CIRCO DOS HORRORES

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De trapalhada em trapalhada, a presidente Dilma Rousseff vai dando mostras explícitas de como levou o Brasil para o buraco. Na ânsia de manter o poder a qualquer preço, ela não se intimidou em estimular o presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP), a tentar atrasar o processo de impeachment, que deve ser votado amanhã no Senado. Para sustentar a brincadeira fora de hora, usou o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, pago com recursos públicos, e um avião da FAB para transportar um governador aliado, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, que convenceu o desastrado parlamentar a entrar na canoa furada. Felizmente, a aberração foi abortada a tempo.

 

No apagar das luzes de seu governo, Dilma se nega a admitir que é a grande responsável por estar prestes a ser afastada do mandato. Desde que chegou ao Palácio do Planalto como presidente, optou por seguir um caminho que o bom senso não recomendava. Aos poucos, foi destruindo todos os pilares que seu antecessor, Lula, soube usar tão bem para executar um dos maiores programas de distribuição de renda da história. Primeiro, trouxe de volta a inflação. Depois, esfacelou as contas públicas, usando de pedaladas fiscais para esconder o rombo que estava sendo cavado. Não satisfeita, pôs fim à credibilidade da política econômica, empurrou o país para uma recessão sem precedentes e fez o desemprego disparar.

 

Dilma, no entanto, prefere se manter no mundo da fantasia que embalou sua campanha à reeleição, cujo mentor, João Santana, está preso acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Ontem, já ciente do que Waldir Maranhão faria, encheu o Palácio do Planalto de uma claque bem remunerada, para repetir a ladainha do “não vai ter golpe”. Bem orientada, mostrou-se surpresa com a decisão tomada pelo sucessor de Eduardo Cunha. Até pediu cautela aos presentes no evento cuidadosamente preparado para lhe dar palanque. “Nós vivemos uma conjuntura de manhas e artimanhas”, afirmou. Sabia muito bem sobre o que falava. Nas últimas semanas, a petista usou e abusou das manhas e artimanhas.

 

Ministro no camburão

 

Ao se aproximar de Waldir Maranhão, a presidente desceu ao nível mais baixo da política. O parlamentar é uma das excrescências que nunca deveriam ter chegado à Câmara dos Deputados. Tem uma ficha corrida que faz com que vários de seus pares se sintam verdadeiros monges beneditinos. O presidente interino da casa legislativa é citado na Operação Lava-Jato. Seu filho, Thiago Augusto, é funcionário fantasma do Tribunal de Contas do Maranhão. Há suspeitas sobre o dinheiro que financiou a campanha dele. Os gastos foram incompatíveis com o patrimônio que ele declarou à Justiça eleitoral.

 

Para a petista, porém, pouco importa com quem se aliar. O que realmente interessa é manter o projeto de poder. Isso explica porque um a um dos seus principais auxiliares estão sendo pegos pela polícia. Ontem, foi a vez de o ex-poderoso ministro da Fazenda Guido Mantega ser obrigado a depor dentro da Operação Zelotes, que investiga a derrubada de multas bilionárias impostas pela Receita Federal e a compra de medidas provisórias para favorecer o setor automobilístico. Mantega também é acusado, dentro da Lava-Jato, de intermediar doações de recursos à campanha de Dilma por meio de caixa dois.

 

Com esse tipo de coisa, contudo, a presidente só consegue empurrar o país para uma situação ainda mais complicada. Mesmo que mínima, qualquer perspectiva de ela continuar no poder deixa os agentes econômicos atônitos e estimula a especulação. Mas o que é isso para Dilma? Se a luta, como ela diz, for para garantir o mandato, não há por que ter escrúpulos. A população que assista ao filme de terror sem reclamar e se prepare para pagar a conta quando a fatura chegar.

 

Golpe baixo

 

A incapacidade de Dilma continuar no poder está estampada nos discursos de alguns dos seus mais próximos aliados. Na equipe econômica, todos admitem que, dado o estrago que se fez na economia, o melhor que a presidente tem a fazer é aceitar o impeachment pelo bem do país. Com ela no Planalto, as chances de o Brasil caminhar para o caos social são enormes. Os técnicos reforçam isso, sobretudo, com base em propostas malucas que, nos últimos dias, bateram nas mesas do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Apesar das pressões, disseram muitos nãos.

 

“O governo se transformou, nos últimos dias, em um circo de horrores”, reconhece um ministro que já limpou as gavetas e está pronto para se livrar do fardo. Para ele, com a malfadada tentativa de atrasar a votação do impeachment, os únicos feitos de Dilma foram dar 15 minutos de fama a Waldir Maranhão e arranhar ainda mais a imagem do país no exterior. A República das Bananas ganhou as manchetes. O golpe baixo virou piada. Esse Brasil, realmente, não merece estar no mapa.

 

Brasília, 07h32min