ARI CUNHA – In memoriam
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil;
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Insensibilidade talvez seja a palavra que melhor, e de modo mais suave, consiga explicar o aumento 16,38%, concedido pelo Senado, aos ministros do Supremo Tribunal Federal, no apagar das luzes do atual governo e no fim de boa parte da atual legislatura.
Para um fato, até corriqueiro, dentro das conhecidas e seculares desigualdades sociais do país, os Três Poderes, conseguiram, ao mesmo tempo e de forma certeira, decepcionar toda a nação. Restou um gosto amargo para toda a sociedade e uma certeza de que ainda temos muito que evoluir para dotar a maioria das instituições do país de certo grau de probidade e zelo com a coisa pública.
A impressão que ficou gravada na mente da maioria dos brasileiros é que ainda existe um fosso imenso separando a população e suas elites. Ademais a manobra que resultou na mais pura vitória de Pirro, deu, aos contribuintes, a certeza de que as lideranças do país continuam divorciadas do restante da sociedade, principalmente da realidade vivida por milhões de brasileiros.
Para uma manobra, feita em cima do laço, deixou aos cidadãos a suspeita de que houve um estratégico e maquiavélico acordo de bastidores para encher os bolsos de suas Excelências, proporcionando um natal gordo para uma fatia minúscula da população, já muito bem aquinhoada.
Fica ainda, e o que é pior, a impressão de que poderá haver, mais uma vez, o tradicional toma lá, dá cá, melhorando o humor e, quem sabe, empurrando para as calêndulas, os muitos processos judiciais que grande parte dos parlamentares respondem naquela alta corte. Mesmo que não existam, de fato, nenhuma dessas razões, o que fala mais alto e, à vista de todos, é o momento inoportuno para a concessão de tal agrado.
Com isso e sem dúvidas, aumenta o desejo de reformas profundas em todas as instituições do Estado, que ponha um fim definitivo nessa dissintonia entre o alto e a base da pirâmide nacional. Não chega a ser surpresa, para ninguém, que desde a sua formação, o Brasil sempre foi um país marcado por profundas desigualdades sociais.
Não se justifica, portanto, sob nenhum aspecto, que o teto salarial desses cortesãos seja elevado ainda mais, sobretudo quando se sabe a enorme dificuldade vivida por dezenas de milhões de brasileiros, há anos em busca de emprego. O que surpreenderia é se algum ministro viesse a recusar o aumento inoportuno. Como teve coragem o representante do DF no Senado, senador Reguffe.
Surpreende ainda que pessoas, consideradas inteligentes, das quais se esperam um comportamento, no mínimo ético, tenha embarcado nessa canoa furada, ajudando a aumentar o descrédito dessas instituições junto à população. Fica ainda, dessa experiência astuta, a convicção de que estamos muito mal representados.
A frase que foi pronunciada:
“Há poucas coisas totalmente más ou totalmente boas. Quase tudo, especialmente da política do governo, é um composto inseparável dos dois, de modo que nosso melhor julgamento da preponderância entre eles é continuamente exigido”.
Abraham Lincoln, em discurso à Câmara dos Representantes em 20 de junho de 1848
Orçamento
A roda continua girando. Dezembro se aproxima e as emendas parlamentares precisam ser garantidas. A proposta orçamentária foi enxertada com mais de 9 mil emendas. Deputados e senadores definem as áreas onde serão aplicadas. O que o brasileiro desconhece é como monitorar o uso desses R$ 88,3 bilhões. É preciso divulgar onde e quanto cada estado aplicará a verba. A própria população cuida do resto. Segunda-feira, o deputado Alceu Moreira vai apresentar o parecer na Comissão Mista de Orçamento.
Tarefa hercúlea
Veja no blog do Ari Cunha um vídeo produzido pela TV Senado onde mostra as diversas tentativas de enxugamento da máquina pública por presidentes como ponto de partida administrativo. Daria certo e seria uma economia real, mas na coxia da política é possível vislumbrar uma ópera paralela. Esse é o ponto nevrálgico onde o presidente Bolsonaro deverá optar: o apoio de seus eleitores ou dos articuladores políticos.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Não começou, como esperávamos, a “Operação Valeta”. Todas as avenidas estão com valetas afundando, e, enquanto isto, a EBE continua abrindo outras. (Publicado em 05.11.1961)