Brasil despenca

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Para o fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, o declínio da abertura da economia global está prejudicando a competitividade e tornando cada vez mais difícil, para os líderes mundiais, manter o crescimento de forma sustentável e inclusiva. Essa avaliação vem a propósito da divulgação agora, pelo Fórum (WEF) em parceria com a Fundação Dom Cabral, da relação contendo o ranking das 138 economias mais competitivas do planeta.

Nessa nova relação, o Brasil aparece na vexatória 81ª posição, atrás de países vizinhos, como Chile, Colômbia e Peru, inclusive de seus parceiros no Brics. Trata-se da pior posição entre as economias emergentes, e a situação vem piorando desde 2012. Um dos itens que mais chama a atenção para o desabamento do Brasil no ranking é justamente o que trata da inovação. Nesse quesito, o Brasil desceu da 84ª posição em 2015, para a 100ª colocação em 2016. A importância da inovação e da educação na atividade econômica de um país é dada pelo fato de que apenas os países que conseguiram ,de alguma forma, superar as barreiras do analfabetismo, investindo maciçamente em educação e em pesquisas ou estabelecendo pontes entre universidades e a indústria para a criação de novos produtos e novas tecnologias é que conseguiram disputar como nações altamente competitivas.

Não existe economia consistente e competitiva onde não há investimentos pesados nem empenho permanente do governo em educação e pesquisa. Ao item inovação se ligam, por extensão, todos os demais fatores que ajudam a retardar o desenvolvimento do país. A própria confiança nas instituições, decorrente do descrédito acentuado nas lideranças políticas na última década, é forte componente que emperra a economia, minando a adesão e a vontade de investidores sérios.

O elevado deficit nas contas públicas, resultante da adoção de um conjunto de políticas externas equivocadas, que levaram o Brasil a dar preferência e a aderir ao eixo de países como a mesma posição ideológica, caso dos países bolivarianos, começa a apresentar os elevados custos negativos dessa opção. Para Carlos Arruda da Fundação Dom Cabral, “a crise econômica e política que se deteriora desde 2014, associada a fatores estruturais e sistêmicos, como sistema regulatório e tributário inadequados, infraestrutura deficiente, educação de baixa qualidade e reduzida produtividade, resulta em uma economia frágil e incapaz de promover avanços na competitividade interna e internacional” .

Para os pesquisadores, os países com os mais sofríveis índices de competitividade são justamente aqueles cujas instituições são fracas e desacreditadas pela população, a infraestrutura é deficiente e a educação é de baixa qualidade e não inclusiva, além, claro do péssimo sistema público de saúde. Temos ainda muito chão pela frente se quisermos nos igualar a países como Cingapura, 2 º colocado no ranking e, até pouco tempo atrás, era tido como subdesenvolvido e na rabeira do mundo.

A frase que não foi pronunciada

“Não adianta dar banho em porco. “

Chiquinha, muito chateada com as ordens da mãe

Corpo

» Mais um ano com a promessa de acabar a economia mais inútil do país. Se a hora de trabalhar começa mais cedo, é preciso acender a luz, se é assim, não há economia. A não ser que o número de desempregados venha a compensar. O deputado federal catarinense Valdir Colatto autor do projeto de Lei 397/2007, que acaba com o horário do verão, declarou que a justificativa para os trabalhadores acordarem mais cedo é a mesma usada nos milhões de reais gastos pelo SUS para o atendimento dos prejuízos à saúde. O projeto está na Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados.

Idepe

» Pernambuco está fazendo a mudança na educação por conta própria. O segredo para o sucesso alcançado foi simples. Convencer pais e mães a participarem do desenvolvimento dos filhos. Dezoito dos 20 colégios com bom desempenho detectado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco são do interior.

Saudades

» Essa prerrogativa do valor social das propriedades poderia fazer voltar com que os porteiros morem nos prédios que trabalham. Era assim no início de Brasília e era muito bom. José Ivo e José, o baixinho, e Chico eram os porteiros dos blocos K e J da 305 Sul. Moravam lá e compartilhavam a história com os moradores. Quem mudou isso não teve sensibilidade para entender a nova capital.

Patrimônio

» Por falar nisso, o Antonio, empacotador do Pão de Açucar do Lago Norte, foi demitido. Era terceirizado, mas o Pão de Açucar poderia contratá-lo. Desde quando a SAB ocupava aquele espaço, o Antonio fazia as honras da casa. Atencioso e prestativo. Hoje, com 4 filhos, voltou à estaca zero, vendendo saco de lixo no estacionamento.

História de Brasília

Acompanhando o desenvolvimento da cidade dia a dia, o sr. Mauro Borges bem vê o que será o futuro de Brasília, se a sua administração obedecer a um esquema político.
(Publicado em 15/09/1961)

Água de beber camará

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Qual é a relação de causa c consequência poderia existir entre o inédito racionamento de água na grande Brasília, que levou à uma séria crise hídrica sem precedentes, e o tipo de política partidária praticada na capital nas últimas décadas? O que pode, num primeiro momento, parecer situações díspares, na verdade possui uma relação íntima e poderosa. Transformadas em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros para lá de suspeitos. É vã a esperança de que, algum dia, uma comissão parlamentar de inquérito da Câmara Legislativa desvende esse cipoal de irregularidades.

O alerta dado pela promotora de Justiça Marta Eliana de Oliveira mostra preocupação com o futuro. “Estamos em vias de sofrer uma crise hídrica sem precedentes caso não chova em breve ou chova pouco. No pior dos cenários, nossos reservatórios garantem água somente até dezembro. A população precisa adotar com urgência a prática de economizar água. Não podemos fazer chover, mas podemos passar a usar a água com responsabilidade e consciência, de modo sustentável”

Às vezes em que o Estado convidou a população para contribuir com diversos tipos de racionamentos houve a mobilização nacional. Poucos meses depois, veio a traição. Desde a permanência da violência após a entrega das armas, até o racionamento de luz, depois do a pagão que trouxe de brinde para quem contribuiu com o racionamento com uma conta mais alta, mostram como o consumidor e o cidadão são tratados com desrespeito. Ao lado das consequências do aquecimento global o que tem provocado, em grande parte, a situação de escassez de água em Brasília, é a ocupação irregular das terras públicas, principalmente naqueles sítios que os ambientalistas denominam de áreas de recarga.

Nas últimas décadas, sob a vista grossa dos principais órgãos de fiscalização, a capital sofreu um poderoso processo de inchaço populacional, com pessoas afluindo de todo o canto do país, atraídas pelas promessas de doação de lote e casa, em troca de apoio político. Do dia para a noite, centenas de novos bairros foram sendo erguidos às pressas e sem planejamento. O que resultou da irresponsabilidade e da ambição de algumas lideranças políticas locais, os brasilienses vão agora experimentando na pele as consequências.

Não é só o esgotamento hídrico, já alertado lá trás pelos ambientalistas, mas o colapso de toda a infraestrutura da cidade. Políticos, na sua maioria, têm dificuldade em entender o que é e para que serve o planejamento urbano. O horizonte desses personagens esporádicos se estende, no máximo, até as próximas eleições. O congestionamento em hospitais, escolas c em outros serviços públicos é o mesmo que vem se repetindo diariamente nas estradas e agravando o abastecimento de água e o fornecimento de luz. O padecimento atual da população resulta da ação inconsequente de hoje e de ontem das principais lideranças locais. A ameaça não só com a falta de água, mas a inviabilização da capital, infelizmente transformada em valhacouto de oportunistas e aventureiros de toda ordem.

A frase que não foi pronunciada

“Tom Jobim cantou a água e o amor enquanto Brasília nascia. Se estivesse vivo, cantaria a seca e a dor.”

Kleber Farias Pinto, pioneiro pensando nos bons tempos da cidade

Raridade

»Quem descreveu uma situação inusitada foi a amiga Rita Nardelle. A Avianca não pode voar pelas condições climáticas e imediatamente pagou transporte e hospedagem para os que ficaram. Respeito total.

Arte criança

»Atenção para a notícia enviada por Marcos Unhares. A Cia. Jorge Crespo prepara Inventos do vovô, nesta sexta-feira, em duas sessões- às 10h e às 16h – no Teatro Funarte Plinlo Marcos. A temporada terá 32 apresentações totalmente gratuitas para a meninada do DR

Inauguração

»Dia 30, na sexta-feira, um superevento promovido pelo Hospital Sírio-Libanês em Brasília. A sra. Marta Kehdi Schahin, presidente da Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês, o CEO do Hospital, dr. Paulo Chapchap, e o membro do Conselho de Administração e diretor do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDD, dr. Giovanni Guido Cerri, recebem os membros do corpo clínico, autoridades e empresários de Brasília em um coquetel nas novas instalações na L2 sul.

História de Brasília

É multo caro o preço pedido pelo governador de Goiás. Brasília é uma cidade construída por uma equipe, está vivendo dificuldades por deficiências do governo, por falta de dinheiro. Brasília precisa de um técnico. (Publicado em 15/9/1961)

Síria, guerra por ações e omissões do mundo

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Nas guerras, a primeira vítima é sempre a verdade. A frase atribuída ao dramaturgo grego Ésquilo (século 6 a.C) permanece atual e pode ser facilmente empregada para descrever também o que vem ocorrendo com a Síria nos últimos anos. Os números relativos ao conflito são desencontrados, mas dão conta que, em 5 anos, meio milhão de pessoas, a maioria civis, foram brutalmente mortas. Com cinco milhões de refugiados desesperados e dispersos pelos quatro cantos do planeta e um país praticamente arrasado, a Síria é hoje um país literalmente em escombros. Destroços espalhados por toda a parte simbolizam muito mais do que a falência dos organismos internacionais para resolver questões humanitárias urgentes.

Os escombros são verdadeiros monumentos à insanidade humana a revelar, em pleno século 21, que os homens ainda não abandonaram totalmente a fase da selvageria. Enquanto crianças, mulheres e idosos vão sendo triturados impiedosamente pelo poderio letal dos armamentos ultramodernos, nos salões atapetados de organismos, como as Nações Unidas, entre tapinhas nas costas, cafezinhos e outras amenidades da civilização moderna, discute-se a oportunidade de se aplicar sanções ou reprimendas ao ditador sírio Bashar al-Assad.

A situação dá uma mostra clara da inoperância da ONU, dominada pelas grandes potências, para resolver questões de conflitos armados pelo mundo. Enquanto a questão não chega a bom termo no âmbito diplomático, o que se tem é a poderosíssima indústria de armamentos — justamente dos países que compõem o Conselho Permanente de Segurança da ONU, a saber Estados Unidos, Rússia e China — faturando de acordo com o tamanho do conflito, o tempo de duração e o número de mortos.

Em paralelo, correm questões intrincadas, discutidas no conforto alienador das altas esferas, o grupo terrorista Estado Islâmico, que tem dado mostras do horror ao mundo civilizado, continua se aproveitando dos impasses e vai estendendo seu poderio e preparo militar, para (quem sabe?) partir para novas estratégias.

Para uma guerra que já entrou para a história dos grandes genocídios humanos, o conflito na Síria poderá ensejar, em breve, a instalação de um tribunal internacional de crimes de guerra, onde todos os envolvidos, direta e indiretamente, vão se sentar no banco de réus, na condição de acusados de genocídio. Absolutamente nenhuma análise sobre o conflito na Síria teria mais força de traduzir o que se passa naquela triste nação do que a foto estampada na edição de domingo (25/09) do CB, mostrando sírios num hospital da cidade de Aleppo, dizimada pela bestialidade dos seres humanos modernos e seu interesses.

A frase que foi pronunciada

“A política é uma guerra sem derramamento de sangue, e a guerra, uma política com derramamento de sangue.”

Mao Tse-Tung

Reguffe

» “Essa proposta de anistiar o caixa 2 de campanha é um verdadeiro tapa na cara do cidadão honesto do país.” A declaração do senador que representa o DF traduziu o pensamento da nação. Os senadores não disfarçam o incômodo que Reguffe causa por uma razão muito simples. Se os colegas abrissem mão de tudo o que ele abriu
como senadores economizariam R$1,2 bilhão ao erário.

Onze estrelas

» Está pronto o segundo livro da artista plástica Célia Estrela “Mesas de Natal”. En 5 de outubro, às 19h, na praça central do Casa Park. Célia Estrela projeta a sua luz para o trabalho. Consegue o que pouquíssimos conseguem: uma elegância natural.

Amigo

» Rangel Cavalcante não está mais entre nós. Jornalista de primeira linha, linguagem cativante, foi um defensor do Nordeste, como poucos. São coisas do destino que fogem à compreensão. Nossos sentimentos e abraço à família.

Aventura

» Aconteceu anos atrás em uma agência bancária do Lago Norte. Todos os clientes em silêncio na fila, estampando tédio no rosto. De repente, uma ratazana enorme bate várias vezes no vidro, de certo tentando entrar. Bastou um grito para a atmosfera mudar. Quando o rato desistiu do intento, todos começaram a conversar animadamente. Até o ponteiro do relógio pareceu andar mais rápido.

História de Brasília

Ninguém nega ao sr. Mauro Borges uma excelente folha de serviços prestada à nação em muitas horas, de dificuldade ou de calma. E é acreditando nesse espírito de renúncia, e de homem público, que fazemos um apelo em nome de Brasília. (Publicado em 15/9/1961)

A condição feminina

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Não surpreende o fato de um terço da população do país, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, culpar as próprias vítimas — no caso, as mulheres — pelos casos de estupros. Para essa parcela da população ouvida, a violência do estupro ocorre porque a vítima não se dá ao respeito quando, por exemplo, usa roupas consideradas provocativas. A pesquisa não causa surpresa, mesmo em pleno século 21, porque é sabido que os brasileiros, tanto homens, quanto mulheres, embora em ambiente tropical de pouca roupa nas praias e no carnaval, ainda apresentam fortes traços de conservadorismo, em parte, herdados historicamente do colonialismo secular do tipo patriarcal.

Fosse replicada no restante da América Latina, a pesquisa apresentaria os mesmo resultados, com algumas variantes ainda mais negativas. Mesmo em escala planetária, e os relatos diários confirmam, que a condição feminina, é invariavelmente ruim, mesmo em países com visíveis progressos materiais. As causas dessa desigualdade de gêneros, segundo antropólogos e estudiosos do comportamento humano, perdem-se no tempo e estão ligadas, em grande parte, à condição biológica e singular da mulher de procriadora da espécie.

Por questão de preservação da espécie, a mulher e o bebê eram mantidos sob proteção e afastados dos perigos externos de um mundo sempre hostil e adverso. Essa é, pelo menos, a explicação que a antropologia consegue dar às diferenças de gênero. Curiosamente, é o que os fatos da história contemporânea confirmam. É consenso hoje entre aqueles que cuidam do tema, que, de maneira geral, foi somente a partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que houve um acerto de orientação nessa questão. De modo específico, os avanços só viriam, de fato, com a revolução sexual trazida pela pílula anticoncepcional e outras mudanças no comportamento, sobretudo, após a eclosão, no mundo Ocidental, dos movimentos feministas e outros de caráter emancipatório na década de 1960.

Foi somente a partir do momento que a mulher passou a ter controle sobre o aparelho reprodutor que foram dados os primeiros passos para uma maior igualdade entre os sexos. Se no controle do aparelho reprodutor as mulheres puderam encontrar as chaves da libertação do jugo milenar de dominação, as portas que se abriram a sua frente mostraríam um vastíssimo caminho pela frente a ser percorrido até que interrompessem as odiosas diferenças presentes ainda em toda a parte , sob variados aspectos.

A ponta de esperança é dada pela pesquisa que aponta que 91% dos brasileiros ouvidos, acreditam que pelo caminho da educação é possível ensinar os meninos a respeitar as mulheres, afastando para longe comportamentos abomináveis como o estupro, que só denigrem a espécie humana, lançando-a de volta ao estágio insano.

A frase que foi pronunciada

“Educar um homem é educar um indivíduo, mas educar uma mulher é educar uma sociedade.”

Rose Marie Muraro, escritora e feminista

Senna

» Anote esse e-mail: info.ufn@pa.sm. Se tiver interesse em obter a moeda do piloto Ayrton Senna lançada pela San Marino, é por aí que se faz o pedido. A moeda pesa 18g gramas, mede 32mm de diâmetro e tem um limite de cunhagem de 8 mil peças.

Independência

» Renan Calheiros foi elogiado por ter tido a coragem de dizer o que pensa sobre a Operação Lava-Jato. Muitos políticos pensam como o presidente do Senado, mas sussurram com o pensamento por receio. Já alguns deputados federais preferiram a calada da noite para pensar, falar e agir.

De volta ao ensino moderno

» Sem sucesso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que obriga a volta das artes nas escolas, é de eficácia zero. Sem desistir da luta, Priscila Cruz, presidente do Movimento Todos pela Educação, acompanha uma nova mudança na grade curricular. A esperança de um ensino melhor está em uma medida provisória. Uma das propostas do Ministério da Educação é que o aluno, dois anos antes de entrar na universidade, já esteja
se preparando tecnicamente para o curso superior que escolher.

Imperdível

Neste sábado, no Cine Brasília, será exibido documentário sobre o pernambucano Cícero Dias, o compadre de Picasso. Artista multifacetado, livre de amarras. A sessão começa às 16h30. O filme é de Vladimir de Carvalho.

Metamorfose ambulante

Alguém precisa lembrar ao presidente Lula do que ele discursava quando era Sindicalista. “Todos os brasileiros são iguais perante a lei.” Ou: “Ninguém é melhor do que ninguém”. Pela segunda vez, ele declara que a Operação Lava-Jato não pode prender autoridades ou ex-autoridades. Por que mudou de opinião?

História de Brasília

Há o caso de uma firma que construiu um galpão caríssimo para as suas instalações, e não pode inaugurar porque não recebeu o “habite-se”. Razão alegada, as dependências sanitárias. (Publicado em 14/9/1961)

Copa do mundo de laranjas

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Com a proibição do financiamento de campanhas políticas por pessoas jurídicas, o sistema eleitoral brasileiro terá ainda que percorrer um vasto caminho até que possa encontrar uma fórmula nova e racional de promover e bancar os caros pleitos país afora. Enquanto a nova metodologia não surge, as previsões feitas pelo ministro do STF Gilmar Mendes, há exatamente um ano, se concretizam uma a uma. Naquela oportunidade, o ministro havia alertado para o fato de que a proibição de doações empresariais às campanhas, o expediente maroto do caixa 2 iria surgir com força total, contaminando muitas campanhas com o dinheiro sujo e de origem incerta. “O país vai ganhar a Copa do Mundo de laranjas”, previu Gilmar Mendes, alertando para a possibilidade de os partidos políticos virem a receber ainda mais dinheiro por fora. “Se estivéssemos exportando laranjas, seria algo positivo. Então, a rigor, nós estamos metidos numa grande confusão”, acrescentou.

Ocorre que, um ano depois, esse vaticínio se confirmou e com um componente a mais: nem bem as campanhas saíram às ruas, os indícios de doações suspeitas explodiram de modo quase incontrolável. Apuração preliminar feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constatou 39 mil doadores com indícios de irregularidade nas eleições municipais deste ano. Há de tudo, doadores cadastrados em programa do Bolsa Família, inclusive gente já falecida. Com 5.564 municípios, uma extensão territorial continental, a precariedade das estradas e insuficiência de fiscalização adequada, as eleições no Brasil talvez sejam uma das mais complicadas e difíceis do mundo.

Somam-se às complicações a multiplicidade e pouca transparência das legendas políticas, muitas, inclusive, criadas apenas para gerar fabulosos lucros a seus proprietários. Se for contabilizado ainda o descrédito recorde da classe política ante a população, se fosse retirada a obrigatoriedade de comparecimento às urnas, as eleições no país ficariam literalmente entregues às moscas. Se fossem esses os únicos entraves a serem corrigidos para um pleito dentro da normalidade, tudo bem. Ocorre que a contaminação do processo na sua origem tem o condão de se espalhar em cadeia, atingindo inclusive a própria democracia brasileira, com reflexos imprevisíveis para o futuro do país.

Quando os números das falcatruas forem finalmente conhecidos, talvez se chegue à conclusão de que todo o processo deve ser repensado. Quem sabe, venha ocorrer a ideia de simplificar todo o processo, atraindo para representação popular apenas aqueles candidatos vocacionados e que não queiram transformar a política em negócio lucrativo, prática já condenada pelos eleitores de bem deste país.

A frase que foi pronunciada

“Quando houver fiscalização com punição para as manobras financeiras obscuras, cobrança efetiva de prestação de contas do uso do dinheiro do povo, além de contrapartidas obrigatórias para se obter empréstimos, quem vai querer se candidatar a cargos públicos? Onde encontraremos políticos com vontade de trabalhar pela população e pelo futuro do país?”
Professora de moral e cívica ontem e amanhã.

Conhecido
Da mesma forma que todo brasileiro apresenta um currículo quando busca emprego, a sugestão do senador Paulo Paim é que o eleitor pesquise sobre o político que vai receber o voto. Conhecer a vida pregressa do candidato é quase um seguro contra o arrependimento.

Progresso
A Medida Provisória 746/16 pode perfeitamente ter seus efeitos sentidos em 2017. As atividades profissionalizantes ou acadêmicas dos adolescentes em preparo para frequentar as universidades serão flexibilizadas contribuindo para que o entusiasmo na escolha da profissão seja uma mostra da realidade. Governadores atentos à educação acreditam em uma evolução.

Trâmite
Por enquanto, o trâmite da MP da Educação será publicada no DOU e numerada. Daí por diante, o Congresso Nacional vai analisá-la em 120 dias, promovendo reuniões em uma Comissão Mista. Depois disso, a medida seguirá para o plenário da Câmara e do Senado.

História de Brasília
Ora, se a Prefeitura não dá esgotos, não dá água, não dá nada, como poderá exigir, num caso destes?
(Publicado em 14/9/1961)

Reforma do ensino médio é aposta no futuro

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Com a publicação da medida provisória que trata da reforma do ensino médio, a questão agora é aguardar o trâmite pelas comissões do Congresso para ver que alterações serão propostas pelas duas Casas ao texto original apresentado pelo Executivo. De toda forma, a MP já teve o condão de despertar discussões acaloradas entre os que apoiam e entre os que criticam e atacam as reformas. Pela complexidade da matéria e pelas repercussões que provocará ao longo do tempo, o assunto merece ganhar maior espaço para debates, sem, contudo, se perder em meio aos ranços ideológicos e desnecessários.

Questões como a flexibilização de parte do currículo, para que o aluno possa cursar disciplinas de interesse pessoal ao longo do curso, parece bem-vinda. Também o aumento da carga horária, criando a escola em tempo integral, merece atenção e vai em direção ao que outros países já oferecem há muitos anos.

Com a entrada da MP no Legislativo, a sorte está lançada e, dependendo dos entendimentos dos parlamentares em sintonia com que pensam os educadores, a matéria poderá significar o início de uma revolução nessa etapa intermediária do ensino. Do mesmo modo que será preciso esperar um tempo de maturação longo para verificar os benefícios práticos da adoção do regime de cotas nas universidades, o mesmo tempo de acomodação será necessário até que estejam resolvidas questões como a da infraestrutura e logística da maioria das escolas brasileiras, para receber um grande contingente de alunos por um período integral.

Contudo, uma questão que tem chamado a atenção dos educadores, contra ou a favor da reforma, é quanto à possibilidade de extinção das disciplinas de artes e de educação física. É sabido que o ensino de artes, em seus múltiplos aspectos, é, por excelência, de vital importância para o processo de humanização do indivíduo, além do desenvolvimento cognitvo, afetivo e motor. As artes abrem as portas para um universo de novas possibilidades, não só dentro do aprimoramento e transmissão da cultura nacional, mas, sobretudo, pelo potencial que o ensino artístico pode trazer para a pacificação das escolas e dos bairros em seu entorno. O ensino de música, pintura, teatro, desenho, cinema seria condão poderoso contra os episódios de violência dentro e fora das escolas. Além disso, crianças que estudam arte levam mais crianças para estudar arte.

Com relação à extinção de práticas esportivas, o quadro de medalhas do Brasil nas duas Olimpíadas dizem tudo. Exercícios físicos são absolutamente necessários para a geração que já apresenta sinais de atrofia por trocar a luz do Sol pelo brilho das telas. Outro aspecto que os formuladores de educação estão preocupados é quanto à valorização dos profissionais da área. Hoje é comum que muitos professores acabem exercendo excessivas jornadas ou mesmo outras atividades distintas do ensino, como meio de complementar a renda. Isso é inaceitável.

Os professores preparados, abertos para as novidades, prontos para a capacitação devem ser tratados pela população brasileira como a mais alta autoridade do país. Está nas mãos, no coração e na voz deles a mudança deste país. Para escolas em tempo integral de qualidade, é fundamental que haja professores em tempo integral e com dedicação exclusiva. O caminho é longo, mas os primeiros passos já foram dados e não parece adequado recuar.

A frase que não foi pronunciada

“ As artes e o esporte são armas poderosas contra a violência. Façam alguma coisa para salvar as artes nas escolas brasileiras!”

Villa-Lobos, Glenio Bianchetti, Garrincha e Gondim, conversando em uma praça do céu

Ausência
» Uma pena o Detran, o DER e o Batalhão de Trânsito não estarem preparados para a volta das chuvas. No momento do caos, não se viu a presença de Detran, DER e Batalhão do Trânsito para auxiliar os motoristas. A impressão é que não há contrapartida para tantas taxas.

Mais alguém?
» Por incrível que possa parecer, apenas uma chapa concorre para a nova eleição dos dirigentes do Sindicato dos Jornalistas. A mesma. O desânimo está chegando. Ficaram os #jornalistas mobilizados.

Sem freios
» Um crime que lesa o consumidor é ter que pagar uma fortuna para acessar os canais de tevê a cabo e ser obrigado a assistir propaganda. É um acinte contra o espectador.

Parabéns
A Câmara Brasileira do Livro fez 20 anos semana passada.

Infeliz
» Pão de Açucar e Extra anunciam a primeira fornada de Panetones. Quem quer saber desse assunto em plena Operação Dracon? Panetone só traz más recordações para a história de Brasília. Melhor nem lembrar.

Release
» Por falar nisso, na quinta- feira, os deputados distritais Cristiano Araújo e Bispo Renato compareceram à 2ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, onde foram ouvidos na condição de testemunhas, indicadas pela defesa de José Geraldo Maciel, um dos acusados no processo que apura a ocorrência de atos de improbidade administrativa decorrentes dos fatos investigados na Operação Caixa de Pandora.

História de Brasília
De resto, falta dinheiro para a Novacap cumprir com seus compromissos assumidos em suas últimas gestões. O governo está ausente, e os fornecedores, construtores, empreiteiros estão enfrentando uma situação das mais críticas. (Publicado em 14/9/1961)

República do quid pro quo

Publicado em Íntegra

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Alguns estudiosos do comportamento humano reconhecem que o homem é o único ser vivo que tem suas ações e movimentos guiados quase que exclusivamente pelo sentido da oportunidade e interesse. De fato, o interesse é condição natural do ser humano. Há muito, sabe-se que o interesse move o mundo. A própria vida em coletividade reforça a ideia de interesses mútuos e vitais. Viver em comunidade é se ajustar, a cada dia, a interesses diversos.

No despacho que redigiu, aceitando a denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente Lula , dona Marisa, Paulo Okamoto, Léo Pinheiro e mais quatro pessoas, o juiz Sérgio Moro, a certa altura do texto em que justifica sua decisão, citou a expressão latina “quid pro quo” para dizer que os pagamentos mensais feitos pela OAS, para o custeio da armazenagem dos pertences, a Lula, bem como a reforma do tríplex no Guarujá, foram em troca de contratos milionários e criminosos com a Petrobras.

A expressão, significando tomar uma coisa em troca de outra, se aproxima muito de outra muito conhecida pelos políticos brasileiros: “É dando que se recebe”. Com a evolução natural da linguagem, a expressão se aportuguesou e ganhou um sentido que mais se aproxima de confusão, desordem, baderna. Na realidade, o seu significado atual expressa, de modo conciso, a situação vexaminosa a que chegamos com o chamado presidencialismo de coalizão.

O escândalo do mensalão, que eclodiu em 2005, mostrou de modo preciso como funcionava a maquinaria do “quid pro quo”. Em troca de pagamentos mensais, desviados dos cofres públicos, uma parcela expressiva de parlamentares dava apoio total às proposições vindas do Executivo e, com isso, garantiam a sustentação política do governo. Quando, no futuro, os historiadores forem se debruçar sobre esse período de 13 anos que marcaram a gestão petista no comando do país, um bom subtítulo para este capítulo poderá ser exatamente “A república do quid pro quo”.

Acontece que, com a mudança dos ventos e o aparecimento casual de uma certa República de Curitiba, o que era um tom lá dá cá deslavado se transformou no maior quiprocó da história jurídica desse país, virando a República de cabeça para baixo. Com as prospecções, indo cada vez mais fundo, da força tarefa do Ministério Público, foi encontrado o verdadeiro pré-sal da corrupção dentro da então maior empresa estatal brasileira.

Para os contribuintes que, ao fim, arcarão com os rombos bilionários, o quid pro quo da altíssima carga tributária em troca de serviços equivalentes e de qualidade, continuará sendo ficção longínqua e impossibilitada justamente pelos desvios continuados do dinheiro público e, principalmente, pela péssima qualidade dos representantes políticos que dispõem.

A frase que não foi pronunciada

“ O direito penal não tira a vantagem econômica da corrupção. É possível apostar no fim da corrupção enquanto ela for economicamente rentável?”
Aloisio Freire, no JusBrasil

Tragicomédia
» Conversa vai, conversa vem lembrou a inauguração do cinedistrital. Era uma sala de cinema na Câmara Legislativa, que seria inaugurada com pompa e circunstância. Só que quem escolheu o filme sabia de coisas que a cidade não tinha conhecimento e deu o recado de uma forma que, até hoje, arranca gargalhadas e lágrimas. O primeiro filme apresentado: “Roubo as alturas”.

Fraldas
» Por falar em Câmara Legislativa, deputados que rasgam as críticas e mandam emoldurar os elogios são maioria. Isso mostra como são principiantes os representantes da população da capital.

Celeuma a semana
» Cobrança de IPI em importação para revenda é inconstitucional, defende a Dra. Alessandra Monti Badalotti. Na Corte, os magistrados entenderam que “os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não tenham sofrido industrialização no Brasil”. A discussão do assunto promete importantes mudanças.

O preço de um rio
» Quem acessa o portal da Samarco parece estar diante de uma empresa celeste, mesmo que a vida de milhões de brasileiros possa virar um inferno com a morte de um rio. Uma multinacional controla uma empresa que mata um rio do país e pronto. Essa seria uma grande oportunidade de os brasileiros voltarem com a bandeira verde e amarela nos carros. Por que atingiu população ribeirinha fica por isso mesmo?

História de Brasília

Por outro lado, continua sem luz, força, água, telefone e esgotos, o Setor de Indústria e Abastecimento. (Publicado em 14/9/1961)

ONU como esperança da paz

Publicado em Íntegra

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Um aspecto comum presente tanto nos discursos do presidente Michel Temer, quanto nos do seu colega americano, Barack Obama, foi o sentimento de que as principais nações com assento na ONU busquem, o mais rápido possível, medidas e mecanismos eficazes que, de alguma forma, atenda às múltiplas necessidades de um planeta convulsionado e em acelerada transformação sob vários aspectos. “A realidade andou mais depressa do que nossa capacidade coletiva de lidar com ela.” reconheceu Temer, para quem o mundo atual é marcado sob o signo das incertezas e da instabilidade.

É preciso, no entanto, reconhecer que naquela tribuna planetária, especificamente, qualquer assunto de natureza doméstica que não envolva diretamente a coletividade humana corre o risco de passar despercebido e de não ser levado a sério por ninguém. Diante da magnitude dos problemas globais, assuntos internos são para serem resolvidos intramuros. Tanto Michel Temer quanto Barack Obama se referiram à escalada do terrorismo como ponto central a ser resolvido, de imediato.

Temer discursou sobre as ameaças incontidas do fundamentalismo violento, sobre os refugiados e o recrudescimento do terrorismo que nos deixa um sentimento de perplexidade. Obama foi na mesma direção, discursando sobre os conflitos mundiais e a pobreza. “Embora proclamemos nosso amor pela paz e o ódio da guerra, existem convulsões em nosso mundo que nos colocam em perigo,” disse o presidente do país, tachado de arrogante pelos fundamentalistas.

Na avaliação do presidente Temer, há pessimismo quanto aos focos de tensão que parecem crescer sem cessar: “Uma quase paralisia política leva a guerras que se prolongam sem solução. Paralisia essa que acumula interesses velados em petróleo, em venda de armas, e por aí vai o lado obscuro da humanidade.” A incapacidade de o sistema reagir com autenticidade ante os conflitos agrava os ciclos de destruição. A vulnerabilidade social de muitos, em vários países, é explorada pelo discurso do medo e do entrincheiramento. Há um retorno da xenofobia.

Os nacionalismos exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos. Obama foi mais otimista ao declarar que “foi uma década difícil. Mas hoje chegamos a uma encruzilhada da história com a chance de caminharmos decisivamente na direção da paz. Para isso, precisamos reincorporar a sabedoria daqueles que criaram esta instituição. A Carta das Nações nos exorta a unir nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais” . Temer cobrou uma atuação mais afirmativa da ONU e que vá além dos discursos da alta cúpula. Resta saber se a ONU conquistou o respeito mundial para se fazer ouvida.

O presidente Obama cobrou uma Organização das Nações Unidas capaz de assumir o seu papel, enfrentando os desafios de um mundo manchado por chagas e feridas abertas por interesses econômicos. Nos escritórios atapetados, são resolvidas as vidas de milhões de pessoas. Crianças que não conseguem entender a razão de tantas diferenças na sociedade. O presidente do país mais poderoso do mundo, inclusive um dos que sustenta a própria ONU, sugere que a organização seja projetada nos mercados de Cabul, mostre sua presença nas ruas parisienses, marque presença nas ruínas de Aleppo.

Apesar de o mundo querer a Paz, os governantes não conseguem estimulá-la. Vale lembrar aqui, o caráter brasileiro que marcou Porretta Terme, vilarejo ao norte da Itália, quando soldados levados para matar foram recebidos por pessoas famintas. Não tiveram dúvida. Dividiram água e mantimentos. Não foi necessário um organismo internacional dar essa ordem. A intenção que se sobrepõe às regras nem sempre é nociva, como foi esse caso e tantos outros. Durante quase sete décadas, mesmo que as Nações Unidas tenham contribuído para impedir uma terceira Guerra Mundial, ainda vivemos num mundo marcado por conflitos e assolados pela pobreza. O que nos põe em perigo é a falta de solidariedade e de inteligência dos líderes mundiais para perceber que a humanidade é de uma só raça: A raça humana. Se quisermos continuar sobrevivendo, vamos ter que tratar as riquezas naturais com mais respeito, porque dependemos delas para viver. Não é complicado de entender.

A frase que foi pronunciada

“De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.”

Chefe Seatle

Leitor

» Sérgio Pedro pergunta o que foi feito das armas devolvidas com boa fé durante a campanha do desarmamento. Não seriam essas armas que estariam chegando, a preços baixos, às mãos dos assaltantes dotados de pequeníssimo poder aquisitivo? Durante a campanha, a promessa era a de destruição total das armas entregues em delegacias, quartéis da polícia e, ainda, em igrejas. Foram mesmo destruídas? Existem termos de destruição destas armas?

Questiona o leitor.

História de Brasília
Voltaram a queimar, com abundância, as lâmpadas nos apartamentos em Brasília. Enquanto isso, o transformador da estação da Celg não entra em funcionamento. (Publicado em 14/9/1961)

Armas

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Não surpreende o fato de o Brasil ocupar hoje a vexaminosa 11ª posição, entre 90 nações pesquisadas, no ranking dos países mais violentos do planeta. Dezesseis milhões de armas, a maioria circulando ilegalmente por todo o território, pode ser a razão disso.

Somente em 2012, 42.500 pessoas foram vítimas de disparo de arma de fogo em nosso país. Isso equivale a dizer que cinco brasileiros morrem, a cada 5 minutos, vítimas de disparos de arma. Nessa estatística, a maioria é formada por jovens entre 15 e 29 anos, negros, de baixa renda e baixa escolaridade. Trata-se de verdadeira tragédia nacional.

A situação poderia ser ainda pior, caso não fosse aprovada, em 2003, a Lei 10.826/2003, mais conhecida por Estatuto do Desarmamento. Entre 2004 e 2012, o Mapa da Violência apontou que, graças a esse Estatuto, houve um freio no crescimento anual de 7,2% dos homicídios, o que possibilitou que 160 mil vidas fossem poupadas.

Mesmo diante desses números incontestáveis, há, na Câmara dos Deputados, um grupo, apropriadamente denominado bancada da bala cuja a maioria dos integrantes foi eleita pelo generoso financiamento da indústria bélica, que tem buscado, não só por meio do Projeto de Lei 3.722/2012, mas de todas as maneiras possíveis, acabar com o Estatuto do Desarmamento.

Essa verdadeira bancada da morte, justifica suas teses com base em informações e argumentos que já se provaram incorretos e propositadamente distorcidos. Para essa turma, houve crescimento no número de crimes de toda a ordem, após a decisão do Estatuto de restringir o uso de armas de fogo. Estudos contrariando esses números mostram que, antes do ED, os homicídios cresciam a uma taxa de 8% ao ano e, atualmente, está próximo de 1%.

Para esta bancada, os marginais ficaram ainda mais ousados, depois que se certificaram que suas vítimas não possuem mais armas de fogo para a defesa pessoal. É preciso que a sociedade tome noção de que o Estatuto do Desarmamento, que representou verdadeira vitória civilizatória de todos os brasileiros, se encontra hoje nas mãos justamente de seus piores opositores.

Pesquisadores são unânimes em estabelecer relação direta entre o acesso facilitado às armas e o número dos homicídios, não só no Brasil, mas em todo o Continente Americano. Na outra ponta do problema, situa-se o poderoso lobby das indústrias de armamentos que colocam o Brasil na discutida posição como o quarto maior exportador de armas pequenas do mundo. Pior: nosso país, segundo a organização Small Arms Survey, está entre as nações menos transparentes quando o assunto é compra e venda de armamentos.

Não é por outra razão que nossa maior fabricante a Forjas Taurus está sob severa investigação das polícias brasileiras e americanas, acusada da venda de armamentos para traficantes internacionais de armas , que as revendem para países onde o genocídio de populações inteiras é fato corriqueiro e pouco divulgado.

A frase que não foi pronunciada

“O armamento destrói o que ele pretende defender: a paz.”

Pensamento de Esther Machado, professora de música que sempre pregou a paz e harmonia.

Primeiros passos
» Reunião importante aconteceu ontem no início da noite no Palácio do Planalto. Bruno Araújo, ministro das Cidades, senador Agripino Maia e Ronaldo Caiado e os deputados Pauderney Avelino e Carlos Sampaio estiveram reunidos com o presidente em exercício Rodrigo Maia.

Tempo importante
» Enquanto isso, os caminhos do presidente Temer podem se cruzar com os passos de Obama. A abertura da Assembleia-Geral da ONU que tradicionalmente é feita pelo presidente brasileiro será a oportunidade para alguns minutos de conversa.

Brilho
» Jonathan brilhou na festa de encerramento das Paralimpíadas tocando guitarra com os pés. O Coral do Senado é fã número um de Jonathan, que acompanhou o grupo durante a Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência. Mostrou, com atitude, a todos os presentes que o fato de não ter os braços nunca o impediu de sonhar e realizar os sonhos.

Propositadamente
» Por falar em Paralimpíadas, é revoltante ter que adaptar os manuais de redação por ordem de um comitê desportivo que vai contra todas as regras de filologia e gramática.

História de Brasília
O catálogo telefônico de Brasília, ao tempo da inauguração da cidade, trazia o nome do atual presidente da República, como sendo Jango Goulart. (Publicado em 14/9/1961)

500 anos de violência contra os indígenas

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

Desde 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Desde que por estas bandas aportaram as primeiras caravelas portuguesas no início do século 16, os povos autóctones, que há milhares de anos habitavam este lado do paraíso, perderam a paz e nunca mais souberam o que é felicidade. Expulsos do paraíso por alienígenas brancos que desembarcaram de grandes naus, trajando roupas e falando uma língua estranha, os indígenas que perambulavam pelo litoral foram os primeiros a experimentar na pele e na alma os efeitos do contato direto com a civilização europeia cristã.

Cabral foi apenas o primeiro invasor oficial. Atrás dele vieram a escravidão, os assassinatos, estupros, as doenças dos brancos, o roubo e os saques das riquezas naturais. Com os navegantes, chegou, enfim, o dia do juízo final. Estimam-se em mais de 5 milhões o número de indígenas espalhados por todo o continente daquilo que viria a ser o território brasileiro. Os antropólogos que buscam entender a causa indígena são unânimes em reconhecer que, mesmo depois de cinco séculos, a sociedade brasileira segue repetidamente negando as próprias origens americanas, sem ao menos conhecê-las com clareza. Ainda hoje, os índios seguem sendo o povo que mais comete o ato derradeiro do suicídio. A maioria das mortes ocorre por enforcamento ou envenenamento pela ingestão do timbó.

As causas dessa tragédia seguem sendo as mesmas de sempre: a eterna prorrogação em demarcar seus territórios. Agora, pela PEC 215, os índios temem que, ao transferir essa tarefa do Executivo para o Legislativo, o processo que já era lento ganhará ainda uma coloração política, o que acarretará mais problemas do que soluções.

Ao empurrar a questão das terras indígenas para a apreciação dos políticos, os índios acreditam que a tendência será para que as negociações passem a obedecer a lógica dos políticos, principalmente no tocante à satisfação dos grupos de eleitores, na sua esmagadora maioria formada pelos homens brancos. Segundo Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade que conta com o respeito da maioria dos povos indígenas, os dados disponíveis indicam que a situação constante de invasão e devastação das terras demarcadas ainda permanece sem solução. Também permanecem na mesma situação as agressões, os assassinatos e espancamentos às pessoas que lutam pela causa dos índios.

Chama a atenção, diz o documento, o agravamento do número de perversos ataques milicianos contra os frágeis acampamentos das comunidades Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul. Até mesmo, inaceitáveis práticas de tortura com requintes de crueldade, como a quebra de tornozelos de anciãos, foram realizadas . Em outro trecho, aponta o documento, “dos 87 casos de suicídio em todo o país registrados pela Sesai e pelo Dsei-MS, 45 ocorreram em Mato Grosso do Sul, especialmente entre os Guarani-Kaiowá.

Entre 2000 e 2015, foram registrados 752 casos de suicídio apenas naquele estado. Um recente estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Grupo Internacional de Trabalho sobre Assuntos Indígenas (IWGIA) sobre os Guarani-Kaiowá afirma: “…esses jovens indígenas carregam um trauma humanitário cheio de histórias contadas por seus parentes, histórias de exploração, violências, mortes, perda da dignidade, enfim, a história recente de muitos povos indígenas. Histórias carregadas de traumas, presas a um presente de frustrações e impotência. Nessas circunstâncias, esses jovens são o produto do que se costuma chamar uma geração que sofre do que se chama Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)”.

A frase que foi pronunciada

Quando o português chegou/ Debaixo duma bruta chuva/Vestiu o índio/Que pena!

Fosse uma manhã de sol/O índio tinha despido/O português.

Oswald de Andrade

Trapaça

» Óculos, dentaduras, tijolos, telhas. O TRE do Rio de Janeiro encontrou o fio da meada com uma fundação que faz doações para beneficiar candidatos. É bom que Brasília se prepare para combater a corrupção tanto de políticos quanto de eleitores.

Cuidado extremo

» A Sociedade Rural Brasileira provocou o Supremo Tribunal Federal com Agravo Regimental contra decisão liminar proferida pelo Ministro Marco Aurélio de Mello. A liminar suspende o Parecer nº 461/12-E da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo, que liberava a aquisição de imóveis rurais por empresas brasileiras de capital estrangeiro no Estado de São Paulo. Questão de soberania nacional. Basta ver se haveria reciprocidade dessa prática com os países provedores de recursos.

Classificação indicativa

» Estamos banalizando a violência, divulgando cenas e abrindo espaço para o que não é educativo. Correr o risco do fim da limitação da classificação indicativa na tevê é inaceitável. A presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciana Rodrigues Silva, disse em entrevista que, caso a classificação indicativa relaxe, seremos responsáveis pela exposição de crianças e adolescentes a conteúdos contraindicados.

História de Brasília

São argumentos infantis, sem consistência, e que demonstram apenas o interesse de permanência no Rio, apesar de não haver razão.(Publicado em 14/09/1961)