Candidato, Rabello de Castro se prepara para deixar o BNDES

Publicado em Economia

Apesar de todo o otimismo mostrado pelo governo, os investimentos produtivos não voltarão com força neste ano. Na melhor das hipóteses, tenderão a ficar ligeiramente acima do registrado em 2017, acredita o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro. Além de o governo, por restrição fiscal, estar impedido de tocar obras importantes, há as incertezas trazidas pelas eleições de outubro, a elevada capacidade ociosa da indústria e a dificuldade das empresas em ter acesso ao crédito. O ritmo mais fraco dos investimentos, porém, não impedirá que o crescimento da economia passe dos 3% em 2018, diz ele.

 

Candidato ao Palácio do Planalto pelo PSC, com 1% das intenções de votos, Rabello de Castro acredita que os avanços conseguidos ao longo do governo de Michel Temer estão ajudando “a clarear” o horizonte, depois de dois anos de recessão profunda. A inflação caiu, os juros estão nos níveis mais baixos da história e instituiu-se um teto para os gastos públicos. Com isso, a economia se estabilizou, o emprego está voltando aos poucos e a confiança de empresários e consumidores está em alta, mesmo com as chances mínimas de aprovação da reforma da Previdência em fevereiro.

 

Mas ainda há muitas peças a serem encaixadas na engrenagem. Uma delas é o BNDES, que, nos últimos quatro anos, viu a demanda por crédito produtivo desabar. Segundo o presidente da instituição, não foi por falta de dinheiro. Faltaram clientes, que, se ressalte, estão voltando aos poucos. Tanto que o banco vem apostando em aumento de pelo menos R$ 20 bilhões nos desembolsos em relação a 2017, totalizando R$ 90 bilhões. Ele garante que essa estimativa é conservadora. Caso o nível da atividade se mostre mais forte do que o esperado, as liberações de empréstimos podem superar o planejamento inicial. Não faltarão recursos, garante.

 

R$ 30 bi em fevereiro

 

Rabello de Castro destaca que, mesmo com os seguidos repasses para o governo, o BNDES está capitalizado. Tanto que vai transferir, ainda em fevereiro, pelo menos R$ 30 bilhões dos R$ 130 bilhões que prometeu destinar aos cofres do Tesouro Nacional ao longo do ano. “Essa parcela está praticamente certa”, avisa. “O restante vamos entregar no segundo semestre”, acrescenta. Nos últimos dois anos, o BNDES devolveu R$ 180 bilhões ao Tesouro dos quase R$ 500 bilhões que havia recebido durante os governos petistas.

 

Os repasses de recursos ao Tesouro seguirão, no entender de Rabello de Castro, o ritmo da demanda por empréstimos. Se a procura por financiamentos aumentar além do previsto, as transferências ao Tesouro ficarão mais para o fim do ano. “Temos até o fim de dezembro para repassar o total de R$ 130 bilhões”, assinala. Sem esse dinheiro, o governo descumprirá a regra de ouro, que impede o pagamento de despesas correntes, como salários e aposentadorias, por meio da emissão de dívidas. Para 2019, o executivo ressalta que o governo não poderá mais contar com o banco para se manter dentro da lei.

 

Na avaliação do presidente do BNDES, todas as arestas nesse sentido já foram aparadas. O importante, agora, é se concentrar em medidas que incrementem os negócios da instituição e facilitem a chegada do dinheiro a quem realmente interessa. Ele conta que será criada uma espécie de banco digital para anteder micro e pequenas empresas. Os financiamentos serão feitos por meio de um cartão. Hoje, o BNDES tem um cartão de crédito, mas os repasses por meio dessa modalidade praticamente pararam porque os bancos que intermedeiam as operações decidiram suspender a parceria, temendo calotes.

 

Thadeu, o sucessor

 

O BNDES também reabrirá cinco das regionais fechadas durante a administração de Maria Sílvia Bastos Marques: Cuiabá, Florianópolis, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza. Na visão de Rabello de Castro, apenas com as sucursais de Brasília, São Paulo e Recife, o trabalho de repasse mais direto de crédito acaba ficando muito limitado. Ele diz que as novas regionais serão vitais para o programa Fomento Municipal, pelo qual o BNDES deverá repassar até R$ 10 bilhões a prefeituras. Outros R$ 20 bilhões tendem a ser destinados para capital de giro de negócios de menor porte.

 

A fim de manter o caixa do banco com recursos suficientes para atender a demanda, o BNDES reabrirá os escritórios de Londres e Nova York e vai implantar uma estrutura em Xangai, na China. O objetivo é lançar títulos no exterior e depender menos de repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do PIS/Pasep, dois dos principais responsáveis pelo capital do banco. “Estamos estudando uma série de operações para reforçar o caixa do BNDES”, afirma Rabello de Castro. “Vamos, inclusive, buscar recursos no Oriente Médio, onde não atuamos”, emenda.

 

O presidente do BNDES diz que a decisão de sair candidato em nada influenciará a continuidade dos projetos do banco. Para ele, a pior fase da instituição ficou para trás. “O banco está com a faca nos dentes”, enfatiza. O BNDES esteve no centro das denúncias de irregularidades envolvendo o frigorífico JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que estão presos. “Mas todas as investigações não deram em nada. Não se encontrou nada de errado dentro do banco”, garante.

 

No que depender de Rabello de Castro, seu sucessor já está escolhido: será Carlos Thadeu de Freitas Gomes, hoje diretor da Área Financeira do BNDES. “Ele tem todas as condições de tocar o banco. Além do conhecimento técnico, desfruta de ótimo trânsito no Banco Central e no Ministério da Fazenda. É o que a instituição precisa”, sentencia.

 

Brasília, 06h07min