VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Impulsos, taras e desvios sexuais sempre se mostraram mais fortes do que qualquer instituição, lei ou obrigação humana e parecem obedecer a um tipo de comportamento que aproxima e confunde o ser racional com os animais, que agem movidos pelo instinto de sobrevivência ou de preservação. Regras, punições e ameaças, nada parece produzir os efeitos de deter esses impulsos quando eles ocorrem. Com a Igreja Católica, não tem sido diferente.
Os volumosos e rumorosos casos de abusos sexuais que passaram a vir à tona a partir do final da década de 1970, embora revelem uma pequena parte dessa história de horrores que, supostamente, parecem vir acontecendo há séculos dentro de igrejas, mosteiros, orfanatos, internatos e outros lugares, dão uma mostra real de que eles sempre existiram sob o manto de um silêncio que se quer sagrado.
O problema é que encarar o gigantesco desafio de abrir ao conhecimento do público — e, principalmente, dos fiéis — essa torrente de comportamentos repugnantes e criminosos que contamina a Igreja pode também servir de combustível para implodir internamente a própria instituição, destruindo um trabalho de mais de 2 mil anos na propagação do Cristianismo.
As descrições desses desvios de comportamentos, e que a Igreja assinalaria como grande pecado, estão por toda a parte. Depoimentos, livros, filmes, muitos dos quais premiados pela crítica, mostram o enorme desafio que é posto diante do papa Francisco para salvar, livrar e separar a parte boa da Igreja do restante que parece estar irremediavelmente perdida.
Na história da Igreja, nunca houve um escândalo dessa magnitude e que parece estar presente simultaneamente em diversos continentes e com os mesmos padrões de comportamentos, envolvendo centenas de clérigos dos mais diversos estamentos da hierarquia da instituição. O que se sabe agora é que grande parte dessa história de abusos jamais chegará ao conhecimento do grande público, pois ocorreu em épocas remotas, quando o poder da Igreja sobre a sociedade e até sobre os reis era grande e o silêncio, regra geral.
É preciso destacar, no entanto, que esse tipo de prática condenável não está presente apenas na Igreja Católica, mas em praticamente todas as outras instituições religiosas, o que mostra que esse não é propriamente uma condição natural da Igreja em si, mas de parte de seus membros. Onde quer que atue o ser humano, suas impressões e pegadas, para o bem e para mal, estarão impressas também. Mesmo antes de assumir a cadeira de Pedro, Francisco tinha uma noção de que essa seria, ao lado da perda paulatina de fiéis para outras confissões religiosas, o grande desafio de seu pontificado.
O santo padre, com seu conhecimento da máquina da Igreja, à essa altura, já tem a convicção íntima de que esse tema, por seu teor explosivo para a instituição milenar, continuará a sofrer resistências dentro da própria máquina burocrática da igreja, avessa, desde sempre, a tumultos e bisbilhotices mundanas. As recorrentes acusações de que a Igreja vem, há muito, acobertando esses crimes é outro grande desafio para Francisco. O papa também já deve reconhecer que alas dentro da Igreja vão se posicionar incondicionalmente ao seu lado, nem que para isso tenha de cortar na carne a parte podre dessa instituição. Sabe também que esse é um desafio esmagador para alguém com mais de 80 anos de vida. E reconhece, sobretudo, que são necessárias uma resposta interna e providências duríssimas, sob pena de manchar, de forma profunda, sua administração.
Alguns especialistas em assuntos da Igreja reconhecem que essa é, talvez, a maior crise experimentada pela instituição em seus 2 mil anos de história. Na versão mística de alguns fiéis, essa turbulência era prevista pelo santo padre Pio (1887- 1968), que, em uma de suas visões, teria visto o demônio sentado dentro do templo, afirmando que estava ali justamente para semear a futura cisão no seio da igreja e que essa maldição seria devastadora.
Crenças à parte, o fato é que, em muitos países, os tribunais de justiça estão trabalhando a todo vapor para colocar atrás das grades membros da Igreja, inclusive do alto clero. Muitos acreditam que essa é uma grande oportunidade para deputar a Igreja desses maus clérigos, já que entendem que o que faz um Igreja ser mantida em rumo original de pureza e santidade não é quantidade de seus membros, mas a qualidade de cada um e seu compromisso com a fé que abraçaram.
Em 10 anos, a Igreja teria perdido um número de fiéis equivalente à população de uma cidade como Curitiba. Ciente desse e de outros problemas de igual magnitude, o papa Francisco vem diuturnamente trabalhando para colocar sua Igreja nos trilhos traçados pelo próprio Cristo, reduzindo a pompa e a burocracia do Vaticano, seus luxos e ostentações, e trazendo a Igreja e sua mensagem para aqueles cantos esquecidos do planeta, numa espécie de nova catequese nesse século 21.
O sumo pontífice, por meio de um decreto intitulado Vos estis lux mundi (Vós sois a luz do mundo) passou a obrigar que os bispos denunciem todas as suspeitas de casos de abuso sexual dentro da Igreja. No mesmo documento, incentiva os fiéis a agirem de modo idêntico, apontando esses casos diretamente ao Vaticano, para que não passem em branco e severas medidas sejam adotadas contra os abusadores — inclusive punindo todos aqueles que eventualmente prossigam acobertando esses casos.
A frase que foi pronunciada:
“Diante de Deus e seu povo, expresso minha tristeza pelos pecados e crimes graves de abuso sexual clerical cometidos contra vocês. E, humildemente, peço perdão. Peço seu perdão também pelos pecados de omissão por parte dos líderes da Igreja que não responderam adequadamente aos relatos de abuso feitos por familiares, bem como pelas próprias vítimas de abuso. Isso levou a um sofrimento ainda maior por parte daqueles que foram abusados e colocou em risco outros menores que estavam em risco.”
Papa Francisco
História de Brasília
A Graça Couto e a Severo e Villares estão na fase de acabamento de seus prédios no Setor Comercial Sul, em frente à W3. O da Severo já está pondo em experiência o acabamento externo em tom vermelho, e tomara que não seja para contrastar com os mosaicos pretos. (Publicada em 15/4/1962)