Ilusão infantil

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

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Foto: Roman Camacho/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

 

Nos idos da década de setenta, havia, na faculdade de Filosofia e História, do então CEUB, um professor romeno que lecionava história econômica, disciplina que mostrava as movimentações e contradições humanas ao longo dos séculos com base nas relações materiais e nos referenciais de riqueza, exploração, trabalho e outros dados e estatísticas matemáticas mensuráveis. Dizia ele, que o homem era o único animal que se movia exclusivamente por interesse e esse era um dos motivos que explicava porque ao longo da história havia tantos conflitos.

Essa visão exclusivamente materialista da história humana excluía, por razões óbvias, outras características da personalidade dos primos dos macacos como inveja, ambição, cobiça e outras facetas. Naquele tempo, ainda era forte o antagonismo entre os jovens contra a intervenção militar de 1964. Por essa razão, era comum entre os alunos o discurso de que somente os partidos de esquerda que pregavam o socialismo e o comunismo, nas suas versões mais extremadas, teriam uma resposta para livrar o País do que consideravam ser uma opressão ditatorial.

Nessa fase, curiosamente, o Brasil vivia, talvez, seu melhor momento econômico, com um crescimento comparável ao da China dos dias de hoje. A adrenalina e os hormônios da juventude em favor da implantação de um regime similar à da então União Soviética, ou mesmo nos moldes em que era praticado em Cuba, dominava a Faculdade. O velho mestre, que viera de um país submetido aos rigores da cortina de ferro, naqueles tempos de polarização do mundo, na sua timidez esboçava um sorriso em que dizia, por detrás dos lábios, “santa ingenuidade desses meninos”.

Um dia, visivelmente incomodado com os protestos que interrompiam suas aulas, achou que era o momento de injetar, nos jovens sonhadores, alguma realidade, colhida pela amarga experiência vivida em seu país natal. Com isso, começou a descrever o que se passava por detrás daquela cortina espessa que dividia o mundo em dois polos. Falou sobre a nomenclatura, em que apenas as pessoas próximas ao poder desfrutavam dos confortos capitalistas. Descreveu seu desânimo ao descobrir que seus esforços para se formar numa universidade, às custas do sofrimento de sua família, de nada garantiram uma posição melhor dentro sociedade, já que teria que disputar um estreito espaço com os indicados pelo partido no poder.

Contou sobre os antepassados de sua família, que viviam confortavelmente, antes da implantação do comunismo. Foram despossuídos de seus bens e hoje se amontoavam entre centenas de outras famílias em edifícios gigantescos, onde as divisórias entre umas e outras casas eram feitos com lençóis e cobertores. Os banheiros eram de uso coletivo, assim como certas cozinhas.

Para comprar os mantimentos do dia a dia, era preciso o uso de carnês, distribuídos pelo partido mensalmente. Naqueles muquifos, os roubos de comida e de outros gêneros de primeira necessidade eram constantes. Eram comuns ainda a vigilância cerrada feitas pelos próprios vizinhos. Inclusive, esse sistema de denunciação generalizada, às vezes, era praticado entre membros consanguíneos, o que garantia simpatia dentro do partido e podia assegurar alguma vantagem como uma cota extra de cigarro, um par de calça jeans do ocidente, entre outros benefícios.

As pessoas, dizia com a voz embargada, sob o domínio do comunismo, haviam se transformado em animais predadores, sem laços afetivos. A repressão da polícia do Estado era constante e injusta, inclusive contra os mais idosos. A imagem dos santos e do próprio Deus haviam desaparecido dos altares, nas muitas igrejas profanadas. Em seu lugar, brilhavam agora os retratos de Marx, Lenin, colocados ao lado dos chefes de partidos locais.

A religião era o comunismo e quem não professasse com os dogmas do novo catecismo era acusado de traidor, o que poderia custar punição severa não apenas ao indivíduo, mas a todos os membros de sua família e de toda a sua geração.

A desconfiança entre todos era generalizada e todo o país vivia uma espécie de pesadelo sem fim. Obviamente que essa pregação, aos ouvidos da juventude, naquela época, soou como algo reacionário e sem sentido. Hoje, olhando, em retrospectiva, aqueles dias de ilusão juvenil e depois da triste experiência que nos proporcionou a chegada do Partido Dos Trabalhadores no comando do nosso país e de outras experiências amargas experimentadas em países vizinhos como Venezuela, é possível entender melhor o sorriso de desalento do velho mestre com nossas ilusões infantis.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O sequestrador de Niterói não foi abatido pela polícia. A Polícia, com base na lei, lançou mão da Legítima Defesa de Terceiros e agiu no estrito cumprimento do dever legal! Ou alguém entende que o certo seria deixar explodir os reféns?”

Janaína Pascoal, advogada e deputada

Foto: odia.ig.com

 

 

Muito trabalho

Foi decretado que o representante brasileiro em Nova York, Noruega e Jamaica será o professor Rodrigo Fernandes More. Ele participará, em nome do Brasil, da 3ª Conferência Intergovernamental sobre o Direito do Mar, da 74ª Assembleia Geral da ONU, da 6ª Conferência Nosso Oceano em Oslo e da 26ª Sessão do Conselho da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos. É o mais cotado para Juiz do Tribunal Internacional dos Direitos do Mar da ONU.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

No almoço de sábado, na mansão do sr. Sebastião Camargo, o dr. Israel Pinheiro ia se retirando e entrou num JK preto. Quando chegou em casa é que verificou: haviam pregado uma peça, dando-lhe a chave de um carro chapa branca igualzinho ao seu, mas pertencente à Novacap. (Publicado em 28/11/1961)

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