Autor: Denise Rothenburg
O conselho de administração do Banco do Nordeste (BNB) marcou reunião às pressas para, nesta tarde, trocar o comando da instituição. A reunião está começando agora. Sai Romildo Rolim e entra Alexandre Borges Cabral, indicado pelo PL de Valdemar Costa Neto e também pelo PTB. Dinheiro ali não falta. São R$ 3 bilhões que o Fundo Constitucional do Nordeste tem no BNB para atender os microempreendedores da região nesses tempos de pandemia. Cabral é ligado ao PTB de Roberto Jefferson, partido que o indicou para presidir a Casa da Moeda no governo do presidente Michel Temer. A nomeação é via PL, porém o padrinho-mor é Jefferson. É a forma do governo atender a dois senhores e tentar reforçar sua base no Congresso.
O Centrão, aliás, não tem do que reclamar nessa temporada de festas juninas virtuais. Além do BNB, emplacou hoje Marcelo Lopes no FNDE, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem um orçamento de R$ 29,4 bilhões este ano. Ponte foi indicado pelo PP do senador Ciro Nogueira, com quem trabalha no Senado. O grupo que já serviu Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer volta a sorrir no governo do capitão Jair Bolsonaro, que, aliás, já foi filiado ao PP.
Coluna Brasília-DF
A demora na sanção da ajuda aos estados e municípios para que o governo pudesse conceder o reajuste salarial aos policiais do Distrito Federal foi vista com muita desconfiança por juristas. Há quem suspeite que o presidente Jair Bolsonaro agiu para unir o útil ao agradável.
Os policiais, realmente, têm trabalhado dobrado nesse período de pandemia, e nada mais justo do que serem contemplados com uma correção salarial. Porém, há quem veja aí um plus para o presidente da República: ter ao lado dele um contingente de braços cruzados, na hipótese de seus aliados cumprirem as ameaças de ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em tempo: quem pertence à polícia garante que a categoria jamais faria isso. Deus acima de tudo e Brasil acima de todos inclui, na visão dos policiais, a garantia da lei e da ordem. E essa garantia tem como premissa o respeito à vida, aos Poderes e ao patrimônio público. Entretanto, tem muita gente no STF preocupada em como agirão a base militar e os policiais em caso de atitudes mais extremadas por grupos radicais.
Tempo de auxílio depende do vírus
Na equipe econômica há quem defenda que o auxílio emergencial aos mais carentes dure enquanto a pandemia estiver em cena. A contar pelos cálculos de especialistas, vai até o fim do inverno. Quem vai decidir a data e o valor é o presidente Jair Bolsonaro.
Embratur, a próxima fronteira
Os partidos do Centrão crescem os olhos sobre a Embratur, que acaba de ganhar status de agência. Alguns que trabalham lá em cargos de comissão já foram avisados de que mudanças virão.
A briga pelos cantores sertanejos
Em tempos de pandemia, participar de uma live sertaneja tem sido o caminho para levar a mensagem a milhares de pessoas. Luiz Henrique Mandetta fez algumas no início de abril quando ainda era ministro da Saúde. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro era esperado em Frutal (MG), para participar de uma festa desse tipo.
Zona cinzenta
Com a campanha eleitoral ainda incerta, tem pré-candidato cogitando usar esse recurso de participação nas lives dos famosos. Hoje, não há nada que proíba políticos de serem “convidados” a esse tipo de programação.
Curtidas
Disputa das fakes/ Na consulta pública para o projeto de lei de combate às fake news, a turma da deputada Bia Kicis (PSL-DF), contrária à proposta, ganhava na noite de sexta-feira, com uma vantagem de seis mil votos. Ontem, porém, o placar virou. Às 14h35, o site de consulta pública do Senado registrava 267.792 votos a favor do texto e 259.397 contra o PL 2.630, de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Por falar em Alessandro…/ Ele vem sendo vítima de ataques virtuais desde quinta-feira, quando o projeto foi incluído na lista de prioridades do Senado para votação na próxima semana. O PL determina, por exemplo, que as redes sejam obrigadas a avisar os usuários quando se trata de um robô impulsionando uma mensagem.
A gravata de Bolsonaro/ Sempre atento aos detalhes, o jornalista Orlando Britto clicou a gravata do presidente Jair Bolsonaro no dia seguinte à ação da PF sobre blogueiros e empresários suspeitos de participação num esquema de distribuição de fake news. Era azul com fuzis amarelos. Em artigo no site Divergentes, Brito lembrou que o acessório estava de acordo com o discurso do presidente naquela ocasião, em que soltou um
“Acabou, p…!”.
Por falar em Bolsonaro…/ Economistas, hoje, são praticamente unânimes em afirmar que seria muito mais fácil, até para a retomada, se o presidente entendesse que o problema econômico é um vírus novo, para o qual não há vacina nem remédio que funcione sem trazer dificuldades para todos. Porém, ele prefere seguir no discurso de que a culpa é dos governadores, interessados em derrotá-lo em 2022.
Bolsonaro prepara o próprio levantamento das mortes por coronavírus
Coluna Brasília-DF
Depois da cloroquina… Vem aí nova polêmica relacionada à pandemia de covid-19. O presidente Bolsonaro está fazendo seu próprio levantamento a respeito das mortes por coronavírus. Ele suspeita que existam números superestimados. Aos amigos, tem dito que em breve terá novidades a respeito.
Sem apoio do MPF, inquérito das fake news corre risco de perder força
Coluna Brasília-DF
O fato de o Ministério Público Federal não ser uma das partes do inquérito das fake news e ter, inclusive, pedido seu arquivamento em abril de 2019, dará base para que a investigação a cargo do Supremo Tribunal Federal e da Polícia Federal seja combatida em todas as instâncias legais pelos aliados do presidente Jair Bolsonaro.
Obviamente, ameaças de morte, de invasão, de depredação e quem financia essas atitudes, seja de direita ou de esquerda, deve ser investigado.
Moral da história: enquanto STF e MPF não se acertarem sobre como deve ser a investigação a respeito dessa rede de milícias digitais e seus financiadores, que ameaçam os pilares do processo democrático, Bolsonaro e seus aliados terão munição para atacar o Supremo e seus ministros.
Siga o rastro do dinheiro
A investigação em curso no STF está centrada, agora, em apurar de onde vem o dinheiro para financiar os movimentos radicais. Há quem diga que, da mesma forma que o fim do envio de recursos aos sindicatos deu uma reduzida nos extremistas nos tempos de Lula, a redução dos financiadores conterá os extremistas de direita. Ontem mesmo, um site, o vakinha.com.br, suspendeu a arrecadação para o acampamento dos 300 na Esplanada.
Foca no Moraes
Aliados de Bolsonaro querem deixar a briga com o STF no caso das fake news restrita ao ministro-relator, Alexandre Moraes. Eles já tratam Moraes como um tucano, amigo de João Doria, infiltrado no Supremo para desestabilizar o governo e tentar promover o impeachment do presidente.
Forças Armadas no meio da guerra
As FAs fizeram chegar, a quem interessar possa, que não farão nada fora dos preceitos constitucionais. Ou seja, não tem essa de invadir o STF com um tanque, um cabo e um soldado.
Resumo da reunião ministerial/ Somos todos Weintraub. Bolsonaro nem de longe pensa em dispensar seu ministro da Educação.
Fora de combate/ O ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, não participou da reunião ministerial porque está em casa com conjuntivite.
Não contem com ele/ O comando do PSL fará “cara de paisagem” para esse inquérito das fake news. Cada deputado que se vire para buscar defesa.
O consultor/ O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra tem ido ao Ministério da Saúde para dar um apoio à equipe de Eduardo Pazuello. O ministro interino será mantido no cargo até o fim da pandemia. O futuro a Deus pertence.
Bia Kicis e deputados do PSL pedem impeachment de Alexandre Moraes
A deputada Bia Kicis (DF) e seus colegas Filipe Barros (PR) e Carlos Jordy (RJ) acabam de provocar no Senado um pedido de impeachment do ministro relator do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes. O inquérito, na avaliação dos parlamentares, é inconstitucional, não tem objeto definido e não tem a participação do Ministério Público Federal. Os deputados lembram que, em abril do ano passado, o ministro do STF ignorou a decisão da então procuradora-geral da Republica, Raquel Dodge, de arquivamento do inquérito. Os parlamentares consideram ainda que a ação que mira suas redes sociais fere a liberdade de expressão.
O pedido dos deputados pelo impeachment de Moraes não é o primeiro, a deputada Carla Zambelli já havia dado entrada em outro. A iniciativa vai reforçar a pressão desses parlamentares para que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, abra o processo contra Moraes. O Congresso, aliás, está se tornando cada vez mais o Poder capaz de tentar reequilibrar as relações entre os Poderes.
O presidente Jair Bolsonaro também não ficou de braços cruzados. Hoje cedo, ele visitou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que continua hospitalizado depois da cirurgia a que foi submetido no último fim de semana. Agora, Bolsonaro está reunido com seus ministros para buscar uma reação conjunta ao inquérito das fake news e ao chamamento do ministro Abraham Weintraub para que dar explicações sobre o que disse na reunião de 22 de abril, em que disse que chamou os ministros do STF de “vagabundos” e que eles deveriam estar na cadeia. Num cenário cada vez mais conturbado, a união entre os poderes está cada vez mais difícil. Se conseguirem conviver de forma civilizada em meio à pandemia, já será um feito.
Incomodado, Bolsonaro não comenta acusações de Marinho nem com aliados
Coluna Brasília-DF
O fato de Celso de Mello impor sigilo ao depoimento de Paulo Marinho, negando acesso a Flávio Bolsonaro, corre o risco de, mais uma vez, gerar constrangimento entre os Poderes. Entre aliados do presidente, prevalecia, ontem, a avaliação de que se o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril foi público, o depoimento de Marinho dentro do mesmo processo também deveria ser.
Muito além da reunião II
Flávio Bolsonaro não tem sossego desde que o Coaf detectou as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz. Agora, com as denúncias do seu suplente, Paulo Marinho, Flávio volta à “baila”. O assunto incomoda tanto o presidente a ponto de evitar, inclusive, falar a respeito com seus aliados.
Com operação contra Witzel, PF ganha ‘anticorpo’ contra discurso de perseguição de Bolsonaro
Coluna Brasília-DF
Ao agir com rigor nas investigações que levantaram suspeitas sobre o governador do Rio, Wilson Witzel, a Polícia Federal (PF) ganha uma espécie de anticorpo ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, de perseguição à sua família e amigos. Afinal, se alguma suspeita sobre adversários presidenciais precisam ser investigadas, o mesmo vale para seus aliados e familiares, se houver algo a ser apurado. Afinal, a lei deve valer para todos.
A avaliação de quem acompanha de perto o trabalho da PF é a de que o mesmo presidente que aplaude a PF, quando os delegados e agentes vão a fundo em busca de apurar se há alguma verdade nas suspeitas que recaem sobre os adversários, não poderá reclamar se os investigadores colocarem uma lupa nos aliados.
Guerra carioca
A citação ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no pronunciamento de Witzel deu ao Planalto a certeza de que o Rio será um território conflagrado daqui por diante. Ali, não tem mais trégua.
Fogo cruzado
Witzel ficará na cobrança para que tudo envolvendo o senador seja apurado, assim como o empréstimo que Bolsonaro disse ter feito a Fabrício Queiroz, lá atrás, e que o ex-assessor pagou parcelado, e incluiu um cheque à primeira-dama. Flávio foi às redes para responder, partindo para o ataque tanto ao governador quanto ao empresário Paulo Marinho, com quem compôs chapa em 2018 –– e, hoje, chama de “canalha” e “lobista”.
Outra pandemia
Os cruzamentos da Controladoria-Geral da União (CGU), que tentam detectar quem recebeu irregularmente o auxílio emergencial de R$ 600, apontaram doadores de mais de R$ 10 mil a candidatos nas eleições recebendo a ajuda agora. Os analistas suspeitam que muita gente teve o CPF usado para esquentar o dinheiro que chegou às campanhas. A ordem é rastrear tudo. Vai ter muita gente respondendo na Justiça Eleitoral.
Curtida
O favorito/ Em conversas reservadas, deputados têm apontado o líder do PP, Arthur Lyra (AL), como o mais forte candidato, hoje, para suceder Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados. Dentro do governo, há quem esteja preocupado, porque, embora seja o nome que se aproxima do Planalto, aliados do presidente não o veem como “pau para toda obra”.
É o que tem para hoje/ O problema, entretanto, é que o presidente não está numa posição confortável para indicar um candidato da sua total confiança e garantir que ele será eleito. Terá que aceitar o que for de maior consenso no Centrão.
Ninguém esquece/ Em sua época, a presidente Dilma Rousseff lançou um nome da sua confiança para concorrer contra Eduardo Cunha e perdeu. O desfecho levou à abertura de processo de impeachment.
Cambridge e os índios/ A Universidade de Cambridge fará um painel, sexta-feira, às 14h, para discutir o impacto da covid-19 em povos indígenas no Brasil. Na roda, o advogado e antropólogo Bruno Morais, a antropóloga Luísa Valentini, da USP, além do professor Bruno Pegorari, com doutorado na Universidade de Nova Gales do Sul, e o advogado Eliesio Marubo. O painel foi inspirado na decisão do desembargador Souza Prudente, que há quatro dias proibiu um pastor de manter contato com povos isolados por causa da covid-19. A hora é de proteger os povos de contaminação.
Sem conseguir processo de impeachment, oposição mira cinco ministros
Coluna Brasília-DF
Sem condições de levar adiante qualquer processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, os partidos de oposição vão centrar fogo nos ministros que apareceram no vídeo da reunião de 22 de abril. Além do ministro da Educação, Abraham Weintraub, a lista para convocação a dar explicações ao plenário da Câmara e do Senado inclui outros quatro: Ricardo Salles, do Meio Ambiente, para explicar a passagem da “boiada’ de decretos de desregulamentação; a ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, para esclarecer que história é essa de pedir prisão de governadores e prefeitos; o da Economia, Paulo Guedes, para explicar a “granada” do congelamento de salários e, de quebra, a frase em que fala em privatizar “essa p…”, referindo-se ao Banco do Brasil.
O quinto elemento da lista é o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, que funcionou como uma espécie de porta-voz de Bolsonaro, ao divulgar uma nota sobre o pedido da oposição para a apreensão do celular do presidente. Heleno, na avaliação dos líderes partidários, entrou na seara política, com ameaças à instabilidade institucional, em vez de centrar as atenções no serviço de garantir a segurança do presidente e de seus parentes. Nunca antes na história do GSI um ministro foi tão político no exercício da função. Porém, na avaliação do Planalto, Heleno não extrapolou um milímetro. Afinal, seu gabinete é de Segurança “Institucional”.
Peças fundamentais
Dois personagens são acompanhados de perto pelos fiéis escudeiros de Bolsonaro: o procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe legalmente, se for o caso, oferecer denúncia contra o presidente; o outro é o vice-presidente Hamilton Mourão.
A história ensina
O vice entrou na roda porque se verificou que, nos dois processos de impeachment –– de Fernando Collor, em 1992, e de Dilma Rousseff, em 2016 ––, os vices terminaram entrando no jogo político e ajudando no processo. Mourão, justiça seja feita, tem sido leal a Bolsonaro.
Nota & atitude
A nota aos brasileiros divulgada por Bolsonaro, falando de respeito entre os Poderes e membros do Legislativo e do Judiciário, foi bem recebida. Porém, será preciso unir o discurso à ação. Na reunião de 22 de abril, em que Abraham Weintraub chamou os ministros do Supremo de “vagabundos”, não houve sequer uma reprimenda pelo presidente.
Flávio na roda
Ao pedir para acompanhar o depoimento do empresário Paulo Marinho, hoje, sobre a tentativa de interferência na Polícia Federal, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pretende se precaver do que vem pela frente. Como o primeiro depoimento foi sigiloso, a ordem agora é tentar saber o que Marinho tem de provas e se organizar para não ser pego de surpresa, em caso de acusações diretas por parte de seu suplente.
Toca o barco/ Congressistas aliados a Bolsonaro comentam que Augusto Heleno submeteu a nota da semana passada ao presidente, antes de divulgá-la. Foi aquela sobre as consequências imprevisíveis por causa do pedido de apreensão do celular.
Devagar quase parando/ A ausência de sessões virtuais na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News começa a incomodar. Afinal, se a comissão de acompanhamento externo da pandemia da covid-19 está funcionando, a CPMI deveria seguir esse exemplo.
Serviço não falta/ Notícias falsas sobre a covid-19, por exemplo, têm se espalhado. Até aqui, nem o presidente, senador Angelo Coronel (PSD-BA), nem a relatora, Lídice da Matta (PSB-BA), se movimentaram para retomada dos trabalhos.
Vai dar o que falar/ A demora para a CPMI retomar os trabalhos provoca desconfianças de acordos entre os governistas e o PSD, que comanda da comissão. Quanto mais demorar, mais desconfiança vai gerar.
Aliás…/ As fakes news foram, inclusive, parte do discurso do novo presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso, que ressaltou a necessidade de atenção redobrada no período eleitoral: “Na medida em que as redes sociais adquiriram protagonismo no processo eleitoral, passaram a sofrer a atuação pervertida de milícias digitais, que disseminam o ódio e a radicalização”, constatou.
Coluna Brasília-DF
Os últimos lances políticos colocaram o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, numa situação de ser obrigado mais uma vez a reagir em defesa da instituição. Até aqui, o comandante do STF tentava amenizar a relação entre os Poderes, em busca do equilíbrio e da boa convivência. Porém, diante do video da reunião de 22 de abril e da nota do general Augusto Heleno, cuja leitura foi de ameaça à estabilidade, a visão é a de que o Supremo está sendo desmoralizado de forma injusta.
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Na reunião, Bolsonaro repreende os ministros que não o defendem, mas não faz o mesmo quando Abraham Weintraub, da Educação, xinga o Supremo e prega a prisão de seus ministros. Se Bolsonaro quiser retomar a política da boa vizinhança com outro Poder, terá que promover gestos nessa direção. Ou seja, Weintraub balançará mais no cargo e sua saída foi levada ao presidente por apoiadores políticos como um gesto de pacificação com o STF.
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Em tempo: a defesa institucional nada tem a ver com os inquéritos em curso no STF. Ali, a letra da lei será seguida à risca, da mesma forma que foi o envio do pedido da oposição, de apreensão do celular presidencial, à Procuradoria-Geral da República, para que dê seu parecer a respeito do mérito do pedido feito pelos oposicionistas, sem juízo de valor do STF. É o que determina a lei. E, assim será.
Centrão esfrega as mãos
Juridicamente, até aqueles especialistas em direito ligados a partidos de esquerda têm dificuldades em caracterizar, em conversas reservadas, um crime cabal do presidente da República com base apenas no vídeo que desnudou o modus operandi do governo em 22 de abril.
Porém, do ponto de vista político, o cenário está posto. Não para a aprovação de um processo de impeachment, mas para que o Centrão reforce ao presidente Jair Bolsonaro a necessidade de atender melhor aos seus deputados e senadores, leia-se participação no governo.
Governo na encruzilhada
Se tem algo que a reunião ministerial deixou patente aos políticos e ao mercado é que o governo, logo ali na frente, quando passar a pandemia, terá que optar por um caminho: sair da crise com investimentos do capital privado ou dobrar a aposta nos recursos públicos.
Marinho versus Guedes
Por enquanto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhou a parada, quando o presidente disse que é ele quem determina a política econômica. Porém, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, demarca território ao dizer que é preciso “deixar os dogmas de lado” e que a pandemia requer investimentos públicos.
Guedes versus Marinho
Lá pelas tantas, Guedes rebate Marinho, dizendo que “não tem música, não tem dogma, não tem blá blá blá”. O ministro da Economia reforça que o Brasil saiu na frente dos emergentes e da Europa em termos de programas sociais de auxílio e completa: “Se não existe algo, aqui é dogma.”
“Caravana patriota”/ Na sexta-feira, circulou por vários grupos de WhatsApp um apelo em busca de pessoas para completar um ônibus que sairia de São Paulo para Brasília neste fim de semana, para participar de uma manifestação em favor do presidente Jair Bolsonaro. Preço da passagem ida e volta: R$ 150. Em Brasília, cada um teria que arcar com suas próprias despesas de hospedagem e alimentação. A volta está marcada para hoje. Em plena pandemia, tem muita gente com medo de viajar.
O corpo fala/ O ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, se remexe na cadeira. Justamente, quando o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, diz na reunião que era preciso aproveitar o momento de atenção à pandemia de covid-19 para, “de baciada”, desregulamentar setores, esquecendo o Congresso. Tarcísio está ministro, mas é consultor da Câmara dos Deputados.
Por falar em Tarcísio…/ Na semana passada, representantes do Centrão tentaram espalhar que Bolsonaro pretendia demitir o ministro. Era mentira e, no Planalto, ficou a desconfiança de que um dos sonhos do Centrão é voltar a comandar a área de transportes, como fazia nos tempos do governo Dilma e Lula.
Damares, a exorcista/ A reunião ministerial já passava da metade quando o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro, defendeu a implantação dos resorts integrados, com uma parte dedicada aos cassinos, como parte importante para auxiliar na recuperação econômica do setor. Logo, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, reagiu: “Pacto com o Diabo!”
Enquanto isso, nas redes sociais…/ O volume de 625 mil interações com hashtags positivas ao presidente Jair Bolsonaro detectado pela consultoria Bytes na última sexta-feira chamou a atenção da turma da CPI das Fake News. A ordem é verificar se houve impulsionamento por robôs, uma vez que as hashtags negativas chegaram a 112 mil interações. Investigações à parte, a avaliação dos bolsonaristas, entretanto, é a de que o presidente sempre cresce politicamente quando há um conflito direto com qualquer setor. Ele ganhou espaço na política com esse confronto e tensão. E não largará as batalhas até o fim do governo.
Políticos desconfiam de que Carlos Bolsonaro montou sistema de informações para o pai
A citação do presidente Jair Bolsonaro, durante reunião ministerial, de que tem um sistema de informações particular que funciona deixou o mundo político desconfiado de que o filho 02, o vereador Carlos Bolsonaro, montou o tal sistema para o pai.
Na reunião do dia 22 de abril, Bolsonaro se queixa de não receber informações suficientes dos órgãos oficiais, como Polícia Federal e Abin, até que em determinado momento, afirma: “Sistemas de informações: o meu funciona. O meu particular funciona.”
Ao ver a declaração no vídeo da reunião divulgado ontem, políticos imediatamente lembraram de entrevista que o ex-presidente do PSL Gustavo Bebianno deu ao programa Roda Viva, em 2 de março. Na ocasião, Bebianno, que morreria de infarto dias depois, se referiu a uma operação de informações coordenada por Carlos Bolsonaro.
Embora Bolsonaro tenha dito, em entrevista à Jovem Pan, que recebe as informações de policiais amigos, como um “sargento do Bope”, não está descartado um chamamento de Carlos ao Congresso para, depois da fala do presidente, explicar a acusação de Bebianno.