Modais mais sustentáveis

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: jornaldebrasilia.com.br

 

         No atual modelo de mobilidade urbana, os impactos econômicos negativos possuem, atrás de si, um conjunto a compor todo esse desastre, diversos e antigos fatores, todos eles decorrentes de anos de falta de planejamento a longo prazo. Mas é fundamental destacar que esses fatores são consequência direta de um sistema de transporte mal planejado desde o início, por meio da dependência excessiva do carro particular, o que sempre acarretou graves deficiências estruturais em todo o sistema.

         De fato, a priorização histórica do automóvel individual em detrimento de alternativas sustentáveis — como um transporte coletivo de qualidade, trens urbanos e interurbanos, transporte fluvial e mesmo a democratização da aviação — revela o desinteresse crônico dos vários governos em desenvolver uma malha integrada, eficiente e segura, como vista nos países de primeiro mundo.

         A ausência de investimentos consistentes em transporte público de massa leva ao congestionamento diário das vias urbanas, aumento da poluição, perda de produtividade e, como os dados mostram, a um custo altíssimo em vidas humanas e recursos públicos. Além disso, o Brasil ainda sofre com a quase inexistente concorrência na aviação civil, que mantém as passagens aéreas entre as mais caras do mundo, limitando o acesso a deslocamentos mais rápidos e seguros para boa parte da população. Tudo isso sem mencionar a insignificância da malha ferroviária existente hoje em nosso país.

          Para um país continental como o nosso, os 30.129 quilômetros de extensão ferroviária são pouco ou quase nada. Quase 23 vezes menor que o Brasil, a malha ferroviária no Japão é de 27.268 quilômetros de extensão. Por outro lado, os custos em vidas e materiais provocados pelo trânsito no Brasil são significativos. Um acidente de trânsito em área urbana custa, em média, R$ 8.782,00, enquanto um acidente que resulta em ferimentos custa R$ 17.460,001. Além disso, em média, cada acidente custa à sociedade brasileira R$ 72.705,31, e um acidente envolvendo vítima fatal tem um custo médio de R$ 646.762,942. Portanto, os números apresentados não são apenas estatísticas; eles denunciam a falência de um modelo de mobilidade que ignora o transporte como direito social e insiste em soluções ineficientes, caras e excludentes. Bastaria repensar o sistema, promovendo a diversificação dos meios de transporte, incentivando modais mais sustentáveis e assegurando que as políticas públicas priorizem a coletividade em vez do privilégio ao transporte individual.

         Observem que esses números não são apenas consequências inevitáveis do crescimento urbano — são resultado direto de décadas de negligência no planejamento de transportes. O transporte coletivo é, em geral, ineficiente, superlotado e mal distribuído; há pouco ou nenhum esforço governamental em implementar sistemas de trens urbanos e interurbanos, tampouco em explorar o vasto potencial do transporte fluvial no país. Soma-se, a isso, a aviação civil brasileira, dominada por monopólios com poucas empresas e marcada por preços altos e baixa cobertura, dificultando alternativas viáveis de deslocamento.

         Enquanto isso, a cultura do carro particular segue sendo estimulada por políticas públicas que favorecem rodovias, estacionamentos e isenções fiscais à indústria automobilística, em vez de investir em mobilidade urbana integrada. O resultado é uma tragédia cotidiana: cidades travadas, altos índices de acidentes, mortes evitáveis e um custo social que recai sobre todos, especialmente os mais pobres.

         A rodoviária do Plano Piloto, como de resto a grande maioria das estações rodoviárias espalhadas pelo Brasil, reflete, em imagens, esse modelo caótico do transporte urbano. São sujas, poluídas por gases de escapamento, inseguras e superlotadas. Os ônibus interurbanos seguem o mesmo modelo, são antigos, e representam um enorme perigo para passageiros que neles embarcam. Reverter essa lógica e construir um sistema de mobilidade mais justo, seguro e diversificado, que valorize o transporte coletivo, os modelos mais sustentáveis e a vida nas cidades, ainda é um sonho distante.

         O progresso econômico obtido com o transporte sobre rodas, que nos anos cinquenta e sessenta ajudou o Brasil a crescer, hoje se mostra obsoleto e pouco seguro. Os riscos são altos e encarecem muito o preço das mercadorias transportadas. Esse e outros problemas não são desconhecidos pela população e pelo governo. A questão aqui está em saber porque, então, no entra e sai de governos, essa situação continua permanecendo sem solução. Quando é que a extensão da malha ferroviária entrará como programa permanente de governos? Afinal, não há progresso viável, sustentável e duradouro sem ferrovias.

          Já no passado, era comum acreditar que as ferrovias eram os caminhos reais do progresso. A prova é que todos os países que logram se desenvolver o fizeram por meio das ferrovias. Do mesmo modo, todos os países que ainda experimentam as agruras do subdesenvolvimento possuem em comum a ausência de malhas ferroviárias.

A frase que foi pronunciada:

“O segredo da mobilidade é integrar os sistemas”.

Jaime Lerner

Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

 

História de Brasília

E por falar no ex-presidente, numa eleição nas treze escolas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, para escolha da personalidade que deveria dar, êste ano, a aula inaugural, os alunos preferiram ao ex-presidente Juscelino, o deputado Paulo de Tarso. (Publicada em 03.05.1962)

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