Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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O ano de 2025 encerra-se no Brasil não como um período de consolidação, mas como um ponto de inflexão. Longe do discurso oficial de estabilidade e reconstrução, os fatos revelam um país institucionalmente tensionado, economicamente pressionado e socialmente anestesiado por políticas de curto prazo. O Brasil que entra em 2026 não é o retrato otimista apresentado em palanques e peças publicitárias, mas uma nação que convive com crescimento baixo, endividamento crescente, desconfiança institucional e um Estado cada vez mais caro e menos eficiente. Embora indicadores pontuais tenham sido usados para sustentar a narrativa de recuperação econômica em 2025, a análise fria dos dados mostra um quadro bem mais modesto.
O crescimento do PIB permaneceu anêmico, sustentado, majoritariamente, por consumo financiado, gastos públicos e programas de transferência de renda, não por aumento consistente de produtividade, investimento privado ou inovação. A taxa básica de juros manteve-se em patamar elevado durante praticamente todo o ano, reflexo direto da desconfiança do mercado em relação à política fiscal. O discurso de responsabilidade não se traduziu em prática: despesas obrigatórias continuaram a crescer, novas renúncias e subsídios foram criados e o arcabouço fiscal mostrou-se incapaz de impor disciplina real ao gasto público. O resultado foi previsível: dívida pública em trajetória ascendente; Inflação resistente, especialmente em serviços; crédito mais caro e restrito para famílias e empresas; investimento privado contido, sobretudo fora dos setores favorecidos pelo Estado. Para o cidadão comum, o impacto foi direto: custo de vida alto, endividamento recorde das famílias e perda gradual de poder de compra, mascarada por auxílios que não corrigem distorções estruturais.
A entrada em vigor da reforma fiscal em 2026 é apresentada como solução histórica para o caos tributário brasileiro. No entanto, o texto aprovado e sua regulamentação indicam que a simplificação não virá acompanhada de redução do peso do Estado, pelo contrário. A reforma reorganiza tributos, mas não enfrenta o problema central: o nível excessivo de gastos públicos. Ao contrário, o desenho do novo sistema cria condições para elevação silenciosa da carga tributária, sobretudo sobre consumo e serviços, exatamente onde estão as classes média e trabalhadora. Empresas menores, prestadores de serviços e profissionais liberais tendem a ser os mais afetados, enquanto setores com maior capacidade de lobby preservam benefícios.
A promessa de neutralidade arrecadatória carece de credibilidade diante da realidade fiscal do país. Em 2026, o cidadão sentirá os efeitos de forma concreta dos preços ajustados ao novo modelo, dos repasses de custos ao consumidor final, do aumento da complexidade na fase de transição e da maior dependência de arrecadação para sustentar o gasto público crescente. Um dos dados mais reveladores de 2025 é o número de brasileiros dependentes, direta ou indiretamente, de programas assistenciais. Longe de ser apenas uma política de proteção social, o modelo atual consolidou um sistema de dependência permanente, sem contrapartidas efetivas de qualificação, produtividade ou emancipação econômica. O Estado ampliou sua presença como provedor, mas não como indutor de autonomia. O resultado é um país com baixa mobilidade social, mercado de trabalho informal persistente, estímulos distorcidos à produtividade e o uso político da assistência social.
Em 2026, esse modelo torna-se ainda mais delicado, pois coincide com ano eleitoral, aumentando o risco de expansão de gastos sem lastro fiscal e com objetivos claramente eleitorais. A CPMI do INSS, que poderia representar um divisor de águas no combate a fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas, caminha para um desfecho frustrante. Após meses de trabalhos, o que se viu foi a diluição de responsabilidades, a postergação de decisões e a tentativa clara de encerrar o tema sem enfrentar os verdadeiros beneficiários do esquema. Fraudes sistemáticas, descontos indevidos, conivência de instituições financeiras e falhas graves de fiscalização vieram à tona, mas sem consequências proporcionais à gravidade dos fatos. A tendência para 2026 é que o relatório final resulte em recomendações genéricas, sem responsabilização criminal efetiva ou reformas estruturais profundas.
Para milhões de brasileiros, a mensagem é clara: o Estado falhou em proteger quem mais depende dele e não demonstrou disposição real de corrigir o sistema. O colapso do Banco Master foi mais do que um escândalo financeiro: foi um alerta sobre a fragilidade da supervisão bancária e a politização das instituições de controle. Operações temerárias, emissão de títulos sem lastro e falhas graves de fiscalização expuseram um sistema que reage tardiamente e protege-se corporativamente. A liquidação extrajudicial, os atrasos no ressarcimento de credores e o empurra-empurra entre Banco Central, Judiciário e órgãos de controle corroeram a confiança no sistema financeiro e regulatório. Em 2026, os efeitos persistem do passado recente com a judicialização prolongada, a insegurança para investidores, os questionamentos sobre a independência real dos reguladores e o desgaste institucional profundo. O episódio reforça a percepção de que, no Brasil, a punição é exceção, não regra, especialmente quando interesses políticos e financeiros se entrelaçam.
Politicamente, 2025 aprofundou a polarização e enfraqueceu a confiança nas instituições. O discurso de “nós contra eles” não apenas permaneceu, como foi incorporado à lógica de governabilidade. O Congresso opera sob chantagem orçamentária, o Judiciário assume protagonismo excessivo, e o Executivo governa por narrativas. A consequência é um ambiente de instabilidade crônica, no qual decisões estratégicas são adiadas, reformas estruturais evitadas e o debate público empobrecido. Em 2026, ano eleitoral, esse cenário tende a se agravar. A disputa não será por projetos de país, mas por controle de narrativas, máquinas estatais e alianças circunstanciais. O cidadão, mais uma vez, assiste como espectador de um jogo que não resolve seus problemas concretos.
O Brasil que entra em 2026 não colhe os frutos de um ciclo virtuoso, mas paga o preço de escolhas políticas baseadas em curto prazo, expansão do Estado e negligência fiscal. A reforma tributária não resolve o gasto excessivo. O assistencialismo não gera autonomia. As investigações não produzem justiça. E as instituições mostram sinais claros de desgaste. O desafio do cidadão brasileiro em 2026 será sobreviver economicamente, manter senso crítico e exigir responsabilidade, num ambiente onde promessas abundam, mas resultados concretos escasseiam. Mais do que esperança, o momento exige lucidez. Mais do que discursos, exige fatos. E mais do que alinhamentos ideológicos, exige verdade.
A frase que foi pronunciada:
“As leis são teias de aranha por onde passam as moscas grandes e as pequenas ficam presas.”
Honoré de Balzac

História de Brasília
Minha vizinha ai do lado passou quase uma hora presa num elevador, na manhã de ontem. Durante todo êste tempo estiveram telefonando para o plantão da Atlas, e ninguém atendia. (Publicada em 13.05.1962)





