A aposta no azar. Mãos longe da mesa!

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) acompanha votação de liberação de cassinos, bingos e jogo do bicho em painel. — Foto: Kevin Lima/G1

 

Com a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do projeto de lei que autoriza e regulamenta os jogos de azar em todo o país, proibidos, desde a década de 1940, pelo governo Dutra (Eurico Gaspar), todo um conjunto de consequências nefastas pode ser observado, antes de o plenário daquela Casa deliberar definitivamente sobre a matéria. Obviamente, nenhum dos malefícios, decorrentes da jogatina e, exaustivamente, previstos, recairá sobre os beneficiários diretos dessa atividade, que, do dia para a noite, tomou de assalto o país inteiro.

Lobby forte para a volta de cassinos e todos tipos de jogos de azar parece ter falado mais alto para os nossos políticos. Fosse essa matéria submetida, seriamente, à apreciação direta da população, seu destino seria o engavetamento sumário. Mais uma vez suas excelências deixaram de lado a vontade popular para atender ao chamado de interesses de grupos que ignoram e vão contra a realidade nacional. Sob a falsa justificativa de que os jogos de azar representam uma atividade econômica relevante, o projeto segue adiante e pode ser aprovado ainda este ano.

O presidente da República adiantou que, se aprovado, sancionará o projeto, colocando a sua bancada de apoio para trabalhar nesse sentido. Pela proposta aprovada na CCJ do Senado, fica autorizada a exploração no Brasil de jogos de cassino, bingo, vídeo bingo, on-line, do bicho, além de apostas em corridas de cavalos, o chamado turfe. Para um país que não consegue impedir que seus presídios de segurança máxima sejam transformados em centrais do crime organizado, falar em exigências e critérios para a operação dos jogos de azar, soa como piada, assim como a promessa do governo de criar uma agência reguladora para o setor.

Outra promessa fantasiosa, para justificar a liberalização dos jogos de azar, é que, uma vez sob o controle do Estado, os cassinos e todas as demais modalidades de jogos ficarão imunes aos vínculos com o crime organizado. Na verdade, foram os prepostos do crime organizado que mais fizeram lobby no Congresso para a liberação dos jogos. Para um país que se destaca como um dos mais importantes corredores de exportação de entorpecentes do planeta, a liberação dos cassinos e dos demais jogos de azar surge como uma espécie de lavanderia para branquear, quase que instantaneamente, o dinheiro sujo.

Outra mentira deslavada dita em defesa da liberação dos cassinos e jogos de azar é que sua aprovação abre caminho para que o vício em apostas seja enfrentado como problema de saúde pública, uma vez que parte de seus recursos será destinada para mitigar essa compulsão por jogos. Segundo o Grupo de Ação Financeira (Gaf), um organismo intergovernamental, criado, em 1989, na reunião do G7, em Paris, para promover políticas nacionais e internacionais de combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, os cassinos são locais por excelência. Neles, todos os tipos de facilidades são dadas para a ocultação de dinheiro sujo, o que torna as casas de jogatinas um verdadeiro oásis para a lavagem de dinheiro. Além disso, confirma a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ludopatia, ou vício em jogos de azar (CID 10-Z72.6) e (CID 10- F63.0), é uma doença reconhecida mundialmente desde 2018. Com desejo incontrolável, a pessoa joga e aposta até perder tudo.

No Brasil, essa doença parece ter alcançado um patamar de epidemia, pois se desenvolve a partir dos mesmos mecanismos de dependência do álcool ou das drogas. Para os dependentes, a fissura é tão ou mais intensa do que a que acomete os viciados em cocaína e álcool.

Dados divulgados pelo Banco Itaú mostram que nos últimos 12 meses os brasileiros perderam R$ 24 bilhões com apostas esportivas on-line e taxas de serviços cobradas por empresas de apostas. Segundo estudo do Banco Central, os jogadores gastaram cerca de R$ 68,2 bilhões em apostas e mais taxas de serviços, e receberam R$ 44,3 bilhões. O saldo negativo, segundo o estudo, equivale a 0,2% do Produto Interno Bruto do Brasil ou 1,9% da massa salarial do país. Esses números podem ser ainda maiores, pois a existência de jogos clandestinos ainda é uma realidade que, nem mesmo a liberação dos jogos, vai pôr fim. Parece ser uma unanimidade, entre os especialistas em saúde pública, que o Brasil não tem estrutura suficiente para tratar esses novos viciados. Logo estaremos assistindo a uma nova explosão de moradores de rua, vítimas de jogos de azar que perderam tudo.

 

A frase que foi pronunciada:
“Se você tiver que jogar, defina três coisas antes de jogar: as regras do jogo, as apostas e a hora de desistir.”
Provérbio chinês

Foto: Bigstock

 

História de Brasília
Há uma crise entre a Novacap e a Prefeitura, e já foi instaurada uma comissão de inquérito, por ordem do dr. Sette Câmara, integrada pelo cel. Barlem, representando a Casa Militar da Presidência da República, pelo dr. Waldir Santos, representando a Prefeitura, e pelo dr. Bessa, representando a Novacap. (Publicada em 18/4/1962)

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