Com dólar em queda, importações disparam e já reduzem saldo comercial

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POR ROSANA HESSEL

 

O ritmo contínuo da queda do dólar está provocando o crescimento das importações, o que deve reduzir o superavit da balança comercial esperado para este ano. A média diária das compras no exterior cresceu 19,5% nas quatro primeiras semana de junho em relação ao mesmo período de 2015. No caso das exportações, o cenário é o inverso: recuo de 17,6%. Somente os embarques de manufaturados, produtos mais afetados pela taxa de câmbio, caíram 21,5%, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

 

“O aumento das importações vem ocorrendo de forma mais intensa nas duas últimas semanas, com o dólar cada vez mais fraco. As exportações estão em queda e, mesmo com oferta de financiamentos do governo, não devem crescer na atual conjuntura. O mercado de câmbio está oscilando muito e o exportador está com medo de fechar contrato agora e ter prejuízo nos próximos dias se o real continuar se valorizando”, explicou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele adiantou que, em julho, quando serão divulgadas as novas estimavas da AEB, haverá corte nas projeções. “Estávamos esperando superavit de US$ 50 bilhões na balança comercial, mas dificilmente conseguiremos mais do que US$ 30 bilhões”, disse.

 

Ontem, o dólar escorregou mais de 2,09% e fechou o dia a R$ 3,237 para venda, nível mais baixo desde julho do ano passado. A desvalorização da divisa norte-americana soma 10,39% em junho e 18% no ano. A queda é embalada pela perspectiva de entrada de dólares na economia devido à melhora na confiança no governo e à perspectiva de avanço nas privatizações, de acordo com especialistas — fatores que também têm estimulado a alta do mercado acionário.

 

Segundo analistas, também contribuiu para essa tendência o discurso mais duro do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, na última terça-feira, sinalizando que deverá manter o câmbio flutuante a adiar a esperada queda da taxa básica de juros (Selic). Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) subiu 1,99%, para 51.002 pontos, acompanhando o embalo dos mercados da Europa e da Ásia que fecharam no azul. Em Nova York, o Índice Dow Jones foi na contramão e recuou 1,10%.

 

“O discurso do novo presidente do BC mostrou que a autoridade monetária está mais comprometida com a inflação. Isso tira a força do dólar a curto prazo e ajuda a reduzir os contratos de juros futuros”, avaliou o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho. Para ele, Goldfjan está conseguindo recuperar a credibilidade do BC. “O presidente anterior falava em comprometimento com a meta, mas não praticava. Ele reduziu a taxa de juros quando a inflação estava subindo”, explicou.

 

Risco

 

Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), lembrou que a postura mais firme do BC indica que os juros devem permanecer no patamar atual até o fim do ano. “Isso aumenta a entrada de dólares porque diminui a aversão ao risco, e ajuda na elevação do investimento estrangeiro no país”, destacou.

 

Na avaliação de especialistas, o dólar ainda pode cair mais ao longo do ano porque estava sobrevalorizado. Apesar de atrapalhar as exportações e prejudicar o saldo da balança comercial, o recuo do dólar pode ajudar o governo no controle da inflação. Pelas contas da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, uma queda de 10% na coração da divisa implica redução de 0,5 ponto percentual na inflação. “A grande dúvida é onde o câmbio vai parar. Há ainda muitas incertezas na área política que não permitem previsões mais acuradas”, comentou.

 

 

Mais importadoras

 

O real mais valorizado levou à abertura de 38 novas empresas importadores em maio, destacou o presidente da AEB, José Augusto de Castro. Agora, elas somam 4.925. “É a primeira vez que isso ocorre desde o ano passado. As importações devem continuar crescendo com o dólar em queda. Já as exportações de produtos de maior valor agregado vão perder competitividade. Em 2015, as vendas de manufaturados somaram R$ 72,791 bilhões e não devem crescer neste ano. Esse volume é menor que o visto em 2006, de R$ 75,022 bilhões”, afirmou.

 

Brasília, 07h30min