Correio Econômico: O último suspiro de Temer

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Oficialmente, o Palácio do Planalto nunca vai dizer, mas, nos bastidores, há o consenso de que a crise provocada pela greve dos caminhoneiros ganhou a proporção que todos viram por falhas inaceitáveis do governo. Se tivesse havido uma ação preventiva, eficiente, dificilmente o país teria mergulhado no caos. Agora, ressalta um dos ministros mais próximos do presidente Michel Temer, é juntar os cacos e tentar sobreviver até a passagem do bastão para o eleito em outubro próximo.

 

Na visão do Planalto, tudo levava a crer que 2018 seria um ano promissor para o governo. O crescimento econômico engataria, a inflação se manteria nos níveis mais baixos em duas décadas e as taxas de juros continuariam em patamares nunca vistos, feitos que, mesmo que tardiamente, seriam reconhecidos pela população. Temer poderia não ter feito o governo dos sonhos, mas entregaria o Brasil numa situação muito melhor do que assumiu após o impeachment de Dilma Rousseff.

 

“Diante do estrago provocado pela greve dos caminhoneiros, especialistas reduzem as projeções de crescimento para o país e já falam em avanço de, no máximo, 1,9% neste ano. Onda de desconfiança voltou com tudo”

 

Agora, depois de oito dias de greve dos caminhoneiros, com todo o impacto sobre a produção e o consumo, o pessimismo impera. Além do aumento da inflação, que começará a ficar mais evidente a partir de junho, haverá uma revisão das projeções de crescimento para este ano. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) começam a convergir para algo entre 1,5% e 1,9%, ou seja, quase a metade dos 3% aventados pela equipe econômica pouco antes de Henrique Meirelles deixar o Ministério da Fazenda.

 

Nesse ritmo de expansão, o ritmo de criação de vagas formais (com carteira assinada) que vinha se observando nos últimos meses vai diminuir. A tendência, portanto, é de o desemprego aumentar, elevando a insatisfação da população com o governo, um problema para o candidato que o Planalto decidir apoiar nas eleições. O baque provocado pela suspensão do transporte de cargas explicitou o quanto o país está vulnerável a interesses de grupos específicos.

 

Rombo fiscal

 

Ao atender os pleitos dos caminhoneiros, o governo se desviou de sua pauta principal. O ideal seria que o país estivesse tomando medidas para estimular a redução do desemprego. Daqui por diante, no entanto, terá que lidar com a desconfiança por todos os lados. Ao dar subsídios para o óleo diesel — o Tesouro Nacional bancará R$ 0,46 por litro —, abriu um buraco de R$ 13,5 bilhões nas contas públicas, que estão no vermelho desde 2014. A perspectiva é de que o rombo neste ano alcance até R$ 159 bilhões.

 

Ao mudar a política de preços do combustível, o governo ressuscitou entre os investidores o temor de intervenção na Petrobras. Desde que a greve dos caminhoneiros começou, o valor de mercado da estatal caiu R$ 126 bilhões. Há a preocupação de que o Planalto ceda a pressões políticas e demita o presidente da empresa, Pedro Parente. A petroleira voltaria a conviver com preços congelados, como na gestão de Dilma, quando acumulou perdas de US$ 40 bilhões.

 

A onda de desconfiança se estende ao mercado de câmbio. O dólar voltou a subir, retornando aos R$ 3,73 vigentes antes das intervenções feitas pelo Banco Central. Não se pode esquecer que a moeda norte-americana serve de parâmetro para a formação dos preços dos combustíveis. Nem os títulos públicos escaparam. Os papéis emitidos pelo Tesouro Nacional desabaram, deixando um rastro de prejuízos a milhões de investidores.

 

Estelionato eleitoral

 

Com o governo sob ataque, seria de bom tom que os pré-candidatos à Presidência da República jogassem fora a retórica populista para desanuviar o horizonte. O que o país mais se ressente hoje é de líderes. Dos nomes que estão colocados como postulantes ao Planalto, nenhum teve a coragem de assumir um discurso defendendo medidas que, efetivamente, tirem o Brasil do atraso. Temem, por exemplo, falar da reforma da Previdência, assunto que, segundo eles, tiraria votos.

 

Esses pré-candidatos devem entender, contudo, que a população não aceita mais estelionato eleitoral. Está claro que aquele que vencer a disputa terá de tomar medidas duras se realmente quiser recolocar o país nos eixos. Não existe saída fácil para o Brasil. O recado mais contundente nesse sentido veio do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

 

Para atender os pleitos dos caminhoneiros, o governo terá de elevar impostos. A fatura recairá sobre todos os contribuintes. Ou é isso ou será o aumento do deficit público, que implicará mais cortes nos investimentos em saúde, em educação e em segurança. Esse Brasil real, infelizmente, inexiste no mundo encantado daqueles que só têm um objetivo: vencer nas urnas e enganar os eleitores da forma mais despudorada.

 

Brasília, 06h45min