Capital Economics está cada vez mais pessimista com o Brasil

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A consultoria britânica Capital Economics, uma das primeiras a prever a desaceleração global e da China devido à pandemia da Covid-19, está cada vez mais pessimista em relação ao Brasil e ao México. A critica da consultoria recai sobre os governos desses dois países por estarem demorando para tomar ações mais contundentes contra os efeitos do novo coronavírus e prevê uma recessão profunda na América Latina. 

 

“Respostas lentas e limitadas das políticas econômicas no Brasil e no México, bem como esforços para manter os surtos de coronavírus sob controle, sugerem que os custos econômicos serão maiores nesses países do que Chile, Peru e Colômbia”, alertou o relatório assinado pela equipe do economista-chefe para mercados emergentes da Capital, William Jackson, e divulgado nesta sexta-feira (24/04). 

 

Em relatório divulgado aos clientes, a Capital fez um alerta para uma “recessão profunda” na América Latina, passando a prever retração de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) da região neste ano, com o PIB do Brasil recuando 5,5% e o do México, 8%.  Pelas novas previsões, Argentina, Chile, Colômbia, Bolívia e Costa Rica terão queda de 5%. Enquanto isso, o tombo de Venezuela, de Equador e de Uruguai serão de 25%, de 6,5% e de 6%, respectivamente.

 

A consultoria prevê a taxa básica de juros (Selic) atingindo novas mínimas históricas este ano, encerrando em 0,25% ano no meio dessa recessão que está se formando, mas não tem boas estimativas sobre a retomada da economia brasileira. Para 2021, a expectativa para o PIB brasileiro é de alta de 2,5%, abaixo da média de 3,7% para o crescimento da América Latina.

 

Sem dar nomes aos bois, os analistas da Capital criticaram o governo brasileiro e afirmaram que ele demorou para adotar impor medidas de bloqueio para impedir e, com isso, os novos casos de contágio do coronavírus continuam a subir acentuadamente. A demora para adotar medidas de socorro à economia também deve atrasar na recuperação econômica.

 

Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro é o maior crítico do distanciamento social que a maioria dos países vem adotando para conter a curva de contágio e evitar superlotação nos hospitais. “O dano da falta de distanciamento social pode durar mais tempo do que em qualquer outro lugar”, alertou o estudo.

 

 

Recessão global

 

Os principais motores da economia global também devem entrar em recessão profunda, segundo a Capital, que tem estimativas piores do que as do Fundo Monetário Internacional (FMI). O cenário desenhado está deverá ser mais crítico do que o da Grande Depressão, de 1930.

 

A Capital prevê retrações de 5,5% no PIB dos Estados Unidos e de 5,0% no PIB chinês. A previsão para a Zona do Euro é um tombo de 12% neste ano. Quando a Capital passou a estimar crescimento de 2% para o PIB da China, a maioria das previsões do mercado ainda acreditava que o país asiático conseguiria ter expansão de 6% em 2020.

 

Diante das revisões constantes nas estimativas, economistas próximos ao ministro da Economia, Paulo Guedes, já começam a falar em depressão na economia global, que é o pior dos mundos na literatura econômica, com quebradeira de empresas e aumento acelerado do desemprego.

 

Contudo, Guedes continua mantendo o otimismo para os interlocutores do mercado financeiro e insiste em afirmar que a economia brasileira vai apresentar uma recuperação em V. Mas as curvas de retomada projetadas apontam para um processo muito lento e gradual, porque a pandemia poderá se estender até o ano que vem, segundo algumas estimativas. Como está ficando sem argumentos, parece que nem mesmo o ministro acredita no que ele fala e cancelou duas videoconferências com investidores nesta sexta-feira.

 

 

Veja as últimas projeções da Capital Economics para a América Latina: