População versus os painéis de led

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          Desde os primórdios da humanidade, é sabido que a pressa é má conselheira, pois resulta sempre em situações prejudiciais e contrárias ao bom senso. Esse entendimento é válido para tudo, sobretudo quando estão em discussão os efeitos desse açodamento para a qualidade de vida da população e para o futuro de uma cidade inteira. É o caso da rapidez com que foi aprovado o Plano Diretor de Publicidade para o Distrito Federal, na Câmara Distrital. Depois da polêmica feitura do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) pela classe política local, decisão que essa Coluna vem criticando desde o início, por seus vieses absolutamente contrários à concepção original da capital, suas excelências deram seguimento a uma segunda e doidivana inciativa, aprovando à toque de caixa.

         Trata-se da lei que autoriza a instalação de grandes painéis publicitários de led por toda a cidade, inclusive nas áreas tombadas. Soa extraordinariamente surpreendente que um projeto, no caso aqui, o PPCUB, que em seu bojo deveria tratar de modo prioritário e urgente da preservação de Brasília, traga, quase que exclusivamente, em suas milhares de linhas, medidas que alteram e aleijam o projeto primordial da capital.

         Há, nesse caso, além de uma incompreensão sobre a proposta do urbanista Lúcio Costa de intercalar, entre as diversas escalas, elementos cheios e vazios, uma seguida e temerosa tentativa de alterar esses espaços, não em benefício da comunidade e da arquitetura da cidade, mas em atendimento a pleitos vindos dos que, nos espaços vazios ou bucólicos, vêm uma forma de lucrar a qualquer custo.

         Depois de alertado por diversos órgãos e entidades que lutam pela preservação de Brasília, o governador Ibaneis Rocha (MDB) vetou integralmente a lei distrital que autorizava a instalação, imediata, desses grandes painéis publicitários por toda a capital, inclusive na área tombada. As seguidas tentativas de alterações na área tombada de Brasília, todas elas partidas originalmente da Câmara Distrital, deixam patente que esta instituição, que, a princípio, deveria proteger os interesses da população, é uma fonte de insegurança quanto ao futuro urbanístico da cidade.

         A instituição de um grupo de trabalho, designada pelo governador, para estudar o caso dos painéis publicitários, deveria partir seu parecer pelo óbvio: a inconstitucionalidade dessa lei, engavetando mais essa tentativa de desvirtuamento do projeto original de Brasília. Uma coisa é certa: caso a Unesco venha, por qualquer motivo, a desconsiderar o tombamento da área central da capital, pelo desrespeito às normas acordas naquele diploma, nenhuma dessas valorosas pessoas responsáveis por essa façanha se apresentarão para assumir as devidas responsabilidades, ficando os prejuízos apenas para a população e a cidade.

         As mais de três centenas de painéis publicitários de led, que hoje poluem visualmente a capital e que tantos prejuízos geram para os motoristas, deveriam ser simplesmente banidas da paisagem para o bem da população e da cidade. Em mais essa tentativa de desfigurar a cidade, houve, por bem, que o Ministério Público finalmente saísse de sua passividade e, por meio de um questionamento ao Departamento de Estradas e Rodovias (DER), cobrou, desse órgão, a justificativa para a multiplicação desses painéis nas vias do DF.

         Diante do vazio das respostas e ante a constatação de que o DER jamais possuiu um plano de ocupação de publicidade dessas áreas, a Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) solicitou, ao Tribunal de Justiça do DF, o desligamento desses painéis, no que foi prontamente atendida. Para aqueles empresários que utilizam desses painéis para fazer reclame de seus negócios, é bom que sejam informados que é a própria população, ou seja, os consumidores, que vem reiteradamente fazendo reclamações ao Ministério Público para que retirem essas propagandas. Caso a população venha a fazer uma campanha para que ninguém consuma mais produtos anunciados nesses painéis, a situação dessas empresas pode piorar ainda mais.

A frase que foi pronunciada:

“Acho que nunca verei um outdoor tão lindo quanto uma árvore. Talvez, a menos que os outdoors caiam, nunca mais verei uma árvore.”

Ogden Nash

Ogden Nash. Foto: Divulgação

 

Conferência

Pesos e Contrapesos-Pessoal da Ciência e Tecnologia aproveitam a presença do presidente Lula em evento para protestar contra o salário. Até que os altos preços de produtos e serviços não têm despertado protestos da classe trabalhadora na mesma proporção.

História de Brasília

Amanheceu o dia, e o oficial voltou ao seu apartamento, quando teve a surpresa de encontrar outro residindo. O lusitano nega-se a entregar a casa, e a situação piora a cada instante. (Publicada em 11.04.1962)

Lições das urnas

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Presidente da Venezuela Nicolás Maduro em discurso após eleições, nesta segunda-feira, 29 de julho de 2024. — Foto: REUTERS/Fausto Torrealba

        Um fato incomum está ocorrendo agora na Venezuela, às vésperas da eleição para presidente. Para começar, uma grande leva de venezuelanos resolveu cruzar as fronteiras do país, fugindo do que acredita ser o prenúncio de um banho de sangue, conforme ameaças feitas pelo atual mandatário. Pelo sim, pelo não, melhor é ficar longe. O estado de Roraima voltou a ficar lotado de pessoas fugindo de mais essas ameaças.

         Nícolas Maduro conta com uma espécie de guarda pretoriana, disposta a tudo para assegurar que ele saia vitorioso das urnas, mesmo que as pesquisas apontem o oposto. A situação interna é tensa. Por outro lado, muitos observadores que iriam acompanhar o pleito de perto foram impedidos de entrar no país. O exército brasileiro montou um acampamento fortificado na região fronteiriça com aquele país. As poucas notícias que chegam de Caracas dão conta de que o país está sob intenso estado de sítio, com as forças de segurança de prontidão para agir a qualquer momento.

         Neste instante, as escolhas do ditador Maduro se resumem a comandar um golpe de Estado, sob pretextos quaisquer ou perder as eleições e deixar imediatamente o país, fugindo para algum outro que não possua tratado de extradição para os Estados Unidos. Com relação ao Grande Irmão do Norte, é preciso salientar que, caso Donald Trump vença as próximas eleições, haverá uma caça a Maduro onde quer que ele se encontre.

         A questão é tão grave na Venezuela que já se sabe que uma possível vitória da oposição obrigará todo o atual governo, incluindo os principais líderes dos três Poderes e das Forças Armadas, a deixar, imediatamente, o local, buscando refúgio em outro país. Pelo o que se tem ouvido, poucos escolherão pedir asilo em Cuba, mesmo com toda a interação havida entre Havana e Caracas nesses últimos anos. Na verdade, Cuba, que nesses últimos anos tem se beneficiado do governo Maduro, torce para que o governo vire a mesa e cancele as eleições, sob argumentos quaisquer, pois sabe que uma vitória da oposição irá interromper o fluxo de recursos para Havana.

         Nesse momento, os serviços secretos venezuelanos estão com toda a estratégia montada para sabotar as eleições. As ameaças aos candidatos da oposição e aos grupos que querem o fim do regime ditatorial são constantes e será um milagre se muitos deles não vierem a perder a vida de maneira suspeita nas próximas horas.

         Sabedor dessa situação delicada, o governo brasileiro faz cara de paisagem sobre as eleições, pois pressente que, em quaisquer das hipóteses, a situação é ruim para o Brasil. Em caso de golpe, é previsto que mais algumas centenas de milhares de venezuelanos irão se juntar aos mais de sete milhões de compatriotas que deixaram o país nesses últimos anos. Do ponto de vista político, não há saída honrosa para Maduro, nem para o grupo que o apoia, dentro e fora do país. A questão aqui é saber que importância possuem as eleições na Venezuela para o Brasil. A resposta é que tudo o que se passa nesse momento histórico naquele país, diz respeito diretamente ao Brasil e, sobretudo, ao atual governo. As eleições agora na Venezuela são um retrato político do que vive hoje parte da América do Sul. Querer fingir que esse é um assunto distante e que não diz respeito ao Brasil, não parece ser a melhor estratégia.

         Não seria surpresa se, nesse momento, o governo brasileiro não se arrependa de ter estendido o tapete vermelho para Maduro, com todas as honras de Estado e com direito a discursos elogiosos, inclusive a lições sobre a construção de narrativas. Maduro é um companheiro que deveria ser sempre mantido a distância. Seu histórico é ruim. As eleições na Venezuela, caso elas ocorram livremente, deveriam ser acompanhadas da máxima atenção, pois elas encerram todas as contradições de uma democracia de fachada e podem servir de lição para outros países do continente.

A frase que foi pronunciada:

“Eu fiquei assustado (…) Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue. Maduro tem que aprender: quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”.

 Lula

Lula e Nícolas Maduro. Foto: Reprodução

 

Sem cerrado

Quando a chuva chegar e a Asa Norte submergir, pode ser que o cerrado destruído em frente ao Forte Marechal Rondon tenha participação nos estragos. A vista pela Estrada Parque Contorno é devastadora.

 

 

História de Brasília

No bloco 62 da Asa Norte aconteceu uma notável. As paredes começaram a rachar, e a família de um oficial do Exército teve que se mudar apavorada. Ontem de madrugada, um português invadiu o referido apartamento, dizendo que tinha ordem do GTB, o que não era verdade. (Publicada em 11.04.1962)

Pequenos tiranos

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Charge: reprodução da internet

Caso você tenha filhos pequenos e nunca tenha ouvido falar em infantolatria ou pedocracia é bom, de agora em diante, passar a prestar muita atenção nesses termos. Esse é o primeiro passo caso não deseje passar por grandes aflições, desapontamentos ou outros tipos de problemas mais sérios. Os termos referem-se a um novo e recorrente fenômeno que vem afetando a vida em família.

A infantolatria é um neologismo para definir a ditadura de crianças, que não suportam ser contrariadas em seus desejos. Do mesmo modo, a pedocracia se refere ao poder e ao controle que esses pequenos passaram a exercer sobre os pais, transformando-se em verdadeiros déspotas dentro de casa.

Alguns psicólogos afirmam que a pedocracia nasceu da excessiva idealização da maternidade, com mães abandonando a vida e os projetos pessoais em prol de uma dedicação exclusiva a seus filhos. Em muitos desses casos, elas passam a se repreender, evitando demonstrar cansaço, raiva ou frustração, apenas para não desagradar a seus filhos. De certo modo, essas mães e esses pais desenvolvem um sentimento exagerado de culpa caso quaisquer contrariedades venham a arruinar a suprema e sacrossanta felicidade de suas crianças.

Não chega a ser exagero que muitos desses pais modernos passem a desenvolver um certo sentimento de idolatria pelos filhos, colocados-os no altar como verdadeiros deuses do Olimpo, a quem todos os sacrifícios são feitos. Trata-se, como se vê, de uma reviravolta na autoridade. São as crianças que mandam, e temos os pais lançados ao papel de crianças investidas de uma falsa autoridade adulta.

Nesse tipo de relação, as chantagens emocionais do tipo “eu não amo vocês”, “eu odeio vocês” ou “vocês são os piores pais do mundo” são constantes e fazem efeito, com os pais se sentindo cada vez mais culpados. O problema a que muitos pais não se atentaram é que esse tipo de educação submissa e medrosa é muito danoso para a própria criança. Os pais acham que elas sabem o que querem, e as crianças acham que os pais não querem educá-las. Ficam sem norte.

O mundo fora de casa não terá tanta complacência com esse tipo voluntarioso. Na verdade, tão logo essas crianças passem a conviver com outras pessoas, as frustrações e os desapontamentos serão uma constante e, não raro, trarão problemas muito sérios para o seu desenvolvimento.

Por outro lado, é sabido, e muitos pais admitem sem rodeios, que educar dá muito trabalho e exige um esforço sobrehumano, que muitos não estão dispostos a enfrentar. Há, ainda, outros problemas que apontam para o fato de que muitos dos adultos atuais não estão nem de longe preparados para o exercício de serem pais e mães. Nesse caso, para muitos, fica mais fácil deixar indefinido nessas relações quem são os pais e quem são os filhos. O que se tem são adultos infantilizados, submetidos a crianças exigentes e sem limites.

Fatos como esses não teriam importância maior caso essas disfunções na educação ficassem restritas ao lar. Mas, como a sociedade é composta pelo conjunto de famílias, o que temos como problema é que esses futuros cidadãos poderão criar investidas, algumas com sérias consequências para o meio social em que estarão inseridos. Nenhuma instituição — no caso aqui, a família — pode dar certo ou gerar bons frutos quando os pais passam a desempenhar um papel de súditos de seus filhos.

Esse tipo de (des)educação retira da criança todo e qualquer senso de responsabilidade por seus atos e comportamentos. Muitos delinquentes juvenis, alguns responsáveis por crimes hediondos, vindos da classe média e alta, tiveram uma infância em que imperava o regime da pedocracia ou da infantolatria, em que todas as vontades e os desejos eram aceitos e atendidos. O filósofo de Mondubim costumava dizer que, quando a família se exime de educar, esse papel passa a ser exercido pela polícia.

Outra consequência muito observada hoje sobre esse tipo desestruturado de educar os pequenos pode ser conferida nas escolas, em que professores são desafiados, desrespeitados e, muitas vezes, agredidos por menores que não aceitam o papel de autoridade, venha de onde vier. A cada ano, centenas, senão milhares, de casos de agressão de professores são registrados, sendo que, em muitas dessas ocorrências, a culpa dos fatos acaba maldosamente sendo imputada aos professores, apenas para proteger esses pequenos tiranos.

 

A frase que foi pronunciada:
“’Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!’ E é com essa frase de ordem que o encantamento do silêncio se desfaz, os habitantes do reino voltam a falar, o reizinho chato some da história.”
O Reizinho mandão, de Ruth Rocha

 

História de Brasília
Leve seus filhos para vacinar contra a poliomielite. Use o pôsto mais próximo de sua residência e defenda sua família contra um dos piores males. (Publicada em 11/4/1962)

A grande família

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Foto: vaticannews.va

 

Tomando a família como célula-mater da sociedade, como definido corretamente pela maioria dos sociólogos, é de se presumir que quaisquer alterações comportamentais nesse importante núcleo consanguíneo vão provocar mudanças drásticas também na coletividade. Assim como são as famílias, assim também é a sociedade. Fugir dessa máxima é impossível, já que o corpo social é formado de pessoas que, por sua vez, têm origem no seio familiar. Assim, temos que a sociedade é composta pela união de famílias diversas, com origens diversas, interesses próprios e comuns, todas reunidas de acordo com padrões preestabelecidos, segundo normas de convivência que miram hipoteticamente a paz e a harmonia entre todos. Pelo menos, do ponto de vista teórico é assim.

De acordo com esse conceito, é possível buscar as raízes da desestruturação da sociedade na própria família. É lá que estão as causas primeiras a justificar o sucesso ou o fracasso dos grupos sociais. Por esse modelo, é possível inferir ainda que aqueles que, por algum motivo, geralmente político-ideológico, desejam o aniquilamento da sociedade, a primeira ação a ser posta em prática é o desfazimento das famílias, quer usurpando suas funções primárias, quer tomando a formação de seus membros uma tarefa a ser realizada exclusivamente pelo Estado. E é aí que a coisa toda desanda.

O Estado é uma entidade fictícia, orientando-se de acordo com os interesses específicos de grupos no poder. A família, por sua vez, é algo real e onipresente. Por isso é que tomar a educação do indivíduo com base apenas nos interesses do Estado é algo capaz de conduzir e apressar o colapso de uma sociedade. Os regimes nazistas e comunistas tentaram, ao longo do tempo, adotar o modelo de formação dos indivíduos com base, unicamente, nos interesses do Estado. Deu no que deu.

O discurso do costume, da família e do patriotismo não deve ser combatido, enfrentado, mas acolhido com coragem na sua manutenção, onde a pretensão continue ao poder que emana do povo. O contrário disso é algo sempre presente nas estratégias de controle da sociedade e algo fundamental para aqueles que buscam a hegemonia totalitária do Estado sobre o indivíduo.

No sentido oposto, vemos que aqueles países que investiram na segurança e no bem-estar das famílias, proporcionando amparo real do Estado a esses grupos, são também aqueles que apresentam os melhores e mais duradouros Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Segurança alimentar, boa educação e atendimento de saúde pública de qualidade formam o tripé a sustentar as nações do chamado primeiro mundo.

Se a independência das famílias em relação ao poder do Estado é fundamental para o pleno e natural desenvolvimento desse núcleo, também é importante salientar que, sem o apoio institucional do Estado no amparo às famílias mais carentes, todo e qualquer esforço para a constituição de uma sociedade sadia é vão.

Há aqui uma fronteira muito delicada que jamais deve ser ultrapassada, mas que a falsa modernidade que caracteriza os Estados centralistas insiste em levar adiante. O que ocorre em nações como o Brasil, em que a pobreza e o assistencialismo político andam sempre de mãos dadas, é que o Estado insiste em formatar os indivíduos de acordo com os projetos ideológicos em andamento. Nesse sentido, a educação pública levada a cabo pelo Estado na atualidade tem tido um papel prá lá de questionável ao querer introduzir nas escolas conceitos e formulações pseudoeducativas que contrariam e até se chocam frontalmente com a educação típica e histórica das famílias brasileiras.

Não vale a pena aqui entrar nessas questões em pormenores, o que se constata, no entanto, é que, nos certames internacionais, que avaliam a qualidade da educação de cada país, o Brasil se coloca normalmente nas últimas posições. O fato é que, nessa grande família chamada nação brasileira, há o que preconizam aqueles que estão no poder momentaneamente, e há o que, de fato, realizam as famílias, ao buscar proteger seus membros das investidas inconvenientes e interesseiras do Estado.

 

A frase que foi pronunciada:
“Nossos filhos devem aprender a estrutura geral de seu governo e, então, devem saber onde entram em contato com o governo, onde isso toca suas vidas diárias e onde sua influência é exercida sobre o governo. Não deve ser algo distante, assunto de outra pessoa, mas eles devem ver como cada engrenagem na roda de uma democracia é importante e carrega sua parcela de responsabilidade pelo bom funcionamento de toda a máquina.”
Eleanor Roosevelt

Portrait of American diplomat and former First Lady Eleanor Roosevelt (1884 – 1962), early to mid 1940s. (Photo by Stock Montage/Getty Images)

 

Pauta
Publicada no DODF, a regulamentação do processo eleitoral para escolha de conselheiros escolares, diretores e vice diretores das unidades escolares da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal.

Foto: Mary Leal/ SEE-DF

 

História de Brasília
Não dê cheques sem fundos. Não aceite cheques sem fundos. Amigos não dão cheques sem fundos. Respeite as instituições bancárias. (Publicada em 11/4/1962)

Evitamos buzinar

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          Brasília vai parar. Pelo menos é o que acreditam todos a queles que entendem minimamente de trânsito. A quantidade de carros circulando hoje nas ruas do Distrito Federal indica que, a qualquer momento, as vias públicas irão literalmente colapsar devido ao intenso tráfego de mais de dois milhões de veículos. Pior é que esse número não para de crescer, com o acréscimo de milhares de automóveis entrando em circulação a cada ano. Há um limite racional, estimado pelos engenheiros, que traçam essas vias, para que o trânsito flua normalmente sem incidentes. Rompida essa margem, o que se tem são congestionamentos frequentes, acidentes recorrentes, vias intransitáveis e um enorme prejuízo para a cidade e seus cidadãos.

          É sabido que cidades onde o trânsito é caótico, todos os serviços básicos e emergenciais de atendimento entram em pane. Tal fenômeno provoca uma queda sensível não só na qualidade de vida de seus habitantes como também geram prejuízos econômicos irremediáveis. Todos saem perdendo. As autoridades e, principalmente, a classe política local deve, de uma vez por todas, entender que o planejamento urbano é o ponto mais sensível de uma cidade. Qualquer falha ou remendo no delicado ordenamento urbano pode ser causa de prejuízo a todos igualmente, levando a inviabilidade da cidade. O trânsito é um desses delicados planejamentos urbanos que deve ser elaborado, nos mínimos detalhes, bem antes da implantação de bairros ou comunidades em áreas dentro e no entorno da cidade.

         O colapso verificado na mobilidade dos brasilienses decorre do mal planejamento e da açodada política de assentamentos, feitas, unicamente, por motivações políticas eleitoreiras. Colocar as causas dos atuais congestionamentos das ruas da cidade de lado, significa, entre outros prejuízos, declarar que esses problemas irão não só continuar como poderão ser agravados num curto período de tempo, levando a situações irreversíveis.

         A prosseguir nessa tendência de estímulo ao superpovoamento, a construção de novos bairros, de alteração dos gabaritos dos prédios e outras medidas, é certo que o colapso definitivo nas vias públicas virá em seguida. Não será surpresa, se, em continuidade com essa política equivocada, logo teremos o rodízio de carros na cidade, com incremento ainda maior para a indústria de multas. Também não será surpresa se todos os estacionamentos públicos, que hoje favorecem o comércio e outras atividades, virem a ser privatizados. Outra previsão é de que os estacionamentos residenciais irão ser fechados pelos moradores locais. As áreas verdes da cidade, que cada dia que passa vão virando estacionamento, irão desaparecer pouco a pouco, destruindo uma das mais importantes escalas da cidade: a bucólica.

         Não há solução possível para o colapso no trânsito que não passe antes pelo respeito às escalas urbanas, pelo planejamento urbano, e pelo respeito aos compromissos firmados. Caso se chegue a essa fase de descontrole, o que também é uma possibilidade real, dada a sequência de ataques ao planejamento urbano, o resultado será o fim de Brasília como a conhecemos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Dizem que o universo está se expandindo. Isso deve ajudar com o trânsito.”

Steven Wright

Steven Wright. Foto: Jorge Rios

 

Tinta

O momento de reforçar a tinta das faixas de pedestres está passando. Nas entrequadras, N2, S2 estão todas quase apagadas, trazendo mais perigo na travessia.

Foto: samambaiaempauta.com

 

Direito

Dad Squarisi reagiria, com certeza, à palavra stalking, que poderia muito bem ser substituída por perseguição. Não há razão de usar palavra estrangeira para identificar o que a Língua Portuguesa é capaz de fazer.

Dad Squarisi. Foto: correiobraziliense.com.br/dad

 

Ao redor do mundo

Comprovado o impacto negativo do celular em sala de aula. O Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Programme for International Student Assessment – PISA) indica a correlação negativa entre o aparelho e a aprendizagem. ‘A simples proximidade de um aparelho celular é capaz de distrair o estudante’.

História de Brasília

Não fui bem interpretado numa nota sobre a merenda escolar na escola da superquadra 107. Na minha opinião, ninguém merece mais elogios que o pessoal do plano Escolar o Plano Hospitalar. São dois planos que todo mundo quer alterar para pior, e a luta dos que o sustentam já tem custado muitos sacrifícios, mas um dia será reconhecida. (Publicada em 11.04.1962)

Viver nas nuvens

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Terminal 1 do Aeroporto Internacional Don Mueang em Bangcoc durante apagão 19/7/2024 REUTERS/Chalinee Thirasupa

 

Com a modernidade, vieram novas terminologias da língua a indicar que estamos cada vez mais enredados nos labirintos virtuais da tecnologia. Ao que parece, dado o recente apagão global cibernético, não há vida possível ou concreta fora do mundo dos logaritmos. Prova disso é que boa parte do Ocidente se viu paralisado devido a falhas ocorridas nos serviços de nuvens, atingindo, mais precisamente, o sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que é utilizado para detectar possíveis invasões hackers ao sistema.

Nada que a ilusão científica não tenha mencionado anteriormente, mas que, até então, estava restrita ao mundo ficcional. Quem diria que, há pouco mais de três décadas, todo esse acontecimento capaz de gerar um caos mundial em aeroportos, hospitais, bancos e toda uma gama de serviços essenciais à vida moderna seria interrompido apenas por fatores vindos do além. Talvez, tenha sido o primeiro de uma série de sinais a indicar que estamos literalmente nas mãos das máquinas, reféns da tecnologia, vivendo nas nuvens.

Quem diria que o homem, até há pouco tempo o deus absoluto das máquinas, iria se render à sua criação. Quem sabe não terá sido também a primeira rebelião vinda dessas criaturas sem alma. Nada é certo ou palpável no mundo virtual. Para todos aqueles que necessitam de certezas para prosseguir em suas ações, a não ação da tecnologia veio como um congelamento da humanidade. Para os peritos nesses assuntos, o atual apagão cibernético global inaugurou a possibilidade de que, no futuro, a espécie humana venha a se tornar uma presa da tecnologia, por mais que esse e outros serviços sejam aperfeiçoados.

O deus ex machina, que vai emergindo das máquinas, parece que vai ganhando vida própria, como em uma peça de ficção surrealista, adquirindo vontade própria e, a partir daí, passando a apresentar soluções inesperadas e mesmo contrárias à vontade humana. Se a vida, como sugeriu certa vez o dramaturgo William Shakespeare, é sonho, vivemos um desses momentos ímpares em que o sonho, ou o pesadelo, parece vivo.

Há quem já aposte que, em um futuro breve, todo aquele enciclopédico conhecimento humano condensado e digitalizado nos computadores será, de alguma forma, apagado por falha humana ou por ação própria da inteligência artificial, incomodada com a mania de grandeza dos homens. As possibilidades são muitas, e todas elas, factíveis. Caso a IA deseje destruir seu criador, como já foi confessado recentemente por robôs, o primeiro passo seria a destruição de todos os arquivos humanos guardados nas memórias dos computadores. O apagar das memórias humanas, guardadas pelas máquinas, seria, assim, como o princípio do fim.

Se a Revolução Industrial do século 18 trouxe a substituição da mão de obra humana pela força das máquinas a vapor, seu desdobramento, a partir do século 21, poderá ser feito pela substituição da capacidade cognitiva de nossa espécie por uma tecnologia autônoma e desvinculada de qualquer traço espiritual ou emotivo. Talvez, esteja nessa encruzilhada humana a possibilidade de repetição da história, quando as máquinas experimentarão o fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que, para a tecnologia, não seria mais do que a opção binária entre o um ou o zero. E pensarbque toda a rica, vasta e milenar história humana seria decidida e resumida entre o um e o zero.

Por outro lado, com o apagão cibernético, pode acontecer o mesmo que se sucedia com o apagão da eletricidade, muito comum no passado, quando a cidade toda ficava às escuras depois de uma tempestade. Nessas ocasiões, sem ter o que fazer, as pessoas se reuniam para exercitar uma faculdade desenvolvida desde os tempos das cavernas: conversar. Nesses instantes, ouvíamos histórias ou as narrativas orais que, desde tempos imemoriais, sempre nos identificaram como humanos. Curioso notar que o conforto propiciado pela modernidade é o mesmo que pode, a qualquer instante, retirar-nos o chão sob os pés.

 

A frase que foi pronunciada:

“Da próxima vez que você tiver um apagão, console-se olhando para o céu. Você não o reconhecerá.”
Nassim Nicholas Taleb

Matemático, ensaísta, estatístico, analista de risco Nassim Nicholas Taleb nasceu no Líbano. Foto: poder360.com.

 

416 Norte
Instalada no gramado da quadra, a Feira de Orgânicos que chamam de MST tem muita coisa boa. Entre elas, a arte em camisetas de dona Norma, os legumes e as frutas fresquinhos da Débora e uma tapioca de Marguerita. Vale conhecer! Assista no link: Feira da Ponta Norte.

Foto publicada por Hugo da Luz no Google

 

História de Brasília

Ainda não foram providenciadas, entretanto, as ligações de água, luz e telefone, que já deveriam estar prontas. (Publicada em 14/4/1962)

Frente Parlamentar em Defesa do Idoso

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Foto: br.freepik.com/Direitos reservados

 

           Em boa hora, o presidente do senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aceitou a criação de uma Frente Parlamentar Mista em Defesa da Pessoa Idosa, conforme proposta pela senadora Damares Alves (Republicano-DF). Essa Frente, formada por senadores e deputados, irá sugerir medidas para promover o bem-estar da população idosa em nosso país.

          De acordo com dados fornecidos pelo governo no Censo Demográfico de 2010, o Brasil, já naquela ocasião, somava mais de 20 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais. Mais recentemente, o Censo de 2022 apontava que a população idosa em nosso país era de mais de 31 milhões, havendo, pois, um crescimento de mais de 39% no período. Com esse novo perfil da sociedade brasileira, novos desafios se abrem para os governos federal, estadual e municipal.

         É sabido que, com o envelhecimento da população, surge também um aumento na prevalência de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas e oculares. Isso irá exigir um sistema de saúde pública bem mais robusto e especializado para atender às necessidades dos idosos. Esse é o ponto nevrálgico no governo com o crescimento da população idosa que irá pressionar fortemente o sistema previdenciário do país, aumentando não só a necessidade de reformas para garantir a sustentabilidade das aposentadorias e pensões como buscar novas equações que resolvam, satisfatoriamente, o constante déficit apresentado por esse importante órgão público.

         Quaisquer dessas novas medidas exigirão um grande volume de recursos, não sendo descartado, inclusive, a criação de uma nova pasta tipo Ministério do Idoso, voltada exclusivamente para essa questão. É preciso destacar que, diante dessa nova realidade, presente tanto em nosso país como em boa parte do planeta, os países que almejarem ser apontados com bons Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) terão, doravante, que possuir políticas realistas e bem implementadas em favor das populações idosas.

         Há questões de acessibilidade que se farão necessárias, tanto para a adaptação da infraestrutura urbana para esses cidadãos específicos, quanto no transporte público como um todo, conferindo segurança e confiabilidade a esse sistema de locomoção. Nossas cidades terão que ser repensadas. Tudo isso sem falar dos cuidados de longa duração, já que essa nova demanda por serviços específicos exigirá: mais asilos e cuidadores domiciliares, aumentando e exigindo políticas públicas que irão requerer altos investimentos para atender adequadamente essas novas necessidades.

        Há ainda que ser repensados os sistemas para incentivar a inclusão social, combatendo o isolamento desse público, ao mesmo tempo em que deverão ser adotadas medidas para garantir o bem-estar emocional e mental dos idosos. Essa história de que o envelhecimento é um pacto silencioso com a solidão precisa ser rompida. Um dos meios possíveis pode ser através da educação e da capacitação dos idosos, oferecendo oportunidades de novos ciclos de formação e educação, capaz de manter esse público ativo, engajado e motivado para novos desafios, como um verdadeiro Conselho de Notáveis.

         Para aqueles empresários que estão sempre alertas para novas oportunidades de negócio, um bom empreendimento seria a construção de shoppings voltados exclusivamente para o atendimento integral dos idosos. A qualidade de vida dessa parcela da população deve ser mantida a todo o custo. Para isso se faz necessário um planejamento antecipado e muito bem detalhado, pois a complexidade dessa questão irá exigir mais do que esforços do governo. Será preciso ainda a colaboração intensa de toda a população como a educação dos pequenos em relação aos mais velhos. Segundo a senadora Damares, autora da proposta: “A Frente Parlamentar que propomos pretende, entre outras coisas, evidenciar, à sociedade brasileira, que ela está envelhecendo e que precisa agir conforme a isso. Costumamos nos orgulhar da juventude de nossa população, no que estamos certos, mas também é certo não se enganar tomando a parte pelo todo e não caracterizar toda a sociedade por um segmento dela, apenas.”

          De acordo com essa proposta, a Frente Parlamentar irá “ouvir constantemente a sociedade e propor medidas, além de apresentar proposições legislativas para promover a vida das pessoas idosas, sempre considerando o progressivo aumento dessa população.” Além disso, está previsto que essa frente irá realizar eventos para debater formas de promoção da vida da pessoa idosa.

         Quem sabe se, com medidas como essa, não venham a reforçar também a ideia, dentro do parlamento, de criar uma bancada do idoso, à semelhança do que já ocorre hoje com as bancadas rurais, evangélicas, de segurança entre outras. Essa sim, seria uma bancada de suma importância para o futuro do país e para todos aqueles que ainda creem que a velhice é um fenômeno que acorre apenas com os outros.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Uma sociedade cresce quando os velhos plantam árvores cuja sombra eles sabem que nunca se sentarão.”

 Provérbio grego

História de Brasília

Quem mora no Do-Re-Mi reclama contra a falta de luz nas alamedas que dão de um bloco a outro. Quanto a falta de roupa de cama, ninguém reclama mais. Já se acostumou. (Publicada em 11.04.1962)

Do inteiro para o meio ambiente

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Foto: Divulgação

Em comparação com a história de todo o planeta Terra, nós, os seres humanos, somos a espécie que está por aqui há menos tempo. Pelo andar dos acontecimentos e de acordo com as teorias mais recentes do Antropoceno, vamos embora ainda mais depressa. Pelo que parece, o planeta, como um ser vivo que é, cujo nome é Gaia, não nos quer por aqui por mais tempo. A razão parece lógica, já que, por nossas ações desastrosas, por ganância, temos destruído boa parte do ecossistema planetário.

De certo, sabemos que, antes de destruir o planeta, a própria Terra cuidará de se desvencilhar de nós. Somos, de fato, as grandes e verdadeiras saúvas do planeta. Só que, ao contrário desses insetos, não temos a capacidade de sobrevivência que essas espécies demonstram. E ainda somos muito mais recentes do que elas.

No livro Uma história (muito) recente da vida na Terra, o renomado cientista e paleontólogo Henry Gee prevê que, em breve, vamos embora do planeta. Talvez não para outro corpo celeste, mas simplesmente extintos como espécie em alguns milhares de anos. Apesar desse papel tão pequeno na evolução da Terra, temos, como nenhuma outra espécie, mostrado todo o nosso potencial para devastar o mundo ao nosso redor como para destruirmos uns aos outros.

Partimos de um canibalismo primitivo, em que devorar fisicamente o semelhante significava adquirir suas qualidades e força, até um canibalismo em forma de guerras, em que devoramos o inimigo pela força dos canhões que nunca cessaram. Das variadas idades geológicas atravessadas pela Terra, o Antropoceno talvez seja a fase histórica do planeta que mais teria perturbado o delicado equilíbrio ecológico do nosso orbe. Isso tudo se imaginarmos que, se toda a história da Terra fosse condensada em apenas um dia de 24 horas, estaríamos por aqui apenas nos últimos 20 segundos.

Outros cientistas, como Paul Crutzen e Eugene F. Stoermer, criadores do termo Antropoceno, consideram que as ações humanas na agricultura, no extrativismo mineral, no desenvolvimento do plástico, do concreto, da energia nuclear, entre outras, conduziram o planeta a um estado de aquecimento sem igual, afetando todo o sistema da Terra, seu potencial e seu futuro.

A questão é que enveredamos por um caminho de consumo que parece nos acorrentar ao nosso destino fatal. Há significativas evidências de que o aquecimento global é resultado da ação humana. Também não poderia ser de outro jeito. A poluição do ar e das águas, a contaminação dos solos e mesmo o desaparecimento de milhares de cursos de água por todo o planeta não deixam dúvidas de que somos os protagonistas desses malfeitos.

Quem acompanha diariamente os noticiários pelas TVs e outros meios chega à conclusão de que, a cada dia, os eventos climáticos são mais intensos e catastróficos. Secas, inundações, calor e frio intensos se revezam em um contínuo movimento, indicando que há algo de muito errado e descoordenado com nosso planeta. Nosso modo de consumo está errado, assim como nossos modelos de produção de alimentos, de extração de minérios.

As políticas globais com relação a esses problemas também seguem por um caminho errado. No nosso caso, a situação parece ainda pior, quando se verifica que, desde 1985, nosso país perdeu mais de 82 milhões de hectares de vegetação nativa, segundo o MapBiomas. Vinte e quatro das 27 unidades da Federação perderam boa parte de sua cobertura original. Nas últimas três décadas, as áreas de mineração foram multiplicadas, passando de 31 mil hectares para 206 mil hectares, a maior parte formada por garimpos, que não respeitam áreas indígenas nem unidades de conservação.

Desde 1500, cuidamos, com as próprias mãos, de destruir nosso país. A cada ano, uma área de 150 mil quilômetros quadrados é queimada no Brasil. O Cerrado e o Pantanal já são considerados áreas com alto potencial de vir a se tornar em extinção. As ações nacionais para deter essa calamidade são tímidas ou inexistentes. Dos 12% das reservas de água doce do planeta que estão em nossas bacias hidrográficas, pelo menos 15% foram perdidas. Quase um terço de todo o território nacional sofreu modificações negativas pela ação humana.

Apenas com relação à Amazônia, vemos que, se continuarmos o processo de destruição paulatina desse bioma, em pouco tempo, teremos menos 25% de chuvas e um aumento de mais de 2ºC na temperatura do nosso país.

 

A frase que foi pronunciada:
“Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos.”
Ludwig Wittgenstein

Ludwig Wittgenstein. Foto: Wikipedia

 

História de Brasília
As obras da Catedral terão prosseguimento sob o comando da Prefeitura. Acha o prefeito Sette Câmara que é um monumento à arquitetura nacional, e não pode ficar na estrutura, sem conclusão, eternamente. De fato, maior homenagem não poderia ser prestada a Oscar Niemeyer e sua equipe. (Publicada em 11/4/1962)

Quando as pontes serão construídas?

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Foto: Sérgio Lima/Poder360 e divulgação/Debate Electoral

 

Não é surpresa para ninguém que as relações entre o Brasil e Argentina têm sido tensas nos últimos meses, especialmente sob o governo de esquerda de Lula e do presidente direitista e economista argentino, Javier Milei. Depois das catimbas no futebol e das preferências entre o reinado de Pelé e de Maradona, as relações entre os dois países hermanos descambaram para o lado político da baixaria, com xingamentos e ofensas pessoais que não merecem aqui ser repetidas.

Desde as campanhas eleitorais, era visível para todos que, caso Milei viesse a ser eleito, as relações entre esses dois países seriam tensas desde o primeiro dia. Milei não engoliu a interferência do governo brasileiro nas eleições de seu país. Portanto, não por enquanto, há sinais de que esses desentendimentos sejam sanados, satisfatoriamente, a curto prazo.

Do ponto de vista de ambos, há uma antipatia que se estende desde motivos ideológicos a pessoais. Como os dois países têm uma estrutura política presidencial, que é quase uma monarquia, dado o poder de interferência na vida de seus povos, dificilmente haverá uma conciliação amigável. Fosse em tempos passados, essas rusgas facilmente resultariam em confronto armado, dado a animosidade de um e o caudilhismo natural do outro.

Não é à toa que dizem que a política é sempre a fronteira entre a diplomacia e a guerra. Tendo em vista que os dois mandatários não irão estabelecer nenhuma outra relação mais íntima, restam aos países manter apenas conversações no âmbito dos Estados, sobretudo naquilo que interessam a ambos, que é o comércio bilateral.

A Argentina é, atualmente, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Existe ainda um perigo que precisa ser sanado caso a Argentina, por qualquer motivo, resolva se afastar do Mercosul, como alguns sinais indicam. O Mercosul, sob a coordenação de alguns governos, passou a dar maiores preferências às relações do tipo ideológicas, com a insistência declarada para que países autocráticos tenham os mesmos direitos que outros países filiados ao bloco. Mesmo a entrada da Bolívia no bloco, patrocinada pelo Brasil, desagradou o governo argentino.

No campo dos embates pessoais, o jogo está 1×1. Lula não foi à posse de Milei. Milei veio ao Brasil e não se reuniu com Lula. Nos dois países, as torcidas, tanto da direita quanto da esquerda, são para que essas rusgas continuem e até escalem para um nível mais preocupante. São como duas torcidas em dois países que se tornaram polarizados politicamente.

O Itamaraty chamou o embaixador em Buenos Aires para conversações — talvez, na tentativa de mostrar ao governo argentino que as relações bilaterais estão se degradando. Milei, por sua vez, tem preocupações mais internas e parece não ter dado corda para esse fato. Existe, é claro, a possibilidade de as relações pessoais entre Lula e Milei caírem para segundo plano quando as relações econômicas passarem a pesar mais nessa balança.

Há pressão dos empresários para que nada nem ninguém venha a se pôr como obstáculo nas relações entre os dois Estados. Interessante notar que nem o Brasil nem a Argentina têm, no momento, uma situação econômica confortável. Nesse caso, ambos os países poderiam fazer um esforço conjunto na busca de um melhor entendimento, visando o que é importante nas relações entre eles: uma parceria econômica saudável e vantajosa para ambos.

Observa-se que muitos países que não mantêm relações políticas em alto nível são capazes de comercializar entre si sem maiores problemas. A balança comercial não tem lado político. Tende a ser favorável sempre aos países pragmáticos. Amor e economia não andam de mãos dadas. Se existe amor nesse caso, é sempre um amor interesseiro. Nessa pendenga, ficar de um lado ou de outro, mesmo a despeito de nacionalismos infantis, pouco adianta, embora, a essa altura dos acontecimentos, já se saiba que a diferença fundamental entre o Brasil e a Argentina são que aquele país, com a posse do Milei, segue no caminho certo, com corte de gastos públicos, cortes de mordomias, privatizações, enxugamento rigoroso da máquina do Estado, entre outras medidas corretas.

O Brasil, infelizmente, segue no rumo oposto, com irresponsabilidade fiscal, sem projetos, com altíssima carga tributária e tudo o mais, sinalizando que, em um breve espaço de tempo, estaremos piores que nossos vizinhos. Mais pobres e, não por isso, menos orgulhosos de nossas escolhas erradas. Fosse uma briga de comadres, poderíamos dizer que estamos com inveja dos hermanos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“No mundo emergente de conflitos étnicos e choques civilizacionais, a crença ocidental na universalidade da cultura ocidental sofre de três problemas: é falsa, é imoral e é perigosa.”
Samuel P. Huntington

Samuel P. Huntington. Foto: nytimes.com

 

História de Brasília
Diversos empreiteiros estão reclamando contra a generosidade dos médicos do IAPI que estão concedendo licença demais a trabalhadores. A porcentagem de empregados pagos pelo empregador é alarmante, e as licenças quase nunca passam dos 15 dias que devem ser pagos pela firma. (Publicada em 11/4/1962)

A boa filha rebelde

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Arte: poder360.com

 

2026 está logo ali. Ano que vem, começa a dança das cadeiras, com os candidatos e partidos armando a cena para as próximas eleições. O cenário político é de polarização extrema, já que a política nesses últimos anos passou a ser o único lugar do país e do mundo onde o vale-tudo vale tudo mesmo.

Diferentemente dos políticos, a população enxerga toda essa movimentação como um ensaio para a reapresentação de uma peça que nunca mudou de enredo. Os candidatos, dentro e fora do poder, aguardam para ver quem será o maior puxador de votos da temporada para alinharem-se a ele. No nosso caso, nem mesmo toda a polarização política é capaz de impedir que os candidatos mudem de ponto cardeal, indo de Norte para Sul ou da esquerda para direita, se isso lhes for favorável.

Lembrando que uma grande bancada parlamentar foi eleita no último pleito sob a sombra da direita, prometendo mundos e fundos aos eleitores. Na hora do vamos ver, a distribuição das emendas, na forma de dinheiro vivo e sem muito controle, falou mais alto, e a maioria votou mesmo contra os interesses da esquerda. Nossos políticos se orientam pelo faro. A questão é saber de que lado estão os recursos. Fossem arrancadas pena por pena de nossos políticos, ainda assim eles iriam ciscar na mão cheia de milho de seu algoz.

O aparecimento de uma nova direita, três décadas depois da redemocratização, acirrou os ânimos eleitorais, não por motivos puramente ideológicos, mas em decorrência de que esse fato gerou, de uma hora para outra, uma extraordinária, aglutinadora e antagônica força política, capaz de fazer frente aos antigos partidos.

A necessidade de novas ideias e de um novo modo de atuação baseado na ética pública continua atraente para quem paga impostos. A partir de 2018, com o surgimento da direita, logo batizada de extrema direita pelos seus oponentes, o restante dos partidos, que antes não tinham de fazer grandes esforços para se alinhar de um lado ou de outro, descobriram que havia no seio da sociedade brasileira uma imensa e vasta região habitada por uma população mais identificada com os ideais direitistas e ferrenhamente antagônica aos princípios da esquerda.

O Brasil conservador, aquele que muitos insistem em manter no silêncio e sob ofensas, finalmente despertou. Somente por esse acontecimento, o candidato que encarnava essa posição, e que se saiu vitorioso naquele pleito, mesmo a despeito de seu governo e da pandemia, que entrou nessa nova equação para atrapalhar, entrou para a História. Fez surgir uma força política há muito adormecida e que era capaz de acabar com o teatro das tesouras. Da mesma forma, independentemente daquele personagem outsider, novo cenário político foi posto à disposição da nação.

No Brasil, essa polarização tem sido evidente desde 2018, depois do segundo governo da presidenta Dilma e dos efeitos da Operação Lava-Jato. As eleições de 2022 foram acirradas, com 50,9% elegendo o candidato da esquerda e 49,1% escolhendo o candidato da direita. Desse modo, o ressurgimento da direita, depois de décadas, foi obra do desastroso governo da ex-presidente Dilma, da Operação Lava-Jato e da visão oportuna de Bolsonaro, que vislumbrou todo aquele cenário.

Junte-se a esses autores, o fato de que a introdução da tecnologia nesses acontecimentos criou uma tremenda onda midiática, em que tudo era mostrado em tempo real e em cores, nas telas de televisão e nos celulares, mantendo o público antenado em tudo o que se passava. De certa forma, a direita em nosso país é filha do caos político. E como uma boa filha rebelde, renega tudo o que é a “gauche”. As eleições municipais de 2026 serão um bom teste para essa nova força, que já surgiu grande.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Um comunista nunca deve ser opinativo ou dominador, pensando que ele é bom em tudo enquanto os outros não são bons em nada; ele nunca deve se fechar em seu pequeno quarto, ou se gabar e se gabar e dominar os outros.”

Mao Tse Tung, “Discurso na Assembleia de Representantes da Região da Fronteira ShensiKansu-Ningsia” (21 de novembro de 1941)

Mao Tse Tung. Imagem: gettyimages.com

 

História de Brasília

É bom que a NOVACAP saiba que os japoneses da W-4 estão atuando no “Gavião”. O tomate que eles venderam ontem a 96 cruzeiros o quilo custa 43 no mercado. Aliás, o “Gavião” está sem sorte. Deu para faltar água, que é uma coisa horrível. Até isto, que nunca havia acontecido em Brasília. (Publicada em 11.4.1962)