dividir o Centrão e, assim, tirar Rodrigo Maia do comando da Câmara, fazer o seu sucessor e dominar a Casa. Só tem um probleminha: ainda que Bolsonaro conte com seus apoiadores e metade do Centrão em favor de uma candidatura, ainda assim não terá metade dos votos da Câmara a fim de liquidar a eleição no primeiro turno.

E é essa conta que o presidente tem de fechar para decidir se apoiará o vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), ou o líder do Progressistas, Arthur Lira (AL).

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Bolsonaro está mais propenso, no momento, a insuflar a candidatura de Lira, de forma a rachar o antigo PP. Tudo por causa da proximidade entre Maia e o líder da maioria, Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), uma das apostas do atual presidente da Câmara, com bom trânsito entre os partidos. Porém, políticos experientes como Arthur e Aguinaldo sabem que Bolsonaro costuma largar pelo caminho quem lhe contraria. No momento, Lira se aproxima, mas desconfiado.

Segura isso aí

O presidente já foi aconselhado a deixar de lado a disputa pela Presidência da Câmara. Seus aliados consideram que ele entrou muito cedo. E, no quesito, quem sai a campo muito antes da hora costuma queimar a largada. Ainda mais quando não tem tanto lastro político no Parlamento, como é o caso de Bolsonaro no cenário atual.

Economistas não gostaram

A defesa do AI-5 e da intervenção militar na manifestação de domingo acendeu o pisca alerta na área econômica. Não dá para criar instabilidade dizendo que não tem negociação, como fez o presidente, e querer que os investidores apostem suas economias no Brasil.

Inquérito educativo

A coluna antecipou, ontem, que os bolsonaristas não estão nada preocupados com o inquérito que investigará quem conclamou atos contra o Estado de direito no Brasil — há quem diga que a iniciativa será, no mínimo, um alerta. Agora, quem quiser convocar atos de fechamento das instituições e de volta de instrumentos para calar a voz de quem pensa diferente terá de calcular mais os riscos.

A aposta do Senado

Os senadores vão partir para uma proposta intermediária entre o que foi aprovado pela Câmara em termos de socorro aos estados e o que deseja o governo. A ideia da equipe econômica é transferir 80% de R$ 40 bilhões per capita e suspender o pagamento de parcelas de dívidas com a União. Os senadores estão analisando e, ontem, tiveram reuniões virtuais para tentar aprovar algo desse tipo ainda esta semana.

Sem “contrabando”

Ao deixar caducar a MP da carteira de trabalho verde e amarela, o Congresso deu uma lição ao governo: sempre que vier algo como uma minirreforma dentro de uma MP, os congressistas não vão levar adiante. Afinal, conforme bem lembrou a senadora Simone Tebet, ao programa CB.Poder, se fosse só a carteira verde e amarela, a proposta teria sido aprovada sem muita polêmica.

CURTIDAS

A hora do MDB/ Além da Câmara, Bolsonaro começa a auscultar o ânimo dos senadores. Hoje, ele tem na agenda o presidente do partido, Baleia Rossi, e o senador Eduardo Braga (AM), pré-candidato a presidente do Senado.

DEM na área/ O presidente quer conversar, ainda, com o presidente do Democratas, ACM Neto. É para dizer que a demissão de Mandetta e a briga com Rodrigo Maia não têm nada de “pessoal”. Há quem diga que Bolsonaro quer mesmo é a foto com o presidente da legenda ainda esta semana. Assim, de foto em foto, monta o discurso de que tem diálogo político com o Congresso.

Sinais invertidos/ Bolsonaro tenta se reaproximar do DEM, mas seus aliados, não. O deputado Diego Garcia (Podemos-PR) foi para as redes sociais pedir o afastamento de Maia: “A revolta da população é clara, tem nome, presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que insiste em falar em nome da Câmara, ou seja, 513 deputados! Quero deixar bem claro, ele não fala em meu nome. Sua maior contribuição, agora, seria seu afastamento! #foramaia”, escreveu.

Enquanto isso, no aniversário de Brasília…/ Nem só de sessões virtuais e de polêmicas vive a senadora Kátia Abreu (PDT-TO). Ontem, por exemplo, ela e o marido aproveitaram o feriado para cozinhar um assado de cordeiro e um arroz com frango desfiado, cebola dourada, uva-passa e castanhas: “Dizem que é marroquino, mas é, na verdade, tocantino”, comentou, repetindo o bordão que tem tomado conta das postagens nas redes sociais: “Se você não precisa sair, fique em casa”.

Políticos apostam que ”não vai dar em nada” investigação de Aras sobre AI-5

Bolsonaro
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Os políticos não apostam um vintém na abertura de inquérito no Ministério Público para apurar responsabilidades na convocação de um ato que pedia a volta do AI-5 e fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Ali, há quem veja na atitude do procurador-geral da República, Augusto Aras, mais uma forma de tentar justificar a defesa que tem feito do presidente Jair Bolsonaro em questões anteriores, como, por exemplo, o distanciamento social.

Porém, se houver quebra de sigilos e investigações a fundo, esses que hoje duvidam das investigações podem terminar como Jorge Bornhausen. No papel de ministro da Casa Civil de Fernando Collor, Bornhausen dizia que a CPI do PC Farias, que investigou o governo Collor e provocou o impeachment, não iria dar em nada. Os mais esperançosos nessas investigações acreditam que será a única forma de evitar que atos contra o estado democrático de direito se repitam.

O erro crasso

Aliados de Bolsonaro consideram que ele ultrapassou os limites ao não repreender os manifestantes que pediam intervenção militar com o presidente no comando. Ali, deixou de lado a Constituição e o estado de direito. O momento agora é de tentar colocar panos quentes nessa “falha”.

A hora dos antitérmicos…

Em meio à pandemia, e com o número de casos em curva crescente no Brasil, não será desta vez que os congressistas partirão para o confronto direto com Bolsonaro. A ordem dos bolsonaristas é ressaltar as últimas declarações em defesa da democracia e do Congresso e do STF abertos. A dos adversários é deixar estar para ver como é que fica.

… e dos acordos

Uma ala já está hoje pronta para se acoplar ao governo, dentro do velho toma lá dá cá de cargos que incluem até mesmo o Banco do Nordeste –– já está na roda para ser entregue ao Partido Progressista. Assim, o governo do mesmo presidente que diz a seus mais radicais apoiadores não querer negociar com o Congresso, parte
para tentar amortecer as crises que cria no Parlamento.

Onde pega

Bolsonaro está convencido de que há um “conluio” entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os governadores João Dória (SP) e Wilson Witzel (RJ) para limpar o caixa da União com vistas a deixá-lo sem recursos para que possa apresentar resultados positivos em 2022. Daí, a raiva acumulada

Saúde em distanciamento social…

A opção do ministro da Saúde, Nelson Teich, de gravar um vídeo em vez de conceder uma entrevista, deve ser a nova forma de divulgação do Ministério. A avaliação é a de que, assim, ele dá apenas as boas notícias, como o aumento do número de testes rápidos comprados pelo Brasil, sem precisar se expor às más. Não precisou, por exemplo, ser exposto a comentar a aglomeração no QG do Exército, no domingo, com a presença de Bolsonaro.

… e político

O vídeo também tirou o ministro da divulgação de números de casos e de óbitos, que ontem, aliás, apresentou erro, segundo a Saúde. No Congresso, já tem gente pensando em fazer as contagens direto nas secretarias estaduais de saúde para ver se os números batem com o que é divulgado no ministério.

De onde vêm ataques…/ Aliados da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (foto), identificaram uma turma que deseja se aproveitar da pandemia de coronavírus para obter perdão total das dívidas acumuladas dentro do Funrural, algo que já foi engavetado por ela e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

… surgem os pedidos/ Esse grupo, capitaneado por Jefferson Rocha, da AndaTerra, apresentou por esses dias ao Planalto um pacote para o agro que inclui, entre outros pedidos, o perdão total das dívidas. Os economistas ligados a Guedes avisam que não é por aí que se vai salvar a lavoura.

Os vários tons de Bolsonaro/ Em fevereiro do ano passado, quando ninguém sequer sonhava com pandemia, esta coluna publicou que Bolsonaro não sairia do palanque e, sempre que pudesse, usaria a sua turma para levar os congressistas a fazerem exatamente o que o governo desejasse. Ele agora volta a esse recurso, desta vez com a ala mais radical, e depois recua. Será assim até o final do governo.

PARABÉNS, BRASÍLIA// Hoje, às 19h, vamos aplaudir a nossa cidade e renovar as esperanças. Viva Brasília!

Militares dão um “chega para lá” nos manifestantes

Publicado em Governo Bolsonaro

Cobradas por uma posição oficial a respeito da manifestação que pediu o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), as Forças Armadas responderam aos apelos dos Poderes constituídos. Ao encerrar a reunião com os comandantes das três Forças, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, soltou a seguinte nota:

“As Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do País, sempre obedientes à Constituição Federal.

O momento que se apresenta exige entendimento e esforço de todos os brasileiros.

Nenhum país estava preparado para uma Pandemia como a que estamos vivendo. Essa realidade requer adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o Coronavírus e suas consequências sociais.É isso o que estamos fazendo.”

Significa que não apóiam intervenção militar, AI-5 ou qualquer coisa que vá nesse sentido, conforme reza a Constituição. Melhor assim.

“Você será responsabilizado pelas consequências, pelas mortes”, disse Mandetta em última reunião com Bolsonaro

Bolsonaro e Mandetta
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Quem viu a saída de Luiz Henrique Mandetta da sua última reunião com Bolsonaro não se esquece da cena. “Você será responsabilizado pelas consequências, pelas mortes”, disse o ex-ministro. “Eu, não, os governadores é que vão!”, respondeu Bolsonaro, aos gritos. Mandetta não respondeu mais e deixou o presidente falando sozinho.

Casamento arranjado

Quem conhece bem o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, adverte: ele não rasgará a biografia para fazer o que for da vontade presidencial. Fará o que determinar a ciência e o que for possível. A não ser que seja mordido pela mosca da vaidade que, muitas vezes, infesta quem assume um cargo de visibilidade no poder público.

Bolsonaro em “dia de alegria” e de dobrar a aposta

Bolsonaro e Nelson Teich
Publicado em Covid-19, Governo Bolsonaro

Ao discursar há pouco no Planalto, o presidente, embora medindo as palavras, não escondeu que trocou ministro da Saúde porque queria o fim do isolamento social e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta não atendeu aos seus apelos. Agora, com o novo ministro, o presidente espera que isso seja feito e disse que sua visão era a da economia, a do emprego. “Tinha a visão – e ainda tenho – que devemos abrir o emprego”.

A troca indica que Bolsonaro dobrou a aposta num cenário pós-pandemia, quando a economia falará mais alto. Ele mesmo disse, “é um risco que corro, se agravar vem para o meu colo”. O problema é que o resultado dessa aposta do presidente envolve vidas, pessoas internadas nos hospitais em estado grave, ou em casa, doente, em isolamento. E, para chegar lá com credibilidade e apoio político no pós-pandemia, tem que passar bem por esse corredor polonês, algo que Bolsonaro até momento não conseguiu, dada a queda de popularidade registrada nas pesquisas e os panelaços estridentes em algumas cidades.

Bolsonaro segue fazendo tudo o que a Organização Mundial de Saúde não recomenda: Mantém apertos de mãos, fez inclusive solenidade de posse no Planalto, foi para o meio das pessoas quando da visita ao hospital de campanha, em Águas Lindas. Dentro da área do futuro hospital, usou máscara. Do lado de fora, dispensou o acessório que se torna cada vez mais obrigatório no mundo. (Na França, por exemplo, haverá distribuição de máscara às pessoas para a reabertura gradual do lockdown).

Enquanto o presidente faz o seu discurso, defendendo o retorno ao trabalho, o sistema de saúde de algumas cidades, como Fortaleza e Manaus, já entraram em colapso. Para completar, o novo ministro, Nelson Teich, até aqui se mostrou mais aceito a seguir as recomendações da área medica do que as determinações presidenciais. Chega pressionado pelo presidente e, até aqui, mesmo na lie do presidente ontem, não fugiu à defesa da ciência. É sério e, na própria posse, não demostrou a mesma alegria do presidente Jair Bolsonaro diante de ministros que também não pareciam felizes com a situação. Especialmente, depois do discurso de Mandetta, em que agradeceu o apoio de todos, inclusive dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio, citados nos bastidores da politica como aqueles que também pressionaram pela demissão do ministro. O “dia de alegria”, que Bolsonaro citou no início de seu discurso há pouco, não teve eco. A ordem é esperar, para ver o que virá da nova gestão da saúde.

Impedido de agir como quer pelo STF, Bolsonaro ficará mais à vontade após trocar ministro

Bolsonaro STF
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Ainda que Jair Bolsonaro tenha trocado o ministro da Saúde, o presidente não conseguirá fazer tudo o que quer em termos de fim do isolamento social ou mesmo uso indiscriminado da hidroxicloroquina. Quanto ao isolamento, o Supremo Tribunal Federal já definiu por unanimidade que governadores e prefeitos têm o direito de determinar o isolamento, se considerarem necessário. Em relação à cloroquina, também não está descartada uma judicialização, conforme bem lembrou o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, na entrevista ao CB.Poder, na semana passada.

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No meio dessa disputa, ainda que não consiga impor sua vontade com a troca, o presidente apostará nas manifestações que seus apoiadores farão nos próximos dias, em prol do retorno ao trabalho. Agora, Bolsonaro se sente mais “solto” para convocar os seus sem se preocupar em levar “bronca” do ministro.

Onde mora o perigo

Bolsonaro vai interferir nas nomeações do segundo escalão do Ministério da Saúde. Já tem muita gente na área técnica com receio de que venham aí mais alguns “bolsonaristas raiz”, sem carta branca para que Nelson Teich monte sua equipe.

Antes da demissão…

O presidente passou os dias em reunião com agentes políticos para tentar reduzir o dano político no Congresso com a decisão tomada, desde domingo, de tirar Luiz Henrique Mandetta do cargo. Ontem, conforme antecipou a coluna, foi a vez do presidente do PSD, Gilberto Kassab.

… preparar o terreno…

As conversas políticas não foram apenas para preparar o terreno, a fim de baixar o tom pela demissão de Mandetta. Pesou também a vontade de arrumar alguma base política para que a vida pós-pandemia não vire um pandemônio.

…e ampliar os 70

O presidente está muito preocupado com o fato de ter obtido apenas 70 votos, no plenário da Câmara, quando da votação do socorro aos estados e municípios, conforme antecipou a coluna, ontem, ao elencar os encontros políticos nos últimos dias. Bolsonaro agora está disposto a tentar ampliar esse número, atacando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). O problema é que, para essa ampliação, conversa justamente com o que os bolsonaristas chamam de “supra-sumo da velha política”.

CURTIDAS

Tira a saúde da sala e põe Maia/ Com a saída de Mandetta do governo, Bolsonaro coloca agora o presidente da Câmara como o alvo preferencial. O presidente não vive sem um confronto direto e acaba de eleger mais um, enquanto o novo ministro Da Saúde, Nelson Teich, fará as mudanças na equipe do Ministério.

Entre Mandetta e Bolsonaro…/ Até aqui, pelas reações dos políticos, a maioria dá sinais de apoio maior ao ex-ministro. O DEM, por exemplo, está cada vez mais distante do presidente.

Ninguém entendeu/ O presidente insistiu tanto no uso da hidroxicloroquina e não bateu bumbo sobre os testes com um novo medicamento, que o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, defendeu e anunciou como algo que tem 94% de chance de dar certo.

E tem mais/ Em entrevista à Rede Vida, na noite de quarta-feira, Pontes citou ainda que o Brasil já desenvolveu tecnologia para testes de detecção do novo coronavírus e está pronto para produção em larga escala.

Teich entre desafio de seguir o presidente e a ciência

Publicado em Covid-19, Governo Bolsonaro

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele assume com a missão de tenta conciliar a ciência com os desejos presidenciais, de fim do isolamento social. Ao longo dos últimos meses, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta ouvia todo os dias do presidente que era preciso que as pessoas voltassem ao trabalho. Mandetta dizia que queria a mesma coisa, mas, no momento, o distanciamento social era necessário, por causa do risco de colapso do sistema de saúde. Cidades como Fortaleza e Manaus já sofrem com problemas de vagas nos hospitais.

Teich chegou se colocando em “alinhamento total” com o presidente Jair Bolsonaro. Porém, no curto prazo, Teich não tem como fazer o que Bolsonaro deseja, ou seja, acabar com o isolamento social para não prejudicar a economia e, por tabela, evitar que as pessoas morram de fome. O ministro precisará, primeiro, conhecer a pasta e consolidar o processo de transição, algo que deve ocorrer em meio a um cenário de dias difíceis e com o avanço da pandemia no Brasil, onde o isolamento tem sido menor do que o considerado ideal pelas autoridades sanitárias para reduzir a velocidade de contaminação.

Até aqui, tudo o que o novo ministro anunciou em sua primeira fala foi exatamente o que era dito pelo antecessor: tem se ter informações sobre tudo o que está acontecendo, tomar decisões baseadas em dados técnicos, tem que testar as pessoas. Se seguir a ciência e não se render somente ao que deseja Bolsonaro, será mais um com quem o presidente terá problemas ali na frente para se somar àqueles que angaria depois de demitir um ministro que era aprovado por 76% da população.

O discurso do governo para a Saúde será colocar a culpa em Mandetta

Publicado em Covid-19, Governo Bolsonaro

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixa o cargo, mas o governo não vai dispensá-lo simplesmente. Está em curso a preparação de uma narrativa para jogar no colo do quase ex-ministro tudo o que der errado daqui para frente. Algo do tipo, Mandetta não planejou, Mandetta gastou, Mandetta subestimou, Mandetta demorou, Mandetta falou e não agiu, e por aí vai.

O quase ex-ministro já percebeu que esse jogo virá. Por isso, nas últimas entrevistas, tem dito que sempre agiu de acordo com a ciência, a saúde e o sistema único que vigora no Brasil. Também ressaltou que sua gestão foi marcada pela transparência, ou seja, não escondeu os números e a situação dos serviços de saúde.

Agora, sob nova direção, restará saber que tipo de autonomia o futuro ministro terá para se pautar pela ciência e não pelos desejos do Planalto e dos apoiadores mais fiéis do presidente da República. Esse será o primeiro teste: Atravessar a pandemia dentro do que requer a ciência, sem esconder dados e sem cair na tentação de ficar apenas reclamando do antecessor __ um médico que adquiriu o respeito e a admiração do corpo técnico do Ministério da Saúde. Portanto, se quiser ganhar a equipe, o novo ministro, seja quem for, terá que se equilibrar entre as determinações técnicas e os desejos palacianos, desprezando a narrativa em gestação nos escaninhos bolsonaristas, de desconstruir totalmente a imagem do quase ex-ministro.