BARBOSA, O BREVE

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Nelson Barbosa deverá deixar o Ministério da Fazenda nas próximas duas semanas com um triste saldo. Logo ele, que não mediu esforços para chegar ao cargo, trabalhando pesado nos bastidores para derrubar Joaquim Levy. Nos quase cinco meses comandando a equipe econômica, não produziu nada de relevante que pudesse tirar o país do atoleiro. Muito pelo contrário. Sua presença na pasta mais importante da Esplanada sempre foi vista com desconfiança, por nunca mostrar compromisso efetivo com o ajuste fiscal. Barbosa já vem sendo chamado por seus auxiliares de “o breve”.

 

Desde que chegou, pela primeira vez, à Fazenda como secretário adjunto de Política Macroeconômica e Análise de Conjuntura, em 2006, Barbosa nunca escondeu o desejo de ocupar o posto mais alto do ministério. Para isso, participou de muitas das estripulias que levaram o Brasil a mergulhar na mais grave recessão de sua história. Foi um dos mentores da inacreditável nova matriz econômica e defendeu muitas das pedaladas fiscais que podem levar o Senado a afastar Dilma Rousseff da Presidência da República.

 

Ao aderir às loucuras que quebraram o país, ele foi pavimentando sua aproximação com Dilma, o que gerou atritos com o então chefe da Fazenda, Guido Mantega. A presidente passou a receber Barbosa nos fins de semana no Palácio da Alvorada para discutir medidas econômicas sem que o titular do ministério soubesse. A relação entre os dois se deteriorou de tal forma que Mantega exigiu da presidente que demitisse o subalterno. A petista cedeu à pressão e se afastou de Barbosa, que, fora do governo, foi se aproximando do ex-presidente Lula, o que lhe garantiu o comando do Ministério do Planejamento no segundo mandato da petista.

 

Ciúme e traição

 

No Planejamento, por sinal, Barbosa montou seu bunker para tripudiar Levy, que havia sido agraciado com a Fazenda e escolhido por Dilma para tentar reconstruir a credibilidade do governo após a reeleição. O todo-poderoso Levy, no entanto, foi, aos poucos, sendo esvaziado. A cada medida que anunciava, o Planejamento tratava de desaboná-la. Barbosa se aproveitou do descompromisso da presidente com a austeridade fiscal defendida pelo então ministro da Fazenda para convencer a chefe de que não havia necessidade de se fazer um ajuste tão rigoroso, pois o ritmo da atividade desabaria.

 

O golpe de Barbosa em Levy veio com o envio, ao Congresso, da proposta de Orçamento para 2016 com projeção de deficit de R$ 30,5 bilhões. O chefe da Fazenda à época sequer foi consultado. O resultado foi um desastre. O pouco da confiança que o governo havia resgatado se desfez por completo e o Brasil afundou no atoleiro. Em sequência, as três principais agências de classificação de risco — Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s — não só retiraram o grau de investimento do país como contaram a nota de crédito pela segunda vez, o que nos aproximou das nações consideradas lixo.

 

As expectativas de inflação, que estavam convergindo para o centro da meta, de 4,5%, dispararam. O Banco Central, que caminhava para dar início ao processo de redução da taxa básica de juros (Selic) foi obrigado a elevá-la ainda mais. O dólar entrou em rota ascendente e a bolsa de valores despencou. As empresas suspenderam de vez os investimentos produtivos. O desemprego disparou e o orçamento das famílias foi devastado. Dali em diante, o Brasil mergulhou numa crise econômica sem fim e os problemas políticos se agigantaram.

 

Deficit e desemprego

 

Nos últimos dois meses, Barbosa dedicou todo o tempo disponível para preparar a defesa de Dilma no Congresso. Não conseguiu convencer, com seus argumentos frágeis, os deputados, que impuseram uma derrota fragorosa à presidente. Ontem, repetiu o mesmo discurso no Senado, mas a tese de que a petista não cometeu crime de responsabilidade fiscal não colou. Tudo indica que a maior parte dos senadores vai mesmo optar pelo afastamento temporário da petista.

 

Barbosa, com o possível impeachment de Dilma, sairá da Fazenda com o currículo manchado por deficits fiscais recordes — o governo central registrou rombo de R$ 18,2 bilhões apenas nos primeiros três meses de 2016 — e pelo desemprego nas alturas. Como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação alcançou 10,9%, ou seja, 11,1 milhões de brasileiros estão sem trabalho. E mais: o Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro e março deve ser caído mais de 1% ante o trimestre imediatamente anterior, aprofundando a recessão.

 

“O breve”, com sua passagem desastrosa pela Fazenda, se juntará a Gustavo Krause, que ficou dois meses e 14 dias na Fazenda; a Paulo Haddad (dois meses e 16 dias); e a Eliseu Resende (dois meses e 18 dias), todos ministros-relâmpagos durante o governo Itamar Franco. Não era esse o fim que Barbosa sonhava. Mas, como Dilma, ele está colhendo o que plantou.

 

Brasília, 00h10min