Legendas e serpentes

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Charge: Elias / Agência RBS / Agência RBS

 

Em tempos de crise, é comum aos homens, desde o surgimento das primeiras civilizações, se fecharem em si em busca de um caminho individual que resguarde a sua integridade e a dos seus entes próximos. Nesse caminho individual em busca de salvação, e longe das convenções e da sociedade, a única estrada a ser trilhada é aquela que aponta em direção oposta às multidões e, principalmente, à política dessas multidões e ao seu modo de vida coletivizado, sem identidade e sem ética.

Tem sido assim desde os primórdios e, de acordo com a natureza humana, será dessa forma ainda por muito tempo. Esse parece ser o contexto exato em que o Brasil, assim como muitos países pelo mundo, vive neste momento. Há na civilização ocidental um claro descrédito em relação aos modelos atuais de governo. No Brasil, esse fenômeno é mais claro e tem sua origem não especificamente no modelo de governo, mas na qualidade dos políticos e dirigentes que orbitam os Poderes da República e que, para a maioria da população, está num patamar entre o medíocre e o ruim.

Claro que o descrédito nos homens que operam o governo acaba se refletindo no próprio conceito do que seja política. Como consequência desse desencanto generalizado, a população tende, na primeira oportunidade que surge, votar e eleger candidatos que se apresentam contra o sistema. Não importando quem sejam eles.

A renovação parlamentar, que, na última eleição, ficou em quase 50%, a maior em muitas décadas, assim como a eleição do presidente Bolsonaro, um candidato pouco expressivo e que justamente se autoproclamava antiestablishment, demonstrou, na prática, a tendência dos eleitores em votar com o objetivo apenas de derrotar o que acreditam ser a velha política. É o voto contra. E esse é um tipo de voto que tem seu custo elevado as alturas e que, não raro, decepciona.

A velha política se apresenta mais resistente que o voto de protesto e mesmo que o ato de não votar, e por um motivo básico: tem, entre nós, raízes históricas e bem fundadas, pois trata de promover financeiramente todos aqueles que a ela aderem sem quaisquer freios éticos. Para isso, a filiação e a possibilidade real de qualquer novo postulante vir a ser lançado como candidato oficial de uma legenda, por si só, já representa um filtro realizado pelos donos dessas agremiações.

Disso depreende-se que votar em novos candidatos filiados a velhos partidos na esperança de derrotar o antigo modelo Estado que muitos denominam de cleptocracia jamais será possível sem uma reforma política que acabe com o modelo de partidos que temos na atualidade.

Outro meio, e talvez mais curto, para inaugurar o que seria uma nova República é aceitar a fórmula de candidaturas em avulso, com postulantes libertos das algemas partidárias. De toda a forma, o perigo maior está em os eleitores deixarem de lado o voto de protesto, por sua ineficácia, e partirem, em massa, para uma atitude antipolítica, com desinteresse total pela política, o que poderia, de uma vez só, escancarar as portas do Estado para governos de características anárquicas e extremistas.

Posto dessa maneira, não é difícil imaginar que é do ovo chocado no ventre das dezenas de legendas que aí estão que podem nascer o governo e o Estado que todos temem.

 

 

A frase que foi pronunciada
“Tudo o que pode ser dito, pode ser dito claramente.”
Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais autores da virada linguística na filosofia do século XX

Foto: Wikipedia

 

 

Biblioteca
A Câmara dos Deputados e o Senado preparam um evento no auditório Nereu Ramos, a partir das 9h, com várias reuniões de discussão sobre o tema.

Foto: camara.leg

 

Sem rodeios
Rosely Sayão, educadora, foi indagada por uma mãe sobre por que razão é tão difícil dizer não a uma criança. Como se diz não ao pequeno? Perguntou a marinheira de primeira viagem, numa angústia indisfarçável. “Olha para ele e diz ‘não”. A verdade é que os pais não querem bancar o que vem depois do não. A birra, o choro, a revolta. Mas tem de bancar, pois é função deles fazer com que a criança faça aquilo que é bom para ela. Porque isso, ela não sabe. A criança só sabe o que gosta e o que não gosta.

Charge do Duke

 

Incomum
Maria Teresa Belandria, embaixadora extraordinária da Venezuela em Brasília, reconhecida por Juan Guaidó, trabalha em um quarto de hotel com computador e impressora. Elabora a agenda, encontros e jantares. No Setor de Embaixadas, o prédio é ocupado pelo staff de Maduro.

Foto: UESLEI MARCELINO (REUTERS)

 

História de Brasília
Doutor Valmores Barbosa, com as obras no aeroporto, o estacionamento está desorganizadíssimo. Os abusos dos chapa-brancas e verde-amarelo, então, são incontáveis. Ou é proibido o estacionamento a todo o mundo, ou então não é para ninguém. (Publicado em 16/12/1961)

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