NA COVA DOS LEÕES

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O nervosismo do governo aumentou nos últimos dias na mesma proporção que cresceu a euforia dos agentes econômicos. A aposta na saída de Dilma Rousseff da Presidência da República se tornou majoritária e já se mapeia o que será a administração do vice, Michel Temer. Poucos acreditam que a petista receberá o apoio que precisa do PMDB para se livrar do impeachment. Ela deixou a corda esticar demais.

 

Nas contas do mercado, a probabilidade de Dilma perder o mandato varia entre 60% e 80%. Esse cenário contempla o fracasso de Lula como articulador político. O objetivo do líder petista, que ainda não conseguiu tomar posse como ministro da Casa Civil, é repetir o feito durante o mensalão. Naquele período, o PMDB estava fora do governo. Mas o então presidente da República conseguiu dobrar o partido ao nomear o mineiro Hélio Costa para o Ministério das Comunicações.

 

A primeira tentativa de reprisar a jogada foi a nomeação do também mineiro Mauro Lopes para a Secretaria de Aviação Civil. Mas, até agora, o governo não recebeu nenhum sinal de apoio do PMDB. Muito pelo contrário. As indicações são de que a legenda pulará do barco. Ao dar 30 dias para decidir se permanece ou não na base aliada, o partido quer medir a temperatura no Congresso sobre o impeachment. Se perceber que a derrota de Dilma na comissão que avaliará o impedimento será expressiva, o desembarque se tornará inevitável. Mas, caso a petista perca por pouco, com chances de sair vitoriosa no plenário, manterá seu feudo na Esplanada. O PMDB não vive longe do poder.

 

A maior parte do governo reconhece a derrota de Dilma na comissão do impeachment. Mas Lula acredita que ainda é possível virar o jogo. Mesmo sem o cargo de ministro, ele está em Brasília negociando o que pode para tentar salvar o governo. Ele sabe que, assim como Dilma, está em uma situação vulnerável, com a nomeação para a Casa Civil suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e com a possibilidade de ser preso pelo juiz Sérgio Moro. Nessa condição, seu poder de convencimento ficou menor. E o PMDB tem a exata noção disso.

 

Desencanto

 

Com Dilma acuada pelo processo de impeachment, a equipe econômica tentou ontem criar um fato positivo para mostrar que o governo não está morto e que há, sim, espaço para reanimar o Produto Interno Bruto (PIB), que está derretendo e pode encerrar o ano com queda superior a 4%. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que completou três meses no cargo nesta segunda-feira, anunciou um pacote de medidas na área fiscal. Praticamente todas dependem de aprovação do Congresso. Ou seja, não vão sair até que o quadro político tenha uma definição.

 

Nada do que Barbosa anunciou é novidade. Tudo foi cantado em prosa e verso nos últimos dias: refinanciamento da dívida dos estados, limite para o aumento dos gastos públicos, criação de uma conta remunerada que será administrada pelo Banco Central com um único objetivo: reduzir a dívida pública, que caminha para 80% do PIB. O desencanto dos agentes econômicos com Barbosa é geral. Além de o governo não ter o apoio que precisa, o ministro pode ser punido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por ter participado das pedaladas fiscais, que dão base ao processo de impeachment de Dilma.

 

A grande preocupação dos investidores é que, no desespero, o governo acabe resvalando para o populismo para insuflar as bases sociais. Isso implicaria a venda de reservas internacionais e redução da taxa básica de juros (Selic) por canetada. Dilma quebrou o país ao seguir nessa toada. Quando tentou reverter as maluquices que prevaleceram no primeiro mandato, a situação se mostrou incontrolável. A inflação disparou, o PIB afundou e o desemprego cresceu. O Ministério do Trabalho e da Previdência Social divulga hoje o resultado do emprego formal em fevereiro. Os mais pessimistas falam em fechamento de pelo menos 100 mil vagas. Um desastre.

 

Prisão de Cunha

 

O ideal seria que todo o processo de impeachment de Dilma ocorresse sem a presença do deputado Eduardo Cunha na presidência da Câmara. A decisão sobre o mandato da petista, para o bem ou para o mal, ganharia maior legitimidade. A esperança de quem torce pelo fim do governo é de que Cunha seja preso nos próximos dias — ele e a mulher, Cláudia Cruz. Além de explicitar para a sociedade que as investigações da Lava-Jato não miram apenas os corruptos do PT, a Justiça livraria o país de conviver, diariamente, com uma das figuras mais nefastas de que se tem notícia.

 

Para os agentes econômicos, Cunha já deveria estar na cadeia. Mas, enquanto isso não ocorre, a grande preocupação é que se prepare um terreno sólido para o caso de troca de governo. O processo de impeachment precisa seguir seu ritmo normal, sem atropelos, para que não se empurre o país para o caos social. Com todo o estrago feito na economia nos últimos anos, a desigualdade entre ricos e pobres voltou a crescer. A miséria está dando as caras sem constrangimento. Famílias já não conseguem pagar contas básicas. Portanto, quem vier terá que resgatar a credibilidade e a esperança. O Brasil já perdeu tempo demais.

 

Brasília, 00h01min