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A presidente Dilma Rousseff rompeu um silêncio de quase 30 dias para dizer mais do mesmo. Esperava-se que, ao dar as caras na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a chefe do Executivo assumisse a gravidade da situação do país. Muito pelo contrário. Traçou um quadro róseo da economia e jogou a culpa de todos os problemas para a crise internacional. Mudança de verdade só na silhueta presidencial, bem mais fina, depois de uma rigorosa dieta.

A expectativa de empresários e investidores em relação à fala de Dilma foi murchando ao longo do discurso. Só não se instalou a decepção entre eles, porque muitos tentam se apegar às promessas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o prometido ajuste fiscal será feito sem os truques que prevaleceram até dezembro último. O problema maior, dizem os donos do dinheiro, é o sentimento de negação de Dilma, como se afirmasse: vamos mudar para continuar igual.

A presidente insiste que, “em nenhum momento”, o governo descuidou do controle da inflação, mesmo com a carestia caminhando para 7%. Afirma que está tomando “todas as medidas cabíveis para garantir o suprimento de energia elétrica”, quando está claro que o país fincou um pé no racionamento, devido aos erros e à ineficiência do Planalto para garantir o populismo tarifário.

Havia uma grande expectativa de que Dilma fosse mais dura na defesa das medidas de ajuste fiscal anunciadas por Levy. Não é segredo para ninguém o crescente movimento dentro do governo e do PT, o partido da presidente, contra a tentativa de arrumação das contas públicas. Os ruídos criados pelos que detonam o ministro da Fazenda amplificaram no mercado o temor de que, em algum momento, Dilma cederá às pressões e retomará a política vigente no primeiro mandato, de gastança desenfreada.

Assessores da presidente recusam, porém, o ceticismo de empresários e investidores. Alegam que Dilma assumiu, claramente, de que lado está: o do equilíbrio das finanças públicas. “Não tem volta”, afirma um dos auxiliares da petista. “A presidente foi sincera quando disse que as mudanças que o país espera dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia”, acrescenta.

Para os defensores de Dilma, seria um erro político colossal se ela assumisse, claramente, que está corrigindo todos os equívocos que cometeu nos últimos quatro anos. “Isso não acontecerá. O reconhecimento de que a política econômica do primeiro mandato não deu certo virá do apoio às medidas propostas por Levy. O PT terá que entender isso, cedo ou tarde”, frisa um dos secretários executivos mais influentes da Esplanada dos Ministérios. “Dilma amadureceu”, emenda.

Ele ressalta que, para os petistas, a presidente insistirá na ladainha de que, a despeito do ajuste fiscal, “todos os direitos trabalhistas serão mantidos”. Vai repetir isso o quanto for necessário para rebater os que a acusam de ter rasgado os compromissos do PT com a classe trabalhadora. Ao grande público, a ordem é continuar atribuindo as dificuldades da economia à crise internacional e a São Pedro para tentar afastar, ao máximo, do Planalto a pecha de incompetência.

Discurso e desmoralização

Soou estranho entre integrantes e assessores de Dilma a orientação dada por ela para que todos os ministros saiam falando e defendendo o governo. Muitos até gostariam, mas temem ser repreendidos pela chefe. Ninguém esquece que, no segundo dia como ministro do Planejamento, Nelson Barbosa foi obrigado a soltar uma nota desmentindo o que ele tinha dito sobre mudanças na regra de correção do salário mínimo. Na semana passada, em um único dia, Levy, por determinação do Planalto, corrigiu declarações em entrevistas publicadas por veículos estrangeiros; uma, sobre seguro-desemprego; outra, sobre racionamento de energia. “O maior temor dos ministros é serem desmoralizados pela presidente, mesmo tendo falado a verdade”, diz um técnico da equipe econômica.

Buraco de 1% do PIB

» Integrantes do mercado garantem que as contas públicas começaram 2015 com um deficit recorrente de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), algo como R$ 50 bilhões. Esse buraco não considera nenhuma receita extraordinária, nem as oriundas do Refis, o programa de refinanciamento de dívidas da Receita Federal.

Salário mínimo e Petrobras

» Pelos cálculos dos especialistas, somente o aumento do salário mínimo responde por quase a metade do deficit recorrente — entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões. O reajuste bate pesado no caixa da Previdência Social e das prefeituras. Os analistas chamam ainda a atenção para a queda nos royalties e nos impostos pagos ao Tesouro Nacional pela Petrobras, por causa do recuo dos preços do petróleo.

Dívida avança mais que reservas

» Técnicos do Banco Central chamam a atenção: enquanto as reservas internacionais do país cresceram 26% no primeiro mandato de Dilma, de US$ 288,6 bilhões para US$ 363,5 bilhões, a dívida externa saltou 35,5%, de US$ 256,8 bilhões para US$ 347,6 bilhões. A continuar esse ritmo, os débitos superarão as reservas nos próximos dois anos.

Categoria bronze

» O Banco do Brasil foi reconhecido como um dos oito bancos mais sustentáveis do mundo em responsabilidade corporativa no livro The Sustainability Yearbook 2015, da RobecoSAM, responsável pelo processo de seleção do Índice Dow Jones de Sustentabilidade da Bolsa de Nova Iorque. O BB está listado na categoria bronze, sendo o único banco brasileiro classificado em uma das três categorias.

Brasília, 00h01min