MARTÍRIO DO BC

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Com a economia indo para o buraco numa velocidade muito maior do que a esperada pelo governo e pelo mercado, todos os olhos estão voltados para o Banco Central, que terá, no fim deste mês, a missão de definir a taxa básica de juros (Selic). Nos últimos dias, tanto o presidente da instituição, Alexandre Tombini, quanto os diretores de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, e de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira, trataram de emitir sinais aos investidores sobre os rumos da política monetária. Ficou a sensação de que o arrocho na Selic está próximo do fim.

Desde que retomou o processo de alta dos juros, em outubro de 2014, o BC vem sendo surpreendido por dados ruins da inflação e da atividade. A aposta inicial era de que a subida da Selic não passaria de 12,50% ao ano, diante das perspectivas de recessão econômica. Acreditava-se que a forte desaceleração da atividade seria suficiente para derrubar a inflação mais rapidamente. A cada decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), porém, o que se via era um quadro muito pior para o Produto Interno Bruto (PIB) e para a carestia. Não restou outra alternativa ao BC a não ser pesar a mão sobre a taxa básica.

Na avaliação de técnicos do governo, números piores ainda vão surgir no horizonte, seja em relação à atividade, seja em relação ao custo de vida. Há, contudo, a visão de que o BC já incorporou, nos últimos aumentos dos juros — de 11% para 13,75% anuais —, o pico da inflação, que deve encostar nos 10% neste ano. Portanto, com o PIB caindo quase 2% em 2015 e o impacto dos preços administrados na carestia começando a se diluir, é provável que não seja mais necessário levar a Selic para níveis extremos, de 15% ou 16%, como se cogitou no mercado.

Ainda faltam três semanas para o BC definir a nova taxa básica. Mais do que os indicadores da economia, o que pesará na decisão do Copom será a expectativa do mercado. Para a autoridade monetária, é vital que as projeções dos agentes econômicos caminhem para os 4,5% definidos como centro da meta de inflação. O BC precisa ter a certeza de que as ações tomadas até agora, reforçadas por uma retórica contundente de que levará o custo de vida para o objetivo definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até o fim de 2016, convenceram os investidores.

Descompasso

Apesar de parte do mercado já comprar o discurso do Banco Central, o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, não acredita no sucesso da autoridade monetária. “Não cremos que a inflação ficará próxima de 4,5% em 2016. E, na nossa opinião, não há muito o que o BC possa fazer sobre isso”, diz. No entender de Molan, tanto a equipe chefiada por Tombini quanto parcela importante dos analistas estão subestimando o peso dos preços administrados (energia elétrica, combustíveis, água, transportes) na inflação de 2016.

Pelos cálculos do economista, a inflação dos preços administrados, que representam 23% do IPCA, será superior a 7% no próximo ano, puxada pela gasolina e pela energia, bem acima das estimativas do BC, de 5,3%, e das do mercado, de 5,9%. Mas não é só. “O impacto contracionista da demanda fraca sobre a inércia (repasses levando em conta a inflação passada) e o menor impacto da alta do dólar na carestia não serão suficientes para derrubar o IPCA aos níveis esperados pela autoridade monetária”, afirma.

Além disso, Molan espera alta mais forte da moeda norte-americana: cerca de 15% no ano que vem contra 6% projetados pelo mercado, devido ao aumento dos juros nos Estados Unidos. “Por isso, revisamos nossa projeção para a inflação de 2015, de 8,5% para 9,5%, e, para 2016, mantivemos a estimativa de 6,5%”, emenda. Ele reconhece que está bem mais pessimista que a média do mercado, que aponta inflação de 5,5% no próximo ano, mas afirma que o BC, mesmo num forte quadro recessivo, não conseguirá entregar o que prometeu.

IPCA vai a 8,94%

» Na próxima quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA de junho. Na média, o mercado prevê alta de 0,83%, com o acumulado de 12 meses chegando a 8,94%.

Crise abate chocolate

» Terceiro maior produtor e consumidor de chocolates do mundo, o mercado brasileiro fechou o primeiro trimestre do ano com retração de 10% ante o mesmo período de 2014, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). “A crise mexeu — e muito — no bolso do consumidor brasileiro”, diz o vice-presidente da entidade, Ubiracy Fonseca.

Combinação de vinho e frio

» Os dias frios incrementaram a venda de vinhos no país. O Pão de Açúcar está apostando em salto de 20% ante o inverno de 2014. A opção dos consumidores tem sido por bebidas de boas marcas, como Torees (Espanha) e Aves del Sur — Carta Vieja (Chile).

Sistema mais sólido

» O Banco Central contesta nota da coluna sobre o momento difícil enfrentado por bancos de pequeno e médio portes. Garante que as instituições estão bem menos expostas a riscos que no passado e com liquidez suficiente para enfrentar eventual aumento da inadimplência.

Brasília, 00h01min