Povo solitário

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Andre Penner/ap

 

Ao longo do período de quarentena, que tudo indica que será esticado sine die, por conta do aumento significativo no número de mortes nesses últimos dias, tempo haverá para que os analistas sérios, que existem em grande quantidade nesse país, principalmente fora do governo, possam extrair desses acontecimentos um grande e precioso número de lições que serão de grande valia para o futuro dos brasileiros e, quiçá, dos próximos governos.

A lição fundamental e que, à primeira vista, parece até uma questão primária é que, independentemente da situação de bonança nas finanças públicas e de estabilidade econômica interna e externamente, o Brasil tem que estar equipado e pronto para quaisquer eventualidades, seja ela uma guerra, um cataclisma ou o que for. A afirmação mal agourenta de um famoso jogador, de que copas do mundo não se fazem com hospitais, deve ser, doravante, tomada como uma lição básica às avessas, de forma que todos entendam que a salvação de uma nação passa bem longe da construção desses estádios de futebol.

Seria um exercício deveras complexo contabilizar todo o dinheiro público que, apenas nas últimas duas décadas, escoou pelo ralo da corrupção e da malversação de recursos. Por certo, seriam na ordem de centenas de bilhões de reais. Mas raciocínios dessa natureza não contam na contabilidade fria de mais de cinco mil mortos, até esse instante.

O destino, esse ser excêntrico, prega suas peças de modo sinistro. Estádios milionários e vazios ou transformados em hospitais de campanha, miram hospitais à míngua de recursos e superlotados de moribundos. É dessa contradição cruel que vamos retirando os tijolos para construção de nosso dia a dia improvisado. Não é dos ricos a culpa da miséria. Mas dos governos que, com a corrupção e o desdém aos que empreendem, viram as costas aos que vivem à mingua.

Uma outra lição valiosa que pode ser aprendida com a atual crise e, quem sabe, deverá ser usada apenas num futuro próximo, quando os governantes encararem as adversidades com o olhar de estadistas, dotados apenas de humanismo e sinceridade, é que mais do que gestores do dinheiro dos contribuintes, o país e sua gente necessitam de gestores de vidas.

Com o alcance avassalador e ainda desconhecido do vírus, as vítimas vão sendo transformadas em números estatísticos que crescem sem piedade, obrigando brasileiros a serem enterrados, lado a lado, em valas comuns, sem ao menos as condolências familiares e os rituais cristãos, transformando celebrações fúnebres e solenes num semear de mortos em terra árida.

E daí, se nenhuma colheita resultar dessa faina macabra? Importa, como se prega hoje, a pátria acima de todos, como terra que vai cobrindo a sete palmos os soldados desconhecidos dessa batalha inglória. Essa talvez seja a maior e mais preciosa de todas as lições extraídas dessa pandemia: estamos sós, irremediavelmente sós.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nós os pobres, somos como o algarismo zero, que por si só nada vale e faz valer a cifra que a ele se junta – tanto mais quanto mais zeros lhe forem acrescentados.”

Mateo Alemán (1547-1614), escritor espanhol

Mateo Alemán (Imagem: reprodução da internet)

 

Sine

Parte da população que estava desempregada antes da chegada do coronavírus, está em situação delicada. O Sine que estava sempre cheio de esperança com a carteira de trabalho na mão, agora de portas fechadas, empurra uma classe, que prefere o trabalho a mesadas do governo, para a informalidade. Única forma de sobreviver, por enquanto.

Print: sine.com.br

 

Diga que fico

Ron DeSantis está de olho na população brasileira que mora em Miami. Com o descompasso do coronavírus lá e cá e a evolução do contágio, o conselho do governador é que quem não voltar agora fique pelo Brasil até a pandemia passar. Se for necessário, os voos do Brasil serão cancelados.

Ron DeSantis (Foto: clickorlando.com)

 

Fantoches

Mais uma da Organização Mundial da Saúde. Segundo a instituição, a imunidade conferida pela infecção ainda é questionável. Colocam dúvida até nos testes que estão sendo feitos. Aqui no Brasil, a bióloga da USP Natália Pasternak diz que o teste dar negativo não quer dizer nada. Fica difícil acreditar numa pandemia com tanta desinformação junta.

Foto: Christian Mang/Reuters

 

Fato grave

Muita calma nessa hora. Há algo de podre no reino da Dinamarca. A tentativa de assassinato ao presidente da República, Jair Bolsonaro, foi toda filmada. Movimentação em torno do alvo, depoimentos suspeitos anteriores ao fato, fuga para fora do Brasil de agentes suspeitos. A cortina do cenário está prestes a abrir depois do intervalo.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Antes mesmo de funcionar, a Creche Ana Paula já está sofrendo reformas. Eu bem que disse que aquele barraco não servia. (Publicado em 06/01/1962)

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